Na última edição errei a data de uma palestra na Infonet'99, e minutos depois chegava um e-mail de minha esposa apontando o erro. O que fazer? Enviar uma errata do tipo, "onde se lia ..., leia-se ..."? Não. Ficaria formal demais para o meu gosto.

O resultado foi surpreendente. Chegaram e-mails de vários assinantes, expressando uma familiaridade que só a Web consegue proporcionar. Vieram sugestões de telemensagem, floriculturas na Web, ou manifestações do tipo "muito simpática sua correção". Fica a lição. A Internet não é TV, não é comunicação em massa. É comunicação de pessoa para pessoa. Eu estou escrevendo para você e você está respondendo para mim.

Sugeri o tema da "webfamiliaridade" em uma lista de discussão que participo, e aprendi mais sobre isso com os participantes. Um deles citou o exemplo da Search Engine Watch, newsletter de Danny Sullivan, cuja característica é escrever com extrema familiaridade. Ali não há desculpas do tipo, "problemas técnicos impediram o envio da última edição". Ele vai direto ao assunto dizendo que atrasou porque precisou visitar a mãe, ou coisas assim. Um detalhe: Danny escreve para 73 mil assinantes!

Exemplos - A "webfamiliaridade" é algo que qualquer empreendedor na Internet deve levar em consideração. Costumo mencionar exemplos familiares para explicar conceitos de negócios, como aconteceu em um artigo que escrevi para a revista Internet Business. Usei a história da receita de mousse de maracujá que minha filha faz para vender na faculdade, e o título do artigo explica tudo: "Receita Para Um Grande Negócio". Pode ser lido no site da própria revista. 

Escrever assim tem muitas vantagens. Em uma pesquisa que fiz com os leitores de Internet & Negócios, um leitor escreveu algo do tipo "se fosse para outro não responderia", e outro, "lendo seus artigos, parece que nos conhecemos". 

A "webfamiliaridade" é a versão virtual do relacionamento que o "seu Manoel" da quitanda da esquina tem com seus clientes. Aquele que pergunta se passou a febre do nenê, manda umas folhas de hortelã para a avó fazer um chá, ou vigia a casa da família quando esta viaja. Se isso funciona no mundo real, deve funcionar no mundo virtual. Mas acredito que só irá funcionar se houver sinceridade. Algo do tipo, "senta aí e escreve com um estilo para criar intimidade", não vai longe.

(*) Mário Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico Crônicas de Negócios e mantém endereço próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis.