Tem empresário dormindo tranqüilo em meio à tempestade causada pelo Bug do Milênio, apenas porque acreditou num dos mitos que vêm circulando sobre o Bug do Milênio, adiantou a data do computador para o ano 2000 e ele funcionou. O problema é mais complexo do que possa parecer, ao ponto de certos fabricantes de computadores estarem certificando seus equipamentos como preparados para o uso no ano 2000 mas se recusando a fazer determinados testes que - sabidamente - comprovariam até onde vai a veracidade dessa garantia. E não são empresas de pequeno porte, não.

As dicas a seguir vêm dos produtores de dois programas concorrentes no mercado de identificação e reparo de problemas relativos ao Y2K, como o Bug do Milênio é internacionalmente conhecido. A mais simples, indicada pela WRQ, produtora do Express 2000 Software Manager: pode ser perigoso testar a compatibilidade do PC apenas modificando o relógio para 23h58 de 31/12/1999, deixar passar para o ano 2000, desligar o micro e reiniciá-lo para ver se a mudança foi bem sucedida. 

Acontece que, se não for bloqueado totalmente o acesso aos dados durante o teste, ao ser religado e mostrar a nova data o computador pode disparar uma seqüência de ações programadas, como a exclusão de e-mails e registros com data para expirar, e mesmo a expiração de licenças de uso de software. Lembre-se: para o computador, parecerá que já estamos no ano 2000, e se um programa tinha prazo de validade até 1999, deixará de funcionar. Restaurar a data correta não faz necessariamente que tais programas voltem a funcionar, muito menos que os arquivos apagados automaticamente sejam recuperados automaticamente...

Novos também – A WRQ também recomenda que se faça um teste de compatibilidade para o ano 2000 nos computadores recém-adquiridos, pois existe 20% de chance de um computador novo conter BIOS (o programa básico que controla as funções do equipamento) reciclado.

Outra dica, para quem pensa que basta conferir o mainframe, ou mesmo todos os computadores de sua empresa. Primeiro, embora a maioria das chamadas informações de missão crítica e sensíveis a datas possam estar alocadas nos mainframes, os usuários normalmente manipulam e analisam grande parte destas informações através de seus PCs, em aplicativos como planilhas e bancos de dados, que podem não estar compatíveis. Um dado manipulado incorretamente por esses programas pode prejudicar toda a rede.

Além disso, empresas que trocam dados eletronicamente com outras também podem ser prejudicadas pelo mesmo motivo, se os parceiros não tiverem corrigido seus sistemas. Para preocupar: mesmo nos Estados Unidos, apenas 40% dos 7.336 sistemas governamentais foram totalmente consertados, o Bug ainda está presente nos sistemas de controle de tráfego aéreo, processamento de devolução de imposto de renda e outros sistemas primordiais. No Brasil, para variarmos um pouco, o atraso é ainda maior...

Ainda de acordo com a WRQ, os efeitos do Y2K já podem estar sendo sentidos, e é bom que pessoas e empresas estejam prevenidas para falhas desde já. Empresas que lidam com contratos de mais de um ano de antecedência podem ter informações falsas na mão: para o computador, o fornecimento de componentes a um cliente em janeiro de 2000 pode ser considerado cumprido há quase 100 anos, e assim a matéria-prima para o fabrico desses componentes não estará sendo incluída nas listas de compras, o que só será percebido na hora em que o cliente reclamar a entrega da mercadoria... Da mesma forma, um cálculo de financiamento em prazo superior a 14 meses, feito agora, pode apresentar resultados inesperados num computador inadequado ao processamento do ano 2000.

Enfim, se até a Bolsa de Valores de Nova Iorque contrata uma macumbeira baiana para espantar maus fluídos na sala de pregões, é bom não facilitar. Afinal, o dia 31 de dezembro de 1999 cai numa sexta-feira, e 31 é a inversão do número 13... (desculpe, leitor, a ilação foi inevitável, porque este comentário foi escrito numa sexta-feira 13, com todo mundo em volta lembrando os azares associados a essa data...)

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