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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO: BILLINGS & BORDEN
As usinas elétricas, em 1965 (I)

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A história do início da produção de energia elétrica no estado  de São Paulo e especialmente em Cubatão foi narrada por Maria de Lourdes Radesca, no capítulo 18º da obra A Baixada Santista - Aspectos Geográficos (volume IV - "Cubatão e suas indústrias", páginas 67 a 106, Editora da Universidade de São Paulo, 1965, São Paulo/SP - exemplar no acervo da Biblioteca Pública de Cubatão - ortografia atualizada nesta transcrição):


Vista panorâmica das usinas elétricas de Cubatão
Foto: acervo da São Paulo Light, publicada com o texto, na página 68 do livro IV

As usinas da Light e a energia elétrica

I - A São Paulo Light e seu domínio geográfico

A São Paulo Light S.A. Serviços de Eletricidade, empresa a que pertencem as usinas hidrelétricas de Cubatão, iniciou suas atividades em São Paulo nos últimos anos do século passado (N.E.: século XIX), sendo a primeira na Capital Bandeirante a empregar energia elétrica em serviços de utilidade pública - transportes coletivos (1901) e iluminação (1911).

A empresa, inicialmente denominada The São Paulo Railway and Power Company Limited, modificou logo seu nome para The São Paulo Tramway Light and Power Co. Ltd., para evitar confusões com a ferrovia Santos-Jundiaí (então denominada São Paulo Railway), passando mais tarde ainda a denominar-se São Paulo Light and Power Co. Ltd.

Foi fundada no Canadá tendo sua sede em Toronto, Província de Ontario. Obteve da Rainha Vitória carta patente de incorporação a 7 de abril de 1899 e, pelo decreto nº 3.349, o presidente da República, dr. Campos Salles, autorizou seu funcionamento no Brasil. Recentemente (1956) foi transformada em sociedade anônima brasileira com sede em São Paulo, tomando então o nome de São Paulo Light S.A. Serviços de Eletricidade. A maioria das ações da companhia continua, entretanto, a pertencer a canadenses e europeus [1].

A São Paulo Light faz parte das Companhias Associadas Light ou simplesmente Light, como é geralmente chamada pela população de São Paulo. A Light é constituída por várias sociedades anônimas, com personalidade jurídica própria e tendo cada uma a concessão de determinado serviço de utilidade pública.

As duas principais empresas do grupo Light concessionárias de serviços de eletricidade são: Rio Light S.A. Serviços de Eletricidade e Carris (1908), que exerce sua atividade no Estado da Guanabara e região Centro-Sul do Estado do Rio de Janeiro, e a São Paulo Light S.A. Serviços de Eletricidade, esta associada a duas outras empresas - São Paulo Serviços de Eletricidade (antiga São Paulo Eletric Company) e a Companhia de Eletricidade São Paulo e Rio.

A São Paulo Light e associadas têm a concessão dos serviços de eletricidade numa vasta área do Estado de São Paulo - 20.240 km², que abrange os seguintes municípios:

a) servidos pela São Paulo Light - São Paulo, Barueri, Cajamar, Caraguatatuba, Cotia, Diadema, Embu, Ferraz de Vasconcelos, Guarulhos, Itapecerica da Serra, Itapevi, Itaquaquecetuba, Mauá, Mogi das Cruzes, Pirapora do Bom Jesus, Poá, Ribeirão Pires, Santana de Parnaíba, Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, São José dos Campos, São Sebastião, Suzano e Taboão da Serra;

b) servidos pela São Paulo Serviços de Eletricidade - Sorocaba, São Roque, Salto de Pirapora e Araçoiaba da Serra;

c) servidos pela Companhia de Eletricidade São Paulo e Rio - Itu, Salto, Jundiaí, Indaiatuba, Vinhedo, Jacareí, Guararema, Salesópolis, Santa Branca, Jambeiro, Caçapava, Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Aparecida, Porto Feliz, Boituva, Taubaté, Tremembé, Lorena, Cruzeiro e Cachoeira Paulista.

Além disso, a São Paulo Light e associadas fornecem energia para ser distribuída pela Cidade de Santos Serviços de Eletricidade e Gás S.A. (antiga City of Santos Improvements Co.), empresa concessionária do serviço de energia elétrica nas cidades de Santos, São Vicente e Cubatão, mas que não possui instalações geradoras, executando apenas o serviço de distribuição de energia.

A área servida pela São Paulo Light e associadas é densamente povoada - 5.080.000 hab., distribuídos por 20.240 km² ou sejam 250 hab/km². O consumo de energia anual per capita é, na região, de 1.450 kWh - elevadíssimo em relação ao restante do país e equiparável ao de países considerados de alto desenvolvimento econômico [2].

A área de concessão da São Paulo Light abrange, além disso, municípios fortemente industrializados tais como o da Capital, Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul, que desempenham papel importante na economia nacional.

II - O Sistema de São Paulo

O sistema gerador de energia elétrica da São Paulo Light e companhias associadas, geralmente denominado Sistema de São Paulo, utilizou até 1954, data em que foram postas em funcionamento as primeiras unidades da Usina Piratininga (termelétrica), quase exclusivamente, energia elétrica proveniente do aproveitamento de cursos d'água da bacia do Tietê e, em pequena escala, da bacia do Paraíba do Sul. Atualmente, o contingente de energia fornecido ao sistema pela Usina Piratininga é apreciável, como se deduz do quadro seguinte:

Sistema produtor de energia elétrica da São Paulo Light

e companhias associadas

Cubatão (de superfície) 474.000  - 864.000 kW
Cubatão (subterrânea) 390.000
Piratininga (termelétrica) 450.000  
Itupararanga 56.124  
Rasgão 18.539  
Porto Góis 10.905  
Isabel 3.200  
Salesópolis 2.181  
Quilombo 1.818  
Bocaina 872  
São Sebastião 1.399  
Sodré 600  
Putim 582  
Monte Serrat 145  
Hilsdorf 57  
Total 1.410.426  

Da análise dos dados acima expostos ressalta que o Sistema de São Paulo possui hoje dois grandes centros produtores de energia: um hidráulico - Cubatão, outro térmico - Piratininga, além de uma série de usinas menores. Cubatão tem atualmente capacidade geradora superior à metade da capacidade total de todo o Sistema de São Paulo, que, por sua vez, possui capacidade geradora equivalente, segundo os dados estatísticos de 1961, a 27,5% da capacidade total instalada em todo o território brasileiro - 5.125.000 kW.

Todas as instalações do Sistema acham-se interligadas por linhas de transmissão, de modo a constituir um só organismo; fazem exceção as pequenas usinas Hilsdorf e São Sebastião, que servem os municípios de Caraguatatuba e São Sebastião.

Além disso, como a energia elétrica pode ser transmitida a longa distância, o Sistema de São Paulo é também ligado aos das seguintes empresas: (a) Rio Light S.A. Serviços de Eletricidade e Carris, que conjuntamente com a Companhia Fluminense de Energia Elétrica, serve uma área de aproximadamente 11.000 km², abrangendo o Estado da Guanabara, 16 municípios fluminenses e 3 mineiros; (b) Companhia Paulista de Força e Luz, que fornece energia para uma área de 77.000 km² do Estado de São Paulo, sendo suas principais usinas as de Avanhandava (no Tietê), Americana (no Rio Piracicaba), Carioba (termelétrica) e Peixoto (no Rio Grande); (c) Usinas Elétricas do Paranapanema (Uselpa), empresa do Governo do Estado de São Paulo que se ocupa do aproveitamento hidrelétrico do Rio Paranapanema, possuindo atualmente duas usinas em funcionamento - Lucas Nogueira Garcez e Jurumirim.

O Sistema de São Paulo está também ligado à Usina de Furnas, localizada no Rio Grande, Estado de Minas Gerais, através de uma linha de transmissão Furnas-Poços de Caldas-Guarulhos. O empreendimento de Furnas está sendo levado a efeito por uma sociedade anônima, de que fazem parte o Governo Federal, os governos de Minas Gerais e São Paulo, a Companhia de Força e Luz e a São Paulo Light S.A. Serviços de Eletricidade. A Usina, cuja capacidade total será de 1.200.000 kW, quando concluída, deverá reforçar com 400.000 kW o Sistema de São Paulo.

O primeiro gerador de Furnas entrou em funcionamento em setembro de 1963, passando a enviar ao Sistema de São Paulo, que atualmente atravessa um período extremamente difícil, devido à estiagem excepcional, 1.500 kW.

O reforço de Furnas e dos outros sistemas ligados ao de São Paulo não foi suficiente, entretanto, para impedir que os reservatórios da Light quase esgotassem suas reservas, chegando em meados de outubro a menos de 9% de sua capacidade total. Esse fato obrigou a companhia mais uma vez a recorrer ao racionamento de energia para impedir a paralisação das Usinas de Cubatão [3], e, além disso, para não pôr em risco o fornecimento de água potável para os municípios da Capital e do ABC, que se abastecem nos lagos Guarapiranga e Billings.

A atual estiagem é, na região, a mais acentuada de que se tem notícia nos últimos 72 anos. A pluviosidade de março a agosto foi apenas de 132 mm. Veio ela, mais uma vez, pôr em evidência as vantagens da interligação de usinas de um mesmo sistema e de sistemas diferentes para assegurar um fornecimento regular e eficiente de energia.

Um sistema em crise pode receber socorro de outro, no momento, em situação normal. Isso porque nem sempre todos os sistemas recorrem às mesas fontes energéticas (hulha branca, óleo etc.) e, além disso, mesmo quando utilizada para a produção de energia, exclusivamente a força das águas, é vantajoso poder-se contar com o potencial hidráulico de bacias fluviais, cujo regime fluviométrico depende de meios geográficos diversos. Esta orientação, ora adotada no Brasil, é, aliás, a seguida atualmente pela maioria dos países em relação à produção de energia elétrica.

III - As usinas hidrelétricas de Cubatão

No fim do primeiro quartel deste século (N.E.: XX), já haviam sido aproveitadas pela Light, para a produção de energia, as quedas d'água naturais dos rios Tietê e Sorocaba mais próximas à Capital [4], e fora construído um grande reservatório (Guarapiranga, 1907) para regularizar a vazão do Tietê nas estiagens.

O crescente aumento do uso da energia elétrica, decorrente do crescimento de São Paulo e do seu parque industrial, bem como a previsão de um contínuo aumento de demanda de energia, levaram a Light a procurar novas fontes energéticas, que possibilitassem a construção de uma usina de maior capacidade que assegurasse à Companhia a possibilidade de atender, durante largo tempo, às solicitações do mercado consumidor. Estudos com essa finalidade foram feitos desde 1911, chegando a Light a adquirir terras vizinhas à cachoeira do Itapanhaú e às do Rio Juquiá, da vertente marítima.

O sistema da Serra do Mar - Em 1923, as pesquisas foram entregues ao engenheiro A. W. K. Billings, que depois de rever os planos e estudos já feitos, resolveu por sugestão do engº. Hyde procurar outros pontos na escarpa da Serra do Mar que possibilitassem o desvio de cursos d'água do Planalto, aumentando-lhes a queda e, conseqüentemente, a potência, como foi planejado para o Itapanhaú.

Depois de meses de trabalho, surgiu o projeto da Serra do Cubatão que, em linhas gerais, consiste na captura artificial de rios do Planalto (bacia do Rio Grande, subafluente do Tietê) pelo Rio das Pedras da vertente marítima. As águas do Planalto, captadas e armazenadas em lagos artificiais (represas Guarapiranga e Billings), transpõem através de um canal o divisor Paraná-Atlântico, passando para o reservatório do Rio das Pedras, no alto da Serra, sendo dali precipitadas escarpa abaixo, através de adutoras, para a Baixada Santista.

Para a execução do projeto de Cubatão que, na sua primeira fase, visava apenas o funcionamento de uma usina hidrelétrica de superfície, foi necessária a construção de um verdadeiro sistema hidráulico artificial, estabelecido principalmente no Planalto Paulistano, mas que atinge seu verdadeiro objetivo ao movimentar, em Cubatão, na Baixada Santista, os grupos geradores de energia. Os principais elementos componentes do sistema hidráulico artificial de Cubatão são: Reservatório Billings, Canal do Pinheiros, Reservatório do Guarapiranga, Estações Elevatórias de Traição e Pedreira, Reservatório do Rio das Pedras e Tubos Adutores.

Reservatório Billings - Situado em terras dos municípios da Capital, São Bernardo do Campo, Santo André e Itapecerica da Serra, o Reservatório Billings (antigo Rio Grande) é o principal lago artificial abastecedor da Usina de Cubatão. Armazenava, inicialmente, águas da bacia do Rio Grande, passando mais tarde a armazenar também águas do Rio Tietê e Reservatório Guarapiranga, recalcadas através dos canais do Pinheiros e Rio Grande.

Deve-se sua existência à construção de várias barragens, a principal localizada no vale do Rio Grande, aproximadamente 7 km a montante da confluência deste rio com o Guarapiranga. Essa barragem mede 1.500 m de comprimento por 25 de altura, tendo sido edificada por aterro hidráulico com núcleo de concreto sobre a rocha fresca para impedir a ação de animais escavadores.

O Reservatório Billings, cujo nome constitui uma homenagem ao grande engº. Asa White Kenney Billings, autor e executor do aproveitamento hidrelétrico de Cubatão, foi completado em 1934. Quando atinge sua cota máxima (746,5 m), recobre 130 km² de área, com perímetro de 800 km e capacidade de armazenamento de um bilhão e duzentos milhões de m³ de água, o que equivale a 2 bilhões kWh.

Reservatório do Guarapiranga - Foi construído em 1907 com o objetivo de regularizar a vazão do Tietê durante as estiagens e assegurar, assim, o pleno funcionamento da pequena Usina de Parnaíba, pioneira do sistema gerador da Light e responsável, na época, pelo abastecimento de energia elétrica da cidade de São Paulo.

O Reservatório do Guarapiranga, conhecido também por Represa Velha ou Represa de Santo Amaro, armazena água do Rio Guarapiranga, um dos formadores do Rio Pinheiros, e de seus afluentes - Lavras, Santa Rita e M'Boi Guaçu. Sua superfície é de 33,9 km²; seu volume, quando atingida a cota máxima (736,62 m), é de 194,7 milhões de m³.

Para a obtenção desse grande lago artificial foi necessário construir barragens, a principal medindo 1.640 m de comprimento e 19 m de altura.

Esse reservatório foi incorporado ao sistema hidráulico de Cubatão depois de desmontada a pequena Usina de Parnaíba. Suas águas, desviadas através do Canal do Rio Grande e do Pinheiros, chegam à Usina Elevatória de Pedreira, sendo, em seguida, recalcadas para o Reservatório Billings, indo depois movimentar as turbinas geradoras na Baixada Santista.

O desvio de água do Guarapiranga, para o aproveitamento de Cubatão, torna-se plenamente compreensível se nos lembrarmos de que, na antiga usina geradora de Santana de Parnaíba, hoje transformada em usina de recalque, eram necessários 28 m³ de água para gerar um kW, ao passo que, em Cubatão, devido à grande queda artificial que constitui a escarpa da Serra do Mar, apenas meio m³ de água é suficiente para gerar um kW.

A Represa Velha, devido a um convênio firmado entre o Governo do Estado e a Light, fornece 4 m³ de água por segundo, ou sejam 345 milhões de litros por dia, para abastecer parte da população da cidade de São Paulo.

Canal do Pinheiros - A fim de possibilitar a acumulação de maior reserva hidráulica no Reservatório Billings para acionar novos grupos geradores na Usina de Cubatão "a céu aberto", tornou-se necessário recorrer às águas do Tietê. Para isso foi preciso, alterando o projeto inicial das obras da Serra, retificar o Pinheiros, transformando o sinuoso rio num canal artificial de 25,226 km de comprimento, 94 a 98 m de largura e 5 a 6 de profundidade. Foram, também, retificados os cursos inferiores do Guarapiranga e Grande a jusante das barragens dos grandes reservatórios, facilitando a comunicação dos lagos com o Tietê.

Somente essas obras não bastariam para solucionar o problema, porque o Rio Pinheiros, mesmo retificado, continuaria por gravidade a correr em direção ao Tietê. Tornou-se necessário inverter o sentido do escoamento das águas do canal, drenando, numa verdadeira captura artificial, águas do Tietê para o Reservatório Billings. Isso foi obtido com a construção de obras de engenharia - a Estrutura do Retiro e duas estações elevatórias de água.

A Estrutura do Retiro, situada na confluência do Pinheiros com o Tietê, nada mais é que um sistema de comportas que regula a passagem das águas, especialmente nas cheias.

As estações elevatórias de Traição e Pedreiras recalcam águas do canal, permitindo vencer a diferença de nível de 30 m existente entre o curso inferior do Pinheiros e o Reservatório Billings. A Estação de Traição foi instalada a meio-caminho do canal do Pinheiros, próximo ao bairro paulistano de Cidade Jardim, no  local denominado Traição. É dotada de três grupos de bombas com motores síncronos e reversíveis, isto é, que podem também funcionar como geradores. Cada grupo de bomba possui capacidade de recalque de 70 m³/seg. e eleva as águas do canal para um nível de 5 m mais alto [5].

A Estação de Pedreira, instalada junto à barragem principal do Rio Grande, eleva as águas do Pinheiros, lançando-as no Reservatório Billings, situado num nível 25 m acima. É dotada de quatro bombas centrífugas, três com capacidade para recalcar 50 m³  por segundo e uma com capacidade de elevar 18 m³. Estas bombas, como as de Traição, podem funcionar como geradores, o que costuma acontecer nas horas de "pique", isto é, de máxima demanda.

Canal de ligação - As águas dos rios Tietê e Grande acumuladas na Represa Billings passam para o Reservatório do Rio das Pedras, na vertente marítima, através do Canal de Ligação que corta o divisor de águas. Esse canal, que mede 1.800 m de comprimento e tem 8,5 de profundidade, vê sua vazão controlada por uma barragem reguladora Summit Control.

Reservatório do Rio das Pedras - Localizado em terras do município de São Bernardo do Campo, na vertente marítima, o Reservatório do Rio das Pedras armazena águas provindas da Represa Billings e da própria bacia do Rio das Pedras. Para sua construção foi necessário interromper o alto curso do rio e edificar no leito rochoso uma barragem curva de concreto, com 134,6 m de comprimento e 37 de altura. A área do Reservatório é de 7,6 km², sua capacidade de 30 milhões de m³, sua cota máxima de 728,50 m, portanto 17 m abaixo do nível da Represa Billings. O nível do Reservatório é mantido mais ou menos constante por estarem nele situadas as tomadas de água das adutoras da usina.

Tomadas de água, torres de compensação e adutoras - As águas do Reservatório do Rio das Pedras são conduzidas através de dois túneis até as Torres de Compensação, que mantêm o equilíbrio da pressão. Dessas torres partem as oito adutoras de superfície, que descem pela encosta escarpada da Serra do Mar, encaminhando as águas do Planalto, com a velocidade média de 23 a 24 km por hora e sob a pressão de 70 atmosferas, às turbinas geradoras de Cubatão.

As águas do Tietê, Guarapiranga, Grande e Rio das Pedras, após cumprirem sua grande missão - a produção de energia elétrica para a importante área do Brasil onde se encontra o maior centro industrial da América do Sul - são lançadas, através do Canal de Fuga, ao Rio Cubatão e, deste, ao emaranhado de canais da Baixada Santista, chegando por fim ao oceano por um trajeto muito mais curto do que fariam sem a intervenção do homem.

Usina hidrelétrica de superfície - A Usina de Cubatão a céu aberto, cujo sistema hidráulico descrevemos sucintamente, funciona atualmente com oito grupos geradores, que entraram em serviço na seguinte ordem cronológica:

  Grupo

Capacidade em kW

1926 (10-X) 1 44.347
1927 (7-IV) 2 44.347
1936 (4-I) 3 54.525
1938 (2-VIII) 4 66.157
1938 (21-XII) 5 66.157
1947 (17-IV) 6 66.157
1948 (21-IV) 7 66.157
1950 (7-VII) 8 66.157
 

Total

474.004

Cada grupo gerador é dotado de duas turbinas Pelton a jato livre, que recebem o impacto d'água à velocidade aproximadamente de 400 km por hora, girando o eixo à velocidade de 360 rotações por minuto. Até hoje, é a usina de Cubatão a céu aberto a mais potente de todo o sistema gerador da São Paulo Light e companhias associadas.

O contingente de energia fornecido por essa usina ao Sistema de São Paulo, que, segundo previsão dos técnicos, deveria bastar à área servida pela São Paulo Light durante longo período, manifestou-se, entretanto, insuficiente, ainda não decorridos 20 anos de sua inauguração.

O fantástico crescimento de São Paulo, "a cidade que mais cresce no mundo", o desenvolvimento extraordinário de seu parque industrial, acelerado mais ainda durante a Segunda Guerra Mundial, bem como o progresso do interior do Estado, foram os principais responsáveis por esse fato.

Apesar das ampliações efetuadas na usina a céu aberto, a capacidade geradora disponível do sistema foi sendo cada vez menor, até que, em 1946, tornou-se inferior à demanda. Medidas de racionamento foram determinadas, acarretando graves prejuízos à população e à indústria.

Apesar das medidas de restrição ao consumo de energia elétrica, a demanda continuou sempre em ascensão. Tornou-se necessário ampliar novamente a capacidade geradora do sistema para sanar esse estado de coisas.

Depois de vários estudos, resolveu a Light levar a efeito a construção de uma usina termelétrica - a Usina Piratininga, que foi inaugurada em 1954, e uma hidrelétrica subterrânea em Cubatão, como um complemento às obras da Serra.

Usina subterrânea - Tendo sido constatadas pela Light a necessidade de ampliar novamente as instalações geradoras de Cubatão e a impraticabilidade de sobrecarregar, com novos tubos adutores, o esporão da Serra do Mar (que sustenta as atuais adutoras de superfície, por ocorrerem nele deslizamentos freqüentes, às vezes de grandes proporções como o verificado em fins de 1946, ameaçando a própria segurança da Casa de Força, resolveu efetuar estudos em outros esporões da encosta da Serra, a fim de encontrar local apropriado às novas instalações que deveriam ser, como as da Velha Usina, a céu aberto.

Dos estudos efetuados na região resultou a conclusão de que:

1º) o esporão do Monge, divisor de águas entre a bacia do Rio Perequê e a do Ribeirão das Pedras, que, sob vários aspectos, se apresentava como o mais indicado local para a instalação das futuras adutoras, revelou-se geologicamente inadequado por ser demasiadamente sujeito a aludes e desmoronamentos;

2º) as condições geológicas do esporão situado a Oeste do Rio das Pedras era muito favorável à construção subterrânea da usina, solução que apresentava as vantagens de ser menos dispendiosa que a céu aberto, mais segura por não estarem as instalações sujeitas aos deslizamentos e desmoronamentos de terra e, ainda, permitir a instalação da usina mais próximo ao manancial hidráulico, diminuindo assim a perda de água.

O fato de ser mais econômica a solução subterrânea para Cubatão, que à primeira vista causa certa estranheza e mesmo alguma incredulidade, quando analisada à luz dos elementos fornecidos pelos técnicos, torna-se perfeitamente compreensível e justificável. De fato, atualmente, graças ao aperfeiçoamento do equipamento especializado, utilizado na perfuração de rochas, é possível abrir galerias e cavernas com precisão e relativamente pouco dispêndio de capital. Além disso, a técnica de construção de galerias blindadas (galerias abertas na rocha viva e revestidas por lâminas de aço hermeticamente soldadas) está bastante adiantada, bem como os métodos que permitem avaliar com relativa precisão o comportamento das rochas face à pressão da água.

Uma grande economia de aço é feita quando construídas as adutoras subterrâneas, pois nas galerias blindadas grande parte da pressão exercida pela água é suportada pela rocha, podendo portanto o revestimento metálico ser de pequena espessura, o que não ocorre nas adutoras de superfície, em que a enorme pressão deve ser suportada pela tubulação de aço. "Cabe assinalar que é de 2.750 toneladas o peso total da blindagem de aço do túnel e do distribuidor, ao passo que, para a mesma potência (dos seis grupos), com adutoras ao ar livre iguais às que servem à primitiva usina de Cubatão, seriam necessárias 10.20 toneladas de aço" [6].

Por outro lado, na construção subterrânea há também a eliminação das dispendiosas obras de drenagem e proteção contra a erosão da encosta por onde deveriam descer as adutoras, se levadas a efeito as obras na superfície.

Todavia, a construção de usinas subterrâneas exige um estudo detalhado das condições da região; dele depende em grande parte o êxito do empreendimento e o custo das obras.

O estudo da constituição geológica da área da Usina de Cubatão foi feito através de inúmeras sondagens, num total de 3.350 m de perfuração. Alguns dos dados obtidos nessas pesquisas foram publicados pelo engº. Barros Barreto e constam também do corte geológico efetuado pelos técnicos da Light; segundo eles, as instalações subterrâneas de Cubatão estão localizadas em "zona quase inteiramente constituída de rochas metamórficas duras, não decompostas e não alteradas, do tipo gnaisse biotítico, quartzito, xisto e mármores" [7].

Na parte superior e mediana da escarpa da Serra encontram-se as rochas do Complexo Cristalino Brasileiro, predominando o gnaisse, que se apresenta entremeado de pequenos veios de quartzo, pegmatito e diques de granito. Na base da escarpa, em seu terço inferior, dominam as rochas da série São Roque: quartzito, xisto, quartzítico, sericitaxisto, mármore dolomítico, mármore branco e cinzento. A direção do pico de xistosidade dos gnaisses e dos xistos varia entre N 30º E e N 75º E. O ângulo de mergulho é bastante inclinado e varia entre 45º a 90º Noroeste. O regolito (ou seja, a camada superficial da rocha decomposta) é de espessura variável, encontrando-se mesmo, na parte inferior da escarpa, uma área em que a rocha viva só é encontrada a 60 m de profundidade, ao passo que em outros pontos acha-se aproximadamente a 2 m da superfície.

As obras da usina subterrânea iniciaram-se em setembro de 1952, desenvolvendo-se os trabalhos em dois setores: a construção da usina e o aumento das reservas de água dos lagos do Planalto.

Para a construção da usina foram escavados na rocha viva: (a) um túnel de pressão com fina blindagem de aço, de 1.506 m de comprimento e 3,25 m de diâmetro interno, por onde descem as águas do Reservatório do Rio das Pedras, até o distribuidor donde partem seis ramais controlados por válvulas de vedação; (b) câmara das válvulas, onde se alojam as válvulas de vedação; (c) uma enorme caverna, que comporta seis grupos geradores cada um de 88.400 HP.

As turbinas empregadas são (como as das usinas de superfície) do tipo Pelton, porém colocadas em posição horizontal. Cada gerador funciona com uma roda apenas, sob o impacto de 4 jatos d'água, que imprimem ao eixo 450 rotações por minuto. A caverna das máquinas possui altura equivalente a um prédio de treze andares (38,60 m), comprimento de 120 m e largura de 20,50 m. Após acionarem as turbinas, as águas são lançadas através do Canal de Fuga ao Rio Cubatão.

Para que se tenha idéia da grandiosidade das obras efetuadas no "coração" da Serra do Mar, seguem-se alguns dados estatísticos referentes à construção da Usina:

163.000  m³ de rocha viva escavados e removidos
212.000  m³ de terra escavados e removidos
67.000  m³ de concreto gastos
1.390  toneladas de aço consumidas na concretagem
2.750  toneladas de aço para blindagem do túnel e distribuidor [8].

A primeira unidade da Usina Subterrânea viu-se inaugurada em dezembro de 1955; em 1956, foram postas em funcionamento mais três unidades; em 1960, a quinta unidade; e, finalmente, em 1961, a última das unidades, elevando a capacidade total da usina a 390.000 kW (6 grupos de 65.000 kW cada um).

Para o funcionamento dos novos grupos geradores tornou-se necessário ampliar o sistema hidráulico de Cubatão, captando águas de uma área mais extensa da bacia do Tietê - de Pirapora até a confluência do Pinheiros - e as encaminhando para o Reservatório Billings.

Esse objetivo foi alcançado por meio das seguintes obras: (a) alteamento da antiga Barragem de Parnaíba, da cota de 711,44 m para 716 m, o que permitiu o armazenamento de 16.300.000 m³ de água na Represa Edgard de Souza, que fornece ao Reservatório Billings 206.000.000 de m³ de água por ano; (b) a transformação da antiga usina geradora de Parnaíba na atual Estação Elevatória Edgard de Souza; (c) a construção do Reservatório de Pirapora, por meio da edificação de uma barragem no leito do Tietê, que retém águas desse rio e de vários de seus afluentes, como o Juqueri, Ribeirão Porunduva e outros. A capacidade máxima atingida pelo reservatório é de 75.034.000 m³ (cota 698 m).

As águas represadas são recalcadas para o Reservatório Edgard de Souza pelas Usinas Elevatórias do mesmo nome, indo depois incorporar-se, através do Pinheiros, ao potencial hidráulico da Represa Billings.

Além de todos esses trabalhos de engenharia, foi necessário ainda efetuar a ampliação da capacidade das Usinas Elevatórias de Pinheiros, com a instalação, em 1962, de mais uma unidade na Usina de Recalque de Traição (70 m³/seg., elevando assim a capacidade total dessa usina para 210 m³/seg.).

As usinas de Cubatão consumiram, em 1961, última estatística por nós colhida, 3.016.867.315 m³ de água, ou sejam 95,7 m³/seg. Para atender a esse fantástico consumo, as bombas de recalque colocaram, em 1961, na Represa Billings, 2.470.142.596 m³ de água. A diferença entre água consumida e recalcada provém, em parte, do armazenamento feito em anos anteriores, e, em parte, da contribuição das bacias do Rio Grande e do Rio das Pedras.

[...]


Barragem do Rio das Pedras em 1929
Foto: acervo da São Paulo Light, publicada com o texto, na página 80 do livro IV


[1] Em 1960, necessitando a companhia de um aumento de capital, pôs à venda em São Paulo um milhão de ações no valor de um bilhão de cruzeiros, foram adquiridas por 33.794 pessoas.

[2] O consumo anual per capita de todo o Brasil, em 1962, incluindo-se nos cálculos o consumo também da região servida pela São Paulo Light, é ligeiramente inferior a 300 kWh.

[3] Departamento de Águas e Energia Elétrica. Racionamento de energia elétrica, ato nº 129 de 25 de setembro de 1963, em Diário Oficial do Estado, de 26 de setembro de 1963, pág. 45 e 46. Comunicado sobre restrições do consumo de energia elétrica, em Diário Oficial do Estado, 19 de setembro de 1963.

[4] Usina Santana de Parnaíba, atual Usina Elevatória Edgard de Souza, construída em 1901 no Tietê, Usina Porto Góis e Rasgão (1925), também no Tietê e, ainda, a Usina de Itupararanga, no Rio Sorocaba (1914).

[5] A capacidade de recalque da estação elevatória de Traição acima mencionada é a atual. Quando funcionava apenas a usina a céu aberto, havia em Traição apenas dois grupos de bombas com a capacidade, cada uma, de 70 m³/seg.

[6] Cf. SÃO PAULO LIGHT S.A. SERVIÇOS DE ELETRICIDADE, Secção Subterrânea da Usina Hidrelétrica de Cubatão, pág. 12, S. Paulo, 1957.

[7] BARRETO, B. F. Barros - A Usina Subterrânea de Cubatão in Engenharia, nº 133, setembro de 1953, pág. 8.

[8] Para maiores detalhes técnicos sobre a construção e funcionamento da Usina, veja SÃO PAULO LIGHT S.A. SERVIÇOS DE ELETRICIDADE, obra citada, e BARRETO, B. F. Barros, obra citada.

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