Os moradores remanescentes são, em sua
maioria, filhos e netos de ex-funcionários da extinta estatal Rede Ferroviária Federal S.A.
Foto: Raimundo Rosa, publicada com a matéria
CUBATÃO
Moradores de vila temem ser despejados
Thiago Macedo
Da Redação
Às margens da antiga estrada de ferro
Santos Jundiaí, em frente à Usiminas, em Cubatão, uma pequena vila ainda resiste ao
tempo. Com mais de um século de existência, a Vila Ferroviária, que já teve escola, hospital e 70 casas, hoje tem apenas 11 famílias, na única rua
que sobrou: a Rua das Varandas.
Porém, os únicos moradores remanescentes, a maioria filhos e netos de ex-funcionários da extinta
estatal Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA), reclamam que estão sendo pressionados pela atual concessionária da estrada de ferro, a
MRS Logística, para deixarem suas casas.
Filho de um ex-funcionário da RFFSA, Edmilson Marques do Nascimento, de 33 anos, nasceu e
constituiu família na Vila Ferroviária. Há sete dias ele recebeu uma ligação de uma pessoa que se identificou como advogado da MRS, dizendo-lhe que
tinha 15 dias para deixar a casa, pois havia uma liminar ordenando a demolição da sua residência e de todas as outras do local.
Edmilson não duvidou da ameaça porque há cerca de um ano (em maio de 2008) duas famílias da vila
foram retiradas de suas casas por força de decisões judiciais.
Na última terça-feira, ele e os seus vizinhos estavam apreensivos. Um deles era Hélio Alves da
Silva, que não trabalhou na RFFSA, mas se mudou para a vila após assinar um contrato de concessão com a Rede Ferroviária. Sem saber o que fazer,
porque, caso seja obrigado a deixar sua casa, não tem para onde ir junto com a mulher e filhos, Hélio pedia ajuda aos políticos locais. "Alguém tem
que interceder pela gente".
"Não somos invasores. Fomos trazidos para cá pela Rede Ferroviária. Meu marido era funcionário",
disse a Anésia Marques, que criou o s filhos e agora os netos na vila. "Quando a MRS chegou nós já estávamos aqui", protestou Hélio.
FERROVIÁRIOS |
Núcleo formado há mais de 100
anos por antigos trabalhadores ferroviários e que chegou a abrigar escola, hospital e cerca de 70 casas, tem hoje apenas uma rua.
Apesar das ameaças anônimas, a
atual concessionária da Estrada de Ferro, a MRS Logística, garante que não tem intenção de acabar com o lugarejo |
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Empresa - Apesar da preocupação da comunidade local, a assessoria de imprensa da MRS foi
categórica em afirmar que "não há ação na Justiça para retirar qualquer pessoa da Vila Ferroviária". A empresa assegurou, ainda, que a pessoa que
está ameaçando os moradores não fala em nome da MRS e que o caso deve ser investigado pela polícia.
A concessionária assume que tentou judicialmente retirar os últimos moradores da vila, que está
situada em área de sua concessão, mas que acabou deixando a idéia de lado. "Não é mais interesse da empresa retirar as famílias". A concessionária
entendeu que o isolamento da linha férrea de seu pátio de manobras de trens foi suficiente para acabar com o impasse.
A MRS deixa claro que continuará fiscalizando a área, pois ela faz parte da concessão e está sob
sua responsabilidade. "É um dever da empresa zelar pelo bem concedido". |