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*Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos, em 19/10/1999.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/05/00 11:08:26
LITERATURA
Asturias, Anita e Pagu se encontram na Internet
Páginas da Web contam a vida e a obra dessas personalidades

Carlos Pimentel Mendes
Editor

Se vivo (faleceu em 1974), o escritor guatemalteco Miguel Angel Asturias estaria completando hoje (19/10/1999) 100 anos de idade. A multimídia santista (de coração) Patrícia Galvão (Pagu) é também lembrada nesta semana, com o lançamento (no dia 21) de um livro sobre a musa do movimento modernista brasileiro. Heroína de dois mundos, a catarinense Anita Garibaldi também é lembrada com o lançamento (no dia 15/10) de um livro sobre sua movimentada e curta vida. Os três estão na Web, onde o internauta pode conhecer mais sobre essas personalidades tão multifacetadas.

Pagu – "Combinação de Joana D'Arc e Rosa de Luxemburgo", Patrícia Rehder Galvão é o tema do livro "Pagu - Patrícia Galvão: Livre na Imaginação, no Espaço e no Tempo", que tem sua quarta edição lançada hoje na paulistana Livraria Cultura (Av. Paulista, 2073, Conjunto Nacional, das 18h30 às 21h30) e em 10 de novembro terá uma noite de autógrafos em Santos, no Consistório da Unisanta (Rua Soares de Camargo, 18, Boqueirão, das 19h30 às 22 horas).

Escrito pela psicóloga, professora e doutora em Psicologia da Educação (além de diretora-presidente do Instituto Superior de Educação Santa Cecília), Lúcia Maria Teixeira Furlani, o livro tem primoroso acabamento gráfico da Editora Unisanta, que procura refletir um pouco da personalidade daquela que foi conhecida como musa do Movimento Modernista Brasileiro.

Pagu foi escritora, jornalista, diretora teatral, incentivadora das artes em geral, militante política, uma personalidade muito adiante de seu tempo. Como é lembrado no site de divulgação do livro, ela nasceu em 1910 no município paulista de São João da Boa Vista, falecendo em 1962 em Santos (na casa da Av. Washington Luiz, 64). Em 1928, vira musa nos versos do poeta Raul Bopp e logo depois, apresentada a Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, passa a freqüentar o ambiente artístico de contestação conhecido como o Movimento de Antropofagia. Nos anos 30, filia-se ao Partido Comunista Brasileiro, "curiosa e coincidentemente fundado no mesmo ano da Semana de Arte Moderna". Durante uma greve dos estivadores em Santos, é presa na antiga Casa da Câmara e Cadeia da Praça dos Andradas (hoje, ali funciona uma oficina de arte e cultura que leva seu nome). Também foi presa na França devido às suas atividades políticas.

Seu primeiro livro foi o romance proletário Parque Industrial, em 1933. Doze anos depois, critica o PCB no segundo livro, A Famosa Revista, num livro duplo com o companheiro Geraldo Ferraz, autor de "Doramundo". Em 1953, passa a escrever em A Tribuna críticas literárias, teatrais e até mesmo notas sobre televisão com o título de Viu? Viu? Viu? que ela assinava Gim - um de seus inúmeros pseudônimos. Começa seu interesse pelo teatro, conseguindo promover Santos em 1959 a estréia mundial da peça Fando e Lis, de Arrabal (que ela traduziu), seguida em 1960 pela peça A Filha de Rapaccini, de Octavio Paz. 

Asturias – Escritor, poeta, estudante de Medicina, advogado, pintor, jornalista, professor, deputado, diplomata, Miguel Angel Asturias é um dos quatro grandes escritores do mundo (foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1967) cujo centenário de nascimento é comemorado neste ano - os outros foram o russo Vladimir Nabokov (23/4), o cubano Ernest Hemingway (21/7) e o argentino Jorge Luis Borges (24/8 - data em que foi destacado em matéria especial de Informática).

Um dos melhores sites na Web sobre Asturias, homenageando o centenário do escritor, contém duas biografias e trechos ou textos completos de suas obras de contexto político (El Señor Presidente), resistência indígena (Hombres de Maiz), erotismo (Mulata de Tal, "deliberadamente silenciada" do contexto literário, por seu conteúdo político e estética inovadora, segundo o estudioso Arturo Arias), divulgação da mitologia guatemalteca (Leyendas de Guatemala: pela primeira vez, um novelista percebe que a lenda de Quetzalcoatl pode ser o maior mito americano, como destaca o escritor Gerald Martin). Suas  pesquisas sobre os índios maias também levaram-no à tradução para o espanhol do Popol Vuh, o livro sagrado dos índios maias, que tem uma versão browser para Internet preparada pela universidade estadunidense de Stanford. Para quem prefere texto simples, o início da obra está em outra página.

A página finlandesa Asturias destaca, entre outras obras, também a Trilogia Banana, dos anos 50, composta pelos livros Viento Fuerte, El Papa Verde e Los Ojos de Los Enterrados, que revelava os piores segredos da multinacional bananeira United Fruit Company - também tema da seleção de contos Weekend En Guatemala.

Já a página comemorativa do centenário de Asturias, no site Information Services Latin America (Isla) recorda que o escritor foi ardoroso defensor da República durante a Guerra Civil Espanhola e também da Revolução Cubana. Devido à crítica política e social, ficou muitos anos no exílio, no Chile, na Argentina, no México e na França. E recebeu em 1966 o Prêmio Lenin da Paz, em Moscou, então capital da União Soviética. Asturias faleceu em Madrid em 9 de junho de 1974, sete anos após receber o prêmio Nobel de Literatura, como é lembrado nas páginas Nobel.

Anita – No dia 15, o jornalista Paulo Markun lançou, no teatro do Sesc/Santos, o livro Anita Garibaldi - uma Heroína Brasileira, publicado pela Editora Senac. A obra é parte de um projeto mais amplo (inclui o documentário Anita Garibaldi - Amores e Guerras em produção conjunta com as TVs Cultura e Senac, uma página na Internet e um CD-ROM), que procura resgatar a história da catarinense (de Laguna) Ana Maria de Jesus Ribeiro, companheira do herói italiano Giuseppe Garibaldi nas lutas que travaram no Brasil, no Uruguai e na própria Itália. Markun é também o autor de matéria sobre a heroína, publicado na edição de 8/1999 da revista Superinteressante.

A Internet também tem um site catarinense dedicado a Anita Garibaldi, "A Heroína de Dois Mundos", com imagens e textos do pesquisador Wolfgang Ludwig Rau. Ele inclusive pesquisou exaustivamente o assunto para seu livro Anita Garibaldi: Perfil de uma Heroína Brasileira (Editora Edeme, Florianópolis, 1975) e esclarece a polêmica sobre o local de nascimento, antiga disputa travada entre Laguna, Lages, Tubarão e Imbituba.

Explica Wolfgang que, na época de seu nascimento, o território de Laguna era muito vasto, e tanto Morrinhos de Tubarão (hoje Bairro Anita Garibaldi) como Morrrinhos de Mirim (hoje distrito de Imbituba) faziam parte de Laguna, sendo posteriormente desmembrados, dando origem a novos municípios. Mas, pelo menos dois de seus nove irmãos conhecidos foram batizados em Lages (e, na época, não existia registro civil de nascimento, o que contava como documento era o assento de batismo, onde era declarado o local de nascimento - e, no caso de Anita, esse documento nunca foi encontrado). Wolfgang descobriu ainda, em Montevidéu (Uruguai) as "atas ante-nupciais", do casamento entre Anita e Giuseppe (José) Garibaldi (em 26/3/1842), onde ela é declarada como lagunense.

Porém, segundo os dois autores, a polêmica está superada: no dia 11/5/1999, em função de mandado judicial obtido pela Fundação Anita Garibaldi, o cartório de Laguna expediu o chamado mandado de registro de nascimento tardio", número 17.514, confirmando que Anita de fato nasceu em Laguna, em 30 de agosto de 1821. E faleceu em Mandriole, na região de Toscana (na Itália), em 4/8/1849, aos 28 anos de idade, depois de ter participado ativamente da Revolução Farroupilha, no Sul do Brasil, e das lutas pela independência e unificação da Itália.