LITERATURA
Asturias, Anita e Pagu se encontram
na Internet
Páginas da Web contam
a vida e a obra dessas personalidades
Carlos Pimentel Mendes
Editor
Se vivo
(faleceu em 1974), o escritor guatemalteco Miguel Angel Asturias estaria
completando hoje (19/10/1999) 100 anos de
idade. A multimídia santista (de coração) Patrícia
Galvão (Pagu) é também lembrada nesta semana, com
o lançamento (no dia 21) de um livro sobre a musa do movimento modernista
brasileiro. Heroína de dois mundos, a catarinense Anita Garibaldi
também é lembrada com o lançamento (no dia 15/10)
de um livro sobre sua movimentada e curta vida. Os três estão
na Web, onde o internauta pode conhecer mais sobre essas personalidades
tão multifacetadas.
Pagu – "Combinação
de Joana D'Arc e Rosa de Luxemburgo", Patrícia Rehder Galvão
é o tema do livro "Pagu - Patrícia Galvão: Livre na
Imaginação, no Espaço e no Tempo", que tem sua quarta
edição lançada hoje na paulistana Livraria Cultura
(Av. Paulista, 2073, Conjunto Nacional, das 18h30 às 21h30) e em
10 de novembro terá uma noite de autógrafos em Santos, no
Consistório da Unisanta (Rua Soares de Camargo, 18, Boqueirão,
das 19h30 às 22 horas).
Escrito pela psicóloga, professora
e doutora em Psicologia da Educação (além de diretora-presidente
do Instituto Superior de Educação Santa Cecília),
Lúcia Maria Teixeira Furlani, o livro tem primoroso acabamento gráfico
da Editora Unisanta, que procura refletir um pouco da personalidade daquela
que foi conhecida como musa do Movimento Modernista Brasileiro.
Pagu foi escritora, jornalista, diretora
teatral, incentivadora das artes em geral, militante política, uma
personalidade muito adiante de seu tempo. Como é lembrado no site
de divulgação do livro, ela nasceu em 1910 no município
paulista de São João da Boa Vista, falecendo em 1962 em Santos
(na casa da Av. Washington Luiz, 64). Em 1928, vira musa nos versos do
poeta Raul Bopp e logo depois, apresentada a Oswald de Andrade e Tarsila
do Amaral, passa a freqüentar o ambiente artístico de contestação
conhecido como o Movimento de Antropofagia. Nos anos 30, filia-se ao Partido
Comunista Brasileiro, "curiosa e coincidentemente fundado no mesmo ano
da Semana de Arte Moderna". Durante uma greve dos estivadores em Santos,
é presa na antiga Casa da Câmara e Cadeia da Praça
dos Andradas (hoje, ali funciona uma oficina de arte e cultura que leva
seu nome). Também foi presa na França devido às suas
atividades políticas.
Seu primeiro livro foi o romance
proletário Parque Industrial, em 1933. Doze anos depois,
critica o PCB no segundo livro, A Famosa Revista, num livro duplo
com o companheiro Geraldo Ferraz, autor de "Doramundo". Em 1953,
passa a escrever em A Tribuna críticas literárias,
teatrais e até mesmo notas sobre televisão com o título
de Viu? Viu? Viu? que ela assinava Gim - um de seus inúmeros
pseudônimos. Começa seu interesse pelo teatro, conseguindo
promover Santos em 1959 a estréia mundial da peça Fando
e Lis, de Arrabal (que ela traduziu), seguida em 1960 pela peça
A Filha de Rapaccini, de Octavio Paz.
Asturias – Escritor, poeta,
estudante de Medicina, advogado, pintor, jornalista, professor, deputado,
diplomata, Miguel Angel Asturias é um dos quatro grandes escritores
do mundo (foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1967)
cujo centenário de nascimento é comemorado neste ano - os
outros foram o russo Vladimir Nabokov (23/4), o cubano Ernest Hemingway
(21/7) e o argentino Jorge Luis Borges (24/8 - data em que foi destacado
em matéria especial de Informática).
Um
dos melhores sites na Web sobre Asturias, homenageando o centenário
do escritor, contém duas biografias e trechos ou textos completos
de suas obras de contexto político (El Señor Presidente),
resistência indígena (Hombres de Maiz), erotismo (Mulata
de Tal, "deliberadamente silenciada" do contexto literário,
por seu conteúdo político e estética inovadora, segundo
o estudioso Arturo Arias), divulgação da mitologia guatemalteca
(Leyendas de Guatemala: pela primeira vez, um novelista percebe
que a lenda de Quetzalcoatl pode ser o maior mito americano, como destaca
o escritor Gerald Martin). Suas pesquisas sobre os índios
maias também levaram-no à tradução para o espanhol
do Popol Vuh, o livro sagrado dos índios maias, que tem uma
versão
browser para Internet preparada pela universidade estadunidense
de Stanford. Para quem prefere texto simples, o início da obra está
em outra página.
A página finlandesa Asturias
destaca, entre outras obras, também a Trilogia Banana, dos
anos 50, composta pelos livros Viento Fuerte, El Papa Verde e Los
Ojos de Los Enterrados, que revelava os piores segredos da multinacional
bananeira United Fruit Company - também tema da seleção
de contos Weekend En Guatemala.
Já a página
comemorativa do centenário de Asturias, no site Information
Services Latin America (Isla) recorda que o escritor foi ardoroso defensor
da República durante a Guerra Civil Espanhola e também da
Revolução Cubana. Devido à crítica política
e social, ficou muitos anos no exílio, no Chile, na Argentina, no
México e na França. E recebeu em 1966 o Prêmio Lenin
da Paz, em Moscou, então capital da União Soviética.
Asturias faleceu em Madrid em 9 de junho de 1974, sete anos após
receber o prêmio Nobel de Literatura, como é lembrado nas
páginas Nobel.
Anita – No dia 15, o jornalista
Paulo Markun lançou, no teatro do Sesc/Santos, o livro Anita
Garibaldi - uma Heroína Brasileira, publicado pela Editora Senac.
A obra é parte de um projeto mais amplo (inclui o documentário
Anita Garibaldi - Amores e Guerras em produção conjunta
com as TVs Cultura e Senac, uma página na Internet e um CD-ROM),
que procura resgatar a história da catarinense (de Laguna) Ana Maria
de Jesus Ribeiro, companheira do herói italiano Giuseppe Garibaldi
nas lutas que travaram no Brasil, no Uruguai e na própria Itália.
Markun é também o autor de matéria sobre a heroína,
publicado na edição de 8/1999 da revista Superinteressante.
A Internet também tem um site
catarinense dedicado a Anita Garibaldi, "A Heroína de Dois Mundos",
com imagens e textos do pesquisador Wolfgang Ludwig Rau. Ele inclusive
pesquisou exaustivamente o assunto para seu livro Anita Garibaldi: Perfil
de uma Heroína Brasileira (Editora Edeme, Florianópolis,
1975) e esclarece a polêmica sobre o local de nascimento, antiga
disputa travada entre Laguna, Lages, Tubarão e Imbituba.
Explica Wolfgang que, na época
de seu nascimento, o território de Laguna era muito vasto, e tanto
Morrinhos de Tubarão (hoje Bairro Anita Garibaldi) como Morrrinhos
de Mirim (hoje distrito de Imbituba) faziam parte de Laguna, sendo posteriormente
desmembrados, dando origem a novos municípios. Mas, pelo menos dois
de seus nove irmãos conhecidos foram batizados em Lages (e, na época,
não existia registro civil de nascimento, o que contava como documento
era o assento de batismo, onde era declarado o local de nascimento - e,
no caso de Anita, esse documento nunca foi encontrado). Wolfgang descobriu
ainda, em Montevidéu (Uruguai) as "atas ante-nupciais", do casamento
entre Anita e Giuseppe (José) Garibaldi (em 26/3/1842), onde ela
é declarada como lagunense.
Porém, segundo os dois autores,
a polêmica está superada: no dia 11/5/1999, em função
de mandado judicial obtido pela Fundação Anita Garibaldi,
o cartório de Laguna expediu o chamado mandado de registro de nascimento
tardio", número 17.514, confirmando que Anita de fato nasceu em
Laguna, em 30 de agosto de 1821. E faleceu em Mandriole, na região
de Toscana (na Itália), em 4/8/1849, aos 28 anos de idade, depois
de ter participado ativamente da Revolução Farroupilha, no
Sul do Brasil, e das lutas pela independência e unificação
da Itália. |