HISTÓRIA DO COMPUTADOR - 17 - O futuro que vem aí
Realidade virtual ou virtualidade real?
Internet é celeiro de países imaginários, que estão até formando federações
Responda rápido: onde fica o Principado de Seborga? O Reino de Porto
Claro? Palau, Santa Lúcia e Tuvalu? Nauru e Tonga? Liliput e Utopia? No próximo sábado [N.E.: em 29/11/1997], diversos micropaíses estarão formando uma
federação, a Liga dos Estados Secessionistas. O documento está na Internet, e ao ser encontrado durante uma pesquisa sobre países, no sistema de
pesquisas Yahoo, isolado do contexto original, levou um político da Baixada Santista a enviar correspondência urgente à Presidência da República,
alertando para o fato, que parecia ser uma grave rachadura na unidade da Organização das Nações Unidas (ONU).
Príncipe Leonardo, de Hutt River
A verdade é que, com os avanços da tecnologia, a diferença entre realidade
virtual e virtualidade real está desaparecendo, e este será decerto um dos grandes problemas no futuro. Hoje mesmo, quando você vê uma imagem, até que
ponto pode ter certeza de que não é resultado de montagem?
No cinema, truques de supercomputadores conseguem tornar real uma viagem pelas estrelas ou ao tempo
dos dinossauros. Ainda há quem acredite que a viagem dos astronautas à Lua em 1969 não passe de um truque cinematográfico – com certa dose de razão:
antes da descida dos astronautas em nosso satélite natural, várias seqüências filmadas de como seria o pouso haviam sido mostradas pela televisão...
Importância – Que micropaís é mais real, o que tem um pedaço de terra equivalente a alguns
quarteirões de uma cidade, ou o que tem constituição, governo, moeda, princípios políticos etc., mas só pode ser visitado pela Internet? Qual tem mais
potencial no momento para influenciar a política e a economia internacionais: um país como Waveland (criado em agosto no Atlântico Norte), que na
realidade é apenas uma pequena rocha ocupada por três ativistas do movimento Greenpeace, ou a centenária Andorra, que poucos sabem ficar na divisa entre
Espanha e França? Quantas vezes o leitor encontrou referências a Utopia e quantas vezes lembra de ter visto alguma citação sobre Kiribati?
Ao mesmo tempo em que grandes blocos econômicos e políticos se formam (Mercosul, Nafta,
Países Árabes, Comunidade Européia, Tigres Asiáticos), cresce também o desejo de independência de muitas comunidades, como os bascos, os irlandeses, os
sérvios. Ao mesmo tempo, se todo mundo já teve na infância o sonho de ser rei de seu próprio país, os recursos da computação e da Internet facilitaram
muito viver esse sonho, e já são centenas os micropaíses virtuais, que emitem passaporte, têm consulados e agora até ligas e federações.
Waveland é real: uma ilhota no Mar do Norte
Virtual ou real? – Respondendo às perguntas do início da matéria: a
República de Palau (508 km²) fica a Noroeste da Oceania; Santa Lúcia (616,3 km²) fica no Caribe; as ilhas de Tuvalu (26 km²) ficam no centro da Oceania
(e podem desaparecer em poucos anos, se o nível do mar se elevar mais). São todos países-membros da Organização das Nações Unidas. A República de Nauru
(21,3 km²) está situada no Norte da Oceania e o Reino de Tonga (748 km²) é a única monarquia da Polinésia, e ambos ainda não foram ainda admitidos na
ONU.
O Reino de Porto Claro é carioca, e puramente virtual. Liliput e Utopia são produtos da
imaginação dos escritores Jonathan Swift e Tomas Morus.
Seborga? Bem, existe realmente o Principado de Seborga, em território italiano próximo à fronteira
francesa, com independência reconhecida pela República de San Marino. E existe o Principado de Seborga na Internet, com página de seu consulado operando
fora da Itália, e que é um país virtual. A briga entre eles, pelo uso do nome, é bem real e vem agitando o vasto circuito das micronações.
Se você errou todas, não fique triste, pois está em boa companhia: tem muito europeu pensando que
Buenos Aires é a capital do Brasil, e certo presidente norte-americano confunde brasileiros e bolivianos... |