Receita para um grande negócio
Mário Persona (*)
Colaborador
Fiquei
surpreso quando minha filha de dezenove anos chegou do supermercado. Nas
sacolas, colheres e copinhos descartáveis com tampa, pacotes de
gelatina e uma dúzia de maracujás. Uma geladeira de isopor
completava o arsenal. "Vou vender mousse de maracujá na faculdade",
anunciava ela radiante. Além do doce caos em que se transformou
nossa cozinha, a vida de todos ganhou um sabor diferente.
Logo passou a ser uma rotina chegar
em casa e encontrá-la pilotando o liqüidificador e o fogão
no preparo de sua receita exclusiva. E toda a família começou
a dar palpites, discutindo formas de aperfeiçoar a embalagem, ou
as vantagens e desvantagens de se partir para o franchising. Evidentemente,
neste caso estávamos nos referindo apenas a um sistema de comissão
para as colegas que vendessem os copinhos de mousse nas outras classes.
Embora as pretensões de minha
filha não fossem muito além de fazer o doce de que mais gosta
e ainda ganhar algum dinheiro para pagar o almoço na cantina, muitos
grandes negócios começaram assim. Não são poucas
as grandes indústrias de alimentos que começaram com uma
simples receita na cozinha de alguma dona de casa. De uma atividade paralela
ou um hobby, muitas pessoas acabam criando um grande produto ou
serviço. A informalidade parece ser um ingrediente chave no processo.
Prazer - Quando não
existe a preocupação de se transformar algo em um grande
negócio, tudo se resume ao prazer de se fazer aquilo cada vez melhor.
Tom Petzinger, em seu livro "The New Pioneers", sugere que a inovação
costuma ocorrer na periferia de um sistema, onde as pessoas têm mais
espaço para explorar as possibilidades. A inovação
precisa de liberdade para criar. Ali você está à vontade
para testar todas as possibilidades, até encontrar uma que funcione.
Por ser uma ocupação
periférica à atividade principal, e não exigir o cumprimento
de compromissos ou metas, a criatividade corre solta. Foi o que aconteceu
com Estevam Varga. Quando a Internet ainda estava limitada ao meio acadêmico,
Estevam instalou um link na AMC, sua fábrica de molas para
a indústria automotiva, e começou a utilizar a Internet em
pesquisas.
Aquilo que começou como uma
atividade paralela - quase um hobby - acabou virando um grande negócio.
Ao enxergarem a possibilidade de se utilizar a Internet para a comunicação
de dados entre empresas, Estevam e mais alguns visionários fundaram
a Widesoft, na época a segunda empresa do estado de São Paulo
a explorar comercialmente um link de Internet.
Não demorou para que a fábrica
de molas fosse vendida e os recursos aplicados na nova empresa. Em pouco
tempo a Widesoft estava colocando no ar um dos primeiros sistemas de Web
EDI no País, utilizando a Internet para fazer o intercâmbio
de dados entre a indústria Freios Varga e seus fornecedores. Outras
empresas logo aderiram ao sistema, que passou a crescer à medida
que novos desafios e necessidades iam surgindo. As palavras de Jennifer
Bessye Sander, colunista do USA Today, ilustram bem esse tipo de
processo: "Quanto mais eu trabalho, melhor eu trabalho, e no final lucro
com isso".
Motivação -
Abraham Maslow, pioneiro da teoria da motivação, escreveu
que "a criatividade está relacionada à habilidade de se enfrentar
a falta de estrutura, de futuro, de previsibilidade e de controle, e à
tolerância pela ambigüidade e falta de planejamento". Por não
estar preocupado com o futuro, o novo empreendedor mergulha no presente,
dedicando-se totalmente àquilo que faz.
Ao invés de um plano de ação
bem definido, dá um passo de cada vez, corrigindo sua rota em um
processo de ação,
feedback e síntese. Assim
ele vai obtendo o conhecimento necessário à próxima
ação. É algo como andar à noite com uma lanterna.
Você enxerga apenas o suficiente para o próximo passo, mas
mesmo assim chega ao destino. Seja ele um mousse de maracujá
ou o próximo grande negócio da Web.
(*) Mário
Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica
faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico
Crônicas
de Negócios e mantém endereço
próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis.
O autor incorporou esta crônica
a um novo livro, "Receitas de Grandes Negócios - Para empresas que
NÃO estão de regime" (lançamento previsto para 5/2002),
com outro final:
A inovação
precisa de liberdade para criar. É onde se fica à vontade
para testar todas as possibilidades, até encontrar uma que funcione.
Por ser uma ocupação periférica e não exigir
o cumprimento de compromissos ou metas, a criatividade corre solta.
Talvez isto
esteja acontecendo com você neste exato momento. Sua atividade usual,
seu hobby ou passatempo pode acabar se transformando em seu próprio
negócio. Fruto de um sonho antigo ou conseqüência da
conjunção de fatores mais comuns, como instabilidade, insatisfação
ou desemprego.
Mas que tipo
de negócio montar? A resposta pode estar mais perto que lápis
atrás da orelha e óculos sobre o nariz. Há basicamente
três coisas que você pode vender: um produto, serviço
ou conhecimento. Você pode vendê-los
separadamente
ou agregar tudo em um grande produto de sucesso: VOCÊ!
Quando o médico
examina o paciente, está vendendo o conhecimento de anos de estudo
e experiência. Embrulhado em uma boa reputação. Ao
comprar um medicamento, o farmacêutico está lhe vendendo um
produto, acompanhado do conhecimento que tem dele. E se um profissional
for até sua casa aplicar uma injeção, você estará
pagando por experiência embalada em conveniência, além
de agulha e seringa. Os únicos itens descartáveis.
Conhecimento
não é um produto tangível, nem descartável
- ele permanece com você mesmo após vendê-lo. Por isso
deve existir um bocado dele estocado aí nessa sua caixa craniana,
que pode valer alguma coisa. Seja a receita para fazer um musse, ou a tecnologia
para construir uma ponte.
Mas não
basta ter o conhecimento. É preciso algumas xícaras de adversidade,
uma boa colher de necessidade e alguns quilos de paixão. Tudo balançando
perigosamente na instabilidade do momento que você pode estar vivendo.
Abraham Maslow, pioneiro da teoria da motivação, escreveu
que "a criatividade está relacionada à habilidade de se enfrentar
a falta de estrutura, de futuro, de previsibilidade e de controle, e à
tolerância pela ambigüidade e falta de planejamento".
Por faltar
uma perspectiva mais clara do futuro, o novo empreendedor mergulha no presente,
dedicando-se totalmente àquilo que faz. Ao invés de um plano
de ação bem definido, dá um passo de cada vez, corrigindo
sua rota em um processo de ação, feedback e síntese.
Assim ele vai obtendo o conhecimento necessário à próxima
ação.
É algo
como andar à noite com uma lanterna. Você enxerga apenas o
suficiente para o próximo passo, mas mesmo assim chega ao destino.
Mas aí vem a parte do calafrio. Pois muitos dos que estão
começando um pequeno negócio em casa ou abrindo uma loja
ou pequena indústria, acabam descobrindo que estão competindo
com mega-negócios que deixam pouco espaço para quem não
pode investir. Será que você está entrando em uma gelada?
Este livro
não pretende responder esta pergunta. Mas poderá ajudá-lo
a responder por si mesmo. Longe de ser um prato feito, este é um
volume de pequenas receitas, idéias, pensamentos e meditações
de negócios. Tudo para ajudar você a pensar por si mesmo,
porém de uma forma inovadora ou pouco usual.
A idéia
é levar você a olhar para onde ninguém está
olhando. A descobrir atalhos. Que o ajudem a cozinhar seu próximo
grande negócio sem bater de frente com uma concorrência de
gigantes. Você tem muito trabalho pela frente, alguns sucessos e
fracassos. Por isso, antes de começar a empreender de verdade, sugiro
que comece pela receita que vem a seguir. Do musse de maracujá.
Pelo menos esta lhe dará a certeza de um resultado mais doce e mais
rápido.
Musse de Maracujá
Ingredientes
do Musse:
1 lata de
creme de leite
1 lata de
leite condensado
2 a 3 maracujás
1 pacotinho
de gelatina em pó sem cor e sem sabor
Copinhos descartáveis
com tampa
Ingredientes
da Calda:
1 ou 2 maracujás
Açúcar
Água
Para fazer
o Musse:
Bater um maracujá
no liquidificador com água e coar o suco. Deve dar 1 copo. Dissolver
a gelatina em 2 colheres de água quente. Bater o suco com creme
de leite e leite condensado até ficar cremoso. Acrescentar a gelatina
dissolvida e bater mais um pouco. Despejar nos copinhos e levar à
geladeira para endurecer.
Para fazer
a Calda:
Levar a fogo
brando o maracujá com açúcar a gosto e um pouco de
água para afinar a calda. As sementes fazem parte da calda. Ferver
até engrossar um pouquinho.
Após
o musse endurecer, jogar um pouco de calda sobre o musse de cada copinho.
Agora, é só vender. Ou comer. |
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