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NOTÍCIAS 2002

Diminuindo a distância do ensino à distância

Mário Persona (*)
Colaborador

Minha última crônica, "Mantendo o ensino à distância" produz seqüência e, espero, seqüelas. Pelo menos as de uma atenção maior, da parte de quem cria e ensina, para elementos que não podem faltar no ensino e diminuam a distância.

A ausência da presença de um professor ao vivo e em cores ainda é uma dificuldade para quem não tem a disciplina de um estudo solitário. Isso pode ser, em parte, compensado por um bom projeto e - principalmente - muito tato. Ninguém estuda se não for por medo da régua ou pelo desejo do resultado. Como a régua não é tão longa que alcance o crânio dos estudantes virtuais, só nos resta trabalhar o resultado ao alcance de suas mentes.

Porém, o resultado, assim como uma marca, não é o que o educador quer passar, mas o que o educando espera ganhar. Detectar isto é o primeiro passo. Depois vem o segundo, o terceiro, a carreira toda. Que vai deixando de ser tão inatingível à medida que um público novo vai entrando na sala. Virtual. Para o qual a distância do próprio nome do ensino não faz mais sentido em um mundo sem distâncias.

A Harvard dos meninos de minha época era um Instituto que oferecia cursos de ensino a distância nas páginas dos gibis. Associar os cursos aos heróis que lhes emprestavam as páginas tinha um efeito tremendo nas mentes infanto-juvenis. Acrescentava credibilidade e modernidade, pois nossa MTV era o gibi. Além disso, o ensino à distância permitia que eu conservasse minha identidade secreta e estudasse no esconderijo de meu quarto. Como o Batman.

Os "reclames" sempre traziam um cupom, e eu recortava todos. Receber coisas pelo correio me fazia sentir importante, dava status. Nem sabia o que era, mas queria ter. Minha irmã também, mas sem saber. É que informações para cursos femininos - cobrir botões, plissar saias, corte e costura - eu pedia em nome dela e esperava no portão. O carteiro devia achar que estava diante de um futuro estilista de moda, aquele menino com o estranho nome de "Angela". A ironia é que minha irmã é hoje estilista. Terá descoberto onde eu escondia os prospectos?

Após desfalcar o Instituto de toneladas de papel publicitário, decidi adquirir um curso. "Desenho Artístico". Adorava, mas detestava ler as instruções. Preferia imitar. Assimilava mais pela observação, as técnicas que as páginas artísticas transpiravam. E enviava os exercícios pelo e-mail de então, que exigia selos. Todos voltavam corrigidos por gente de verdade! Aquela nota manuscrita com Bic vermelha tinha para mim o valor do autógrafo de um mestre.

Motivações - O que motivava o menino de então motiva hoje qualquer aluno a distância. Os meios mudaram - o papel virou monitor, o lápis é mouse e o correio ficou eletrônico. Mas o menino é o mesmo. Inquieto, indeciso e inconstante, qual beija-flor em floricultura. Como mantê-lo quieto na carteira por mais de trinta segundos? Não será com o puxão de orelha de dona Dinorah, minha professora de primeiro ano, nem com a candura da dona Aurora, professora do segundo. Então, o quê?

Com o bater virtual do bumbo da motivação, sem o qual remador nenhum vai calejar a mão. Principalmente se o resultado destino parecer à distância do ensino. Primeiro, deve haver o suspense e a gratificação de cada descoberta, a  técnica de Sherazade, ainda que o curso não dure mil e uma noites. Depois, um herói, a figura humana que atrai, cativa e seduz. Quem nunca ouviu da aluna que se apaixona pelo professor? Difícil é se apaixonar por um ensino à distância que não mostre um rosto sequer.

Então vem a associação com o mundo tangível, clara indicação dos resultados que seus resultados trarão. Porque não há nada mais tangível do que o sonho de cada um. No menino, era o prazer de ser distinguido com a atenção de uma organização, a presença humana implícita na nota vermelha manuscrita e o acreditar poder desenhar como os mestres das histórias em quadrinhos. No aluno via Web de hoje, o estímulo está na antecipação de que aquele endereço de três dáblios possa se transformar num emprego de muitos dígitos.

Autran - Só depois vem a pirotecnia - vídeo, áudio e design. Nossa geração televisiva dá a esta a importância primeira. Não tem. Lembro-me de Paulo Autran em um monólogo de duas horas. No palco, só um banco com seu talento em cima. O resto do cenário ficava por conta da imaginação. A mesma que todo ensino à distância deve buscar despertar, para o que é ensinado e para o seu resultado.

Tudo isso procurei fazer, num curso que desenvolvi para atendimento em consultórios. Porque nem todos têm Internet rápida, a mídia escolhida foi o CD para computadores. Vivemos uma fase de transição. Isto resolveu o que a lentidão de uma conexão poderia dificultar: incluir a figura humana em oito vídeos motivacionais, abrindo cada bloco de lições.

Mas, como instilar nos textos e exercícios aquela compulsão pela próxima lição? Público predominantemente feminino, intuitivo, capaz de mentalizar climas e situações, numa faixa etária de romantismo latente, ávido por novas emoções. Minha escolha foi firme: Novela! Não tele, mas rádio, que permite tantos cenários e feições quantas forem as espectadoras e expectações.

Foi assim que nasceu Eustáquia, a recepcionista da clínica do Dr. Perônio. Aluna dedicada, que aprende a atender o cliente com ninguém menos que o próprio. A encantar e a ficar encantada. Até que um dia... Bem, você me odiaria se eu contasse o final da novela.

(*) Mário Persona é consultor, escritor e palestrante, além de autor dos livros Crônicas de uma Internet de verão, Receitas de grandes negócios e Gestão de mudanças em tempos de oportunidades. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras. Edita o boletim eletrônico Crônicas de Negócios e mantém endereço próprio na Web, onde seus textos estão disponíveis.