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A chave de ouro de Cubatão
Clermont Silveira Castor (*)
Colaborador
Poucas histórias, no mundo, sobre recuperação ambiental,
são tão notáveis como a de Cubatão. Em meados da década de 70, notícia publicada pelo jornal The New York Times chamava a cidade de "vale da
morte", tais os níveis de poluição ambiental aqui existentes. Menos de duas décadas depois, o mesmo jornal publicava notícia dando conta que a ONU
havia concedido o Selo Verde ao município, qualificando-o como "Símbolo Mundial de Recuperação Ambiental". Toda a imprensa tratou destes assuntos,
mas cito o jornal norte-americano para dar uma idéia da abrangência que as questões ambientais de Cubatão assumiam.
A passagem de "vale da morte" para símbolo de recuperação não foi um acaso. Resultou
de grande mobilização política e popular e, o que é mais importante, da união de todos os segmentos da comunidade, desde os cidadãos comuns, às
lideranças políticas, cívicas, religiosas e empresariais. Além dos esforços de caráter político, destaque-se as iniciativas objetivas,
principalmente do governo do Estado - que comandou o processo de recuperação da Serra do Mar -, e das indústrias que, em menos de uma década,
investiram mais de US$ 1 bilhão em projetos antipoluição.
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Recuperação ambiental da cidade não ocorreu por acaso
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Abordamos tal assunto, que já foi motivo de tantas reportagens e análises ao longo dos
anos, a propósito de uma nova luta em que a comunidade cubatense está envolvida: a do reconhecimento oficial da cidade como estância turística.
Projeto de lei neste sentido já foi apresentado na Assembléia Legislativa, pelo deputado estadual Marcelo Bueno (PTB) - subscrito pelos deputados
Maria Lúcia Prandi (PT) e Fausto Figueira (PT) - e que atualmente tramita, para análise técnica, no Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das
Estâncias (Dade), órgão vinculado ao Governo do Estado.
Pode, para muitos, parecer estranho que um município com as características de Cubatão
- maior pólo siderúrgico-petroquímico da América Latina - pretenda também ser pólo turístico. Entretanto, e isso justificou a apresentação do
projeto na Assembléia Legislativa, não existem mais dúvidas de que a cidade apresenta todos os requisitos exigidos. Temos atrações históricas
(monumentos da Independência e calçada do Lorena, na Serra do Mar) e belezas naturais (grande extensão de mata atlântica, cachoeiras, rios,
manguezais), que justificam o turismo ecológico e de aventura, o que mais cresce, hoje, no País. Além disso, não temos mais problemas ambientais,
fato atestado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) em recente relatório, no qual revela que Cubatão controla mais de 90% de
suas fontes de poluição.
Cubatão é, hoje, a única cidade do litoral sem reconhecimento oficial como estância.
Ao pleitearmos tal título, levamos em conta, é claro, os benefícios financeiros que isso acarretará, como verbas do Governo do Estado, por meio do
Dade, atração de empresas turísticas, com a conseqüente geração de empregos e tributos etc. Mas, pensamos, mais ainda, no fortalecimento da imagem
da cidade no que se refere à preocupação com o meio-ambiente. A comunidade industrial, temos certeza, será uma das que mais se empenhará em
dignificar, sempre, a nova condição, aperfeiçoando seus já eficientes métodos de controle ambiental. Ela sabe que, se hoje já é honroso o fato de
uma cidade industrial conviver com um meio-ambiente saudável, mais ainda será se, além disso, este meio-ambiente servir como atração de turistas.
Sem dúvida alguma, o reconhecimento de Cubatão como estância turística será o
fechamento, com chave de ouro, de todo o processo que levou nossa cidade a deixar de ser o vale da morte para se tornar, para sempre, o Vale da
Vida.
(*) Clermont Silveira Castor é
prefeito de Cubatão. |