Santos eterniza a memória do seu grande filho com um monumento que se ergue na Praça Rui Barbosa, cuja pedra fundamental foi lançada a 12 de julho de 1922, às 16 horas; em pavilhão especial, reuniram-se autoridades e convidados de honra, entre os quais os aviadores portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Tocou a Banda Musical do Corpo de Bombeiros. Em nome da Municipalidade, discursou o dr. José de Freitas Guimarães. Na oportunidade, um popular que assistia à cerimônia sobre um tapume soltou várias bolas cheias de gás, sob as quais desfraldavam, entrelaçadas, as bandeiras do Brasil e de Portugal.

A inauguração do monumento ao Padre Voador, executado pelo escultor italiano Lorenzo Massa, deu-se a 7 de setembro de 1922, como ato saliente das comemorações oficiais do centenário da Independência. Faz-se oportuno apontar que essa obra escultórica resultou de indicação de autoria do então vereador dr. Estácio Correia.

No dia 19 de novembro de 1923 realizou-se na Praça Rui Barbosa, como parte dos festejos comemorativos do Dia da Bandeira, a cerimônia de inauguração dos candelabros do monumento a Bartolomeu de Gusmão, não assentados na devida oportunidade devido à greve trabalhadora ocorrida na Itália. Como era esperado, os globos de luz vieram a dar maior realce à obra escultórica. Em coreto especial tocou a banda de música do Instituto Dona Escolástica Rosa, sob a regência do maestro Aurélio Prado.

Por ocasião do 2º centenário do falecimento de Bartolomeu de Gusmão, a 19 de novembro de 1924, foi hasteado o pavilhão nacional no Paço por coincidir com o Dia da Bandeira. Em seguida autoridades e povo rumaram para a Praça Rui Barbosa, onde colegiais formaram em volta do monumento ao Padre Voador, reunindo-se no centro autoridades e outras pessoas gradas. Discursou o dr. José de Freitas Guimarães. Falou depois a menina Carlota Ferreira Lima, aluna da Escola Portuguesa. Houve sessão solene comemorativa no Centro Português, quando proferiu a oração oficial Antônio Dias de Mirandeira.

No dia 15 de outubro de 1933, em nome do governo da Argentina, o tenente aviador Oscar Cairó, da aviação militar do vizinho país, colocou uma palma de bronze no monumento a Bartolomeu de Gusmão, que tinha estes dizeres: 'La Aeronautica Militar Argentina a Fray Bartolomé Lorenzo de Gusmán. El imperio de los aires que estava reservado a los dioses, fué conquistado por el hombre al 8 de agosto de 1709. Ano MCMXXXIII'.

Em 1975, o prefeito municipal dr. Antônio Manoel de Carvalho mandou executar, sob plano, o serviço de alargamento das pistas da Avenida Bartolomeu de Gusmão, começando as obras entre o Canal 6 e o Canal 5, devendo ser prosseguidas até à Avenida conselheiro Nébias. O importante melhoramento também se estenderia à Avenida Vicente de Carvalho e à Avenida Presidente Wilson (até o Canal 1).

O padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão nasceu na Vila do Porto de Santos no ano de 1685, quarto dos 12 filhos do casal Francisco Lourenço Rodrigues e Maria Alvares, batizado no dia 19 de dezembro do mesmo ano. Depois de estudar no Colégio dos Jesuítas, em Santos, completou o curso de Humanidades no Seminário de Belém da Cachoeira, na Bahia, dirigido por seu protetor padre Alexandre de Gusmão.

Em seguida, foi para Portugal, diplomando-se em 1720, com a idade de 35 anos, pela Universidade de Coimbra, com o grau de doutor em Direito Canônico. Falava fluentemente as línguas latina, francesa e italiana, bem como traduzia com facilidade o grego e o hebraico. Desde o tempo de estudante na Bahia ele se dedicava ao invento que haveria de imortalizá-lo - a Passarola -, consagrando-se como o verdadeiro precursor da Aeronáutica no mundo, tentando os primeiros ensaios do voo humano.

A experiência com o seu aerostato ocorreu no dia 5 de agosto de 1709 no pátio da Casa da Índia, na presença do Rei d. João V e do núncio apostólico em Lisboa, mais tarde eleito papa sob a denominação de Inocêncio XIII.

'O balão, com surpresa de todos, alçou voo, até cerca de quatro metros e meio, indo se chocar de encontro às cortinas da sala das embaixadas, incendiando a estes panos, o que motivou terem os criados da casa real, armados de varapaus, abatido o aerostato, receosos de um incêndio'.

O Padre Voador não esmoreceu diante do fracasso e tratou da reconstrução do aparelho. Na segunda experiência, em outubro daquele ano, 'o balão subiu novamente, mas foi de encontro a uma parede ou cimalha e incendiou-se igualmente' (Taunay). D. João V mandou que lhe dessem uma subvenção de trezentos mil réis anuais, a fim de que prosseguisse nos estudos, mas a Junta dos Três Estados negou-se a dar-lhe o auxílio, sob a alegação de que não havia dinheiro.

Sofrendo dificuldades e suportando doestos de toda a espécie, viu-se ainda envolvido num processo no Tribunal de Inquisição. Fugiu para Toledo, onde foi encarcerado, sob rigoroso jejum, acusado de praticar 'infernais artes mágicas'. A Inquisição tratou-o como impostor. Os jesuítas conseguiram, após ingentes esforços, libertá-lo.