SEGURANÇA
Como alguém pode saber
tudo sobre sua empresa
Internet facilita que muita
informação confidencial seja divulgada
Carlos Pimentel Mendes
Editor
Na edição
passada, Informática mostrou como uma jovem passava
sem perceber informações pessoais a um estranho, pela Internet,
e poderia ser vítima de um criminoso. Agora, completa o alerta,
transpondo o problema para o âmbito dos negócios. Até
que ponto sua empresa está segura? Afinal, além de criminosos,
tem de enfrentar também os concorrentes...
Por ser uma tecnologia muito recente,
a Net ainda não teve todas as suas implicações avaliadas.
Quem usa recursos de comunicação eletrônica sabe que
existem os hackers, crackers, vírus, worms,
e se for consciente toma precauções contra eles (antivírus,
firewalls
etc.). Mas, em muitos casos, nada impede que alguém obtenha informações
confidenciais, até por meios perfeitamente legais. Principalmente
neste período de mudanças enormes e muito rápidas,
em que os controles precisam ser flexíveis (já que a rigidez
pode até acabar com a empresa, se um concorrente for mais ágil)
e acabam surgindo muitos furos inesperados na segurança das informações
mais sensíveis.
Por exemplo: um dos formatos de documento
eletrônico mais compartilhados é o arquivo de texto produzido
no Word. Então, suponhamos que você deseja enviar uma informação
como "amigo anônimo". Prepara o texto em seu computador, altera ou
apaga no campo [Propriedades] o nome do autor e envia o arquivo por e-mail,
usando algum truque de redirecionamento que lhe garanta o anonimato. Esse
destinatário, em vez de usar o Word, abre o arquivo no Notepad do
Windows. Lá está, inclusive com repetição,
o seu nome completo, talvez o de sua empresa, alguns detalhes sobre seu
computador etc. Pronto: você foi descoberto!
Nos Estados Unidos, quando um ladrão
rouba um notebook ou laptop, a empresa nem se importa com
o aparelho, mas entra em pânico se ele contiver informações
confidenciais, e trata de substituir todas as senhas que seu usuário
tinha para acesso à sua extranet ou rede corporativa. Lá,
já existem quadrilhas especializadas em roubo de informação
digital, e um disco rígido recheado, ou um aparelho que possa ser
reconhecido como válido pelo controle de acesso de uma empresa,
valem ouro. Aqui, essa cultura de segurança está apenas começando.
E quantas empresas permitem que os
equipamentos sejam levados para oficinas de manutenção ou
sejam manipulados por supostos funcionários de uma assistência
técnica, sem antes garantir que todos os dados confidenciais estejam
a salvo?
Lembrete: não basta apenas
dar o comando de apagar um arquivo para eliminá-lo do computador,
existem nas lojas programas comuns que permitem recuperá-lo. Para
não falar do antigo comando Undelete/Unerase do DOS. E quem lembra
de passar depois um anti-vírus nos arquivos, para garantir que o
técnico, ao fazer a manutenção, não tenha usado
um programa contaminado?
Mesmo fragmentos de informação
colhidos aqui e ali por um pesquisador competente podem ser reunidos, completando
um quebra-cabeças que um empresário julgaria impossível
de montar. Afinal, é isso o que sempre fizeram os detetives e espiões.
Aliás, quantas empresas se preocupam em picotar os documentos em
papel antes de jogá-los no lixo?
Um
cliente insatisfeito divulga a sua insatisfação para
17
(milhões)
de pessoas através da Internet
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Perigo distante? – A sensação
de perigo que nos coloca em alerta tem muito a ver com a proximidade da
fonte desse perigo. Não nos preocupamos com a onça presa
no zoológico, mas não é nada confortável vê-la
entrar em nossa sala. Hoje, porém, distância nada significa.
O concorrente sempre está eletronicamente bem ao lado. Talvez vendo
tudo o que fazemos.
Presidente do Net Future Institute,
o escritor Chuck Martin, em seu livro "O futuro da Internet" (Makron
Books, 1999), cita exemplos: um gerente, preocupado em cumprir a política
de transparência da empresa para com o público, instrui um
funcionário a colocar todas as informações no site
Web. Todas? Eis o perigo...
Mesmo que haja uma política
mais coerente e responsável, ainda assim um concorrente pode fazer
como o policial Goto123 citado na edição
anterior de Informática: coletar dados e evidências.
Novamente Chuck Martin: se uma multinacional coloca na área de seleção
de candidatos de seu site uma vaga para gerente em Londres, significa que
pode estar preparando uma ofensiva no mercado europeu. O perfil dos candidatos
desejados também pode indicar uma mudança ou diversificação
de atividades. Solução: chame um headhunter (pesquisador
de recursos humanos) para localizar sigilosamente o profissional desejado.
A lista de clientes, que as empresas
se orgulham em apresentar, dá indícios sobre a área
geográfica de atuação (um cliente recente, muito deslocado
dos demais, pode indicar que a ela está investindo num novo mercado).
As opiniões dos clientes e as que a própria empresa emite
são indícios da sua cultura empresarial - ótimos para
um concorrente que precise avaliar como essa empresa reagiria a uma ofensiva
de marketing.
Ainda nos tempos (não tão
distantes assim) do telex, este jornalista recebeu - por engano de uma
letra no endereço telegráfico - uma mensagem com detalhadas
instruções operacionais que a matriz inglesa mandava para
uma empresa marítima brasileira por ela controlada. A firma brasileira
sempre se dissera uma empresa 100% nacional, sem qualquer ligação
com Londres. Caiu a máscara... No mundo do e-mail, quem garante
que um documento interno importante não seja enviado por engano
a uma lista de e-mails na qual esteja incluído um jornalista
e até um concorrente? Informática já recebeu
alguns... A própria lista de e-mails, quando não é
suprimida, permite conhecer mais sobre quem são os contatos da empresa...
Com a tendência de se substituir
os escritórios de fábrica por grupos de teletrabalho, pode
acontecer da empresa mandar uma mensagem confidencial (mas não criptografada
ou protegida de outra forma) a um teletrabalhador e este manter acidentalmente
ativada alguma função automática de redirecionamento
de mensagens recebidas para múltiplos destinatários (os demais
membros do seu grupo de trabalho, por exemplo). Lá se foi o segredo...
Há empresas - multinacionais,
inclusive - que ainda pensam poder controlar geograficamente o acesso a
uma informação. Se uma filial nalgum lugar obscuro do planeta
divulgar uma informação à imprensa local, mesmo que
ela não seja publicada (por falta de espaço no jornal local,
ou por ser considerada de pouca relevância naquela região,
por exemplo), poderá chegar ao conhecimento de pessoas em qualquer
outro lugar do mundo, inclusive pela Internet, minutos depois da divulgação.
Talvez não atraia a atenção
de ninguém na capital paulista o teste de um novo tipo de pesticida
numa aldeia chinesa, mas o concorrente direto da empresa nos Estados Unidos
decerto ficará muito interessado. Por outro lado, o próprio
balanço anual (que muitas empresas agora divulgam na Web) pode gerar
informações valiosas para um concorrente (a lista de controladoras,
coligadas e afiliadas...).
Copiar ou não fazer
– Há outra forma de um concorrente usar informações.
Algumas empresas mantêm fóruns próprios de debate aberto
com os clientes, que um concorrente pode acompanhar. Também existem
os newsgroups criados por grupos de usuários de um produto.
Existem sites na Internet em que os clientes podem opinar sobre produtos
e alertar sobre seus defeitos. O tal concorrente pode copiar métodos
que se mostrem eficazes na relação com os clientes, ou perceber
e não cometer erros importantes que estejam afastando clientes da
empresa. Pior, pode usar essa informação para criar um diferencial
que atraia os tais clientes insatisfeitos... Não foi o que fizeram
a Netscape e os produtores do Linux?
No mundo dos negócios digitais,
a máxima de que "o cliente tem sempre razão" ganha novo valor,
pois o cliente insatisfeito não precisa se conformar, basta um clique
no mouse e ele passa para o concorrente que atender melhor. Afinal,
nas novas empresas digitais, o cliente não manda apenas, ele literalmente
dirige a empresa, especificando detalhadamente o produto que quer comprar,
o preço que aceita pagar, os prazos e as condições
para entrega e pagamento, além do atendimento pós-venda.
Outra história que ganha nova
dimensão é a de que "um cliente satisfeito espalha sua satisfação
por dois ou três outros potenciais clientes, mas um cliente insatisfeito
divulga seu aborrecimento para em média 17 pessoas". No mundo globalizado
e plugado na Internet, multiplique esses números por milhares ou
milhões. E acrescente o efeito devastador que a notícia dessa
insatisfação pode ter, se utilizada pela concorrência
(ou espalhada por um ex-funcionário descontente). Um deslize pode
levar uma empresa ao descrédito e à falência. Assim
é, e vai ser cada vez mais.
Reflita... e pare de pensar defensivamente,
apenas. Pense no lado "bom": você pode ser o tal concorrente, passar
de vidraça a estilingue...
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