Guará vermelho, símbolo da recuperação ambiental de Cubatão, em imagem animada na página Web
da Fundação Guará Vermelho, mantida pela Prefeitura Municipal de Cubatão
Cubatão, exemplo mundial de recuperação ambiental
Nas décadas de 70 e 8O, o pólo industrial de Cubatão lançava
no ar, diariamente, quase mil toneladas de poluentes. O solo, os rios e manguezais que formam o rico ecossistema da região recebiam
indiscriminadamente outras tantas toneladas.
No ano de 1985, através da parceria entre a Administração Municipal, a Cetesb, as Indústrias
e a Comunidade, foi iniciado um rígido programa de despoluição ambiental. Os resultados foram imediatos: no período de menos de dez anos, os índices
das fontes poluidoras foram reduzidos em 92%.
O reconhecimento por esse trabalho foi coroado durante a ECO 92, pela ONU (Organização das
Nações Unidas), que outorgou o Selo Verde à Cubatão, como Cidade-Símbolo da Ecologia e Exemplo Mundial de Recuperação Ambiental.
A Lei Orgânica do Município de 1988, em seu artigo 189 – capítulo IV - Do Meio-Ambiente -
§1º - letra C, prevê a criação de uma Fundação de Amparo à Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico. Após dez anos de sua promulgação, a Prefeitura de
Cubatão está instituindo a Fundação Guará-Vermelho de Cubatão, atendendo a esse dispositivo e promovendo estudos científicos e técnicas avançadas
para a manutenção da harmonia entre o homem e o ecossistema.
De todas as espécies já catalogadas nos manguezais da Baixada Santista a que mais chama a
atenção é o Guará-Vermelho. Não somente pela beleza de sua coloração, mas também pelo seu retorno ser em Cubatão.
O grau de ameaça que a espécie enfrenta, justifica a maior atenção, pois os guarás-vermelhos
estão catalogados na lista das espécies criticamente ameaçadas de extinção.
Histórico - Os guarás vivem em Cubatão desde meados da década de 84, depois de um
período em que não eram encontrados e que não se sabe para onde foram. De onde vieram não se sabe ao certo. Em 1984, um funcionário do Terminal
Marítimo da Ultrafértil descobriu essa ave vermelha, com o bico, as patas e a ponta das asas pretas, do tamanho de uma garça. A Ultrafértil contatou
a Zoológico de São Paulo, que alertou a Universidade de São Paulo. Os pesquisadores vieram para ver essa espécie raríssima, só existente até então
entre o Maranhão e o Amapá, e em Cubatão.
Em 1994, dois pesquisadores, Fábio Olmos e Robson Silva e Silva, com apoio da Fundação
Boticário, iniciaram os estudos sobre a população de guarás. Acreditam que o reaparecimento se deu devido as obras de dragagem do canal do estuário
feito pela Cosipa na década do 70, com a deposição da lama nas margens, o que possibilitou a formação de bancos de alimentação, que - aquecidos pelo
sol, tornam-se ambiente ideal para a proliferação de moluscos, vermes e crustáceos (as marias-mulatas) que servem de alimentos às aves.
Segundo os pesquisadores, a maior concentração dessas aves ocorre de outubro a março. Nesse
período ocorre a reprodução. Na época do inverno, os guarás se escondem mais para o interior do mangue, na altura do Rio Cascalho, em direção ao
Parque Ecológico Cotia Pará. A população ainda é pequena. São cerca de 600 indivíduos. Para se ter uma idéia de proporção, para cada guará existem
cinco garças brancas de várias espécies.
Atualmente, os estudos tem prosseguido com o apoio da Ultrafértil. A ajuda financeira é
aplicada no trabalho de pesquisa científica nos mangues da região de Cubatão e Santos, principalmente no estuário que limita esses municípios com
Guarujá.
Quando os mangues da região passaram a apresentar sinais de degradação, na década de 60, os
guarás abandonaram a região, só retornando na década de 80, quando Cubatão já estava trabalhando no controle da poluição. Isso, para os cubatenses e
para a comunidade científica, deve e pode representar ou sinalizar a recuperação da flora e fauna, não só daquela área mas de todo município,
representando o símbolo de sucesso dos programas de controle ambiental da cidade.
Contudo, muito há de ser estudado para a efetiva preservação dessas aves e das outras cento
e setenta e seis espécies encontradas na região. Nesse cenário, a Prefeitura Municipal de Cubatão entendendo que toda comunidade científica do país
e do exterior deva conhecer o valoroso material faunístico do manguezal de Cubatão, e aqui poder desenvolver seus projetos, auxiliando num plano de
manejo dessas espécies in situ e ex situ, instituiu um Grupo do Trabalho com finalidade de criar a Fundação Municipal de Proteção ao Guará-Vermelho
- Eudocimus ruber, cujo objetivo maior será o amparo à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico para Cubatão, em consonância a preservação
ambiental.
Estratégias para conservação dos guarás - Para se implantar um programa efetivo de
proteção aos guarás, na região estuarina de Santos/Cubatão, com diretrizes claras e eficientes, se faz necessário conhecer os aspectos básicos de
sua biologia, como tamanho total da sua população, sua distribuição na região, locais de reprodução, alimentação, pernoite, construção de ninhos,
comportamento, definir pontos potencialmente possíveis de reprodução e que devem ser protegidos, etc.. Essas informações são essenciais na
demarcação de uma unidade de conservação, mas não são suficientes para garantir a sobrevivência da espécie.
Se faz necessário incrementar a pesquisa sobre a ecologia da espécie, composição da dieta,
determinação dos principais metais pesados e pesticidas e os níveis de contaminação de suas presas; duração do período reprodutivo, taxas de
processo reprodutivo; pressão do predadores sobre ovos, filhotes e adultos, bem como, monitoramento da população, comportamento social, interação
com outras espécies. Determinar os fatores ambientais que desencadeiam o processo reprodutivo e principalmente, dos fatores que impeçam a reprodução
dos guarás em determinados anos.
Atividades de conservação:
Criar uma unidade de
conservação que deva ser eficiente para garantir a continuidade dos processos vitais do guará, evitando a destruição ambiental, o avanço das
invasões humanas, a poluição das águas e atividades deletérias de pessoas que percorram a área (caçadores, pescadores, comerciantes de animais,
turistas etc...);
Implantação efetiva
dessas unidades com fiscalização e vigilância por pessoal treinado e monitoramento constante das atividades do entorno, dos níveis de poluição e de
atividades clandestinas;
Atividades de
Educação Ambiental voltadas à população de estudantes, professores, dos moradores e trabalhadores da região e aos tomadores de decisão;
Estímulo às
atividades não deletérias, como atividade turística controlada, em que o objetivo seja a observação da natureza, em particular do guará.
Objetivos:
Incentivar e
incrementar as pesquisas científicas e tecnológicas nos manguezais e na mata atlântica de Cubatão, visando o desenvolvimento sustentável;
Desenvolver
programas de educação ambiental para toda comunidade cubatense e da região visando a preservação dos ecossistemas e das espécies neles existentes,
tendo como símbolo maior o guará;
Reafirmar o conceito
Cubatão - Cidade Símbolo da Ecologia em todo o País e Exterior;
Atingir a excelência
de controle dos programas de controle ambiental;
Desenvolver
parcerias com órgãos públicos: Ibama, Cetesb, SMA ..., entidades privadas; indústrias; ONGs e a comunidade cubatense, para a efetiva consolidação da
referida fundação;
Desenvolver trabalho
criterioso de possível repovoamento de guarás em áreas que outrora existiam, preservando o banco genético existente;
Garantir a
reprodução dessa e de outras espécies existentes no manguezal e na mata atlântica da região.
O Guará - Eudocimus ruber
- É uma ave Ciconiiforme, da família Threskiornithidae, que compreende os íbises do Velho e do Novo Mundo. Os íbises distinguem-se das garças e das
cegonhas por terem bico muito mais afinado e curvo para baixo. Vivem em florestas inundadas e pântanos, sendo gregários.
O E. ruber é um íbis com 58 cm de comprimento total; os adultos tem colorido
inteiramente escarlate, à exceção das pontas das asas, que são negras. Os imaturos tem cabeça e pescoço marrom-claros, asas e cauda marrom escuras,
rabadilha e barriga brancas.
Tem sua distribuição original desde o Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana
Francesa, Trinidad e Brasil, através de quase todo o litoral do Amapá a Santa Catarina.
Na Costa do Brasil, parecia estar restrita, na segunda metade do século XX, ao Amapá, Pará e
Maranhão. Embora seja citada diversas vezes para o litoral meridional até o início do século XIX, o último avistamento de um bando nessa região se
deu por volta do 1930. Em 1977, o ornitólogo Pedro Scherer avistou três indivíduos no litoral paranaense.
No Estado de São Paulo, cuja costa mereceu muito menos atenção por parte dos viajantes
naturalistas e dos ornitólogos, os registros conhecidos remontam do século XVI, sendo de autoria de Hans Staden (em 1557) e do Padre José de
Anchieta (em 1560) (Marcondes-Machado et al., 1989). Avistamentos adicionais somente ocorreram a partir da década de 1980, nos manguezais da
Baixada Santista.
Ameaças - E. ruber é uma espécie extremamente vulnerável à destruição
ambiental, devido à sua natureza tímida e gregária ao hábito de nidificação colonial. Evidência disso são os casos em que colônias inteiras
abandonaram suas tentativas de reprodução logo após uma perturbação humana.
Desde o início da década de 80, tornaram-se mais urgentes os alertas da comunidade
científica mundial, preocupada com a situação do E. ruber. A redução das populações costeiras, principalmente no Brasil, fez com que diversos
grupos se interessassem pelo seu status populacional, como o World Working Group on Storks, Ibises and Spoonbills (Grupo Mundial de Trabalho
sobre Cegonhas, Íbises e Colhereiros); em 1983, a Fundação Polar financiou programa de recenseamento das colônias dentro de sua área de distribuição
(Ramo & Busto, 1984).
Em 1988, foi realizada a Primeira Oficina Internacional para a Conservação do Guará, em
Caracas-Venezuela, com o patrocínio da CIPA - Conselho Internacional para a Preservação das Aves, WWF e Wildlife Conservation. Sendo a destruição
dos manguezais um dos problemas que afetam as populações costeiras do E. ruber, barcos de pesca ou de turismo (que aceleram os motores das
embarcações para forçar as aves a levantarem vôo), efluentes industriais, petróleo, poluição das águas, coleta de ovos etc.
Situação atual - A população de E. ruber existente nos manguezais de
Cubatão/Santos tem uma importância incalculável: pelo que se conhece, constitui a última grande população remanescente da área que, no passado,
abarcava a distribuição Sul da espécie e que ia do Sul do Espírito Santo até Santa Catarina.
A importância de sua preservação torna-se maior, primeiramente, porque implica em
preservação de um material genético e representa a única fonte disponível de indivíduos que se poderia utilizar para um eventual repovoamento
criterioso de áreas onde outrora existiam.
Aliás, registrou em 1994 o pesquisador Celso Lago-Paiva que, até então, "o único exemplar de
museu de Eudocimus ruber conhecido atualmente para o Estado de São Paulo, Brasil, foi coletado em 1 de janeiro de 1961 nos mangues do sistema
estuarino de São Vicente, litoral central do Estado, e depositado na coleção ornitológica (ESLQ) do Departamento de Zoologia da ESALQ/USP, em
Piracicaba, São Paulo". |