[...]
CCLI – Ministro de
estado do cardeal rei d. Henrique, d. Miguel de Moura.
CCLII – Governadores do reino, na morte do cardeal, d. Jorge de Almeida, arcebispo de Lisboa.
Francisco de Sá de Menezes.
D.
João Telles.
D.
João Mascarenhas.
D.
Diogo Lopes de Souza.
CCLIII
– A fundação do convento do Carmo da hoje cidade de Santos teve começo no
dia 6 de janeiro de 1580, ficando concluído em 1590 por fr. Domingos Freire, em terrenos doados por Braz Cubas, por escritura datada do dia 31
de agosto de 1589, em favor de fr. Pedro Vianna, delegado do comissário geral da ordem carmelitana.
CCLIV
– Martim Afonso, em caminho para os mares do Sul, ancorando no dia 6 de janeiro de 1532, dentro de uma baía, que achou bem abrigada, lhe pôs o
nome de Angra dos Reis, em atenção ao dia da sua chegada; alguns anos depois vários moradores de S. Vicente, que já conheciam a costa, vieram
estabelecer-se no continente da baía, e aí edificaram uma igreja dedicada a N. S. da Conceição, e a povoação tomou o nome que Martim Afonso deu à
baía de Angra dos Reis. Mais tarde, sendo elevada a povoação à categoria de paróquia, foi assassinado o vigário, e o arcebispo da Bahia não
querendo mandar outro pároco, alguns moradores vendo-se privados dos socorros espirituais, mais ao Norte fundaram nova povoação e lhe deram o nome
de vila da Ilha Grande, sendo lançada a primeira pedra da igreja no dia 16 de fevereiro de 1624.
O seu primeiro pároco foi o padre Roque Lopes
de Queiroz, apresentado por el-rei em 1636, e teve juiz de fora pelo alvará de 27 de junho de 1808; em 24 de janeiro de 1814 teve uma cadeira de
língua latina; e em 1833 a vila da Ilha Grande foi elevada à dignidade de cidade, e lhe restituiu o antigo nome de cidade de Angra dos Reis.
CCLV
– A capitania de Porto Seguro, depois da morte de Pedro de Campos Tourinho, o seu segundo donatário, declinou pela má administração de seu filho,
o qual deixou uma filha, e esta se não querendo casar vendeu os seus direitos ao duque de Aveiro por uma renda anual de cem mil réis. Com esta
nova e poderosa influência e com o estabelecimento de jesuítas ressuscitou a colônia, a mais rica em madeiras de construção, e era tal a
abundância de árvores que davam sucos aromáticos, que as cortavam só para lhes extrair a seiva. Esta capitania passou depois ao domínio da coroa.
(M. ined.).
CCLVI
– O período de paz que se deu nas capitanias do Sul, desde a expulsão dos franceses de 1567 a 1580, fez que os colonos se empregassem nas
lavouras, ao redor das localidades que destinavam para assento de povoações, e deram começo às correrias nas matas, poucas léguas distantes
destas, e serviram essas curtas entradas de ensaios, para atravessarem os extensíssimos desertos, serranias dificilmente acessíveis e rios
caudalosos, como depois praticaram nos sertões do Brasil.
CCLVII
– Por alvará de 12 de dezembro de 1580 foi nomeado Domingos Fernandes feitor da armada e negócio da povoação da Paraíba, por tempo de quatro anos,
a que Fructuoso Barboza o receberá por mandado de sua alteza etc. (M. ined.).
CCLVIII
– Os monges beneditinos que se estabeleceram no Brasil em 1581 principiaram logo a fundação do seu mosteiro na Bahia, sendo o seu primeiro abade o
padre fr. Antonio Ventura (Dietario Manuscripto).
Manoel Telles Barreto foi o primeiro
governador nomeado por Felipe II, o qual chegou à Bahia em 1582.
CCLIX
– Neste mesmo ano de 1582 teve começo a casa da misericórdia do Rio de Janeiro, fundada pelo padre José de Anchieta e seus companheiros, com o fim
de curar-se os enfermos da equipagem da armada espanhola, composta de dezesseis navios e com três mil homens, comandada pelo almirante d. Diogo
Flores Baldez, atacado de escorbuto, que entrou nesse ano na baía do Rio de Janeiro, vinda dos mares do Sul.
Logo depois – 1590 – foi criada a irmandade
da mesma santa casa da misericórdia (v. Santuario Mariano).
CCLX
– Como o cardeal d. Henrique, no seu testamento, não lembrou quem lhe devia suceder no trono de Portugal, a coroa do reino ficou em disputa entre
vários pretendentes, e logo depois Felipe II, fazendo valer os seus direitos pela ponta da espada, mandou celebrar cortes em Tomar, onde prestou
juramento, e tomou conta de Portugal e seus domínios. O Brasil seguiu a sorte da metrópole, ficando sujeito ao jugo da Espanha.
CCLXI
– Quando o Brasil passou ao domínio da Espanha, a cidade da Bahia já contava oito mil colonos portugueses, e o recôncavo e seus contornos possuíam
dois mil lavradores, sem falar nos escravos africanos. A igreja catedral teve logo estabelecimento aparatoso com cinco dignidades, oito cônegos,
um cura, um coadjutor, cinco cantores, com seus rendimentos, mui módicos, e custavam ao bispo grande parte da sua renda: havia sessenta e duas
igrejas e três mosteiros, entre a cidade e recôncavo, sendo dezesseis igrejas paroquiais, e com ricos ornamentos, porém os jesuítas sobressaíam já
em riqueza na sua igreja do colégio. Acabavam-se de lançar os alicerces do arsenal de marinha, e estaleiro.
Já havia mais de cem colonos, que seus
rendimentos excediam de três a cinco mil cruzados, e as propriedades de vinte a sessenta mil cruzados, e possuíam baixelas de prata e ouro no
valor de dois a três mil cruzados. Havia mil e quinhentas embarcações de diferentes grandezas, entre as quais se contavam trezentas caravelas, cem
navios capazes de levar artilharia. A cana-de-açúcar tinha sido trazida dos Ilhéus; e era indígena do país. Já havia trinta e seis engenhos, e
destes vinte e um eram de azenhas, ou moinhos de água. Exportava-se cento e vinte mil arrobas de açúcar.
A cidade assentada na altura de vinte e seis
metros empregava guindastes para levar acima as mercadorias vindas por mar. Os colonos ricos não andavam a pé, e faziam-se transportar em redes de
algodão, com cortinas de seda, que corriam à vontade, para os preservar do sol ou da chuva. Deitados ou recostados em almofadas de seda, iam de
uma para a outra parte da cidade. Depois foram substituídas as redes pelos palanquins, ou cadeiras de rua, carregados por negros da África.
De Cabo Verde veio o gado vacum e cavalos, e
multiplicaram muito: as éguas vendiam-se a dez e a doze mil réis.
O chá e o café eram indígenas do país; o
gengibre tinha vindo da Ilha de S. Thomé, e no ano de 1572 colheu-se quatro mil arrobas, e por esta vantajosa colheita foi proibido plantar-se,
por fazer mal ao comércio da Índia.
Ao bicho dos pés chamavam Xiquas, e os
índios usavam de um específico, que suponho ser o azeite cru do coco catolé.
As feridas e fraturas eram curadas com o óleo
do Couray, fruto semelhante a castanha (M. ined.).
CCLXII
– O governador do estado, Lourenço da Veiga, mandou João Tavares fundar um presídio na Ilha da Gamboa, dentro do Rio da Paraíba do Norte; e sendo
rendido por Fructuoso Barboza, este o mudou para o lugar do Cabedelo, onde, sendo inquietado pelos índios, o governador Manuel Telles o mandou
socorrer por d. Diogo Baldez em 1583. Francisco Costrejam, comandante de um fortim, que então se fez, não querendo reconhecer por seu superior a
F. Barboza, motivou a retirada dele para Olinda, e voltando com força para chamar Costrejam à obediência, deixando o posto. Fundou a povoação da
Paraíba com o título de Cidade Filippe.
Quando os holandeses chegaram a Pernambuco a
Paraíba já tinha setenta vizinhos e vinte engenhos de açúcar em seu recôncavo.
O general Segismundo Escup se apoderou do
forte Cabedelo, por capitulação em 19 de dezembro de 1634, e lhe deu o nome de Margarida, em honra de uma dama holandesa.
Também rendeu do mesmo modo no dia 23 do
mesmo mês o forte Santo Antonio que não aumentou pelos contínuos ataques dos nossos.
CCLXIII – Nos tombos do convênio do Carmo e no da
demarcação das terras dos jesuítas da Bahia, com as de Santo Antonio, achei que Christovão de Aguiar D'Altro e sua mulher Izabel de Figueirôa,
fundadores do Engenho da Água de Meninos [13],
e doaram o terreno para a fundação do convento do Carmo, foram os fundadores da primitiva capela de Santo Antonio, no começo da ladeira do
Baluarte, e lhe deram terras para patrimônio, cuja capela com o rodar do tempo foi substituída por nova igreja em 1648, e estando esta com a
sacristia danificada, a irmandade pedindo a el-rei recursos para reparar o templo, em 1694, el-rei pede informações a d. João de Lancastro nos
termos seguintes:
D. João de Lancastro, amigo. Eu el-rei vos
envio muito saudar. Da parte do Glorioso Santo Antonio se me representou a que o estado em que se acha a sua igreja de Além do Carmo com a ruína
da sacristia a que os seus fregueses não podem acudir por pobres; requerendo uma ajuda de custo para o reparo e aumento da dita igreja, ordeno-vos
informeis com o vosso parecer, e o que se poderá aplicar por esmola, para o reparo e conserto desta igreja, para que se possa deferir a obra tão
pia, e do serviço de Deus, é justo que este Glorioso Santo esteja em seu templo com toda a decência. Escrita em Lisboa a 22 de novembro de 1694 –
Rei.
Ordenado o auxílio, foi o templo reparado. Em
tempo dos holandeses houve em frente da igreja um reduto que também foi convertido em baluarte; e se mandando ao conselho ultramarino uma denúncia
que a presença da igreja embaraçava os fogos do baluarte no caso de defesa da cidade, e que convinha demolir o templo e fazer-se outro afastado do
baluarte, em 29 de janeiro de 1737, ordenou el-rei ao conde das Galveas que o informasse a respeito, e este mandando pelo provedor da fazenda
real, Luiz Lopes Pegado Serpa, e seu escrivão, João Dias da Costa, com o sargento-mor de engenheiros, Nicoláo de Abreu de Carvalho, o reverendo
padre fr. Estevão de Loreto, monge beneditino, ciente na engenharia, mestre pedreiro e medidor da cidade, Manuel Antonio Lima e o juiz do ofício
de carpinteiro, João de Miranda Ribeiro, reconheceram ser a denúncia falsa, e que além do custo de cento e vinte mil cruzados, que se gastariam em
nova igreja, haviam outros embaraços, e que a atual igreja em nada prejudicava e não podia servir de padrasto à fortificação no caso de alguma
invasão.
Em vista deste parecer o conde das Galveas,
no dia 29 de outubro do mesmo ano, informou a el-rei fazendo-lhe sentir ser falsa a denúncia, e enviando-lhe a planta e pareceres dos peritos pelo
capitão-de-mar-e-guerra d. Pedro Antonio Esteves.
(vide o n. 44 da 2ª série do meu Brazil Hist. pág. 269 – Freguesia de Santo Antonio Além do Carmo).
CCLXIV
– A vila de Caravelas, na província da Bahia, situada em uma sorte de baía, chamada de Caravelas, teve origem na aldeia de índios que o padre José
de Anchieta domesticou, e no mesmo lugar um frade capucho em 1581 edificou uma igreja dedicada a Santo Antonio. Em 1586, muitos colonos, vindos da
Bahia, se estabeleceram aí, edificaram uma nova igreja de pedra e cal, e mais tarde fundaram uma nova povoação que foi criada em vila em 1701, por
d. João de Lancastre, com o nome de vila de Santo Antonio de Caravelas, e a igreja elevada a paróquia em 1755.
CCLXV
– El-rei por alvará datado de Lisboa em 30 de outubro de 1581, em atenção aos serviços de Fructuoso Barboza ter ido assentar a povoação da Paraíba
do Norte, nas partes do Brasil, lhe fez mercê de duas mil licenças para tirar pau-brasil, e possa trazer ou mandar das ditas partes para o reino,
ficando-lhe livre tirar a madeira sem fazer gasto algum onde quiser etc. (M. ined.).
CCLXVI
– A maior parte da população de beira-mar tendo-se passado para serra acima, era estabelecida em S. Paulo de Piratininga, julgou o governo da
capitania que residia na vila de S. Vicente em 1581 transferir a sede do governo para S. Paulo, como parte central e abrigada contra as invasões
dos piratas europeus.
CCLXVII
– Por alvará de 17 de novembro de 1581 foi nomeado Domingos Fernandes almoxarife dos armazéns de mantimentos da capitania da Paraíba do Norte, com
o ordenado de cinquenta mil réis em cada um ano etc. (M. ined.).
CCLXVIII
– No dia 20 de novembro de 1581, em Lisboa, Bartholomeu Fróes faz escrever a carta patente de governador geral do Brasil, dada a Manoel Telles
Barreto, que tenho à vista, a qual não publico por não ter espaço nesta crônica. Manoel Telles recebeu logo quinhentos cruzados adiantados, para
lhe serem descontados do primeiro ordenado que vencer no Brasil. O ordenado era de oitocentos mil réis em cada um ano. (M. ined.).
CCLIX
– El-rei, em 1582, ao despachar o governador Manoel Telles Barreto, faz ciente que Bento Dias Santiago, contratador dos dízimos dos açúcares das
capitanias da Bahia e Pernambuco, por sua petição lhe pediu para que se criasse em cada capitania um escrivão especial, que assistia às entradas
dos açúcares, porque os escrivães dos armazéns não o podem fazer por terem outras ocupações etc. (M. ined.).
Por outro alvará de 18 de dezembro do mesmo
ano recomenda ao governador geral, e ao provedor-mor da fazenda, para não constranger a Bento Dias Santiago, no que toa aos pagamentos do contrato
de açúcar, e que o não obrigue a coisa alguma, contra a forma do seu contrato etc. (M. ined.).
CCLXX
– Foi pelos anos de 1582 que, aportando ao Rio de Janeiro uma esquadra de dezesseis naus e três mil espanhóis, mandados por Felipe II para o
Estreito de Magalhães, sob as ordens do general Diogo Flores Baldez, com muita gente doente, principalmente de escorbuto, achando-se no Rio de
Janeiro, em visita do seu colégio, o venerável padre José de Anchieta, que tomou a si acudi-los e curá-los, deu princípio à casa da misericórdia
no lugar da Piassaba, onde está fundada a igreja. (Sant. Mariano. T. 10 e pág. 9).
CCLXXI – O papa Gregório XIII fez emendar o calendário,
tirando onze dias a este ano de 1582, e substituindo ao áureo número, as epactas
[14].
CCLXXII
– Os espanhóis principiaram a povoar as terras do Rio da Prata em 1542, e nelas fundaram em 1582 a cidade de Buenos Aires, que por incúria se lhes
não obstou; e tanto estavam eles na certeza de que a margem setentrional do Rio da Prata lhes não pertencia e que lhes havia ser disputada, que
foram povoar e fundar, na margem meridional, quando na margem esquerda ou setentrional tinham melhor terra e porto, excelentes madeiras para
construção, lenhos e outros objetos, que não haviam na margem do Sul; e pelo que se apossam às escondidas, e tiveram a astúcia de prever os
verdadeiros atos de posse, que se fizeram mais ao Sul do Rio da Prata e a Leste de Caiena, bem pelo Rio Orenoque, podendo-se dizer que Buenos
Aires está fundada em terreno brasileiro, como as Cayenas francesas, e holandesa do mesmo modo, conforme a linha divisória das bulas de Alexandre
VI. Estas perdas de território foram devidas à incúria da coroa de Portugal, que depois lhe custou bastantes desgostos.
CCLXXIII
– A universidade de Coimbra, criada por el-rei d. Diniz, em 11 de fevereiro de 1282, com um congresso de prelados e ricos homens do reino, teve
por mestres os homens mais sábios da Europa, que foram convidados, para este fim, com grandes vantagens, sendo confirmada esta instituição
científica e literária pelo papa Nicolau IV. Sendo transferida depois para Lisboa, el-rei d. João III, no 1º de outubro de 1583, em consequência
das distrações da corte, a mudou de novo para Coimbra, sendo o seu primeiro reitor, fr. Agostinho Ribeiro, primeiro bispo de Angra, e depois de
Lamego.
D. João III, não obstante existir no reino
muitos varões ilustres em ciências, letras e artes, mandou convidar em várias partes da Europa, com grandes partidos, as mais notáveis capacidades
científicas, para o ensino universitário. No Anno Historico do padre Francisco de Santa Maria se encontra a lista nominal do pessoal
docente da universidade de Coimbra.
CCLXXIV
– Manoel Telles Barreto tomou posse do governo geral do estado do Brasil, em 11 de junho de 1573, e faleceu em março de 1587. Poucos sucessos
dignos de memória se deram durante o governo de Manuel Telles Barreto, a não ser o aparecimento dos piratas ingleses, a infestarem as costas
marítimas do Brasil, atacando a Bahia em 1583; e em 1585 Eduardo Fenton em S. Vicente, onde roubou uma embarcação espanhola. Os documentos
históricos do Brasil os holandeses destruíram, e por isso me limito ao que pude saber em um ou outro escrito, que obtive, para esta crônica geral.
CCLXXV
– Para substituir o governador Manuel Telles Barreto, tomou conta da administração geral o bispo d. fr. Antonio Barreiros; o provedor-mor da
fazenda real, Christovão de Barros. Christovão de Barros era filho do infeliz Antonio Cardoso de Barros, que morreu afogado, com o bispo Sardinha,
e se achava por esse tempo em Sergipe.
Por esse tempo, começou a fundação da igreja
de Santo Antonio da Barra da Bahia; e Christovão de Aguiar D'Altro funda a ermida de Santo Antonio além do Carmo, e lhe dá patrimônio.
(M. do Tombo, manuscrito do convento do Carmo da
Bahia).
CCLXXVI
– Como algumas nações da Europa desejavam apoderar-se de algumas partes do Brasil, e os ingleses em caráter de piratas, em 1583, entram no porto
da vila de Santos com dois galeões armados, sob o comando de Edward Fenton, deitando em terra alguma gente, em tom de domínio, com o pretexto de
fazer reparos em seus navios, e como por esse tempo cruzava as costas do Sul a armada espanhola, comandada pelo almirante d. Diogo Flores Valdez,
que ocupava o estreito de Magalhães, duas naus da esquadra, sob as ordens de André Hygino, pairavam nas águas de S. Vicente, e sabendo o
comandante do que se passava em Santos, entrou de noite na barra, e dando combate aos ingleses, os deitou para fora, com perda da artilharia, que
serviu para guarnecer a fortaleza que se fez na barra de S. Vicente. Por esses mesmos tempos foi a matança dos índios Carijós na capitania de S.
Vicente.
CCLXXVII
– A primeira fortaleza que houve nas capitanias do Sul foi a da Bertioga, na entrada da barra de Santos, na capitania de S. Paulo, construída em
1553 por João Estadio, alemão, que estava ao serviço de Portugal. Este homem foi feito prisioneiro dos tamoios, entre os quais vivem 9 anos, e
depois fugiu, para não ser comido desses antropófagos. João Estadio escreveu uma obra a respeito do Brasil cujo conteúdo eu ignoro.
CCLXXVIII
– Jorge de Albuquerque Coelho, terceiro donatário de Pernambuco, casa-se no dia 10 de dezembro de 1583 com sua prima d. Maria de Menezes, filha de
d. Pedro da Cunha, e de sua mulher d. Anna de Menezes. Enviuvando em 12 de maio de 1585, casou-se em segundas núpcias,no dia 25 de novembro de
1587, com d. Anna de Menezes, filha de d. Alvaro Coutinho, e de sua mulher d. Brites da Silva. D. Alvaro Coutinho era filho do conde de Redondo,
vice-rei da Índia.
CCLXXIX
– No governo de Manuel Telles Barreto se construíram de 1583 a 1587 os fortes de S. Felipe e
S. Tiago, com duas baterias, onde hoje está o arsenal de Marinha. O forte de Monte Serrate, no extremo da
enseada do mesmo nome, os quais se concluíram entre os anos de 1626 a 1635, pelo governador Diogo Luiz de Oliveira. O primeiro forte tinha trinta
e uma bocas de fogo para defender a entrada da barra, pelo portão do forte do mar, cruzando seus fogos pelo lado do Sul; e o segundo para
embaraçar a entrada do inimigo pelo canal de Itapagipe. Estas duas baterias foram demolidas para beleza e aumento do arsenal de Marinha (vide a
minha memória sobre fortificações do Brasil).
CCLXXX
– No 1º de janeiro de 1583, fez-se saber ao governador geral Manuel Telles Barreto, para que mande notificar os vereadores e oficiais das câmaras
da Bahia e Pernambuco, e mais pessoas da governança e procuradores do povo, que declarem a causa que tiveram, para não cumprir a provisão de 18 de
dezembro de 1582, acerca das certidões dos despachos dos açúcares, que se embarcavam para o reino, com notório prejuízo da Fazenda Real, e
determina que o escrivão, que não cumprir a mencionada provisão, correrá na perda do ofício, e pagará duzentos cruzados, metade para os cativos, e
a outra metade para quem o denunciar etc. (M. ined.).
CCLXXXI
– O pirata Cavendish, falto de provisões, mandou a Cock, seu imediato, a qualquer porto, em busca de
provisões, e conforme a altura conhecida, foi o porto de Santos o que mais próximo lhe ficava, e ali entrou no dia 16 de dezembro de 1853, e
mandando fazer fogo à povoação, estando o povo na missa, ordenou desembarcar vinte e cinco homens da tripulação, e em vez de saque entregaram-se a
orgias, sendo degolados vinte e três, e dois levados em triunfo para Santos. Dias depois, entrando Cavendish no porto, para arrecadar o saque,
encontrou a vila despovoada, e passando a S. Vicente, deitou fogo às casas e se retirou.
A vila de Santos em 1581 possuía mais de
noventa casas, e os seus habitantes eram de trezentos e cinquenta a quatrocentos vizinhos.
CCLXXXII
– El-rei, no 1º de março de 1583, fez mercê a d. Duarte da Costa, do seu conselho, que ora envia, por capitão da cidade do Salvador da Bahia de
Todos os Santos, e por governador geral do Brasil, que haja com o dito cargo duzentos mil réis de ordenado, em cada um ano, além dos quatrocentos
mil réis que leva declarados na carta do dito cargo, e manda que o tesoureiro e recebedor das rendas d Brasil pague ao dito d. Duarte da Costa em
cada ano, enquanto servir o dito cargo, os ditos duzentos mil réis etc.
(M. ined.).
CCLXXXIII
– Jeronymo de Albuquerque, irmão de d. Brites de Albuquerque, e tio do segundo e terceiros donatários de Pernambuco, que governou a capitania
desde 5 de março de 1576, faleceu em Olinda em 1584, sendo substituído pelo licenciado Simão Rodrigues Cardoso. Foi durante o governo de Jeronymo
de Albuquerque que os jesuítas fundaram o seu colégio em Olinda.
CCLXXXIV
– Manuel Telles Barreto tomou posse do governo geral do Estado em 11 de junho de 1583, e morreu em março de 1587. Neste governo, em 1585,
fundou-se o convento do Carmo.
Por falecimento do governador Manuel Telles
Barreto, tomou conta da administração geral:
O bispo d. fr. Antonio Pinheiros.
O provedor-mor da fazenda Christovão de
Barros, até 1591.
Foi por esse tempo que começou a fundação da
igreja de Santo Antonio da Barra; e que Christovão de Aguiar D'Altro funda a ermida de Santo Antonio além do Carmo e lhe deu patrimônio.
CCLXXXV – Gabriel Soares de Souza, natural de Lisboa,
estando na cidade do Salvador, da Bahia, antes de partir para a Espanha, fez seu testamento no dia 10 de agosto de 1584
[15]
e depois de se encomendar a todos os santos e santas da corte celestial, pode ser enterrado com o hábito de S. Bento, e no mosteiro desta ordem, e
não o havendo, onde ele falecer, será enterrado com o hábito de S. Francisco, e os religiosos de ambas estas ordens o acompanharão, dando-se-lhes
cinco mil réis de esmola, e pelo hábito dez cruzados.
No caso de falecer na Bahia, deseja ser
enterrado em S. Bento, da cidade, na capela-mor, aonde se porá na campa um letreiro, que diga: - Aqui jaz o pecador Gabriel Soares – no
meio de um escudo; e se morrer no mar, ou na Espanha, se porá na dita capela-mor a dita campa com o dito letreiro, e na dita sepultura, se
enterrará sua mulher Anna de Argollo; e determina que o cabido acompanhará o seu corpo, dando-se-lhe a mesma espórtula; e os padres de S. Bento
levarão de oferta um porco, seis almudes de vinho, e cinco cruzados. Acompanharão dois padres, com dois círios na mão, dando-se-lhes dois
cruzados, pelo aluguel das tochas, e a cada padre dois tostões.
Faz muitos legados a várias confrarias, e
ordena que os frades de S. Bento, quer ele faleça na Bahia, e quer em outra parte, lhe rezarão três ofícios de nove lições, em três dias seguidos,
sem pompa, e só com um pano preto sobre dois bancos e em cada um cinco velas, dizendo-lhe cinco missas, e se lhes dará de oferta um porco e
cinco almudes de farinha. Acabados os ofícios, dirão os padres cento e cinquenta missas rezadas, e quinze cantadas, e pelas cantadas se darão
de oferta a cada um sua galinha, e canada de vinho; e continua, com exigências de missas e ofícios. São seus testamenteiros sua mulher Anna
de Argollo, e o abade de S. Bento, fr. Antonio Ventura.
Declara que, pagas as suas dívidas, deixa por
seu herdeiro o mosteiro de S. Bento; mas reconhecendo os religiosos que Gabriel Soares, devia mais do que possuía, renunciam à herança. Gabriel
Soares foi sepultado na porta da sacristia do mosteiro de S. Bento da Bahia. Em abril de 1866, li gravada em uma pedra de granito a inscrição
pedida: - aqui jaz o pecador Gabriel Soares.
A cópia do testamento, que mandei tirar, está
rubricada pelo reverendo fr. Domingos da Transfiguração, secretário da congregação beneditina.
Há várias anedotas em relação a Gabriel
Soares e entre elas é a que se passou entre ele e o tabelião que lavrou o instrumento, que entre as deixas legava a casa em que o tabelião morava,
e declarando este ser a casa de sua propriedade, lhe respondeu o testador: eu deixo, e não levo a casa; e como é sua fique com ela.
CCLXXXVI
– O estado em que se achavam os do forte S. Felipe e Santiago era crítico, não só pelos ataques dos índios, como pela escassez dos mantimentos, e
mais ainda, pela desarmonia entre Costrejam e Fructuoso Barboza. O provedor Martim Carvalho pouco socorro mandava, do que resultou estremecimento
de afetos entre o bispo e a câmara de Olinda. Em agosto de 1584 a fome crescia no forte, chegando até comerem cavalos, e sabendo disto o ouvidor
Martim Leitão mandou 24 homens com mantimentos, a cargo de Nicolau Nunes. Não obstante, o alcaide Francisco Costrejam veio a Olinda, e vendo a
morosidade que o provedor empregava nos socorros, retirou-se para a Paraíba, mal provido, esperando as providências de el-rei. Em Olinda havia,
por isso, muitas odiosidades, por causa do provedor, que era protegido do bispo.
Em novembro do mesmo ano, entrando duas naus
francesas no Rio Paraíba, que vinham negociar com Pitagnares, vendo o forte, desceram e foram fundear a três léguas abaixo da boca da baía da
Traição, mas o alcaide F. Costrejam e Fructuoso Barboza mandam imediatamente notícia ao ouvidor geral Martim Leitão; este sem demora enviou um
navio de setenta toneladas, bem artilhado, e bem provido de gente, e mais uma galé, ao mando de Pedro Lopes, capitão da Ilha de Itamaracá, e os
fazendo sair, chegaram a Paraíba, e entrando em combate mataram e dispersaram os índios, bateram os franceses, e queimaram-lhes as naus. Com este
triunfo se desenganaram os Pitaguares, e procuram ajuntar-se
(Extr. da Chronica Mineira).
CCLXXXVII
– El-rei mandou passar alvará, em Madrid, por Balthasar de Souza, no dia 7 de fevereiro de 1584, em favor de Manuel de Carvalho, morador na
capitania de Pernambuco, do ofício de almoxarife da capitania de Itamaracá, por tempo de três anos etc.
(M. ined.).
CCLXXXVIII
– Em 9 de março de 1584, se passou carta patente de governador geral dos portos do Brasil e capitão da cidade do Salvador da Bahia de Todos os
Santos, a Francisco Giraldes, chefe da capitania de Ilhéus, com oitocentos mil réis de ordenado em cada ano, enquanto servir etc.
(M. ined.).
Francisco Giraldes não tomou posse do governo, por se achar a Bahia bloqueada pelo pirata Withrington.
CCLXXXIX
– Os frades de Santo Antonio, fr. Melchior de Santa Catarina e seus companheiros, fundaram em Olinda em 1585 a sua primeira casa; e os carmelitas
em 1589. Em 1587, o mesmo fr. Melchior, com mais dois companheiros, deram começo à fundação do convento de S. Francisco na Bahia de Todos os
Santos.
CCXC
– Por ordem do dr. Bartholomeu Simões Pereira, os religiosos de Santo Antonio do Rio de Janeiro tomam posse da capela de N. S. da Penna, ou da
Penha, na capitania do Espírito Santo, fundada pelo servo de Deus fr. Pedro Palacios, leigo franciscano, natural da Espanha, que se passou ao
Brasil, em 1558, e desembarcando na capitania do Espírito Santo, escolheu o monte da Penha, em cuja base construiu uma choupana, onde vivia em
fervorosa oração e no emprego de catequizar os índios, e depois sobre o monte construiu uma capela, que no princípio teve o nome de Ermida das
Palmeiras; e mais tarde os religiosos franciscanos, ampliando o edifício, construíram de 1640 em diante o convento da Penha, ali existente. Fr.
Palacios, vivendo na vila do Espírito Santo dezessete anos, foi encontrado morto, de joelhos, no dia 2 de maio de 1575, sendo depois trasladados
os seus ossos para a igreja dos jesuítas da cidade de Vitória.
CCXCI
– Tendo os oficiais da câmara de São Vicente pedido ao padre José de Anchieta que fizesse mosteiro de sua ordem na vila do porto de Santos, o qual
fez uma pequena casa, em presença das circunstâncias, e aparecendo ali o padre Christovão de Gouvêa, visitador dos jesuítas, no dia 17 de março de
1585, na casa da câmara o capitão-mor Jeronymo Leitão, e bem assim Diogo Rodrigues e Simão Machado, vereadores João Franco, juiz ordinário e
Alonso Palaes, procurador do conselho, e o tabelião Antonio de Siqueira, foi traçado pelo irmão Francisco Dias para a fundação do colégio de
Jesus, o que logo teve começo a mencionada fundação.
O importante documento, donde extraí esta
notícia, o copia integralmente Azevedo Marques nos seus Apontamentos Historicos de S. Paulo.
CCXCII
– Martim Afonso de Souza, antes do seu embarque, ordenou que os índios, que mataram os primeiros exploradores das minas de ouro de Cananéia,
fossem punidos, com mão armada, e nomeou capitães de guerra os fidalgos Pedro de Góes e Ruy Pinto, e mais tarde, diz fr. Gaspar da Madre de Deus,
apareceu no arquivo da câmara de S. Paulo uma petição dos moradores de Santos e S. Vicente, na qual requereram os povos destas duas vilas ao
capitão-mor Jeronymo Leitão, no ano de 1585, que se declarasse guerra aos carijós, assinala por motivo dela ter morto aquele gentio no espaço de
quarenta anos mais de cento e cinquenta europeus, assim portugueses como espanhóis; tirando a vida com feroz barbaridade, induzidos por um
espanhol, a dois missionários jesuítas (Pedro Corrêa, que livrou os índios da escravidão em 1554, e João de Souza); assassinando oitenta homens,
que Martim Afonso despachara para o sertão a descobrimento de minas, por cujo motivo ordenara o dito governador, quando se ausentou para o reino,
que se continuasse a guerra pelos fidalgos Pedro de Góes e Ruy Pinto.
CCXCIII
– Chegando à cidade de Olinda a notícia que os pitaguares se juntavam nas proximidades do forte da Paraíba, fazendo cercas de madeira mui rija, e
que no forte havia muitas moléstias devidas à má qualidade do sítio, não se deram logo as providências; mas em fins de janeiro de 1585, vindo
diretamente nova participação do estado de aperto em que se achavam, e queixas contra o chefe índio Braço de Peixe, o ouvidor geral Martim Leitão,
e o ouvidor da capitania de Pernambuco Francisco do Amaral, de acordo com a câmara de Olinda, o bispo, o capitão d. Felippe de Moura Cavalcante e
seu filho Antonio Cavalcante, o provedor da Fazenda, os capitães Gaspar Dias Moraes, Ambrosio Fernandes, Simão Soares, Simão Falcão, Jorge de
Carvalho, João Paes, capitão do cabo de Santo Agostinho, João Velho do Rego e Pedro Lopes de Souza, reunindo gente, se partiram para a Paraíba,
indo como general o ouvidor Martim Leitão; e chegando junto ao Rio Tabori, encontraram uma grande cerca mandada fazer pelo chefe Braço de Peixe,
guarnecida por três mil índios, e como já era noite, e encontrassem um alagadiço, no dia seguinte, entrando o exército a poder da força dentro da
cerca, bateu o inimigo, e o resto fugiu apupando os nossos; mas como levassem bons línguas, entre os quais o padre Jeronymo Machado,
dirigindo-lhes a palavra os aquietaram, mas o Braço de Peixe não se acomodou em fazer pazes.
No dia seguinte, depois da missa, entraram em
combate, e carregando sobre o outro cercado, foi logo queimado e dispersos os pitaguares, chegaram ao forte, onde, depois de se darem as
providências, o ouvidor geral subiu pelo Rio Paraíba, com oitenta homens e muitos índios mansos, e da parte do Sul escolhendo sítio para a
povoação não a levou a efeito por não virem preparados, mas o ouvidor geral, para garantia do forte, mandou os capitães Francisco Barreto e Simão
Falcão, com trezentos homens a cavalo e a pé, á Baía da Traição, ver se existiam franceses, e os não encontrando voltaram.
No 1º de junho do mesmo ano, o ouvidor geral
Martim Leitão voltou com o exército para Olinda. Aqui combinaram entregar o comando do forte da Paraíba a Pedro Lopes de Souza, com o ordenado de
cinquenta cruzados por mês; mas chegando a notícia de que os espanhóis faziam desordens no forte, se mandou vir presos o alcaide Francisco
Costrejam e os espanhóis, e foram remetidos para a Espanha. Os índios fizeram pazes com o capitão João Tavares, juiz de órfãos de Olinda, no dia
de Nossa Senhora das Neves, e este com Fructuoso Barboza reedificou o forte e consertaram o da Ilha da Camboa.
Martim Leitão, diz a crônica manuscrita, no
ano seguinte de 1586, voltou de novo à Paraíba, levando bois, vacas, porcos, cabras etc., para criação, e o mestre das obras de el-rei, Duarte
Gomes, João Teixeira e outros oficiais de pedreiros e carpinteiros, e depois de escolher sítio, perto do ribeiro Jaguaripe no dia 4 de novembro de
1586, mandou fazer um forno e marcou a área do forte com cento e cinquenta palmos de vão em quadra e lançou os alicerces e construiu o forte de
pedra e cal, que depois se chamou do Cabedelo. Em seguida fundou a povoação da Paraíba do Norte, e a igreja para matriz, consagrada à Nossa
Senhora das Neves, em memória do dia da mesma senhora, em que João Tavares fez as pazes com os índios Pitaguares
(crônica manuscrita inédita da Paraíba do Norte).
CCXCIV
– Gabriel Soares, tratando do aumento e prosperidade da Bahia, fez sentir que na Bahia pelos anos de 1587 existiam duzentos e quarenta
carpinteiros empregados na construção das casas e edifícios, e na construção de embarcações, bem como cinquenta tendas de ferreiros, com seus
oficiais.
Havia nesse tempo na Bahia dois mil colonos
europeus; quatro mil africanos, e seis mil índios civilizados.
CCXCV
– A primeira igreja de S. Francisco que houve no Brasil foi a que erigiram os dois religiosos que vieram na segunda expedição (1503) em Porto
Seguro, cujos religiosos foram mortos pelos índios no dia 19 de junho de 1505. Em 1515 chegaram ao mesmo lugar dois missionários italianos, e
achando a igreja deram começo à catequese, e um deles, afogando-se ao passar um rio, ficou-lhe com o nome de Rio do Frade.
No 1º de janeiro de 1585, o geral dos
capuchinhos, fr. Francisco Gonzaga, por pedido do donatário, mandou para Pernambuco os padres fr. Francisco de S. Boaventura, fr. Francisco dos
Santos, fr. Affonso de Santa Maria, fr. Manuel da Cruz, fr. Antonio da Ilha, o corista fr. Antonio dos Martyres e o leigo fr. Francisco da Cruz,
todos sujeitos a fr. Melchior de Santa Catharina, os quais foram bem recebidos no dia 12 de abril de 1585 pelo governador de Pernambuco Jorge de
Albuquerque Coelho e pelo bispo d. fr. Antonio Barreiros que então ali se achava; e no mesmo dia deram começo à fundação do convento de Olinda,
antes vila de Morin.
O bispo, desejando igual benefício para a
Bahia, em 1587, trouxe consigo para esta cidade fr. Melchior, fr. Francisco de S. Boaventura e fr. Francisco da Ilha, os quais, residindo com eles
vinte dias, passaram a morar em uma casa coberta de palha, que existia no lugar onde foi fundado o convento atual, junto à qual havia uma ermida
consagrada a S. Francisco. O terreno onde iam fundar o convento pertencia à câmara; mas Antonio Fernandes, morador na Ilha de Maré, apareceu
dizendo pertencer-lhe, por lhe haver seu sogro Pedro Cintra lhe doado em dote, e em vista do título que tinha havia feito algumas casas e
benfeitorias, e então para terminar a dúvida o bispo comprou por duzentos cruzados as benfeitorias, e por setenta mil réis, comprando outra casa a
Christovão Albernaz, em 24 de outubro de 1589, fez doação aos religiosos, os quais com o auxílio dos povos construíram a igreja e o convento.
Carecendo o convento de mais terreno para a
cerca, compraram a Martim Affonso Moreira o terreno preciso por trezentos e cinquenta mil réis, em 5 de dezembro de 1622. O convento principiou em
1587 e levou quase dez anos em trabalho para ser concluído; e como com o tempo já fosse pequeno para o pessoal dos religiosos, resolveram fundar
outro, lançando-se a primeira pedra no dia 20 de dezembro de 1686, e no dia 3 de outubro de 1713, dia da festividade de Santo Antonio de Arguim
depois de bento pelo arcebispo d. Sebastião Monteiro da Vide, foi aberta a igreja e acomodados os religiosos em sua nova casa.
A frente da igreja primitiva olhava para o
oriente, e a porta lateral ficava correspondendo à porta principal da suntuosa igreja de hoje. As obras de torno, estantes, caixões e cadeiras
foram feitas pelo religioso leito fr. Luiz de Jesus, filho daquela província.
CCXCVI
– A ordem terceira de S. Francisco da Bahia foi estabelecida no dia 4 de setembro de 1635, por autorização de fr. Pantaleão Baptista; e a igreja
da ordem teve princípio no 1º de janeiro de 1702, sendo ministro da ordem o coronel Domingos Pires de Carvalho, levando a construção um ano, cinco
meses e vinte e dois dias. Passados cento e vinte e quatro anos, achando-se a igreja arruinada, foi reedificada, começando as obras em 1827, e em
30 de junho de 1835 foi ela benta pelo guardião fr. Luiz do Menino Jesus, celebrando-se a festa do padroeiro no dia 4 de julho do mesmo ano. (Vide
Jaboatão e as Memórias Históricas de Ignacio Accioli).
CCXCVII
– O hospital da ordem, na Rua das Laranjeiras, teve lugar em 1802, em uma casa da mesma rua, sendo aberto no dia 5 de outubro de 1806. O novo
hospital, na Rua do Jogo do Carneiro, teve princípio no dia 8 de outubro de 1848, e recebeu os irmãos pobres da antiga casa no dia 3 de junho de
1860.
CCXCVIII
– O cemitério da ordem terceira foi edificado na Quinta dos Lázaros e principiou a funcionar em 16 de setembro de 1856.
CCXCIX
– O hospício da Boa Viagem foi ereto em 1712, em terrenos doados por escritura de 18 de março de 1710, por d. Lourença Maria, então possuidora de
todas as terras de Itapagipe.
O convento de S. Francisco de Sergipe do
Conde, começado em 1618, no sítio de Maraju, e depois mudado para a vila de S. Francisco, em terreno doado por Gaspar Pinto dos Reis e sua mulher
d. Isabel Fernandes por escritura passada em 1629, e como fosse pequeno o hospício foi levantado outro convento que ficou concluído em 1649; e
como ainda fosse pequeno aumentou-se, cuja obra ficou concluída no dia 25 de março de 1722. Este convento tem ordem terceira fundada antes de
1700.
O convento de Paraguaçu teve começo em 1649,
em terreno doado pelo padre Gouvêa, para um pequeno hospício, mas em 4 de outubro de 1658 foi lançada a primeira pedra do famoso convento atual.
O convento de Cairu foi fundado em 1654, em
terreno doado por Bento do Salvador, casado com Isabel Gomes.
CCC
– Até 1647 conservou-se a custódia do Brasil sujeita à de Portugal, mas por patente deste ano ficou a província franciscana do Brasil separada da
de Portugal, cujo ato foi confirmado por Inocêncio X.
[...]
[13]
Creio que o nome de Água de Meninos dado ao engenho e ao lugar proveio da pequena torrente de água que descia da montanha.
[14]
Número de dias que se acrescentam ao ano lunar para igualar ao solar, ou número de dias que tem a lua de dezembro a 1º de janeiro, a fim de achar
o da Páscoa, e regular as festas móveis e eclesiásticas.
[15] O
testamento de Gabriel Soares, não se sabia onde parava, e o achei copiado no quase ilegível livro primitivo do Tombo do mosteiro de S. Bento da
Bahia, cuja cópia a mandei tirar pelo sr. Castro, único paleógrafo do antigo manuscrito, como também o testamento de d. Catharina Alvares
Paraguassú, cujos testamentos publiquei no meu Brazil Historico, autenticados pelo secretário da congregação beneditina.