BUG DO
MILÊNIO
Consultor do governo americano alerta:
"É muito mais grave do que
parece"
Falha nos computadores pode
paralisar telecomunicações, derrubar aviões e provocar
recessão mundial
Quando
um avião deixa um aeroporto a caminho de outro, o controlador de
vôo emite um sinal para o controlador do aeroporto de destino sobre
essa aeronave em trânsito. Se o computador do aeroporto de destino
não estiver compatível com o Bug do Milênio, ao emitir
o sinal de controle para a aeronave, o transponder (um dos equipamentos
computadorizados a bordo de um avião) poderá não reconhecer
o sinal, ou seu sinal de resposta não ser reconhecido pelo aeroporto
em que o avião deverá pousar. Esse é apenas um dos
exemplos do que poderá acontecer, se todos os aeroportos e aviões
do mundo não tiverem seus sistemas atualizados para evitar a falha,
que internacionalmente é conhecida pela sigla Y2K (iniciais de Ano
2 Mil).
O exemplo foi citado pelo consultor
do governo norte-americano e das 500 maiores empresas da lista Fortune,
William David Kiss IV, em palestra realizada dia 4/2/1999 no auditório
do Sindicato do Comércio Varejista de Santos, com o apoio de A
Tribuna, da Prefeitura Municipal de Santos e da Compuway Informática.
Estudioso do assunto há mais
de duas décadas, ele iniciou a palestra projetando um filme em que
Edward Yardeni, diretor-gerente do Deutsch Bank Securities em Nova Iorque,
faz uma sombria projeção do que poderá acontecer.
Para ele, as economias asiáticas vão naufragar de vez com
as falhas de seus computadores, pois há uma verdadeira bagunça
no setor econômico após a recente crise dos chamados Tigres
Asiáticos e ninguém está pensando no que vai acontecer
no próximo ano, já que a visão no momento é
imediatista, de como superar a crise de 1998.
Na Europa, segundo Yardeni, o chamado
G8, grupo dos oito países mais influentes, legitima a gravidade
do problema com o Bug do Milênio, diz que é preciso uma ação
urgente, mas apenas promove novas reuniões, não há
uma liderança sobre isso.
Nos Estados Unidos, os analistas
de Wall Street desconhecem o assunto, e como no meio econômico ele
é pouco citado ainda, não percebem o impacto das falhas sobre
as empresas cotadas em bolsa. O representante do banco alemão, no
vídeo apresentado, compara a situação com a crise
do petróleo de 1973. Na época, faltou combustível
e o mundo entrou em crise. Agora, podem faltar combustível, telecomunicações,
as empresas podem ficar inoperantes, ocorrer o desabastecimento...
Ele gostaria de estar errado nas
previsões. O pior é que, para serem adotadas providências
alternativas, seria necessário que governos e empresas fornecessem
relatórios pelo menos trimestrais dos progressos feitos no combate
ao Y2K. Em muitos casos, elas sequer sabem que o problema existe.
Dicas – Além das amplas
informações (já publicadas por Informática
na edição passada e na de 24/11/1998), William Kiss respondeu
a perguntas dos participantes, demonstrou um programa básico de
testes do relógio de tempo real (RTC - Real Time Clock) dos computadores
- que foi oferecido em disquete a cada pessoa presente no auditório
e deu algumas dicas valiosas, como a de que todos os passos na correção
do Bug sejam auditados e documentados por escrito - será uma valiosa
prova de que a empresa procurou resolver o problema, servindo como atenuante
de culpa num processo judicial movido por clientes prejudicados.
Outra dica: não esquecer de
verificar contra o bug também os dados e programas contidos
em fitas, disquetes e CDs de back-up, pois uma data erroneamente
introduzida no sistema poderá causar grandes danos. Pela mesma razão,
depois do sistema certificado contra o bug, não instalar
novos programas sem ter certeza de que eles são compatíveis
com o Y2K.
A propósito, vale a pena
verificar os contratos de compra de cada equipamento e software,
em busca de uma cláusula onde o produtor usa a palavra inglesa capable
(capaz) em lugar de compliance (compatível). Embora pareçam
sinônimos, em inglês a palavra capable deixa a possibilidade
de não ser compatível todo o tempo, o que é uma forma
da empresa fornecedora do equipamento ou software tentar se eximir
de responsabilidades em futuros processos judiciais. Em São Paulo,
a Siemens vendeu por cerca de US$ 100 milhões um switch de
telecomunicações ao São Paulo Futebol Clube, que depois
se descobriu apresentar problemas com o Bug do Milênio. Ao ser contatada
para sanar o problema, a Siemens quis cobrar mais US$ 120 mil, e por essa
tentativa está sendo acionada na Justiça - é o primeiro
processo nacional em função do Y2K. (N.E.:valores
corretos: US$ 100 mil/US$ 20 mil).
Questionado sobre se empresas como
a Microsoft poderiam também ser acionadas, por não terem
providenciado a correção da falha em seus produtos, William
contornou, observando que essa é, entre as principais empresas de
informática, uma das mais sérias no trato da questão,
tentando resolver o problema e colocando na Internet os programas de correção.
Aliás, a dica é que as empresas façam um inventário
de todos os equipamentos computadorizados e softwares que utilizam,
e busquem na Internet as páginas dos fabricantes, na expectativa
de que eles forneçam soluções para a correção
do bug.
Devido ao
grande interesse santista pelo problema do Bug do Milênio, uma nova
palestra do especialista norte-americano está sendo agendada para
as próximas semanas na região. Além das mais de 120
pessoas que lotaram o auditório do Sindicato do Comércio
Varejista no dia 4, mais de 250 já estão em lista de espera
para o próximo evento, e a empresa paulistana Net-Ten está
recebendo novas inscrições para essa lista através
da página brasileira ou
pelo telefone (013) 222.3633 e pelo e-mail
da representante comercial do The Millenium Bug Toolkit na Baixada
Santista, Laura Maria Ramos |
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