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BAIXADA SANTISTA - LIVROS - Chronica Geral do Brazil
Uma crônica de 1886 - 1800-1883 (15)

Clique aqui para ir ao índice do segundo volumeEm dois tomos (1500-1700, com 581 páginas, e 1700-1800, com 542 páginas), a Chronica Geral do Brazil foi escrita por Alexandre José de Mello Moraes, sendo sistematizada e recebendo introdução por Mello Moraes Filho. Foi publicada em 1886 pelo livreiro-editor B. L. Garnier (Rua do Ouvidor, 71), no Rio de Janeiro. É apresentada como um almanaque, dividido em séculos e verbetes numerados, com fatos diversos ordenados cronologicamente, tendo ao início de cada ano o Cômputo Eclesiástico ou Calendário Católico.

O exemplar pertencente à Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos/SP, foi cedido  a Novo Milênio para digitalização, em maio de 2010, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, sendo em seguida transferido para o acervo da Fundação Arquivo e Memória de Santos. Assim, Novo Milênio apresenta nestas páginas a primeira edição digital integral da obra (ortografia atualizada nesta transcrição) - páginas 167 a 191 do Tomo II:

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Chronica Geral do Brazil

Alexandre José de Mello Moraes

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Imagem: reprodução parcial da página 167/tomo II da obra

 

1800-1883

[...]

CCI – Na quinta-feira, 6 de março de 1817, arrebenta em Pernambuco a revolução republicana contra a monarquia.

CCII – No dia 11 de abril de 1817, falece o tenente-coronel José Alvares Marques.

CCIII – Na quarta-feira, 14 de maio de 1817, o capitão-mor Francisco de Paula Cavalcante e Albuquerque, um dos chefes da revolução republicana de 6 de março de 1817, em Pernambuco, é atacado e completamente batido, pelo marechal-de-campo Joaquim de Mello Cogominho de Lacerda, no engenho Trapiche de Ipojuca.

CCIV – No dia 19 de maio de 1817, o almirante Rodrigo José Ferreira Lobo bloqueia os portos desde o Rio de S. Francisco até o Rio Grande do Norte, compreendendo as províncias que haviam aderido ou tentado aderir à revolução republicana de Pernambuco; repele a ideia de uma convenção e intima à entrega da praça do Recife sem condições ao governo revolucionário, que em desespero proclama ditador a Domingos Theotonio Jorge, um dos chefes republicanos.

CCV – Na terça-feira, 20 de maio de 1817, o almirante Rodrigo Logo dá desembarque e faz ocupar pela sua maruja a cidade do Recife, abandonada pelos republicanos revolucionários, cujo governo provisório se dissolve, com a retirada e fuga dos principais chefes da revolução.

No dia seguinte, 21 de maio, o padre mestre João Ribeiro Pessoa de Mello Montenegro suicida-se no engenho Paulistas.

CCVI – São fuzilados na Bahia dois principais chefes da revolução de Pernambuco em 1817, Domingos José Martins, Miguel Joaquim de Almeida (o padre Miguelinho).

CCVII – Morre no Rio de Janeiro o cavaleiro Araujo (Antonio de Araujo e Azevedo), conde da Barca e ministro de Estado no dia 21 de junho de 1817.
O Brasil foi elevado à categoria de reino, devido aos esforços do ministro conde da Barca. Foi ele o criador da Academia das Belas Artes, no Rio de Janeiro, e quem mandou vir de Paris alguns professores, entre eles os Taunnays. Era poeta e diplomata muito instruído.

Philinto Elysio consagrou-lhe muitos versos laudatórios por seus merecimentos pessoais e literários.

CCVIII – No dia 29 de junho de 1817, chega Luiz do Rego Barreto a Pernambuco, e faz incontinente sequestrar os bens das pessoas comprometidas na revolução de 6 de março, e cria uma comissão militar permanente para julgar os criminosos, composta de: José Gonçalves Marques, relator e auditor de guerra; major de cavalaria conde da Figueira; tenente-coronel de caçadores José de Souza Sampaio; coronel Virissimo Antonio Cardoso; coronel Luiz Paulino de Oliveira Pinto da França, interrogante.

CCIX – O conde de Paraty, sendo solteiro, e não tendo liberdade para coisa alguma, depois que o rei se agasalhava, um indivíduo desses que a tudo se dobram para terem despachos ou por dinheiro, levou à noite uma mulher pública para o conde se divertir, conhecida pela alcunha de Lanterna.

O rei soube disto e ficou muito insultado, que Miguel mandasse vir uma mulher pública ao paço real, e pelo quê o repreendeu asperamente.

O conde respondeu-lhe: "- Vossa majestade não me dá tempo para procurar mulher fora do paço; que eu sou moço solteiro, tenho necessidades naturais".

A isto responde o rei: "- Pois casa-te".

O conde tornou-lhe: "Casar-me-ei quando tiver casa e meios para sustentar mulher e filhos."

O rei contou tudo à filha d. Maria Thereza, que era a sua confidente nessas intrigas de casa, e ela, depois de o ouvir, disse-lhe: "- que o verdadeiro era o conde casar-se com a condessa de Barreiros, porque a pensão que ela tinha como viúva desse conde, junta com a que recebia o conde de Paraty, podiam viver com abastança, ainda que o conde saísse do paço."

O rei, ouvindo o parecer da filha, dá ordem ao conde de Paraty, para que fosse de sua parte dizer ao conde de Vallada que ele queria que a filha viscondessa de Barreiros se casasse com ele, conde de Paraty; e bem que na mesma ocasião se dirigisse à viscondessa de Barreiros e lhe fizesse a mesma comunicação.

O conde de Vallada não pôs a menor dúvida, e deu-lhe a filha que sua majestade determinava.

O casamento efetuou-se dentro de oito dias, indo o conde com sua mulher morar no paço de S. Christovão, por baixo dos aposentos do rei. Sua majestade mandou preparar com muito luxo os aposentos do conde de Paraty.

O almoço, jantar e ceia eram tão profusos, como se o conde e Paraty fosse um príncipe da casas real.

Foi este casamento, apesar da rapidez, tão bem sucedido, e se chegaram a amar tanto que foram sempre mui felizes.

A condessa de Paraty era linda, e tinha 26 ou 27 anos, e a sua virtude era tal que, embora seu marido estivesse no maior valimento do rei, ela foi sempre um tipo de bondade. Em sua casa, que estava sempre atopetada de gente, a todos tratava bem. As pessoas que iam ao paço procuravam o conde ou deixavam cartões de visita.

Quando a condessa de Paraty teve o primeiro filho, foi batizado com o nome de João, que depois foi marquês de Paraty.

D. Carlota Joaquina a foi visitar ao seu quarto com as duas filhas que viviam em sua companhia.

A princesa d. Maria Thereza era sua íntima amiga e a visitava repetidas vezes. Só d. Pedro e a mulher é que lá não foram, porque o príncipe detestava o conde de Paraty, e a todos que eram validos de seu pai. Era tal a ojeriza que d. Pedro tinha aos validos do rei, que nunca com nenhum deles falava, e lhes dava a mão a beijar sempre muito sério.

Era tal a estima que o rei tinha à condessa de Paraty que, quando ela estava grávida ou tinha algum incômodo, não ia para a Ilha do Governador, e nem para a fazenda de Santa Cruz, só para não se separar o marido da mulher, porque em todas as viagens que o conde fazia a condessa o acompanhava.

CCX – Quando se batizou o filho do conde de Paraty, que depois foi marquês do mesmo título, el-rei o fez conde depois de oito dias de nascido, sendo o rei d. João VI padrinho, e a princesa d. Maria Thereza madrinha, honra que os soberanos portugueses só faziam ao duque de Cadaval.

CCXI – O marquês de Aguiar, d. Fernando José de Portugal, sobreviveu a seus dois colegas da criação do primeiro ministério no Brasil; este marquês era filho segundo do marquês de Valença, e a casa de Valença é aparentada com a de Bragança. Os títulos de conde e marquês de Aguiar lhe foram dados no Brasil por d. João VI.

Antes de ser ministro, foi capitão general na Bahia e vice-rei no Rio de Janeiro, sendo substituído pelo conde dos Arcos, partindo para Lisboa em 1807.

Chamado ao conselho na grave questão da partida do príncipe real para o Brasil, mudou de parecer logo que viu que o primeiro não tinha agradado ao príncipe regente [7].

Não se sabe se foi por esta mudança de parecer que o príncipe regente o escolheu para seu ministro no primeiro ministério que organizou no Brasil.
Sabe-se que a esquadra que conduzia a família real, antes de entrar nas águas do Brasil, encontrou-se com um navio que ia para a Europa, e sendo chamado à fala e perguntado se no Rio de Janeiro já sabiam que a família real ia para lá, respondeu que sim; e se preparava a cadeia para recebê-la.

Esta resposta causou susto; chamou-se d. Fernando José de Portugal para explicar o enigma, e este respondeu: que a cadeia estava próxima ao palácio, e que decerto o conde dos Arcos mandara evacuar os presos, e preparar aquele aposento para os criados da casa real.

Esta resposta sossegou os ânimos, porque d. Fernando assegurava a fidelidade dos brasileiros, que haviam de receber o príncipe e a família real com a demonstração da mais viva simpatia.

Tudo correu como d. Fernando havia predito; e daqui veio a sua nomeação para ministro de Estado, e a afeição que o príncipe lhe tomou e a confiança que nele depositava, que nunca foi desmentida.

D. Fernando, depois que foi elevado a marquês de Aguiar, pretendia o título de parente que d. João VI não negou, mas nunca lh'o concedeu; e a razão disto foi um segredo que o rei não revelou.

O marquês de Aguiar era formado em leis, seguiu a magistratura e era desembargador da Relação do Porto, tinha inteligência, mas de compreensão acanhada, e por isso procurava discutir os negócios para bem os compreender, e quase sempre nos requerimentos o seu primeiro despacho era "– Escusado" – e quando a parte lhe vinha falar, respondia: faça outro requerimento.

O que o marquês queria era ganhar tempo para se convencer da injustiça que praticava.

Era o marquês de Aguiar um homem honrado e limpo de mãos; e morreu tão pobre que o seu enterro foi mandado fazer à custa de el-rei, porque nada tinha de seu.

Thomaz Antonio de Villa Nova Portugal foi o sucessor do marquês de Aguiar; e el-rei, que gostava de saber do que pensava o povo, antes de nomear sucessor ao marquês de Aguiar, perguntava a todos: quem dizem por aí que será o sucessor do marquês? Fez esta pergunta a João Pedro Carvalho de Moraes, que era moço da câmara, que respondeu: "- Senhor, dizem muitas coisas, mas para mim entendo que o lugar de ministro assistente ao despacho vem de Portugal, para Portugal."

O apelido de d. Fernando era Portugal, e o de Thomaz Antonio era igualmente Portugal.

Conta-se que João Pedro Carvalho de Moraes fez um requerimento pedindo ao marquês de Aguiar a comenda de Cristo, e o marquês lhe despachou: "- Escusado". Fez segundo, terceiro e quarto, sempre "- Escusado", e atazanava o marquês com outros requerimentos, obtendo o mesmo despacho, e o marquês de viva voz lhe disse: "Sr. João Pedro, enquanto eu for ministro não há de ser comendador"; e João Pedro lhe respondeu: "- Sr. marquês, nisto não lhe posso fazer a vontade porque já comprei uma resma de papel de Holanda, e enquanto ela durar hei de requerer uma comenda de Cristo".

Ouvindo isto, o marquês de Aguiar, no primeiro dia de despacho, fez João Pedro de Carvalho de Moraes comendador da Ordem de Cristo.

Pela morte do marquês de Aguiar fizeram-se muitos versos.

CCXII – O imperador d. Pedro I teve muitas amantes de diferentes classe, cores e condições, das quais nenhum caso fazia e antes as ridicularizava, e mesmo achincalhava os maridos. A marquesa de Santos foi a única mulher por quem ele teve paixão. D. Pedro, até a idade de dezoito anos, não teve verdadeira amizade a gente séria, e foi no teatro que se enamorou de duas dançarinas francesas, irmãs mui bonitas, e para obter a mais moça, de nome Noemi, moradora no largo do Rocio, deu doze contos que lh'os emprestou Joaquim Antonio Alves, por antonomásia O Pilotinho.

Chegando a princesa d. Maria Leopoldina em 5 de novembro de 1817, estava esta francesa grávida de seis meses; e d. João VI, sabendo dos desvios do filho, mandou casar a francesa Noemi com um oficial da Ilha Terceira, dando-lhe de dote um ofício em Pernambuco, que lhe rendia oitocentos mil réis, e mais seis contos de réis em dinheiro; e a ela, cinco contos de réis para o enxoval do filho. Essa criança faleceu em Pernambuco e o general Luiz do Rego, que de tudo sabia, a mandou enterrar com grande pompa; e a francesa, sendo muito bem tratada por ele e por sua família. A princesa d. Maria Leopoldina, sabendo desta aventura do marido, mandou à criança uma memória de brilhantes e um conto de réis, dizendo que sentia o seu infortúnio.

Teve o príncipe mais dois filhos de uma francesa de nome Sessé, casada com um francês deste apelido, com loja de papel pintado. Foi também amante da mulher do general Jorge de Avellar Zuzarte.

Quando imperador e já viúvo, estando no palacete que depois foi do marquês de Abrantes, um capitão de tropa de linha lhe foi oferecer uma linda filha que tinha, pela quantia de vinte contos de réis, com o fim de felicitar o filho; e o imperador, aceitando o negócio, além da quantia que deu ao pai, ofereceu à vítima um anel de brilhante. Esta moça, de nome Joanna, casou-se depois com um oficial que morreu general.

O imperador, reconhecendo o caráter infame do pai, o desprezou. O imperador passou por uma horrível decepção, que não esperava: pedindo ele uma entrevista à atriz Luduvina, esta lhe ofereceu a sua casa de residência, indicando-lhe a hora; e quando ele aí chegou, saiu corrido, porque a virtuosa atriz, comunicando o pedido ao marido, este o esperou e o recebeu, entre alas de cômicos com tochas acesas.

CCXIII – O barão de Marechal, ministro da Áustria, foi para o paço de S. Christovão, quando foram o mordomo-mor e a camareira-mor, e só de lá saiu quando o imperador foi a enterrar.

Este barão era muito estimado da soberana, e viveu muitos anos no Rio de Janeiro, já encarregado de negócios, no tempo do rei, e depois da Independência foi ministro por pedido da imperatriz ao pai. Ele cumpria o seu dever, participando para Vianna tudo o que no Rio de Janeiro se passava com a imperatriz. O barão não gostava do imperador, e nem este dele. Aborreciam-se mutuamente. Ainda esteve no Brasil alguns anos depois da morte da imperatriz Leopoldina.

O barão de Marechal, apesar de ter sido sempre bem tratado pelos brasileiros, de tudo achincalhava, de tudo ria e ridicularizava a tudo. Não obstante o seu comportamento, era bom.

CCXIV – No dia 2 de dezembro, em que sua majestade a imperatriz mostrou gravidade em sua moléstia, o ministério tomou providências, mandando chamar o marquês de Palma, mordomo-mor, para tomar conta do paço e manter nele a ordem, o qual desempenhou dignamente o encargo, procurando ir em tudo com o ministério, evitando o comprometer-se com o imperador. Retirou-se para sua casa quando chegou o imperador, do Rio Grande, e ao entregar-lhe o governo do paço lhe disse o imperador: "Marquês, sei que se portou bem; eu lhe agradeço".

A marquesa de Aguiar, camareira-mor da imperatriz, que nunca residiu no paço, foi para ele durante a enfermidade da imperatriz; e como havia sido criada no paço e dama, no tempo do rei, era a mais própria para ali estar, para saber como ninguém das etiquetas, e por isso não deixou o quarto da imperatriz, assistindo a todas as conferências que frequentemente faziam os médicos.

A marquesa de Aguiar não se importou com ninguém; proibiu a entrada no quarto da imperatriz a todas as pessoas, sem exceção, para assim evitar a presença da marquesa de Santos no quarto da imperatriz.

Só nele entravam o bispo, as criadas privativas, os médicos e os ministros. As criadas dos príncipes só ali entravam quando levavam os filhos a ver sua mãe pela manhã e à tarde. A marquesa de Aguiar, camareira-mor, enquanto esteve no paço, que foi até a chegada do imperador, soube manter a ordem daquela casa, um pouco desmoralizada, desprezando intrigas, e nem recebendo as visitas da marquesa de Santos.

Determinou todo o cerimonial para o enterro da imperatriz. Esta soberba senhora, apesar de todo o seu orgulho, tratava a todos bem, para ser respeitada pediu ao imperador, quando chegou, para retirar-se á sua casa, e ele respondeu-lhe zangado: "- Pode ir". O imperador ficou sempre detestando a marquesa de Aguiar.

CCXV – A rainha d. Carlota Joaquina tinha relações amorosas com Fernando Carneiro Leão, que depois foi gentil-homem da câmara, e conde de S. José, e por quem ela concebeu paixão veemente. Fernando Carneiro tinha também, por esse tempo, comércio amoroso com certa viúva de sobrenome Penna, mas conto-se que d. Carlota Joaquina ignorava. Fernando Carneiro era casado com d. Gertrudes Pedra, senhora mui honesta e virtuosa. Sem que se soubesse o motivo, foi peitado o pardo Joaquim Ignacio da Costa Orelha para assassinar d. Gertrudes, o que efetivamente aconteceu no ano de 1817.

Indo d. Gertrudes ver a procissão de Nossa Senhora das Dores, que os ourives faziam antes da semana da Páscoa, ao recolher-se para sua casa na chácara a ponte do Catete, do lado direito, depois das 8 horas da noite, cuja chácara passou à sua filha marquesa de Maceió, ao apear-se da carruagem recebeu um tiro de bala no peito esquerdo, de que morreu.

Diferentes versões apareceram sobre o assassinato da infeliz d. Gertrudes Pedra. Uns diziam que Fernando Carneiro Leão e Luiz José de Carvalho, depois visconde da Cachoeira, sendo aderentes à revolução de 6 de março de 1817 de Pernambuco, a mulher daquele o desvanecia sempre e com pertinácia, para que se não envolvesse na revolução e os entusiastas desta para se desembaraçarem dela, mandaram matá-la.

Esta versão caiu por si, porque em todo o período da revolução não aconteceu fato igual, e nem os homens que queriam o governo republicano no Brasil cometeriam um crime tão atroz, como o de mandarem assassinar a uma pobre senhora,mãe de família, pelo desejo de afastar seu marido de um movimento revolucionário.

A outra versão recaiu sobre a viúva Penna, por ciúmes que tinha de Fernando Carneiro; e tanto que apareceu um pasquim nas esquinas das ruas que terminava:

A Penna feria a Pedra
E sobre a Pena a Pedra.

Mas a opinião geral, conforme me dissera a marquesa de Maceió, filha de d. Gertrudes e de Fernando Carneiro, pessoas de Jacarepaguá, parentes do mesmo, e que foi confirmada pelo conselheiro Antonio de Menezes Vasconcellos de Drummond, e dr. Manuel Joaquim de Menezes, todos contemporâneos, era a seguinte.

A rainha d. Carlota Joaquina de Bourbom tinha relações amorosas com Fernando Carneiro Leão, que era homem muito gentil, e por quem tinha paixão veemente, e como chegasse aos ouvidos da rainha que d. Gertrudes se queixava dela, a mandou matar pelo pardo Joaquim Ignacio da Costa Orelha.

Este assassinato foi mui sentido na Corte do Rio de Janeiro, e para o descobrimento dos autores do crime o rei incumbiu ao desembargador juiz do crime, José Albano Fragoso, que, devassando com todo o interesse, sendo escrivão da correição do cível da Corte e casa Lourenço Manuel Botelho de Moraes Sarmento, chegou ao conhecimento da verdade; e antes de lavrar a sentença foi comunicar a el-rei o resultado de suas investigações criminais, dizendo-lhe: "- Senhor, como juiz sei quem mandou matar a d. Gertrudes, mulher de Fernando Carneiro Leão, porque as peças do processo me não deixam dúvida; mas como homem não sei".

"- E então, quem é o assassino?", perguntou o rei. O desembargador José Albano Fragoso lhe respondeu: "- Foi a rainha minha senhora quem mandou, e o mulato Joaquim Ignacio da Costa Orelha assassinou a infeliz esposa de Fernando Carneiro Leão, como vossa majestade pode ver do próprio processo".

El-rei, aturdido com o que ouviu da boca do desembargador José Albano Fragoso, disse ao juiz: "- Convém que desapareça para sempre mais este escândalo dessa mulher"; e, tomando o processo depois de o ler, o queimou e não se falou mais em juízo sobre este crime [8].

A opinião pública, conforme ainda referem os poucos contemporâneos, foi coerente em criminar a rainha; e Joaquim Ignacio da Cota Orelha desapareceu do Rio de Janeiro, e só voltou em 1822 para se constituir o chefe dos capangas couteiros de José Bonifácio de Andrada e Silva e do primeiro imperador d. Pedro.

CCXVI – No dia 13 de maio de 1817 celebrou-se na corte de Vienna d'Áustria o casamento do príncipe real português d. Pedro de Alcantara com a arquiduquesa Maria Leopoldina Josefa Carolina, filha do imperador d'Áustria Francisco I.

Por ordem de el-rei d. João VI, nada se poupou para o esplendor deste casamento. A embaixada que se mandou a Viena, fazer o pedido oficial, foi encarregada ao marquês de Marialva, que se achava em Paris. O marquês preencheu dignamente a sua missão, apresentando-se em Viena com a maior pompa, que causou tanta novidade, que dela se escreveu um livro que corre impresso.

No dia dos esponsais, deu o marquês de Marialva um baile à Corte da Áustria, no qual despendeu para mais de um milhão de florins, equivalente a mil contos. O luxo e a pompa foram tão grandes que causaram admiração. O marquês de Marialva, além do que recebeu do Estado, gastou nesta missão toda a fortuna que recebeu em herança pela morte de seu pai.

A princesa Maria Leopoldina embarcou em Liorne a bordo da nau D. João VI, construída em Lisboa, e que pela primeira vez saía barra fora. Vinha acompanhada por duas fragatas e algumas embarcações de guerra. A nau estava adornada com o maior esplendor, sendo os camarins forrados de sedas, veludos, alcatifas e o mais.

A marinhagem da nau trajava uniforme de veludo carmesim, guarnecido de galão de ouro, e o gorro do mesmo veludo, com as armas reais de prata.

A esquadra chegou ao Rio de Janeiro no dia 6 de novembro de 1817, sendo recebida pelo rei e pela rainha d. Carlota Joaquina, mesmo a bordo, onde o rei deu-lhe um beijo na testa.

A bordo da nau D. João VI houve um refresco, onde apareceram todos os doces do Brasil e os frutos do tempo. O rei apresentou à arquiduquesa o esposo, seu filho, que lhe entregou o presente de noivado, sendo uma caixa de ouro cheia de ricos brilhantes lapidados. Ao entregar o presente, o rei disse à arquiduquesa, sua nora: "São frutos desta terra. Vossa alteza vem para o país das pedras preciosas".

O rei regressou para S. Christovão. A cidade iluminou-se. No dia seguinte, desembarcou a princesa d. Maria Leopoldina, vindo na galeota real para o arsenal, onde o rei e a família real a foram buscar, e seguiram para a capela real, onde receberam as bênçãos nupciais, e daí foram os noivos para o paço da cidade,onde se demoraram enquanto duraram as festas.

CCXVII – No dia 12 de outubro de 1817 o rei organiza casa para seu filho d. Pedro e nora d. Maria Leopoldina. Nomeou o marquês de Bellas, que foi camarista efetivo de d. Maria I, o marquês de Angeja, conde de Vianna, conde de Belmonte, conde de Rio Maior, que eram camaristas seus, para o serviço da casa do filho.

Para haver número suficiente para o serviço do rei e do filho, fizeram-se novos camaristas, que foram d. Nuno da Camara Manoel, filho do conde de Villa Flor, conde da Ponte, Antonio Telles da Silva (filho do marquês de Penalva, que depois foi marquês de Rezende), d. Vasco, conde de Belmonte, valido do rei, a quem nomeou camarista privativo para o filho, que só o acompanhava nos dias de Corte.

Era o conde um homem muito de bem, e todos o respeitavam e muito o estimavam, e por isso muito considerado pelo rei e por todas as pessoas da casa real. O príncipe lhe era muito afeiçoado, e o tratava de meu Belmonte ou de meu conde.

Quando se decidiu a ida do príncipe d. Pedro para Lisboa, ficando o rei no Rio de Janeiro, disse ele a seu pai que queria levar consigo o seu conde de Belmonte, seu filho com sua família. O mesmo aconteceu quando os papéis se trocaram, mas como o conde tinha em Lisboa a sua casa e no Brasil nada possuía, conseguiu retirar-se com o marquês de Bellas e outros com o rei.

O marquês de Angeja, que estava em Paris e aqui chegou quando o rei tinha já partido para Portugal, aqui serviu ao príncipe d. Pedro, até que ele se decidiu ficar no Brasil, levando sua sobrinha d. Francisca Telles da Silva, que era dama da princesa d. Maria Leopoldina. Nesta mesma ocasião foi para Lisboa, com o marquês de Angeja, d. Maria Barbara de Menezes, filha do marquês de Vallada, que era dama do paço.

O filho do conde dos Arcos foi nomeado camarista no dia em que o rei embarcou para Lisboa, e serviu a d. Pedro até o dia 5 de junho de 1821, em que o conde dos Arcos, preso pela tropa portuguesa, é enviado para Lisboa.

Indo toda essa gente para Portugal, ficou o príncipe regente somente com três guardas roupas, que eram João José de Andrade Pinto, João Maria da Gama Freitas Berquó e Francisco Maria Gordilho Velloso de Barbuda, que depois foi barão do Paty do Alferes, visconde de Lorena e marquês de Jacarapaguá.

Antonio Telles da Silva, depois marquês de Rezende, que se havia retirado para Lisboa, voltou para o Rio de Janeiro, dizendo que vinha para servir ao príncipe; e este lhe disse que muito estimava a sua presença, mas que havia de fazer semana, alternando com os outros guardas roupas. Deu-lhe um aposento em S. Christovão, mesa de Estado, e uma pensão do seu bolsinho.

O príncipe era amigo de Antonio Telles, fê-lo visconde e depois marquês de Rezende, pagando-lhe todas as despesas dos títulos, porque Antonio Telles da Silva nada tinha de seu. Nomeou-o ministro plenipotenciário para Vienna e depois para Paris.

Antonio Telles foi sempre cavalheiro, e fez boa figura nos seus empregos. Depois que d. Pedro abdicou à coroa do Brasil, foi-lhe sempre afeiçoado, acompanhando da França para Portugal a duquesa de Bragança. Depois a acompanhou a Munique, como seu mordomo-mor, conservando-se em seu serviço até que morreu.

João Maria da Gama de Freitas Berquó, o imperador o encheu de honras e condecorações; foi capitão de suas guardas e depois marquês de Cantagallo. Acompanhou o imperador para França, deixando sua mulher e filhos; e esteve ao lado de d. Pedro até que ele partiu para a Ilha Terceira; e voltou para o Rio de Janeiro, onde se demorou pouco tempo e voltou para Paris.

Quando a rainha d. Maria II e a duquesa de Bragança foram para Lisboa, Cantagallo e sua família as acompanharam e lhes prestaram valiosos serviços. Cantagallo, não obstante à dedicação que tinha a d. Pedro, nunca deixou de ser brasileiro, ainda que adotivo, vestindo sempre a farda verde. Estando no Rio de Janeiro depois da maioridade do atual imperador (N. E.: isto é, d. Pedro II do Brasil), não só fez serviços no paço, como exerceu o seu emprego de capitão das guardas. Seus filhos, mesmo nascidos na Europa, os batizou como brasileiros.

Cantagallo, Jacarepaguá e Andrade Pinto foram nomeados camaristas no dia 1º de dezembro de 1822.

CCXVIII – Para a princesa d. Maria Leopoldina, foram nomeados veadores d. Diogo, conde de Louzã; estribeiro-mor d. Francisco da Costa Macedo, que foi depois mordomo-mor da mesma senhora, e também agraciado com o título de visconde e marquês da Cunha.

Este titular, retirando-se para Lisboa muito antes da abdicação de d. Pedro I, desgostoso pela morte da mulher, chegou a ficar desarranjado do juízo, falecendo depois da morte de d. Pedro; d. Francisco de Souza Coutinho, depois marquês de Maceió, que foi ministro em Viena d'Áustria, e morreu em Paris no dia 14 de agosto de 1837, não quis voltar ao Brasil depois da abdicação, e não obstante conservou a nacionalidade brasileira.

Nomeou-se depois veador da mesma senhora a Luiz de Saldanha da Gama, que foi marquês de Taubaté e depois encarregado de negócios na Itália; faleceu em Londres depois da abdicação. Depois que d. Pedro principiou a governar, fizeram-se muitos guardas roupas, veadores e camaristas.

No tempo da imperatriz d. Maria Leopoldina fizeram-se quarenta e tantas damas, e três em nome da imperatriz Amelia. D. Pedro deu muitos títulos depois do reconhecimento da tal Independência. No dia 12 de outubro de 1825 deu o título de marquês de S. João da Palma ao conde da Palma; e fez mais vinte e sete titulares com grandeza entre viscondes e barões, além dos titulares sem grandeza.

No dia 12 de outubro de 1826 fez vinte e nove marqueses e seis condes, além dos viscondes e barões.

CCXIX – Foi nomeado em Lisboa guarda roupa efetivo do príncipe d. Pedro, Marco Antonio Montaury, homem probo mas incapaz de dar uma palavra de advertência ao príncipe, e de se intrometer em sua educação. Só servia para acompanhá-lo nos atos públicos, e faleceu no Rio de Janeiro em 1815. D. João VI conservou à viúva e filhos o ordenado que dava ao marido; e d. Pedro chamou-a para o paço, fazendo-a dama da princesa d. Paula.

Depois da morte de Montaury, foi servir seu irmão João Martinho de Montaury, que também faleceu no Rio de Janeiro. Estes dois Montaurys eram filhos do general das armas Montaury, que faleceu no Rio de Janeiro. Pelo falecimento do segundo Montaury, entrou para o serviço do príncipe d. Pedro, Manoel Francisco de Barros, filho do guarda roupa visconde de Santarém. Este moço era mui sério e grave, e por isso o príncipe d. Pedro não gostava dele, e nem Manoel Francisco de Barros do comportamento do príncipe; e pouco tempo o serviu, porque entrou para a diplomacia, e se entregou às letras, e se tornou célebre por suas obras diplomáticas, sendo nomeado depois visconde de Santarém.

Seguiu-se no mesmo emprego Joaquim Valentim de Souza Lobato, guarda roupa do rei, irmão dos Lobatos, validos do rei, que era em extremo condescendente com o príncipe, chegando a levá-lo às casas das moças.

Joaquim Lobato não necessitava de praticar estes atos de baixeza, e por isso constando ao rei estas e outras baixezas, o apartou do filho, sendo substituído por Pedro José Cauper, guarda roupa de el-rei, homem velho, na aparência sisudo, casado e com família; mas era tão pouco escrupuloso de sua honra doméstica, que levava o príncipe todos os dias para sua casa, à Rua do Conde da Cunha, hoje do Conde D'Eu [9].

O príncipe d. Pedro almoçava ordinariamente aí, onde se demorava das 9 horas da manhã ao meio dia, e voltava para o palácio de S. Christovão com o dito Cauper, para jantar com o rei, que não dispensava os filhos d. Pedro e d. Miguel irem à sua mesa. Às cinco horas, voltava d. Pedro para a casa de Cauper para merendar, e regressava às 7 horas para a casa de S. Christovão.

Esta assiduidade de um príncipe de dezessete anos, em uma casa onde havia moças bonitas, com a fama que o príncipe tinha de não respeitar as famílias, fez com que a reputação das filhas de Cauper sofresse muito na opinião pública.

As pessoas que frequentavam essa família, e que assistiam a esses almoços e merendas, diziam que nada havia de ofensivo á reputação das moças. O príncipe conversava, almoçava e jogava o gamão ou o bilhar com Cauper, com o genro deste, com o sobrinho e mais com outras pessoas que ali apareciam. À tarde, passeava pela chácara com os mesmos e com a mulher e filhas de Cauper, conversando com todos.

Comia só, e as demais pessoas ficavam de pé à roda da mesa, e somente epois que ele acabava de comer e se levantava da mesa, é que se assentavam, ficando ele de pé conversando. Isto durou dois ou três meses depois do seu casamento com a princesa d. Maria Leopoldina.

Como já vimos, chegou ao Rio de Janeiro a princesa d. Maria Leopoldina no dia 6 de novembro de 1817; e depois de passadas as festas, os noivos foram para S. Christovão, no dia seguinte pelas oito horas da manhã foi o príncipe d. Pedro levar a mulher à casa de Cauper, onde almoçaram, e para onde continuou a levá-la todos os dias.

A princesa fazia muitos agrados à mulher e filhos de Cauper, mas por fim teve ciúmes, e teceu o negócio com o rei, queixando-se do marido, e lhe pediu que fizesse sair do Rio de Janeiro Cauper com sua família.

O rei, julgando razoável a exigência da nora, fez sair Cauper da Corte, dando-lhe um ofício em Lisboa, que lhe rendia dezoito mil cruzados anuais.

No dia do embarque de Cauper com a família para Lisboa, o príncipe chorou muito, abraçando-se com Cauper. A princesa mostrou-se muito sentida, e dizia que eram intrigas que faziam para desviar seu marido do único amigo que tinha. No entanto, o rei dizia que tinha mandado Cauper para Lisboa com sua família por lhe haver pedido sua nora, para seu sossego.

CCXX – "Conde dos Arcos, governador e capitão general da capitania, amigo. – Eu el-rei vos envio muito saudar como aquele que amo. Sendo-me presente, com a vossa informação em ofício de 3 de janeiro passado, o requerimento de Joaquim de Sant'Anna, esmoler da casa pia dos meninos órfãos dessa cidade, em que pretendendo por em execução os mais louváveis desejos que o animam, de estender os benefícios da educação da mocidade aos órfãos pobres e desamparados do distrito da vila da Cachoeira, me pede que para este efeito lhe seja dado o edifício que atualmente se acha muito arruinado no termo da sobredita vila, e que foi o Seminário de Belém.

"E desejando que não faltem aos meus fiéis vassalos meio algum de educação pública, para que se façam bons e úteis cidadãos, principalmente aqueles que, pela pobreza de seus pais, muito mais precisam do meu real e paternal amparo; hei por bem, conformando-me com o vosso parecer, fazer mercê do referido edifício denominado Seminário de Belém, que foi dos extintos jesuítas, para nele fundar o suplicante um seminário e casa pia de educação em benefício dos meninos órfãos e desamparados da vila da Cachoeira e seu distrito. O que me pareceu participar-vos, para que assim o tenhais entendido e façais executar.

"Escrita no palácio do Rio de janeiro, em 3 de março de 1817. – Rei".

CCXXI – João Paulo Bezerra, tendo exercido vários empregos de diplomacia junto aos governos dos Estados Unidos da América do Norte, da república da Holanda, do imperador da Rússia, foi chamado em 22 de junho de 1817 para o ministério em substituição ao conde da Barca, na pasta da Fazenda e presidência do Erário Régio, e interino nas de Estrangeiro e da Guerra, faleceu de uma apoplexia no dia 29 de novembro do mesmo ano de 1817, na idade de setenta e um anos, cinco meses e dois dias.

CCXXII – Antonio de Araujo e Azevedo, conde da Barca, que havia sucedido a d. Fernando José de Portugal, marquês de Aguiar, nas pastas das três secretarias de Estado, faleceu no Rio de Janeiro no dia 21 de junho de 1817, sendo sepultado em S. Francisco de Paula.

CCXXIII – No dia 4 de julho de 1817, é nomeado o coronel João Vieira de Tovar e Albuquerque para governador da capitania de Santa Catarina, e no dia 16 de agosto, com patente régia, toma posse do governo de Santa Catarina, onde esteve administrando até 20 de julho de 1821, inimizado quase com todos pelo seu gênio muito despropositado, e sua muita ignorância.

CCXXIV – No dia 10 de julho de 1817, a comissão militar criada por Luiz do Rego Barreto, para julgar os comprometidos na revolução de 6 de março, em Pernambuco, manda enforcar dentro da Fortaleza das Cinco Pontas os capitães Domingos Theotonio Jorge e José de Barros Lima (Leão Coroado) e o vigário de Itamaracá, Pedro Tenorio.

CCXXV – No dia 28 de julho de 1817, o governo do Rio de Janeiro faz uma convenção com a Inglaterra, estabelecendo em Londres uma comissão mista, e concedendo-se à Grã-Bretanha o direito de visita e busca em navios mercantes do Brasil suspeitos de se empregarem no tráfico de africanos.

CCXXVI – Em virtude do tratado de 28 de agosto de 1817, assinado em Paris, pelo qual se estipula e fixam os limites do Brasil pelo Rio Oiapoque, ou de Vincente Pinson, em virtude da decisão do congresso de Viena de 1815, é evacuada pelas tropas brasileiras a cidade de Cayenna e restituída a colônia francesa ao governo da França.

CCXXVII – No dia 15 de setembro de 1817 foi preso o caudilho espanhol d. José Verdum.

CCXXVIII – Os muitos e assinalados serviços que as Alagoas prestaram à causa pública, desde o domínio holandês até a restauração de Pernambuco, fizeram que o governo do sr. d. João VI, para livrá-la das vinganças de Pernambuco, por decreto de 16 de setembro de 1817 a elevasse à categoria de capitania independente da de Pernambuco, e para lhe dar um testemunho de apreço concedeu ao reverendo vigário da matriz de Nossa Senhora da Conceição da capital e a seus sucessores as honras de cônego, com mais cem mil réis em sua côngrua.

De todas as províncias do Brasil, é a das Alagoas a que conta mais fatos gloriosos em sua história. Ela é a progenitora de d. Maria de Souza, a espartana brasileira, mulher de Estevão Velho, e de d. Rosa Paulina, mulher do ilustre coronel Manuel Mendo da Fonseca, e mãe dos generais Fonsecas.

CCXXIX – Na quarta-feira, 5 de novembro de 1817, chega ao Rio de Janeiro a princesa arquiduquesa da Áustria, a sra. d. Carolina Leopoldina, mulher do príncipe d. Pedro e Alcântara e Bourbon, filho do sr. d. João VI.

O desembarque da princesa efetuou-se às três horas da tarde do dia seguinte no Arsenal de marinha. Houve grandes festas, que as mencionarei, quatro dias de luminárias e arcos na Rua Direita, Pescadores, do Sabão e Ouvidor.

CCXXX – No dia 29 de novembro d e1817 morre, no Rio de Janeiro, João Paulo Bezerra, presidente do Real Erário.

CCXXXI – Por provisão do 1º de dezembro de 1817, se manda estabelecer um curato na povoação do Vianna, criada com colonos ilhéus, na capitania do Espírito Santo, e margem Norte do Rio Santo Agostinho, pelo conselheiro desembargador Paulo Fernandes Vianna.

CCXXXII – O famoso orador franciscano, frei Antonio de Santa Ursula Rodovalho, que no século se chamava Antonio de Mello Freitas, natural da vila de Taubaté, na província de S. Paulo, faleceu no convento de Santo Antonio do Rio de Janeiro no dia 2 de dezembro de 1817.

CCXXXIII – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 14; ciclo solar, 7; epacta, 23; letra dominical, D.

CCXXXIV – Martirológio. Dia 1٥ de janeiro, quinta-feira; Páscoa a 22 de março; indicação romana, 6; período Juliano, 6.531.

CCXXXV – A coroação e sagração de el-rei o sr. d. João VI foi em 1818.

CCXXXVI – No dia 31 de março as nossas forças no Arroio do Pando ganham vitória sobre as forças de Fructuoso Rivera.

CCXXXVII – Por decreto de 6 de junho de 1818, el-rei manda criar o Museu de História Natural, ordenando a compra do palacete e terrenos de João Rodrigues Pereira de Almeida, depois barão de Ubá, isto no campo de Santa Anna, depois campo da Aclamação, para sua instalação.

CCXXXVIII – O sargento-mor Antero José Ferreira de Brito, depois general e barão de Tramandaí, faz prisioneiros os chefes gaúchos La Torre, Pancho e Tolies.

CCXXXIX – Por aviso de 25 de junho, e provisão de 9 de julho do mesmo ano de 1818, proíbe-se o periódico O Portuguez.

CCXL – No dia 6 de julho d e1818 falece na Bahia o marechal Joaquim de Mello Leite Gogominho de Lacerda, e é sepultado no dia seguinte às sete horas da tarde no convento de S. Francisco.

CCXLI – Por carta de lei de 17 de setembro de 1818, eleva-se a Vila Bella, capital de Mato Grosso, à proeminência de cidade, com os foros, liberdades e as demais prerrogativas das outras cidades do Brasil.

CCXLII – Por carta de lei de 17 de setembro de 1818, é erigida em cidade a Vila Real de Cuiabá, com todos os foros e privilégios das demais cidades do Brasil.

CCXLIII –Por aviso de 14 de outubro de 1818, foram proibidos os periódicos O Campião, ou o Amigo do Rei e do Povo.

CCXLIV – No dia 1º de novembro de 1818, corre pela primeira vez ferro fundido na real fábrica de fundição de S. João de Ipanema.

CCXLV – As tropas brasileiras que ocupavam Cayenna, sob o comando do coronel Manoel Marques, evacuaram a cidade no dia 8 de novembro de 1818, em virtude do tratado de Paris de 1817.

CCXLVI – Falece em Pernambuco em 1818, com oitenta e dois anos de idade, o célebre botânico frei Manoel do Coração de Jesus, religioso carmelita, que no século se chamava Manoel Arruda Camara. Este célebre botânico nasceu na hoje província das Alagoas, quando distrito de Pernambuco, no ano de 1752.

CCXLVII – Cômputo eclesiástico. Áureo número, 15; ciclo solar, 8; epacta, 4; letra dominical, C.

CCXLVIII – Martirológio. Dia 1º de janeiro, sexta-feira; Páscoa a 11 de abril; indicação romana, 7; período Juliano, 6.532.

CCXLIX – No dia 6 de janeiro de 1819 morre Francisco de Souza Quevedo Pizarro, marechal de campo, governador e capitão general do Maranhão, que nasceu a 27 de setembro de 1776. (Veja-se visconde de Bobedo, família Pizarro).

CCL – No dia 1º de janeiro de 1819, Sebastião Francisco de Mello e Povoas toma posse do governo da capitania das Alagoas, que exerce até 11 de julho de 1821.

[...]


[7] Vide o tomo 5º ou o primeiro da segunda parte da minha Corographia.

[8] O sr. Teixeira e Mello, nas suas Ephemerides, servindo-se da autoridade do autor do Patheon Maranhense, diz que foi o desembargador João Ignacio da Cunha, visconde de Alcântara, falecido em 1834, o juiz processante no assassinato de d. Gertrudes, o que não é exato, porque o desembargador João Ignacio da Cunha não era o juiz do crime, e sim desembargador agravista, e o que então devassava como juiz do crime era José Albano Fragoso.

[9] Essa casa e chácara ainda existe (1881). É um sobrado velho que fica em frente do muro da casa de detenção.