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BAIXADA SANTISTA - LIVROS - Chronica Geral do Brazil
Uma crônica de 1886 - 1600-1700 (15)

Clique aqui para ir ao índice do primeiro volumeEm dois tomos (1500-1700, com 581 páginas, e 1700-1800, com 542 páginas), a Chronica Geral do Brazil foi escrita por Alexandre José de Mello Moraes, sendo sistematizada e recebendo introdução por Mello Moraes Filho. Foi publicada em 1886 pelo livreiro-editor B. L. Garnier (Rua do Ouvidor, 71), no Rio de Janeiro. É apresentada como um almanaque, dividido em séculos e verbetes numerados, com fatos diversos ordenados cronologicamente, tendo ao início de cada ano o Cômputo Eclesiástico ou Calendário Católico.

O exemplar pertencente à Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos/SP, foi cedido  a Novo Milênio para digitalização, em maio de 2010, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, sendo em seguida transferido para o acervo da Fundação Arquivo e Memória de Santos. Assim, Novo Milênio apresenta nestas páginas a primeira edição digital integral da obra (ortografia atualizada nesta transcrição) - páginas 308 a 334 do Tomo I:

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Chronica Geral do Brazil

Alexandre José de Mello Moraes

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Imagem: reprodução parcial da página 308/tomo I da obra

1600-1700

[...]

CCCI – A Ilha de Santa Catarina foi doada por d. Affonso VI em 4 de fevereiro de 1664, na forma das outras doações, pagando de direitos trinta e seis mil réis, a Agostinho Barbalho Bezerra, que acompanhou a frota da Bahia em 1641, e se passou ao Rio de Janeiro em 1643. Estando no Rio de Janeiro, os moradores depuseram do governo a Thomé Corrêa de Alvarenga e o obrigaram a aceitar a administração, tirando-o para isto da igreja de S. Francisco, aquietando deste modo o motim que se levantou. Depois pedindo a confirmação da doação a d. Pedro II não teve efeito.

CCCII – Antonio Telles da Silva, filho de Luiz da Silva, que foi a primeira nomeação de el-rei d. João IV, tomou posse do governo geral no dia 26 de agosto de 1642. Foi péssima a escolha de um homem como Antonio Telles pela sua incapacidade administrativa.

Foi no seu tempo que os holandeses invadiram de novo Sergipe de El-Rei em 1642 e levantaram um forte. Os holandeses, no último ano do seu governo (8 de fevereiro de 1647), tornaram à Bahia e desembarcaram em Itaparica, na Ponta dos Pallios, onde fizeram um forte e mais quatro redutos, e depois, entrando pelos rios, saquearam fazendas, destruíram engenhos e tomaram as embarcações que vinham carregadas de gêneros do recôncavo.

Sendo os holandeses acometidos pelos nossos, poucas perdas tiveram pelo desordenado do combate em que entraram; e como fosse chamado o general Segismundo com a sua força para guarnecer Pernambuco, ficou por isso a Bahia livre dos holandeses. Neste ano de 1642 o Maranhão é restaurado do poder dos holandeses pelos esforços do valente Antonio Muniz Barreiros.

O governador Antonio Telles da Silva expediu orem para serem queimadas todas as comarcas de Pernambuco, a fim de se não aproveitarem delas os holandeses. Os pernambucanos cumpriram a ordem, apesar de a julgarem impolítica e prejudicial.

CCCIII – A capitania de S. Paulo, desde a invasão holandesa, tendo-se tornado independente e governada por uma espécie de república militar, com a restauração de Portugal, querendo constituir-se em reino, elegeu seu rei a Amador Bueno da Ribeira, e este, formalmente recusando o alto emprego, aclamou como legítimo soberano a el-rei d. João IV e o senado da Câmara, em presença da recusa pessoal e da aclamação.

CCCIV – D. Clara Camarão, natural de Porto Calvo, mulher do valente índio d. Antonio Filippe Camarão, na guerra contra os holandeses, em 1642, combateu com as armas nas mãos, carregando muitas vezes sobre o inimigo com tanta intrepidez que causava admiração a sua destreza e perícia militar.

CCCV – Neste ano de 1642, Pernambuco muito padeceu, não só por causa das muitas chuvas e grandes inundações dos rios, como pela presença de uma funesta enfermidade desconhecida, que o devastou; seguindo-se mortífero contágio das bexigas, que só na Paraíba do Norte matou mais de mil escravos.

CCCVI – Antonio Telles da Silva, governador geral do Estado do Brasil, consegue do conde de Nassau suspensão recíproca das armas e hostilidades no Brasil; e o conde, aproveitando-se da paz, cuidou dos melhoramentos de Pernambuco.

Chegando à Holanda a notícia da paz, não agradou aos Estados Gerais; lhe foram diminuindo o poder, e ele, receoso de ser demitido, preparou-se para deixar o Brasil, o que efetivamente aconteceu no ano seguinte de 1643.

CCCVII – O conde de Nassau entrega o governo da colônia flamenga de Pernambuco ao conselho supremo, no dia 6 de maio de 1643, e foi por terra a embarcar na Paraíba do Norte, sendo nesta jornada acompanhado por todos os membros do governo e por muitas das pessoas gradas de Portugal que estavam no Recife, e seguiu no dia 26 do mesmo mês de maio com as honras do seu cargo, com lágrimas nos olhos por se apartar de Pernambuco, onde adquiriu muitas riquezas. O conde Mauricio de Nassau, durante os seis anos que esteve em Pernambuco, promoveu o seu aumento, mandou reedificar a cidade de Olinda, sendo a todos os respeitos proveitosa a sua administração.

CCCVIII – Salvador Corrêa de Sá e Benevides foi substituído por Luiz Barbalho Bezerra, natural do Brasil, muito conhecido por seus importantes serviços feitos na guerra contra os holandeses, o qual, sendo prisioneiro desses, e remetido à Holanda, passou à Espanha, e sendo condecorado com uma comenda e com o posto de mestre de campo, e à frente de um terço de trezentos homens, levantado em Lisboa, foi governar a Bahia em lugar do marquês de Montalvão, décimo oitavo governador e primeiro vice-rei do Estado do Brasil, conjuntamente com o bispo d. Pedro da Silva Sampaio e o provedor-mor Lourenço de Brito Corrêa, desde o dia 15 de abri de 1641 até 26 de agosto de 1642. Passou-se para o Rio de Janeiro em 1643, e tomando posse do governo administrou a capitania até 15 de abril de 1644, em que faleceu, sendo seu filho Agostinho Barbalho Bezerra quem lhe recebeu o soldo.

CCCIX – Pedro de Albuquerque toma posse do governo do Maranhão no dia 13 de julho de 1643, e pelo alvará de 3 de outubro do mesmo ano manda sua majestade restituir aos jesuítas os seus colégios de S. Paulo e Santos.

CCCX – No dia 11 de dezembro de 1640, el-rei d. João IV criou o Tribunal do Conselho de Guerra, concedendo-lhe grandes proeminências; e se lhe deu o regimento em 22 de dezembro de 1643.

CCCXI – Cômputo eclesiástico. Áureo número 11; ciclo solar 1; epacta 21; letra dominical C.B.

CCCXII – Martirológio. Páscoa a 27 de março; 1º de janeiro sexta-feira; período Juliano 6.248.

CCCXIII – João Mauricio, conde de Nassau, no dia 22 de maio, entregando o governo do Brasil holandês ao grão conselho flamengo do Recife, e que se retirava para Amsterdam, era um grande administrador e profundo político, o qual fez florescer a colônia flamenga e surgir das cinzas e ruínas muito mais bela do que era a cidade de Olinda, incendiada pelos holandeses. Na paz a ninguém perseguia, e procurava conciliar os naturais com seu governo.

Nassau deu vida à indústria e às artes e animou o comércio, mandou vir uma tipografia para o Recife [24] e concertava planos, que abandonou com o governo da colônia holandesa no Brasil, desgostoso da oposição e ciúmes que contra ele apareceram, negando-lhe a metrópole holandesa os recursos necessários e privando-lhe de alguns de que já dispunha.

Se o ilustre conde de Nassau ficasse em Pernambuco administrando a colônia flamenga e a Holanda lhe favorecesse com os meios convenientes, estaria hoje o Norte do Brasil completamente holandês.

No dia 28 de fevereiro deste ano de 1644 os holandeses evacuam a ilha e a fortaleza do Maranhão.

CCCXIV – Mathias de Albuquerque, ex-governador geral do Brasil, é galardoado com o título de conde de Alegrete, em prêmio da assinalada vitória de Montijo, a primeira que os portugueses ganharam durante a guerra da restauração, de Portugal.

CCCXV – A retirada do conde de Nassau do governo de Pernambuco foi logo sentida na colônia flamenga, porque os governadores, tomando outro caminho, principiaram a tiranizar os moradores a tal ponto que resolveram empregar os meios extremos para livrarem-se do jugo holandês.

João Fernandes Vieira, capitão de uma companhia de guerrilheiros, que foi feito prisioneiro de guerra em 10 de junho de 1635, junto à fortaleza do Arraial, ficou no Recife com os holandeses. Era inimigo do jugo estrangeiro e de há muito projetava acabar com ele; e pelo que transmitiu em uma memória escrita o seu projeto a Antonio Telles da Silva, governador geral do Estado, o qual o aceitando, manda o mestre de campo André Vidal de Negreiros, não só para conferenciar com ele, como consultar com os mais influentes cabos de guerra de Pernambuco.

João Fernandes Vieira ao mesmo tempo escreveu a el-rei d. João IV, ao capitão-mor d. Antonio Filippe Camarão, ao governador Henrique Dias, convidando-os para a empresa. Escreveu a Antonio Telles da Silva, pedindo-lhe um destacamento comandado por Antonio Dias Cardoso, cujo destacamento entrou em Pernambuco em dezembro de 1644.

André Vidal de Negreiros, com o pretexto de ir visitar a seus pais, residentes na Paraíba do Norte, seguiu pela cidade de Olinda (Mauricéa), onde conferenciou com João Fernandes Vieira, e daí seguiu para a Paraíba, onde pôs em execução os planos combinados, ficando João Fernandes Vieira como chefe da conspiração.

Neste pé os negócios da guerra, voltou André Vidal de Negreiros à Bahia; deu conta da sua comissão ao governador geral, o qual, aprovando tudo, fez voltar André Vidal para Pernambuco, que ali chegando se reuniu aos chefes João Fernandes Vieira, d. Antonio Filippe Camarão, Henrique Dias, Moreno e Antonio Dias Cardoso, fazem conselho, e decidiram libertar Pernambuco do domínio estrangeiro, ou morrerem todos na empresa combinada.

CCCXVI – Vago o lugar de governador do Rio de Janeiro, e se achando nesta cidade Francisco de Souto Maior, muito conhecido, foi eleito pela câmara para substituir o governador, tomando posse dele em 7 de maio do mesmo ano de 1644, até que lhe viesse sucessor mandado pelo soberano, eleição que foi aprovada pelo alvará de 27 de setembro do mesmo, e que permitiu aos oficiais da câmara fazerem igual eleição em pessoa idônea em circunstância igual.

CCCXVII – Francisco de Souto Maior entregou o governo do Rio de Janeiro a Duarte Corrêa Vasqueanes, natural do Rio de Janeiro, onde viveu casado com d. Martha Borges, até falecer a 23 de maio de 1650, foi sepultado na igreja do colégio dos jesuítas em virtude da carta régia de 21 de dezembro de 1644, e pela terceira vez entrava na governança.

Em 18 de maio de 1648 assistiu como governador à vereança da câmara em que se propôs a necessidade que padeciam as fortalezas da cidade pela falta de mantimentos, e a 9 de julho assistiu na mesma câmara o auto sobre o imposto dos vinhos, e a elevação dos impostos dos dízimos e dos vinhos, vindo de Portugal em recompensa destes serviços seis peças de artilharia. (Vide o Brazil Hist. Annaes do Rio de Janeiro).

CCCXVIII – Por patente de 30 de outubro de 1648 foi nomeado governador do Rio de Janeiro o mestre de campo Salvador de Brito Pereira, cuja carta régia foi registrada no livro da câmara em 25 de janeiro de 1649. Este governador administrou pouco tempo, porque faleceu no dia 20 de julho de 1651 e foi sepultado na igreja do Carmo. A Câmara, pela vacância, nomeou interinamente a Antonio Galvão. Fr. Gaspar da Madre de Deus diz que a carta régia foi mandada a Pedro de Souza Pereira, provedor da fazenda real do Rio de Janeiro e administrador das minas.

CCCXIX – Por alvará de 10 de fevereiro de 1647 foi criada freguesia a igreja de S. Gonçalo de Niterói; tem ela as seguintes igrejas filiais: a igreja de N. S. das Neves, edificada na praia em 1600 pelo capitão Francisco Barreto, senhor do engenho Procosóco, pai do capitão Diogo Rodrigues e de João Barreto; a de N. S. da Luz, no campo de Itaoca, fundada pelo capitão Francisco Dias da Luz, natural de Faro, e que da Bahia viera com Mem de Sá expulsar os franceses do Rio de Janeiro, e aqui casou com Domingas da Silveira, filha de um dos primeiros povoadores e dono da fazenda de Itaoca. Pela morte do capitão Luz, ficou na pose da fazenda e capela o capitão Pedro Gao da Camara, que a reedificou, e faleceu sem descendência.

Em 1712 um devoto da Ilha de Paquetá, com um velho frade de Santo Antonio, chamado fr. Christovão da Madre de Deus da Luz, filho do fundador da devoção, vinham todos os anos celebrar a sua festa.

CCCXX – O conselho supremo holandês, sabendo do que se passava pela denúncia que lhe deu Sebastião de Carvalho e outros, depois de algumas peripécias e dificuldades, no dia 12 (segunda-feira) de junho de 1645 é proclamada a guerra, e no dia 13 (terça-feira) começam as primeiras hostilidades em Pojuca. O supremo conselho holandês, tendo antes mandado diversos destacamentos para prender a João Fernandes Vieira, não o conseguiu.

CCCXXI - O padre Francisco Falcão, entusiasmado pela liberdade do Brasil, constituiu-se chefe do clero pernambucano, e com os demais sacerdotes toma parte muito ativa na guerra contra os holandeses.

A cidade de Olinda é tomada pelos brasileiros, e no dia 5 de julho deste ano de 1645 João Fernandes Vieira recebe notícia de que os chefes Camarão e Henrique Dias tinham passado o rio de S. Francisco com seus índios e negros para atacarem os holandeses.

CCCXXII – Restaurada a vila do Penedo do poder dos holandeses, os penedenses arvoraram uma cruz de pedra como memória de seus triunfos no alto onde depois se estabeleceu o cemitério, em um pedestal também de pedra com vários degraus. Este monumento histórico foi destruído com o estabelecimento do cemitério do Penedo e construção da capela do Senhor Bom Jesus, que nele levantaram.

CCCXXIII – Fr. Manuel do Salvador, ou Callado, diz que d. Anna Paes era a mulher mais desenvolta de quantas houve no tempo dos holandeses em Pernambuco, porque sendo filha de nobres pais e rica, e havendo casado com Pedro Corrêa da Silva, homem fidalgo, por morte deste, vendo-se viúva e moça foi se casar com um calvinista de nome Carlos de Tarlon, capitão da guarda do conde de Nassau, e foram recebidos por um predicante calvinista. Carlos foi remetido preso para a Holanda por traidor, onde morreu com morte aprestada. D. Anna ficou grávida e deu à luz um menino; e tornou a casar com Gilberto de Briste, um dos membros do conselho supremo. Tornou-se então inimiga e acusadora dos portugueses.

CCCXXIV – No sábado, 15 de julho, os holandeses massacraram os habitantes de Cunhaú; e na quinta-feira, 27 do mesmo mês, são presos, por uma força às ordens de Nicoláo Aranha, os holandeses que ocupavam o Rio de S. Francisco.
No mesmo dia 27 chega a Tamandaré André Vidal de Negreiros, com oitocentos homens, em socorro dos independentes.

No sábado, 29 de julho, chega ao acampamento de Covas a notícia de que d. Antonio Camarão e Henrique Dias, com os seus subordinados, vinham em socorro dos seus amigos e companheiros de armas.

CCCXXV – Na quinta-feira, 3 de agosto de 1645, João Fernandes Vieira, com mil e duzentos camponeses, cem escravos e índios mal armados e mal providos nos manejos da guerra, vem contra mil e quinhentos holandeses e trezentos índios, comandados pelo general Henrique Huss, e João Blas, generais experimentados e bem providos de armas e munições de guerra, ganha a célebre batalha no monte das Tabocas, situado a nove léguas a Oeste do Recife, e assim chamado pela prodigiosa quantidade de tabocas que nele produz.

Por cinco vezes investindo os holandeses sobre os pernambucanos, a última peleja foi tão sanguinolenta que, desanimados, os holandeses se puseram em fuga, ficando alguns prisioneiros; e no mesmo dia os brasileiros destroçam os holandeses, em uma emboscada, e o seu general Henrique Huss é feito prisioneiro, mas foi restituído aos seus companheiros pelo generoso chefe João Fernandes Vieira.

Na terça-feira, 8 de agosto, Christovão Lins sitia a fortaleza de Porto Calvo; e na quarta-feira, 16 de agosto, o exército dos independentes chega a Muribeca. Os holandeses saqueiam a Casa Forte (engenho de d. Anna Paes); e no dia 17, quinta-feira, João Fernandes Vieira com o seu exército bate os holandeses e os derrota, mediando esta vitória quatorze dias depois da vitória ganha no monte das Tabocas.

Uma esquadra holandesa, ao mando do almirante Cornelio Lichtart, destrói em Tamandaré a esquadra de Serrão de Paiva, que fica prisioneiro dos holandeses.
Os moradores de Goiana se sublevam por insinuações do general João Fernandes Vieira.

Salvador Corrêa de Sá e Benevides dá batalha naval à esquadra holandesa comandada pelo almirante flamengo Lichtart. É tomado aos holandeses o forte de Santa Cruz no Recife.

CCCXXVI – A perda que os holandeses tiveram na batalha do monte das Tabocas, excitando desejo de vingança nos holandeses, moveu ao general Huss a vir arrasar a ferro e fogo as ricas possessões da Várzea, e para garantia da empresa levaram presas algumas senhoras, esposas de vários proprietários, e chegando a notícia de tamanha afronta ao campo dos pernambucanos, sem perda de tempo, marcham sobre os holandeses, não obstante o perigo de que os ameaçava a enchente de um rio que transbordava por grandes chuvas que haviam caído; atravessam-no, e na madrugada do dia 27 de agosto de 1645, achando o inimigo no engenho da Várzea, entram em combate, e como se entrincheirassem nas casas, para obstarem as balas dos pernambucanos, puseram as senhoras nas janelas e portas; e vendo os nossos as mulheres em tão perigosa situação, mandaram um clarim oferecer aos holandeses favoráveis condições, mas eles, supondo fraqueza, deram sobre os pernambucanos uma descarga da qual caiu morto o clarim.

Esta desleal barbaridade, acendendo as iras dos pernambucanos, sem mais se lembrarem dos afetos da alma, puseram fogo às casas, e quando tratavam de levar barris de pólvora, os holandeses se entregam à discrição dos vencedores.

Então, entre os despojos, recolhendo as mulheres, prendas de inestimável valor, as conduziram em triunfo; ao som de clarins, choramelas e trombetas, seguindo=se os holandeses rendidos, e entre eles os chefes Huss e Blas. Dos holandeses, morreram no combate oitocentos a ferro, e muitos ao desamparo pelos matos, que foram devorados pelos índios.

CCCXXVII – Em fins de setembro de 1645 apareceu o flagelo de terrível peste, como chamavam por esse tempo, que começou na Paraíba do Norte, que matava em poucas horas, sendo raro o que vivia mais de três dias, e cujos sintomas eram rouquidão, tosse, dor de um lado e ardentíssima febre. Em Pernambuco foi maior a mortandade. Felizmente o mal durou pouco tempo, porque nos princípios do mês de dezembro começou a declinar, perdendo a força, e isto quando os médicos já iam acertando com a cura, que consistia em copiosas e repetidas sangrias. Os médicos não conheciam a causa do flagelo: atribuíram à corrupção do ar.
No dia 17 de setembro os holandeses viram-se forçados a capitular em Porto Calvo, diante do sítio e estratégia de Christovão Lins, Vasco Marinho, seus filhos e capitão Lourenço Carneiro de Araujo.

No dia 19 de setembro, Valentim da Rocha Pita e Nicoláo Aranha tomam por capitulação o forte Maurício, da foz do Rio de S. Francisco, e libertam a vila do Penedo por meio da sublevação de seus habitantes.

CCCXXVIII – No sábado, 7 de outubro de 1645, assinam os moradores das Alagoas o manifesto dos conjurados pernambucanos, e o auto de aclamação de João Fernandes Vieira, general do exército da restauração, para governador de Pernambuco. Está assinado pelos seguintes moradores alagoanos: Arnão de Hollanda; padre André Jorge Pinto, vigário de Porto Calvo;Diogo Soares da Cunha; Fernão Soares da Cunha; o licenciado João Cabreira; Vasco Marinho Falcão; Zacarias de Bulhões; e Manoel Camillo de Queiroga.

O inimigo procura suplantar a revolução pondo em ação as perseguições e rigorosas prisões: entre as pessoas presas caiu Rodrigo de Barros Pimentel, de Porto Calvo, o padre João Gomes de Aguiar, de Una, que se libertara a troco de pesada contribuição.

CCCXXIX – André da Rocha Dantas, da família dos Lins de Porto Calvo, por este tempo lança os fundamentos de uma igreja em Piassabussú com a invocação do Seráfico S. Francisco.

CCCXXX – No domingo, 3 de dezembro de 1645, doze pernambucanos põem fogo à esquadra holandesa ancorada no porto do Recife.

No dia 31 do mesmo mês (domingo) conclui-se em Pernambuco a fortaleza do Arraial Novo.

CCCXXXI – Tendo sido Pernambuco e Alagoas o teatro da guerra holandesa, e principalmente o território das Alagoas, convém para esclarecimento da história dar aqui a descrição topográfica desses lugares, ainda todos despovoados, em vista das cartas topográficas de Barleus.

CCCXXXII – 1º - O Rio Parapitinga ou S. Francisco, que recebe os confluentes seguintes pela margem direita de quem sobe:

O Tarecui, antes de Piassabussú.

O Piagui.

O Parámeri, antes da povoação do Penedo. Na margem ocidental deste está a igreja de Nossa Senhora da Conceição; e mais adiante, na margem direita do Piangui, a capela de Nossa Senhora do Loreto.

O Piacaba.

O Piacica, que vem da serra Itaberaba, forma a Lagoa Grande ou Upabuçu, e deságua em frente das ilhas Parceda.

Um pouco ao Norte, da foz do Piacica, está a Lagoa Upaba.

2º - Seguindo a costa, vê-se uma ponta com pedras; mais adiante o porto Piabi, donde parte um caminho que passa na Lagoa Piripiri e vai ter ao Penedo.
Adiante do porto Piahi está a Lagoa Miguai.

3º - Segue-se o Rio Cururuí com ancoradouro, tendo cinco ordens de recifes, em distância da foz do rio, e alguns bancos de areia e cabeças de pedra dos lados direito e esquerdo da foz, ficando o ancoradouro entre aqueles e estas.
Subindo o rio vê-se na margem esquerda a capela de Nossa Senhora da Ajuda.

4º - Adiante, seguindo pela mesma costa, está uma pequena lagoa, que deságua no mar.

Mais adiante vê-se a Lagoa Doce, e porto Aguapetibu, com ancoradouro.

5º - Além está o Ipoxi, com recife.

6º - Mais adiante deságua no mar o Rio Jequiá-guaçú, que passa na lagoa do mesmo nome, a qual recebe pelo Norte o Rio Urubutinga. Em frente à foz está o recife.

7º - Seguem-se na mesma costa as seguintes lagoas:
Laçarea-sica (Jacaré-sica).
Lagoa Doce.
Lagoa Tabeada (Taboada).
Lagoas Salgadas.
Lagoa d'Acarpeba. Tem a costa e recifes.

8º - O Sinembi, ou Rio de S. Miguel, que recebe pela margem esquerda de quem sobe os riachos Tabatinga, Minguai, Tagoá, muito antes de chegar à povoação de Nossa Senhora da Ajuda, e mais acima, depois de atravessar a lagoa, recebe o Nhoanhu; e pela direita o Quiratinga, o Igapi, o Copaíba, em cuja margem existem algumas casas; e muito acima o Potiguaçú, que recebe o Potinuri, pela esquerda.
Além do Rio S. Miguel está o pequeno Rio Miguai, seguindo-se o campo do Porto Francês, com ancoradouro.

Segue-se a costa com recife, e este com intervalo em frente ao Rio das Alagoas.

9º - Rio das Alagoas por onde deságuam no mar as lagoas Mondai ou do Norte, e a Para-igéra ou do Sul.

Na margem ocidental da Lagoa do Norte, está a povoação de Santa Luzia: nesta lagoa deságua o rio Carrapato, e mais para o Norte e antes de chegar à dita povoação está o rio Mondai, que recebe pela margem esquerda de quem sobe o Potiguaçu-tiba; aí existem, a partir da povoação, os seguintes engenhos: Santo Antonio; Nossa Senhora da Ajuda; e Nossa Senhora da Conceição, na margem ocidental do Mondai, todos três com capelas.

Entre as lagoas do Norte e a do Sul e a do Sul está a Ilha Mossagéra, ou da Misericórdia; e ao sair desta está a Ilha dos Porcos ou da Malhada.

No canal da lagoa Pará-igéra, ao pé da Ilha dos Porcos, desemboca um riacho, que vem do campo do Porto Francez, chamado Rio de Pero Cabreiro.

Na margem ocidental da Lagoa Pará-igéra, ou do Sul, deságuam os rios Sobaúna e Utinga. Aí está a povoação ou vila de Nossa Senhora da Conceição.

Ao Norte desta lagoa deságua o Rio Paraíba, que tem na margem do Sul o Rio Salgado, na do Norte o de Nossa Senhora do Rosário; e algumas léguas acima da foz vê-se a igreja e aldeia de Santo Amaro.

Contornando a lagoa, depois da foz do Paraíba, está o engenho Mija-Velha, o Velho, e o engenho de Nossa Senhora da Anunciação de S. Gabriel, u riacho e algumas asas; e voltando pela margem oriental, se nota o lugar chamado Sagui.

10 – Continuando pela costa do mar está o porto Jaraguá, com ancoradouro, e mais adiante o porto de Juçara.

O local onde está hoje situada a cidade de Maceió, capital da província das Alagoas, não tinha uma só casa, e nem vestígios de morador, e o mesmo nos dois portos de mar.

O Rio Doce; e adiante se vê o Rio Paratigi, com algumas pedras na foz: este rio nas cabeceiras recebe um pequeno rio chamado Paratiji-meri, pelo que o outro em sua continuação passou a chamar-se Paratigibuassú. Além está o Guarai-meri, ou o Rio de Santo Antonio-meri.

11 - Adiante está o porto da Paripoeira, com ancoradouro. Aí deságua o rio do mesmo nome, com banco de areia na foz, o qual recebe pela margem do Sul o Rio Cabuçu.

Na praia, entre aquele rio e o Tipioca, um pouco adiante e sobre uma eminência, está a ermida de S. Gonçalo, ocupada pelos religiosos do Carmo. Junto a esta ermida levantaram os holandeses um reduto e outro na praia para interceptar a comunicação com Porto Calvo. Temos que esses religiosos foram os primeiros que foram ter às Alagoas; e só deixaram esta paragem quando construíram o convento na vila das Alagoas.

De Paripoeira segue, além do recife comum, um outro, encostado à praia, e sobre este, com foz larga, deságua o Jaçapuciy ou Rio dos Frades.

Além está o porto do Guarai-guassú, ou de Santo Antonio Grande, onde deságua o rio deste nome. Nas margens deste se veem três casas: pela direita de quem sobe recebe o riacho Água-Fria, e pela esquerda o Jetitibá, em cuja margem Sul está o engenho São Christovão, com sua capela. Mais adiante, o Guaratingapri, ou Rio Castanho, que recebe pela direita o Tapamondé, e pela esquerda o Aramariji; pela margem direita ainda recebe o pequeno Tapiba, junto ao qual está o engenho de Nossa Senhora da Penha de França, com sua capela, e um pouco adiante o Junuçú. O Rio Guaratingapri passa no lugar chamado Tapera de Angola.

Seguindo pela costa, está um pequeno rio sem nome, e depois:

12 – O porto de Camurupi, onde desemboca o rio do mesmo nome, o qual tem na margem esquerda de sua foz a capela de Nossa Senhora de Guadalupe. O rio tem por confluente,pela margem direita, o Jacaretinga, e no despovoado, entre estes dois rios, está a capela de S. Sebastião. Na margem esquerda estão os engenhos Novo, Espírito Santo, Bom Jesus e S. João, tendo os três últimos capelas.

Seguindo a costa para o Norte, vê-se: o pequeno Rio Tatuativá com foz no mar. Mais adiante, uma lagoa e rio com desembocadura no porto chamado Krupeuna. Adiante se vê o Rio Tatuaymonha, com uma casa ou aldeia de índios, na margem esquerda da foz, perto do mar.

13 – Segue-se o Rio Mangaguaba, com foz no Porto das Pedras, com quatro casas ou aldeias na margem direita da foz; um pouco acima, e pela margem esquerda da lagoa, o Rio Urupiuna; mais acima, ao lado direito, estão duas casas, antes da lagoa. Além está uma casa ou aldeia à direita, antes de chegar à foz do Rio Casco, que lança-se pela direita; à direita da nascente existe uma casa. Mais acima, depois de uma grande volta do rio, está a povoação de Porto Calvo, também chamada de Nossa Senhora da Apresentação.

O Rio Mangaguaba aí se divide: pela direita de quem sobe, e antes de chegar à povoação, está o Comandatiba; pela esquerda da povoação está o Mocabitá, que tem por confluente o Aguapetiba, que deságua pela esquerda de quem por ele desce; e mais adiante se nota a capela de Santo Amaro, na margem oposta, e fronteira à povoação, e o Tapamendé, com a foz nesse lado, tendo pela esquerda o rio Surubana; e um pouco acima o engenho S. Francisco com sua capela.

Subindo ainda o Mangaguaba, na margem direita está o engenho Alpoim, com capela; e mais acima a igreja dos Inocentes; e além, o engenho S. Cosme, com sua capela, na foz do Rio Maciá, que aí deságua no Mangaguaba. No Maciá há uma casa, no lugar onde conflui com o Comandatiba.

O Urupiuna recebe o Subaiai, pela direita de quem sobe. O engenho Escurial, em Porto Calvo, pertencia a Manuel Camello de Queiroga.

Christovão Botelho possuía dois engenhos no Camaragibe.

14 –Depois do Mangaguaba, seguindo-se pela costa para o Norte, encontra-se o riacho de Gaspar Gonçalo; o riacho Tapado; a fonte de S. Thomé; o riacho Guaibitinga-memirim, três casas ou aldeias de índios e o riacho Guaibitunguçú.

Segue-se o Rio Juparatiba, que recebe os rios Utinga e o Guatapi pela direita de quem sobe, e um pouco acima há o engenho de Nossa Senhora da Ajuda com capela.

15 – A povoação de S. Bento, na foz e na margem direita do rio do mesmo nome; na esquerda estão os morros de S. Bento.

16 – Adiante está a Bahia Grande ou Barra Grande ou Porto Calvo, na foz do Mariguiji.

Este Mariguiji recebe, pela direita de quem sobe, o Rio de João Barboza; mais adiante vê-se a igreja de S. Sebastião; e na margem oposta, em frente dela, vêem-se três casas; e adiante uma casa; na nascença do Rio de João Barboza, do lado do Sul, mais quatro casas.

Na costa do mar está o Rio Oibei, que em cima se bifurca em dois rios. Vê-se um porto sem nome; o riacho Dourado, que deságua na ponte dos mangues; o riacho Amoraí.

17- O Piraçununga recebe dois riachos, sendo um deles o Taúba, e deságua pelo sul. O Timbótiba, que passa na igreja de S. Sebastião, na sua margem Sul, e deságua no do Norte; e mais um riacho, um pouco acima da igreja de Santo Antonio, que fica na margem do Sul. Segue-se o Piraçununga, deixando, à esquerda de quem sobe, a igreja velha de S. Miguel.

18 – Adiante está o Rio Una com duas fozes; passa na povoação de S. Gonçalo, e mais acima no engenho de Nossa Senhora do Monte Serrate, com capela. Todo este território deserto e coberto de robusta vegetação pertence às Alagoas.

CCCXXXIII – A Vila de S. Francisco das Chagas, de Taubaté, foi inaugurada em 1645 por Jacques Felix, natural de S. Paulo, e dela foi povoador e fundador, como procurador bastante da condessa de Vimieiro, donatária da capitania de Itanhaém; este paulista tinha passado de S. Paulo, com sua família e grande número de índios de sua administração, gados vacuns e cavalares; e tendo conquistado os bravos gentios da nação Jerominis e Puris, habitadores deste sertão, levantou à sua custa igreja matriz, construída de taipa de pilão, fez cadeia, casa de sobrado para conselho, moinhos para trigo, e engenho para açúcar.

Era capitão-mor e governador da capitania de Itanhaém Francisco da Rocha, o qual, por sua provisão de 20 de janeiro de 1638, concedeu ao dito Jacques Felix, como morador opulento e abastado da Vila de S. Paulo, que penetrasse o sertão de Taubaté, em aumento das terras da condessa donatária, d. Mariana de Souza da Guerra. Esta mesma provisão ratificou em 30 de julho de 1639 Vasco da Motta, capitão-mor governador da dita capitania de Itanhaém, ordenando que concedesse, em nome da condessa donatária, uma légua de terra, para rocio da vila, e aos moradores que fossem acudindo a estabelecer-se na povoação, concedesse também terras de sesmarias. Por outra provisão de 13 de outubro de 1539, mandou que Jacques Felix, capitão-mor, povoador, tendo completas as obras para se aclamar vila a povoação, fizesse aviso para se proceder a este ato.

Depois, por provisão de 25 de dezembro de 1645, Antonio Barboza de Aguiar, capitão-mor, governador, ouvidor e alcaide-mor da capitania da condessa d. Mariana de Souza da Guerra, aclamou vila na primeira oitava do Natal do mesmo ano, e se formou a eleição de juízes ordinários, oficiais da câmara, que principiaram a servir do 1º de janeiro de 1646. (vide a minha Corographia Hist. Tomo 1º p. 233).

CCCXXXIV – O coronel holandês Rabbi, à frente dos índios, faz horrível carnificina nos brasileiros em Potingy, no Rio Grande do Norte; d. Filippe Camarão, para vingar o morticínio, marcha contra os holandeses, vence em batalha o coronel Rhimberg, e mata a todos os tapuios e pitiguares, que contra ele pelejaram.

CCCXXXV – O governador geral do Estado mandou ordem a João Fernandes Vieira para incendiar os canaviais dos engenhos de Pernambuco, com o fim de apagar a cobiça holandesa. Por esse tempo, Pernambuco possuía cento e cinqüenta engenhos de açúcar. Vieira, achando inconveniente esta ordem, não quis executá-la; mas, para dar exemplo de obediência, mandou por fogo aos canaviais de seus engenhos, avaliados em duzentos mil cruzados.

CCCXXXVI – A igreja da Ordem Terceira de S. Francisco de Pernambuco principiou-se em 1653, do lado do convento, no terreno comprado ao mesmo por cinquenta mil réis; foram suspensas as obras, por desavença com os frades, em 1716; em 1726 continuaram, e só em 1772 foi que se concluíram de todo, gastando cento e dezenove anos depois de começadas.

Capela de S. Francisco da Prainha – Como fosse por causa dos franceses a capela da Prainha demolida em 1710, em 4 de novembro de 1738 resolveu a mesa definitória reconstruí-la, não só para benefício espiritual dos moradores, como para aumentar o valor do patrimônio deixado pelo padre dr. Francisco da Motta, ficando a capela concluída em 1740, sendo no ano seguinte de 1741 nomeado seu primeiro capelão, o reverendo irmão padre Antonio Antunes Pitta.

Hospital da ordem – O hospital teve começo em 14 de maio de 1748, sendo benta a primeira pedra pelo bispo d. Fr. Antonio do Desterro, sendo lançada no alicerce pelo governador Gomes Freire de Andrade, ouvidor dr. Francisco Antonio Berquó da Silveira Pereira, juiz de fora dr. Luiz Antonio Rosadio da Cunha, e o mestre de campo Mathias Coelho de Souza, sendo ministro da ordem o dr. Francisco Cordovil de Siqueira e Mello, e benfeitor, que fundou o patrimônio de nove contos oitenta e cinco mil e noventa e cinco réis em 1745, o irmão Antonio da Silva Pinheiro. O hospital foi aberto em 12 de dezembro de 1763.

O trapiche estava alugado por dezoito contos novecentos e quarenta e sete mil e quatrocentos réis anuais, ao governo imperial, que transferiu ultimamente o contrato, com permissão da ordem, à companhia das Docas D. Pedro II, pelas mesmas condições.

A décima sobre o trapiche sobe hoje a dezoito contos novecentos e quarenta e sete mil e quatrocentos réis.

Os escravos que a ordem tinha foram libertos.

A procissão de cinzas foi instituída pela Ordem Terceira de S. Francisco da Penitência do Rio de Janeiro em 1640. Nela se davam muitas irreverências e escândalos ofensivos ao culto divino, como gritarias e até tumultos dentro do templo.

CCCXXXVII – João Fernandes Vieira, André Vidal de Negreiros, Martim Soares Moreno, d. Antonio Filippe Camarão e Henrique Dias, concordaram em terem um centro para as suas operações militares, e construíram uma fortaleza com bastante capacidade, na distância de duas e meia léguas do Recife, a que depois se chamou Arraial Novo.

A obra principiou em fins de setembro do passado ano de 1665, e foi concluída no dia 31 de dezembro do mesmo ano, no sítio Tigipió, do coronel Francisco Casado Lima, de cuja eminência, chamada Gargantão, avista-se Olinda, Recife, Afogados, Ponte do Uchôa, Poço da Panella, Monteiro e Apipucos. Na segunda-feira, 1 de janeiro, salvou a fortaleza, festejando o martírio da Circuncisão do Senhor e a conclusão da fortaleza, que havia recebido as oito peças de bronze, que os holandeses deixaram na capitulação de Porto Calvo.

A fortaleza foi construída segundo as regras, com reparos, plataforma, esplanadas, contraescarpas, pontes, fossos, trincheiras, paliçadas; tudo com perfeição admirável. Ao seu abrigo recolheram-se os moradores, formando uma povoação a que deram por isso o nome de Arraial Novo. Neste monte, que se eleva a duas e meia léguas ao Oeste-Sudoeste do Recife e a uma milha ao Norte da nova estrada de S. Antão, ainda hoje se encontra vestígios dessa obra na fralda do dito monte Gargantão.

CCCXXXVIII – Chegando ao Arraial Novo a notícia do que praticara no inimigo o valente d. Antonio Filippe Camarão, no Rio Grande do Norte, partiu em socorro o mestre de campo André Vidal de Negreiros, com força suficiente para acabar com o último holandês que existisse naquela capitania.

CCCXXXIX – Os holandeses em uma noite construíram um reduto debaixo das baterias da fortaleza das Cinco Pontas, e o valente governador Henrique Dias, a peito descoberto, atira-se com o seu terço sobre ela; destrói-a; investe sobre a casa forte, passando a guarnição à espada, e isto feito volta a seus quartéis com todos os seus oficiais feridos no combate do reduto.

O mestre de campo André Vidal de Negreiros, que havia seguido em socorro de d. Antonio Filippe Camarão no Rio Grande do Norte, o encontra na Paraíba, e, provendo-se de armas e munições de guerra, volta em abril para o Recife, onde sua presença era reclamada.

Os holandeses atacam a povoação de S. Lourenço de Tijucupapo, com uma força de seiscentos homens, e são repelidos por sessenta portugueses e algumas mulheres, que se entrincheiraram em um reduto feito de pau a pique.

CCCXL – Feliciano Coelho de Carvalho, no dia 17 de junho de 1645, toma posse do governo do Estado do Maranhão e, nomeando Paulo Soares de Avellar para governar o Pará, este tomou conta da administração no dia 28 de julho (sábado), sendo substituído por Sebastião de Lucena, por carta régia do mesmo ano de 1646.

CCCXLI – Refere o general Abreu e Lima que, sem embargo dos nossos triunfos, não era feliz o estado dos patriotas de Pernambuco, porque tudo lhes faltava, menos o ânimo e a resignação; todavia, um novo gênero de flagelo veio ainda provar a sua constância.

Chegaram ao Arraial dois jesuítas, enviados pelo governador geral Antonio Telles da Silva, com ordens positivas de el-rei para que os mestres de campo André Vidal de Negreiros e Martim Soares Moreno, com os seus terços, se retirassem imediatamente da campanha de Pernambuco, para que não se suspeitasse que el-rei violava a trégua assentada com a Holanda.

João Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros negam-se ao cumprimento de semelhante ordem, pretextando o estado feliz a que tinha já chegado a restauração; mas o mestre de campo Martim Soares Moreno, a título de obediência, despediu-se do cargo, e dentro em poucos dias partiu para Lisboa.

CCCXLII – Faltando no Recife víveres para os holandeses, mandaram vinte e sete lanchas tripuladas com oitocentos homens, incluindo índios, buscá-los onde os houvessem, e entrando à noite no porto de S. Lourenço de Tijucupapo, com o desígnio de levarem à espada os moradores do lugar, e quando marchavam sobre a povoação, foi ela prevenida, e sendo recolhidos os homens com suas famílias, haveres e mantimentos, a um meio reduto cercado de grossas paliçadas, o sargento-mor de milícias Agostinho Nunes, ordenando que ficassem fora trinta homens de provado valor, quando o inimigo se aproximava descarregaram sobre ele, e como se encarniçasse a peleja, e rompesse a paliçada, acudiu um bom número de mulheres armadas, as quais, ajudando aos seus com tanta galhardia e denodo, obrigaram os holandeses a retirar-se, deixando mais de sessenta mortos sobre o campo do combate.

CCCXLIII – Os holandeses que estavam de posse da Ilha de Itamaracá, surpreendidos por André Vidal de Negreiros, são batidos por ele, destruindo-lhes a fortaleza e mais três navios que guardavam o canal e a terra firme, e, depois de tomar conta da ilha, guarneceu-a, e se retira para o Arraial Novo, próximo ao Recife.

Neste mês, tentaram os inimigos pessoais do general João Fernandes Vieira assassiná-lo, quando ele passava a cavalo perto do campo; e bem que o prudente Vieira suspeitasse donde lhe partia o mal, embora ferido, dissimulou a traição, e prosseguiu na defesa da pária que necessitava do seu valor e perícia militar.

CCCXLIV – Tendo sido chamado a Holanda, durante o governo do conde João Maurício de Nassau, o general Segismundo van Scopp, mas o supremo conselho de Holanda, reconhecendo necessário pô-lo à frente de suas tropas em Pernambuco, de novo o manda, bem como a cinco membros do supremo conselho, render os que exerciam a administração da colônia flamenga, e no dia sexta-feira, 20 de julho de 1646, entra no porto do Recife uma esquadra holandesa conduzindo o general Segismundo, os cinco membros do supremo conselho, e quatro mil soldados; muitos víveres e munições de guerra, que desembarcaram com vivo contentamento dos flamengos de Pernambuco.

CCCXLV – O general Segismundo, à frente de mil e duzentos homens, escolhidos dos que com ele vieram da Holanda, no domingo 5 de agosto do mesmo ano de 1646, marcha sobre a cidade de Olinda, com a firme resolução de se apoderar dela; mas sendo batidos pelos postos avançados dos brasileiros, e não podendo resistir por se ver ferido, e muitos dos seus mortos, viram-se forçados a retroceder correndo, para os seus quartéis do Recife.

No dia segunda-feira, 15 do mesmo mês, o general Segismundo manda mil soldados flamengos atacar pelo bairro dos Afogados a estância de João de Aguiar, e são completamente derrotados pelo invicto d. Antonio Camarão com o seu terço de índios. Segismundo, à testa de dois mil infantes, é batido em frente do Arraial Novo, quando tentou assaltá-lo.

CCCXLVI – No sábado, 28 de julho de 1646, sendo reitor da Universidade de Coimbra Manuel de Saldanha, que morreu bispo eleito de Coimbra, em congregação, se obrigaram os professores da universidade, sob solene juramento, a seguir e defender a piedosa sentença da Imaculada Conceição da Mãe de Deus; e se assentou que dali por diante seriam obrigados a fazer o mesmo juramento todos os que se quisessem incorporar àquela universidade (An. Hist.).

CCCXLVII – O general Segismundo, no dia 11 de agosto do mesmo ano, surpreende e saqueia a povoação da Jangada, não muito distante do Recife; mas, indo-lhe ao encontro os nossos André Vidal de Negreiros e d. Filippe Camarão, foi tão forte a esfrega que lhe deram que Segismundo se julgou perdido, salvando-se na carreira, quase só, no forte do Barreto, onde o alcançaram alguns dos seus que também corriam desesperadamente.

CCCXLVIII – Segismundo não descansa com as novas tentativas; em outubro, manda uma expedição ao rio de S. Francisco, mas chegando ela à barra, retiram-se todos os moradores com os seus haveres para onde estava o mestre de campo Francisco Rabello, com o seu terço, ali postado para a defesa da fronteira da Bahia; o qual vai sobre os que desembarcam.

CCCXLIX – El-rei d. João IV, já não podendo abandonar os independentes de Pernambuco, a quem a desesperação convidava a desligarem-se da metrópole, constituindo-se país independente, confia a Francisco Barreto de Menezes, que no Alentejo tinha ganho reputação de valente, dando-lhe o posto de mestre de campo e o comando geral das forças em operações no Brasil contra os holandeses.

Francisco Barreto embarca em Lisboa com trezentos homens, e cai prisioneiro dos holandeses na altura da Paraíba, e ferido é levado prisioneiro para o Recife, e aí guardado com vigilância; mas depois de nove meses de cativeiro conseguiu fugir, favorecido por um moço holandês chamado Francisco de Brá, e chega aos quartéis de João Fernandes Vieira a 13 de janeiro de 1648, onde é recebido com todas as honras devidas ao seu posto.

João Fernandes Vieira, sem a menor reflexão, entrega-lhe a chefança e jura-lhe obediência.

Esta rara generosidade, de quem podia reivindicar o seu direito, como quem tinha já conquistado cento e oitenta léguas de terreno, com cidades, aldeias e estabelecimentos, foi um rasgo honroso da vida do valoroso brasileiro.

CCCL – Neste ano de 1647, por alvará de 10 de fevereiro, foi criada a freguesia de N. S. da Apresentação de Irajá (Rio de Janeiro).

Por alvará de 26 de fevereiro foi também criada a freguesia de S. João de Mirity (Rio de Janeiro).

Por alvará de 10 de fevereiro do mesmo ano de 1647, foi criada a freguesia de Santo Antonio de Sá, de Macacú (Rio de Janeiro).

[...]


[24] Vide o tomo 1º da 2ª parte da minha Corographia Historica, na trasladação da corte portuguesa, a história da imprensa no Brasil.