[...]
O "Diamante de Porter" em estudo exploratório multicaso no setor pesqueiro exportador de Santos
João Ribeiro Natário Neto
4. Análise de dados
As empresas exportadoras analisadas "A", "B" e "C" são antigas e seus sócios atuam no segmento há mais vinte anos, passaram por diversos planos e crises econômicos, são experientes e conhecedores do ramo, atualmente destacam que a valorização do Real frente ao Dólar, a alta taxa de juros, e a tributação dos pescados brasileiros no mercado exterior, prejudicam as exportações. Não costumam fazer planejamento estratégico para médio e longo prazo. A captura de pescados está localizada entre o litoral do Estado do Espírito Santo e a Costa Argentina.
Não possuem administração profissionalizada, a gestão
e gerência são centralizadas, usam tecnologia tradicional e por conseguinte mais mão-de-obra. O Departamento de Marketing é inadequado ou inexiste. A empresa "A" opera com um barco arrendado.
Estas empresas pesqueiras, duas das quais familiares, pequenas e médias, têm inúmeras dificuldades relativas à gestão, inclusive as relacionadas ao processo de globalização, a tecnologia de informação, a tomada de decisão como a apuração do custo de capital, substituição de equipamentos, aquisição de ativos de longo prazo, obtenção de linhas de crédito etc.
As atividades e funções dos gestores destas empresas aparentavam não estar próximas do que mencionava Chiavenato (2001), com relação ao envolvimento das diferentes entradas em uma realidade complexa, tais como:
Interdisciplinaridade - os processos de negócio envolvem equipes de diferentes áreas, perfis profissionais e linguagens;
Complexidade - as situações carregam um número maior de variáveis;
Exigüidade - o processo decisório está cada vez mais espremido em janelas curtas de tempo, e os prazos de ação/reação são cada vez mais exíguos;
Multiculturalidade - o gestor está exposto a situações de trabalho com elementos externos ao seu ambiente nativo, e, por conseguinte, com outras culturas: clientes, fornecedores, parceiros, terceiros, equipes de outras unidades organizacionais, inclusive do estrangeiro;
Inovação - tanto as formas de gestão quanto a Tecnologia da Informação e da Comunicação estão a oferecer constantemente novas oportunidades e ameaças;
Competitividade - o ambiente de mercado é cada vez mais competitivo, não só em relação aos competidores tradicionais, mas principalmente pelos novos entrantes e produtos substitutos. Neves (1999) cita Porter (1999), ao afirmar que a Internet/Tecnologia da Informação é uma ferramenta ligada à realização de atividades de maneira mais eficiente, dentro do conceito de trabalhar melhor, ao realizar a mesma tarefa, do que os concorrentes. A Internet cria novos setores de atividades e transforma setores existentes, permitindo que se aperfeiçoe a eficácia operacional. No período da pesquisa as empresas "A" e "B" não possuíam web site na Internet, e a exportadora "C" estava desenvolvendo suas primeiras páginas na Rede.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior - SECEX (2001), na RMBS, das cinco empresas atuavam no segmento exportador, cujos pescados frescos, refrigerados e congelados são descarregados em Santos (quatro) e Guarujá (uma), atualmente somente três exportam; as demais se voltaram para o mercado interno, em função da valorização do Real/Dólar. Estas empresas apresentam algumas dificuldades na gestão, tais como:
seus
equipamentos aparentam ser pouco adequados do ponto de vista de pesca seletiva; faltam dados e informações suficientes e confiáveis acerca dos principais recursos que se encontram em alto-mar;
insuficiência de informação científica acerca das principais espécies;
melhor
capacitação profissional em todos os níveis;
insuficiência de infra-estrutura de armazenamento;
pouco
conhecimento com relação às linhas de crédito e custos BNDES, e demais bancos autorizados em operar em Câmbio e com Crédito Rural;
insuficiente
conhecimento do constante na Consolidação das Normas Cambiais (CNC) do Banco Central do Brasil, e pouca organização no encaminhamento burocrático junto a Bancos, Receita Federal e Despachantes;
identificação de outros mercados, etiquetas e regulamentos aduaneiros dos países importadores;
inadequado
planejamento estratégico para médio e longo prazo;
concentração de sacados no exterior e de países;
inadequado
ou inexistente Departamento de Marketing;
contratação de câmbio exportação, na modalidade de cobrança à vista, pagamento à vista, para embarque marítimo FOB com destinado a país do Continente asiático. Prazo máximo, permitido
pelo Bacen, para liquidação e pagamento: até 30 dias, após a data do embarque. No entanto, o navio chega ao destino em 45/60 dias, quando o sacado pagará, se a mercadoria estiver de acordo com o pactuado.
entrega
de mercadoria e documentos de embarque diretamente e em nome do importador, por via aérea. Efetua assim, a chamada remessa sem saque, corre risco de inadimplência e dificilmente terá amparo legal para acionar judicialmente o sacado.
Apesar dos aspectos vistos anteriormente, o setor é globalizado e as empresas participam das principais feiras internacionais: a última foi realizada em maio de 2005 em São Paulo, e contou com a presença de mais de cinco mil profissionais de toda a cadeia produtiva da pesca e da aqüicultura. As principais missões internacionais estiveram presentes, como as da Alemanha, da Grã-Bretanha, da Espanha e do Chile, que participaram das rodadas de negócios.
A importância dessas feiras pode ser visualizada pelo exemplo da comitiva espanhola, que foi liderada pela ministra da Aqüicultura, Pesca e Alimentação da Espanha, Elena Espinosa Manglana; o Brasil pelo secretário da Aqüicultura e Pesca, José Fritsch; além das delegações da Alemanha, Estados Unidos e Chile. Esses eventos permitem ações de cooperação com a Espanha e apresentam projetos do governo e possibilidades de ações em parceria com as demais nações.
Embora suas exportações de pescados atendam as necessidades dos mercados externos, como Europa, Ásia e Estados Unidos, de forma competitiva, e se insiram em uma economia globalizada, não há cluster pesqueiro na RMBS. Porque os clusters representam novas maneiras de organizar estratégias de desenvolvimento econômico, pois são grupos industriais próximos de firmas e instituições associadas a um determinado setor produtivo, interligados uns com os outros. Estas concentrações geográficas congregam, por outro lado, fornecedores especializados de serviços e de insumos, de infra-estrutura, de governo, universidades e centros de pesquisa, agências de normatização, assegurando uma lucratividade e produtividade a nível global.
Para Porter (1999, p.248) a escassez dos aglomerados nos países em desenvolvimento não os impedem de competir, porém os impedem de aumentar a produtividade e o aprimoramento. As exportações crescerão durante algum tempo, com base no baixo custo da mão-de-obra local e na exploração de recursos naturais com tecnologia importada, porém de forma restritiva, porque não será possível aumentar a produtividade e o valor do produto.
"Para melhorar os lucros, os salários e o padrão de vida, o desafio, ao longo do tempo, consiste em elevar a produtividade e aumentar o valor dos produtos. Para permitir que uma localidade se torne mais produtiva, desenvolva a capacidade local de melhorar processos e produtos e, em última instância, promova a inovação, é fundamental que, gradualmente, se desenvolvam os aglomerados. Do contrário, não será possível contrabalançar a tendência natural de aumento dos custos locais ao longo do tempo; e outras localidades com custos dos fatores mais baixos ou maiores subsídios, assumirãoa produção. Assim, a ampliação e o aprofundamento
bem sucedido dos aglomerados são essenciais para o êxito do processo de desenvolvimento econômico."
Segundo Schmitz (1997), a formação de clusters não garante crescimento e competitividade, ganhos econômicos de forma automática, mas é apenas facilitador para se atingir esses objetivos, através da divisão do trabalho e especialização entre os pequenos produtores; surgimento de fornecedores de matérias-primas ou componentes, bem como de máquinas novas e usadas; serviços de manutenção; aparecimento de agentes comerciais para o mercado interno e externo; surgimento de prestadores de serviços especializados como contábil, financeiros, técnicos e de mercado; aparecimento de um grupo de trabalhadores com habilidades setoriais específicas; ação conjunta dos produtores locais.
p>As empresas que fazem parte do cluster possuem menores custos no acesso a informações, maior freqüência e estabilidade nas transações, bem como importantes relações informais, criando um ambiente de menor incerteza nos investimentos em ativos específicos, fundamentais para o aumento da eficiência econômica dos produtores, fazendo com que cada um que pertence ao cluster se beneficie de economias externas de forma mais eficiente do que um produtor semelhante que esteja fora do cluster (SCHMITZ, 1997).
As empresas exportadoras reclamam da insuficiente capacitação profissional e tecnológica de seus funcionários/colaboradores/pescadores/mestres em todos os níveis e de falta de escolas técnicas públicas voltadas para o setor. As tentativas de parcerias com universidades em Santos não obtiveram sucesso, as empresas recorrem as universidades de São Paulo e a institutos no Rio de Janeiro para análise de metais pesados e histaminas.
[...]
|