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BAIXADA SANTISTA - LIVROS - Chronica Geral do Brazil
Uma crônica de 1886 - 1600-1700 (18)

Clique aqui para ir ao índice do primeiro volumeEm dois tomos (1500-1700, com 581 páginas, e 1700-1800, com 542 páginas), a Chronica Geral do Brazil foi escrita por Alexandre José de Mello Moraes, sendo sistematizada e recebendo introdução por Mello Moraes Filho. Foi publicada em 1886 pelo livreiro-editor B. L. Garnier (Rua do Ouvidor, 71), no Rio de Janeiro. É apresentada como um almanaque, dividido em séculos e verbetes numerados, com fatos diversos ordenados cronologicamente, tendo ao início de cada ano o Cômputo Eclesiástico ou Calendário Católico.

O exemplar pertencente à Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos/SP, foi cedido  a Novo Milênio para digitalização, em maio de 2010, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, sendo em seguida transferido para o acervo da Fundação Arquivo e Memória de Santos. Assim, Novo Milênio apresenta nestas páginas a primeira edição digital integral da obra (ortografia atualizada nesta transcrição) - páginas 388 a 407 do Tomo I:

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Chronica Geral do Brazil

Alexandre José de Mello Moraes

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Imagem: reprodução parcial da página 388/tomo I da obra

1600-1700

[...]

CDLIPela retirada do mestre de campo André Vidal de Negreiros do governo geral do Maranhão, ficou interinamente o substituindo Agostinho Corrêa, e para a efetividade é nomeado d. Pedro de Mello, o qual, chegando à cidade de S. Luiz, toma posse do governo geral no dia 16 de junho de 1658. No dia 19 de setembro do mesmo, o capitão-de-mar-e-guerra Marçal Nunes da Costa toma posse da capitania-mor do Estado do Grão Pará.

Os jesuítas são expulsos do Maranhão pela proteção que davam aos índios. (Vide o tomo 3º da minha Corographia Hist.).

CDLII – Cômputo eclesiástico. Áureo número 7; ciclo solar 16; epacta 7; letra dominical E.

CDLIII – Martirológio. Páscoa 13 de abril; 1º de janeiro quarta-feira; indicação romana 12; período Juliano 6.372.

CDLIV – O famoso padre Antonio Vieira, sabendo da desarmonia que havia desde alguns anos entre os índios Nheangahibas ou Igarannas, habitadores da grande Ilha de Marajó, e os colonos europeus, para ali se encaminhou e os doutrinou de tal  modo que os reduziu a perfeita paz e sólida amizade, tornando-os refratários às outras nações da Europa. Os Nheangahibas eram os melhores remadores do Amazonas, e foram eles que em 1638 serviram de remeiros à expedição de Pedro Teixeira pelo Amazonas, subindo por diversos rios até os Andes e daí à cidade de Quito, no Peru.

CDLV – Na quinta-feira, 5 de agosto de 1659, o conselho municipal da Câmara do Rio de Janeiro escreveu uma carta ao administrador da jurisdição eclesiástica, o dr. Manuel de Souza e Almeida, participando-lhe que haviam sido consultados alguns doutores a respeito da mudança da imagem de S. Sebastião, padroeiro da cidade, para a igreja de S. José, e que se esperava que os não excomungaria, como os havia ameaçado, mas que ainda aguardaria pela resolução de sua majestade a este respeito.

Naqueles tempos, uma excomunhão tinha mais poder na credulidade fanática e era mais medonha do que a lepra.

CDLVI – Na quarta-feira, 5 de novembro de 1659, reuniu-se o primeiro capítulo da nova província franciscana na cidade da Bahia, e é eleito provincial frei Antonio dos Martyres, natural da Ilha da Madeira, que havia professado no convento da cidade de Olinda, em 8 de março de 1603, na idade de vinte anos.

No ano seguinte, mandou esse provincial fundar os dois conventos na vila do Penedo e na das Alagoas.

CDLVII – "Depois de haver entrado a governar este Estado, dei conta a vossa majestade repetidas vezes da isenção com que procedia André Vidal de Negreiros".

CDLVIII – O Brasil crescia em população, e a grande extensão territorial fez que o governo da regência dividisse a administração do Brasil em dois governos independentes: um do Norte, tendo por capital a cidade de S. Salvador da Bahia de Todos os Santos; e o outro do Sul, tendo por capital a cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, sendo nomeado para governador da repartição do Sul Salvador Corrêa de Sá e Benevides [27], o qual, chegando à Bahia com a sua credencial, depois de levantar o preito e homenagem e se fazer o auto do juramento nas mãos do governador geral Francisco Barreto de Menezes, no dia 12 de setembro de 1659 seguiu para o Rio de Janeiro, e tomou posse da administração no dia 4 de outubro de 1659, recebendo-a das mãos de Thomé Corrêa de Alvarenga.

Salvador Corrêa de Sá e Benevides era natural da cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, e um dos homens mais notáveis do seu tempo; e tão importante, que os espanhóis o queriam por seu compatriota, indicando o seu assento de batismo e naturalidade na cidade de Cadiz, em 15t94, governando aquela praça seu avô materno, donde diziam  havê-lo roubado o pai, Martim de Sá, tendo ele dez anos de idade.

Salvador Corrêa de Sá e Benevides, sempre benemérito, chegando ao Rio de Janeiro mandou construir a nau Capitania Real e fez nomeações como a do capitão-mor de S. Vicente na pessoa de Antonio Vicente de Moraes; dispôs uma grande estrada para as minas do Rio Doce e para as do Sul, situados nos distritos de Iguape, Cananéia e vilas de Serra acima.

Desejando ausentar-se por algum tempo da cidade do Rio de Janeiro para providenciar os negócios do Sul da capitania, incumbiu o governo interinamente ao mestre de campo Thomé Corrêa de Alvarenga, e seguiu o caminho da Ilha Grande, onde chegou em outubro de 1660, e daí seguiu para a vila de Santos. Estando nesta vila, recebeu notícia, em princípios de novembro, que certos moradores da freguesia de S. Gonçalo, da Praia Grande, queriam promover desordem contra o mestre de campo Thomé Corrêa de Alvarenga, por verem que a governança da capitania só recaiu nos Corrêas de Sá; porém ele, com o tino e discrição que a experiência o tinha amestrado, tudo preveniu, restabelecendo o sossego público; mas esse sossego durou pouco, porque se sublevaram de novo contra o mesmo Salvador Corrêa de Sá e Benevides uns parentes, e requereram que fossem demitidos dos empregos.

Neste estado de exaltação tentaram contra a vida de alguns ministros que, para se salvarem, foram se abrigar no mosteiro de S. Bento, sendo sempre presos o governador interino Thomé Corrêa de Alvarenga, o sargento-mor do terço da praça, o provedor-mor da Fazenda Real e outras pessoas de importância social.

CDLIX – Salvador Corrêa de Sá e Benevides, no 1º de janeiro de 1661, fez publicar um bando em S. Paulo, que se tornou extensivo a muitos lugares, explicando as causas do motim do Rio de Janeiro.

Por esse tempo, morava em S. Gonçalo da Praia Grande o capitão Agostinho Barbalho Bezerra, filho de Luiz Barbalho Bezerra, que havia governado a capitania do Rio de Janeiro em 1642, ambos naturais da cidade de S. Sebastião, e lembrando-se deles os revoltosos, de combinação com os oficiais da câmara, eleitos à sua vontade, lhe pediram para se encarregar do governo da cidade, negando obediência a Thomé Corrêa de Alvarenga, lugar-tenente de Salvador Corrêa de Sá e Benevides. O capitão Agostinho Barbalho recusou o emprego, e procurou refugiar-se no convento de Santo Antonio; mas sendo forçado a sair dele, pela ameaça de perder a vida, aceitou o governo.

Os inimigos do governador Benevides escreveram cartas aos camaristas de S. Paulo contra ele; e estando na vila de Santos, teve notícia que os moradores de S. Paulo, de acordo com os turbulentos do Rio de Janeiro, estavam resolvidos a negar-lhe obediência, visto os moradores de S. Vicente e de S. Paulo só dependerem do poder do delegado do donatário desta última capitania.

CDLX – A indisposição dos paulistas contra Salvador Corrêa de Sá e Benevides era por não poderem cativar os índios, bem como contra os jesuítas pelo mesmo motivo. O povo do Rio de Janeiro se havia amotinado, com mão armada contra os jesuítas, por terem publicado no seu colégio uma bula de Urbano VIII proibindo o cativeiro dos índios sob pena de excomunhão.

O governador Benevides e seus parentes tinham defendido os jesuítas, sendo castigados os cabeças do motim; e entrando um barco no porto do Rio de Janeiro, procedente da vila de Santos, com a notícia de que os moradores do Itanhanhum haviam posto fora os jesuítas por causa da proteção dos índios, foi castigado o mestre do barco, por ser eco de notícias amotinadoras.

O governador se empenhava pela liberdade dos índios, e como ele falava corretamente a linguagem deles, o estimavam muito e obedeciam às suas ordens. Certos os paulistas de que se o governador os quisesse perseguir, teria força bastante para os subjugar, não obstante estavam persuadidos que ele, em S. Paulo, só podia exercer o encargo de intendente das minas do Sul; porém, Salvador Corrêa de Sá e Benevides, interpretando a força da patente que el-rei lhe deu, não quis servir-se dela.

CDLXI – Os paulistas se sublevando de novo, tendo à sua frente d. Simão de Toledo, juiz de órfãos, e Antonio Lopes de Medeiros, ouvidor da capitania de S. Vicente, concorreram à casa do Senado da Câmara par que este proibisse a entrada do governador, mandando trancar-lhe o caminho e defendê-lo com gente armada, a fim de que ele não pudesse entrar na vila de S. Paulo.

CDLXII – Salvador Corrêa de Sá e Benevides soube de tudo; mas não lhe disseram quais eram os cabeças do motim; e sabendo por fim quem eles eram, no dia 15 de novembro de 1660 mandou publicar, ao som de caixa de guerra, um bando na vila de Santos, suspendendo dos empregos os cabeças do motim, ordenando-lhes que viessem à sua presença, remetendo cópia da sua patente aos vereadores de S. Paulo, com que se aquietaram os paulistas, voltando à obediência à autoridade suprema da capitania.

Do Rio de Janeiro continuaram as intrigas para São Paulo, contra o governador Benevides; mas não acharam apoio, porque já tinham reconhecido o poder do delegado do soberano.

CDLXIII – O governador, para bem conhecer as causas dos males públicos, mandou abrir duas devassas e, pelo bando do 1º de janeiro de 1661, sendo castigados os cabeças, perdoou os demais.

CDLXIV – Benevides, sabendo do que se havia passado no Rio de Janeiro na sua ausência, e conhecendo os movimentos e as circunstâncias múltiplas que houveram para Agostinho Barbalho Bezerra tomar conta do governo, lhe mandou ordem para que ele continuasse na administração durante a sua ausência, prevenindo certos casos em que o capitão-mor e o ouvidor não pudessem, só por si, decidir, e determinou que ouvissem a Câmara com assistência de dois letrados que o povo elegesse.

A Câmara do Rio de Janeiro não ficou satisfeita com o haver o governador conservado no governo a Agostinho Barbalho Bezerra; prosseguiu na sua rebeldia, e comunicou a Barbalho e ao povo, por meio de um bando, tomando a si o governo da praça, no dia 8 de fevereiro de 1661; mas reconhecendo a violência que havia feito, nomeou governador da cidade; ou porque Agostinho Barbalho Bezerra não quisesse mais continuar na administração, ou por ser João Corrêa o mestre de campo mais antigo e filho de Salvador Corrêa de Sá e Benevides, foi este o nomeado, como expressão do arrependimento e obediência ao governador Benevides.

Apesar de alguns distúrbios da gentalha, a cidade do Rio de Janeiro entrou na sua vida comum; Salvador Corrêa de Sá e Benevides, que ainda estava em São Paulo, um pouco receoso, desejando tornar à capital para reparar os seus muitos prejuízos, entendeu deixar S. Paulo; mas os paulistas, em presença dos benefícios que tinham recebido do governador no levantamento de setenta pontes e caminhos que ele tinha melhorado, e mandando abrir outras para facilidade do trânsito dos moradores, representaram para que ele ficasse,ao que não acedeu, e em março de 1661, partindo de Santos para Angra dos Reis e dali seguindo viagem, entrou na cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro no dia 16 de abril, no meio de festejos, e onde esteve na governança até abril do ano seguinte de 1662, no qual foi substituído por Pedro de Mello.

CDLXV – Cômputo eclesiástico. Áureo número 8; ciclo solar 17; epacta 18; letra dominical DC.

CDLXVI – Martirológio. Páscoa 28 de março; 1º de janeiro quinta-feira; indicação romana 13; período Juliano 6.373.

CDLXVII – Os jesuítas pagaram, no dia 27 de junho de 1660, à Santa Casa de Misericórdia da Bahia, depois de uma renhida demanda, cinquenta contos de réis, em virtude do concerto que houve entre eles e a Santa Casa, sobre a pretensão no engenho e mais fazendas e terras de Sergipe do Conde, como legatária que a dita Santa Casa era do governador Mem de Sá, como largamente se contém na escritura lavrada em notas do tabelião Francisco do Couto, sendo reitor do colégio o padre Francisco Ribeiro, e procurador do colégio de Santo Antão de Lisboa o padre Agostinho Louzada.

CDLXVIII – O padre Peregrino, no seu manuscrito inédito de Noticias varias da America e do Brazil, que tenho à vista, tratando da freguesia de S. Pedro Velho da Bahia, diz: "Desta freguesia também ignoro os seus princípios, e só sei que é das mais extensas e rendosas…" Nas minhas investigações históricas achei entre os documentos oficiais antigos, já muito estragados, a notícia de que Antonio Cordeiro, entre os anos de 1660 e 1670, fundou uma capela ou igreja, no arrabalde Sul, extramuros da cidade, dedicada ao apóstolo S. Pedro, que começou logo a ser mui frequentada, e a sua presença chamou para aquele sítio muitos moradores, que se foram arruando em diferentes direções, a tornar em poucos anos muito povoado aquele bairro, em modo a ser elevada a igreja de S. Pedro, feita por Antonio Cordeiro, a paróquia curada em 1679, sendo o seu primeiro vigário o licenciado padre João Gomes da Silva. Antonio Cordeiro, por seu falecimento, instituiu em Francisco Ferreira seu imediato sucessor.

A igreja, ainda necessitando de acrescentamento e reparos, o vigário João Gomes da Silva pediu auxílio ao marquês das Minas, que lhe mandou dar seiscentos mil réis; e como não chegassem, pediu-lhe por seis anos, anualmente mil cruzados, e como não estava o marquês para dispor de maior verba, representando o pedido a el-rei, teve a competente resposta em carta régia.

CDLXIX – Cômputo eclesiástico. Áureo número 9; ciclo solar 18; epacta 29; letra dominical B.

CDLXX – Martirológio. Páscoa 17 de abril; 1º de janeiro sábado; indicação romana 14; período Juliano 6.374.

CDLXXI – Francisco de Brito Freire, general e autor da história intitulada Nova Lusitania, que memora as guerras do Brasil, sucede no governo de Pernambuco a André Vidal de Negreiros, tomando posse do governo no dia 26 de janeiro de 1661, em cujo cargo esteve até o dia 5 de março de 1664. Francisco de Brito Freire veio em 1653 a Pernambuco na frota da companhia ocidental do comércio, com Pedro Jacques de Magalhães, e concorreu para a tomada do Recife e conclusão da guerra com os holandeses em Pernambuco. Brito Freire serviu bem e administrou a justiça, promovendo o aumento da capitania.

CDLXXII – Na terça-feira, 17 de maio de 1661, amotinou-se o povo do Maranhão contra os jesuítas, intervindo em favor dos padres o governador d. Pedro de Mello, conseguindo com rogativas apaziguar os amotinadores, obtendo deles que os jesuítas ficassem presos no seu colégio. No domingo, 17 de julho, no Pará, o povo faz o mesmo, e prende além de outros o celebérrimo padre Antonio Vieira e o remete preso para o Maranhão ao governador d. Pedro de Mello; e com a presença do padre Vieira o povo do Maranhão não se podendo conter, foi obrigado o governador a remetê-los para Portugal debaixo de prisão.

A causa do motim do Maranhão e do Pará contra os jesuítas era a proteção que davam aos índios, conspirando-se contra a escravidão deles. (Sobre este assunto largamente tratei no tomo III da minha Corographia Historica).

CDLXXIII – Henrique Dias, a quem o conde de Ericeira (no seu livro Portugal Restaurado) chama de Mucio Scevola, brasileiro, era natural de Pernambuco, e começou a servir ao seu país desde o começo da guerra contra os holandeses, na qual praticou ações de intrepidez e heroísmo que admiram, assaltando fortalezas, tomando praças. Ao aproximar-se delas, algumas vezes atirava dentro da fortificação o seu bastão de governador, e dizia para os soldados do seu terço que fossem dentro buscar a insígnia do seu cargo, o que efetivamente acontecia.

El-rei d. Filippe IV lhe deu a patente de mestre de campo e o foro de fidalgo. El-rei d. João IV lhe fez mercê do hábito de Cristo, cujo hábito não o pôs no peito, senão depois de expulsos os holandeses do seu país. Depois da restauração de Pernambuco, sendo todos os generais premiados pelo rei, não o foi o famoso guerrilheiro Henrique Dias; e ele embora sentisse essa repreensiva ingratidão do rei de Portugal, se não queixava. Residindo no Recife, aí faleceu em 1661, coberto de glórias e imorredoura fama, quase esquecido do governo da metrópole.

CDLXXIV – No sábado, 6 de agosto de 1666, se consolidou a paz entre Portugal e a Holanda. Portugal se obriga a pagar quatro milhões de cruzados em dinheiro, açúcar, tabaco, sal, como melhor lhe convier, em seis prazos, assim como entregar toda a artilharia tomada no Brasil com a marca das províncias unidas, ou companhia dos índios orientais; a Holanda garante não hostilizar o Brasil.

CDLXXV – Cômputo eclesiástico. Áureo número 10; ciclo solar 19; epacta 10; letra dominical A.

CDLXXVI – Martirológio. Páscoa 9 de abril; 1º de janeiro domingo; indicação romana 15; período Juliano 6.375.

CDLXXVII – "O governador Francisco Barreto de Menezes, em carta de 21 de janeiro de 1662, comunica à municipalidade da Bahia que, com a certeza do casamento felicíssimo da senhora infanta com o rei de Inglaterra, resolve hoje que, a 10 de fevereiro, desse princípio às festas, por não permitir a quaresma, que cabe a 22 de fevereiro, maior dilação.

"O princípio há de ser com touros, que se não de correr três dias; três de cavalos, e quatro comédias, para então se reservam as luminárias e salvas de artilharia. Vossas mercês mandem logo tratar de touros e palanques para elas, publicando e prevenindo os prêmios que lhes parecer, para ver a quem saem as sortes.

"Aos homens de cavalo, mande avisar com brevidade. Da comédia principal se trata; devem vossas mercês nomear logo um dos tesoureiros, que com um ajudante assista a compra de todo o necessário para elas, seguindo-se a ordem, que por escrito diz para isso a pessoa que a tem a cargo. E para que a demonstração de contentamento, que todos os vassalos de sua majestade devemos ter nesta ocasião, é razão seja universal, concorram todos para esta; repartam vossas mercês as danças, folias, que de todos os estados de gente, que a costumam fazer, se puderem formar, para que enquanto as festas durarem, alegre a cidade, e seja comum o regozijo, quando é tão comum a causa dele. Deus guarde a vossas mercês. Paço e janeiro, 21, de 1662 – Francisco Barreto".

CDLXXVIII – Francisco Barreto, governador geral do Estado, em 13 de abril de 1662, escreve ao Senado da Câmara da Bahia a carta seguinte: "Pela carta de 23 de janeiro deste ano, se serviu sua majestade mandar-me fizesse executar neste Estado o regimento,que no reino todo se guardava, do papel selado. Sobre esta matéria tem esse tribunal recebido também carta de sua majestade; e eu enviando ordem ao dr. Jorge Sêcco de Macedo, chanceler da Relação deste Estado (a quem vem encarregado o mesmo papel) distribua por todos os tribunais e ministros aos quais toca cópia do mesmo regulamento, para terem entendido o como se há de praticar; vossas mercês aceitem a que lhe há de enviar, para ser esse senado o que é sempre, o primeiro exemplo da obediência das ordens de sua majestade, e melhora da sua Real Fazenda. Deus guarde a vossas mercês. Bahia, 13 de abri de 1662. Francisco Barreto".

CDLXXIX – Em 26 de março de 1662, d. Pedro de Mello entrega o governo do Maranhão a Ruy Vaz de Siqueira; e Francisco de Seixas Pinto recebeu, no dia 16 de abril do mesmo ano, das mãos do Marçal Nunes da Costa, o governo da capitania do Grão Pará.

CDLXXX – A rainha regente, d. Luíza de Gusmão, aborrecida das traições dos áulicos e validos do rei, seu filho, deu quarto em palácio, no dia 4 de junho de 1662, ao infante d. Pedro; e dispondo-se a entregar o governo a seu filho d. Affonso VI, mandou no dia 16 do mesmo mês prender a Antonio Conte, a seu irmão João Conte e a outros, também sócios do partido do rei seu filho; e nesse mesmo dia foram conduzidos a um navio, que os levou desterrados para a Bahia, sem que el-rei o soubesse, fazendo-se tudo isto durante o tempo do despacho.

No dia 23 de junho do mesmo ano de 1662, juntos no paço todos os tribunais, nobreza e príncipes do povo, entregou a rainha regente os selos reais a seu filho, demitindo com eles de si o governo da nação, ficando el-rei d. Affonso VI de posse do reino, na idade de treze anos.

Casando-se el-rei Affonso no dia 27 de junho de 1666 com a princesa d. Maria Francisca Izabel de Saboia de Aumale, filha do duque de Nemours, no dia 2 de agosto do mesmo ano divorciou-se do marido, por ser ele incapaz do estado matrimonial, por ser impotente; casando-se depois com o cunhado, o príncipe d. Pedro, regente de Portugal.

A conduta desregrada do rei Affonso obrigou os grandes da corte e o povo a rogar ao infante d. Pedro incumbir-se do governo do reino, obrigando a el-rei resignar à autoridade régia, o que efetivamente aconteceu no dia 23 de novembro de 1667; e o infante dom Pedro jurou o cargo de regente no dia 27 de janeiro de 1668.

Depois destes acontecimentos, o rei d. Affonso VI foi desterrado para a Ilha Terceira; e o infante dom Pedro governou a nação portuguesa, como regente, até a morte de Affonso VI, em 17 de setembro de 1683, em Cintra, na idade de quarenta anos, onze de reinado e dezesseis de prisão, sendo sepultado em Belém.

CDLXXXI – Secretários de estado de Affonso VI.

O conde de Castello Melhor, primeiro ministro e valido.

Secretários de estado: Antonio de Sousa de Macedo, Pedro Vieira da Silva, Luiz de Sousa de Macedo, Gaspar de Faria Severino.

Chanceler: Fernão de Mattos de Carvalhosa.

CDLXXXII – D. Luiza de Gusmão, por seu valor e suas virtudes, pôs a coroa na cabeça de seu marido, e a conservou na casa de Bragança; ela foi um modelo de força e de ânimo na prosperidade; um exemplo de constância e de modéstia nas desgraças, que lhe vieram da mão de seu filho, e reuniu em si as virtudes dos dois sexos. Morreu no convento de Chabregas em 1666.

CDLXXXIII – D. Affonso VI era de espírito vil, e de gênio sombrio, incapaz de governar; a autoridade de sua mãe lhe era insuportável; ouviu com desprezo os conselhos de seus ministros; o seu gosto particular era de se achar com gente muito baixa e de cor a quem chamava seus valentões; com eles corria as ruas, insultando a todos aqueles que por desgraça se encontravam no seu caminho. Senhor da sua vontade, como rei, se entrega inteiramente a seu valido Antonio Conti, que ajuntou aos pés do trono tudo o que a mentira e a lisonja tem de mais vil.

O conde de Odemira ficou no desagrado; então sua libertinagem e sua ferocidade não tiveram mais limites; seus vassalos temiam o seu encontro. O conde de Castello Melhor foi o ministro que o dirigiu com maior força, e ainda que cortesão e lisonjeiro, o único que impediu a perda do reino durante o reinado de um soberano tão incapaz e tresloucado.

Pelos conselhos do ministro, conde de Castello Melhor, e dos outros validos, manda atirar a rainha mãe à Chabregas e despede os ministros que ela recomenda, e governando-se por sua desenfreada paixão e pela vontade de seus validos, torna o seu governo odioso e tirânico. Eis o que ocasionou o ser deposto do trono.

CDLXXXIV – Tudo se arrancava do Brasil; até para o dote dos filhos dos reis, a título de donativo voluntário, o povo concorria com o produto do seu trabalho para ostentação e luxo dos soberanos da nação! Tendo-se de casar em 1682 a princesa d. Catharina, infanta de Portugal, com Carlos II, rei da Inglaterra, o governador geral Francisco Brarreto, tendo recebido ordens de Lisboa para proceder a derrama no povo, para extorquir-lhe o dinheiro para o dote da princesa, em 22 de novembro de 1662 enviou à Câmara da Bahia o seguinte ofício:

"Vejo que vossas mercês me representam, nesta sua carta de 21 do corrente, acerca dos oficiais, que convém haver para melhor clareza, e arrecadação do tributo do dote da senhora rainha da Gran Bretanha e par da Holanda, e dos ordenados que se lhes deve dar, pois sem isso não é possível haver a quem se possa encarregar deste trabalho.

"E suposto que se não podem criar novos oficiais, nem ordenados, sem expressa ordem de Sua Majestade, é tão justificada a razão com que vossas mercês pedem estes, que visto se lhes haver de pagar da fazenda do mesmo povo, me pareceu condescender em tudo o que vossas mercês apontam, pela mesma carta, de que darei conta a Sua Majestade, para que ordene o que for mais servido.

"Deus guarde a vossas mercês. – Paço, 22 de novembro de 1662. Francisco Barreto".

CDLXXXV – Áureo número 11; ciclo solar 20; epacta 21; letra dominical G.

CDLXXXVI – Martirológio. Domingo de Páscoa 25 de março; dia 1º de janeiro segunda-feira; indicação romana 1; período Juliano 6.376.

CDLXXXVII – Foi no governo de d. Pedro de Mello que se estabeleceu o correio no Rio de Janeiro, pelo regulamento de 25 de janeiro de 1663.

CDLXXXVIII – Por patente, por seis anos, é nomeado Valentim Tavares da Costa Cabral, no dia 12 de fevereiro de 1663, capitão-mor e governador da capitania do Rio Grande do Norte.

CDLXXXIX – D. Vasco de Mascarenhas, conde de Óbidos, por patente de 14 de dezembro de 1652, é nomeado segundo vice-rei e capitão general de mar e terra do estado do Brasil; e no dia 18 de janeiro de 1663, na cidade de Lisboa, nos paços da Ribeira, presta juramento nas mãos de el-rei; prestou juramento de preito e homenagem, conforme as ordenanças, pelo governo do vice-reinado e capitania geral do Estado do Brasil, de que sua majestade o encarregava, pela patente que lhe confiava, sendo presentes d. Vasco da Gama, marquês de Nisa; d. Martinho de Mascarenhas, conde de Santa Cruz; e Luiz de Vasconcellos e Souza, conde de Castello Melhor, do conselho de estado, e seu escrivão que subscreveu.

O vice-rei, conde de Óbidos e vigésimo quarto governador geral, tomou posse do governo, na cidade da Bahia, no dia domingo, 24 de junho de 1663, e o de presidente do Tribunal da Relação no dia 28 seguinte. No mês de outubro desse mesmo ano, deu regimento aos capitães-mores da repartição do Sul. D. Vasco de Mascarenhas, conde de Óbidos, governou o Estado do Brasil até o dia 13 de junho de 1667, em que foi rendido.

CDXC – Cômputo eclesiástico. Áureo número 12; ciclo solar 21; epacta 2; letra dominical F E.

CDXCI – Martirológio. Páscoa, 13 de abril; 1º de janeiro terça-feira; indicação romana 2; período Juliano 6.377.

CDXCII – Tendo um indivíduo oferecido ao governador geral, conde de Óbidos,uma sesmaria de terras, ele em respeito à qualidade da oferta, em 15 de setembro de 1664 se dirige aos oficiais da câmara pelo modo seguinte: - "Um zeloso desta república me ofereceu a sesmaria que com esta envio a vossas mercês, das terras que se concederam a esta cidade, para o conselho: vossas mercês a vejam, estimarei em muito que seja em grande utilidade deste povo, e benefício desse senado. Deus guarde a vossas mercês. – Paço, setembro, 15 de 1664. – Conde de Óbidos".

CDXCIII – D. Pedro de Mello, tendo sido nomeado, por patente de 20 de novembro de 1661, governador do Rio de Janeiro, em substituição a Salvador Corrêa de Sá e Benevides, tomou posse da administração em 27 de abril de 1662, na Câmara Municipal, estando presente ao ato o mesmo Salvador Corrêa de Sá e Benevides.

Pedro de Mello se conservou no governo do Rio de Janeiro até 1666, em cujo ano, ou porque se ausentasse, ou falecesse, entrou na governança da capitania o mestre de campo Martim Corrêa Vasqueanes, enquanto chegava sucessor legítimo.

Em carta de 17 de abril de 1663, el-rei lhe comunica ter feito a paz com a Holanda; em carta de 21 de março de 1664, lhe diz ter encarregado a Agostinho Barbalho Bezerra da administração das minas de Paranaguá, e do descobrimento das esmeraldas, com seiscentos mil réis de ordenado.

Em 12 de janeiro de 1665, nomeou a Domingos de Mouros capitão de Macacú; e em 19 de janeiro de 1666 deu sesmaria de terras de Macacú a José Lopes; cumpriu em 20 de fevereiro a provisão régia em Jorge Pinto de Souza no cargo de provedor dos ausentes da cidade do Rio de Janeiro.

CDXCIV – Jeronymo de Mendonça Furtado tomou posse do governo de Pernambuco no dia 5 de março de 1664, das mãos de Francisco de Brito Freire, e se conservou na administração da capitania até 31 de julho de 1666.

Luiz dos Santos Vilhena, no seu manuscrito inédito, conta que a suma ambição deste governador, a soberba com que, como déspota absoluto, tratava sem distinção a todos os pernambucanos, o fizeram tão escandaloso e insuportável, que a nobreza e o povo se resolveram ao abominável atentado de prendê-lo, depô-lo do governo e remetê-lo para a corte; o que, parecendo difícil, executaram com muita facilidade, havendo prevenido a tropa não menos queixosa.

Foi ele preso pelo juiz André de Barros Rego, ao sair do palácio a passeio. Pouco depois de chegar à corte, com as queixas dos pernambucanos, foi recluso em uma masmorra, por indício de cúmplice na traição de seu irmão Francisco de Mendonça Furtado, alcaide-mor de Mourão. Não se achou prova que convencesse a Jeronymo de Mendonça de cúmplice no delito de seu irmão, mas sempre se julgou com merecimento de receber uma sentença que o condenou a prisão perpétua em uma fortaleza na Índia, onde acabou seus dias.

CDXCV – No governo de Jeronymo de Mendonça Furtado apareceu em Pernambuco uma horrível epidemia de bexigas, que devastou a população, sem distinção de pessoas nem qualidade social. Em 1666 a epidemia se passou à Bahia, ao Rio de Janeiro, estendendo-se a vários lugares do Sul. Na Bahia a fome se tornou mui sensível.

CDXCVI – Cômputo eclesiástico. Áureo número 13; ciclo solar 22; epacta 13; letra dominical D.

CDXCVII – Martirológio. Domingo de Páscoa 5 de abril; dia 1º de janeiro quinta-feira; indicação romana 3; período Juliano 6.378.

CDXCVIII – Os religiosos carmelitas descalços da Ordem de Santa Thereza, chegados à Bahia em 1663, em virtude da autorização régia de 25 de junho de 1665 deram começo à fundação do seu convento na Bahia, por meio de esmolas e donativos obtidos dos fiéis. Residiam no hospício da Rua da Preguiça, e depois passaram-se para o convento que construíram no prolongamento da montanha, onde se vê e serve hoje de seminário arquiepiscopal.

Esses religiosos chegaram a possuir muitas propriedades no Rio S. Francisco, e delas foram privados em virtude do decreto real de 10 de fevereiro de 1710. Em 1822 e 1823 tomaram muita parte na luta da independência da Bahia, em favor do general Madeira; e como davam obediência aos prelados de Portugal, sendo forçados pela ordem imperial de 28 de julho de 1828 a retirarem-se,ou darem obediência às autoridades brasileiras, não querendo eles deixar o Brasil, se separaram em 1830.

Conheci o último prior de Santa Thereza, o reverendo fr. José de Santa Thereza, homem muito estimável por suas amáveis qualidades. Com a morte do último religioso, em 1834, o governo mandou vender o patrimônio que eles possuíam na cidade da Bahia.

CDXCIX – Estabelecidos os conventos dos frades na Bahia, o povo começou a exigir a fundação de um convento para mulheres; e em 1644 o senado da Câmara da Bahia pediu a el-rei d. João IV essa concessão, o que lhe foi negado pelo alvará de 13 de dezembro do mesmo ano. O povo, não obstante, insistiu no mesmo empenho, e reinando Affonso Vi, a Câmara fez o mesmo pedido, e em 6 de julho de 1665 foi satisfeito.

Concedida a licença e escolhido o local apropriado para a vida de contemplações, foi pedida a el-rei a ermida de Nossa Senhora do Desterro (feita com esmolas do povo em 1560, coberta de palha tirada no bairro vizinho, que ficou chamado da Palma, pela abundância de palmeiras que tinha), para nela fundar-se o convento.

El-rei, para satisfazer o desejo da Câmara, nobreza e povo da cidade de S. Salvador, concedeu a ermida do Desterro para se construir o convento em que recolhessem somente cinquenta religiosas de véu preto, da Ordem de S. Francisco. A Câmara da cidade da Bahia deu logo começo às obras, à sua custa e do povo.

Enquanto as obras continuavam, se mandou a Portugal convidar religiosas para instituir freiras, vindo em 29 de janeiro de 1667 de Lisboa, do convento de Évora, quatro freiras professoras, que chegaram à Bahia em 29 de abril do mesmo ano. Tomando elas posse do convento, começaram a receber noviças, e depois de preparar dezesseis religiosas professas, e de elegerem a primeira abadessa brasileira, madre Martha de Christo, se retiraram em 16 de julho de 1686 para o seu convento de Évora, em Portugal.

Sendo pequeno o edifício primitivo, deu-se começo no mesmo lugar a um outro, lançando a primeira pedra o governador geral Roque da Costa Barreto, às dez horas da manhã do dia 22 de outubro de 1679, com grande festividade. O convento do Desterro tem cento e trinta e duas celas, salas conventuais e outros repartimentos.

D - El-rei d. Affonso Vi, pela carta régia de 23 de dezembro de 1665, faz doação ao secretário de Estado Antonio de Souza de Macedo, da Ilha de Marajó ou Ilha Grande de Joannes, com todos os poderes para fazer nela o que quiser, e até de infligir a pena de morte, e outras prerrogativas, de juro e herdade, fora da Lei Mental, e com a faculdade de vincular em morgado pelo modo que lhe agradar e quiser.

[...]


[27] Salvador Corrêa de Sá, 1º governador do Rio de Janeiro, era filho de d. Filippa de Sá e de Gonçalo Corrêa, fidalgo da cota d'armas e sobrinho de Mem de Sá.