NOTÍCIAS 2002
Timor Leste é o mais novo país independente
Com diversas cerimônias na capital Dili, o Timor Leste hasteou
oficialmente à zero hora local de 20/5/2002 sua bandeira como a mais nova nação independente do mundo, assumindo como
presidente Xanana Gusmão, após 24 anos de dominação do território pela Indonésia. Na cerimônia,o secretário-geral da Organização das
Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, desceu a bandeira dessa entidade que controlou o país durante o regime de transição, e após a troca
de bandeiras houve missa oficiada pelo premio Nobel da Paz, dom Ximenes Belo, seguindo-se apresentações musicais. Ao recuperar sua
soberania, o Timor se torna também o mais novo integrante da comunidade dos países de língua portuguesa e o único da Ásia a adotar
esse idioma.
A cerimônia de três horas de duração teve
transmissão sonora via Internet pela organização
Democracy Now!, sendo por diversas vezes destacado que mais de 200 mil pessoas (cerca de
um terço da população timorense recenseada em 1975) morreu na luta com os indonésios ou de fome e doenças.
Ainda assim, o ex-líder guerrilheiro e novo presidente do Timor, Xanana Gusmão, mostrou sua
intenção de esquecer o passado e iniciar um novo período de cooperação com o país vizinho, tanto que um dos destaques da cerimônia
de recuperação da soberania timorense foi o convite pessoal para que o presidente indonésio Megawati Sukarnoputri estivesse presente
em Dili.
Difícil esquecer - Apesar do chamado de Xanana Gusmão para uma nova era no
relacionamento com a Indonésia - de cujo apoio o Timor precisará nesta fase de reconstrução nacional, pois "além de ser a mais nova
nação do mundo, é também uma das mais pobres", diversas organizações avisam que a luta continua, seja para garantir a independência
timorense, seja para facilitar o retorno dos refugiados ao país, ou para evitar que a frágil economia da nova nação seja vitimada
pela cobrança estrangeira excessiva dos custos da reconstrução nacional.
Uma das mais ativas organizações é a East Timor Action
Network (Etan), que em carta de
congratulações com os timorenses datada de
20/5/2002 destaca a intenção de continuar a luta para que os crimes de guerra indonésios sejam punidos. A carta termina com
frases em português: "A luta continua! Viva Timor Lorosa'e! May 20, 2002".
Na mensagem, a Etan destaca como sempre se opôs à participação estadunidense na invasão
indonésia do Timor. Em outra página do site, a organização detalha essa
participação, iniciada em 1975 quando o então presidente dos EUA, Gerald Ford, e seu super-secretário de relações exteriores Henry
Kissinger, deram o sinal verde para o governo indonésio ocupar o Timor, garantindo 90% dos armamentos necessários à invasão
indonésia. Essa ocupação só perdeu força em 9/1999, quando o então presidente Bill Clinton retirou o apoio norte-americano à
Indonésia. No mês seguinte, forças de paz das Nações Unidas assumiram o controle do território timorense, preparando o retorno à
condição de país independente.
Página principal da Etan em 18/5/2002
Um dos atos mais criticados nos 24 anos de ocupação indonésia do Timor foi o massacre de
12/11/1991 na capital Dili, quando grande grupo de manifestantes pacíficos foi recebido a tiros por militares indonésios junto ao
cemitério de Santa Cruz. O assim conhecido Massacre de Santa Cruz foi filmado por
jornalistas estrangeiros e divulgado em todo o mundo, podendo ainda ser visto em videoclipes e fotos em
página da Universidade de Coimbra, em Portugal, junto com o depoimento de um
sobrevivente, Zito Soares. Morreram 271 timorenses, sendo feridos 278 e hospitalizados 103, além de 270 dados como desaparecidos.
O massacre e principalmente a responsabilidade estadunidense (ao apoiar a Indonésia na
ocupação violenta do Timor) foram lembrados com manifestações na capital norte-americana em 12/11/1998, como relata a publicação
eletrônica Washington, D.C., em três páginas de fotos e videoclipes. "Histórias do país de Xanana
Gusmão" podem ser vistas também na edição eletrônica do jornal português Expresso, relatando os episódios da luta pela
liberação do Timor Leste.
Imagens do massacre de
12/11/1991 em Dili, na página da Universidade de Coimbra
História - Depois de 400 anos como colônia portuguesa (o Timor Leste foi conquistado em
1509 e ocupado efetivamente em 1633, tornando-se em 1896 uma colônia de Macau), começaram em 1910 as rebeliões contra a ocupação
lusa, sufocadas um ano e meio depois. Na Segunda Guerra Mundial, a ilha foi ocupada pelos japoneses e, após a guerra, recomeçou a
luta pela independência.
Com a Revolução dos Cravos (25/4/1974) que encerrou o período salazarista em Portugal, esse
país iniciou o processo de descolonização nos territórios ultramarinos, mas as divergências sobre a condução desse processo levaram
à luta armada em 1975. A força guerrilheira Fretilin chega a proclamar unilateralmente a independência em 28/11/1975, mas outras
forças políticas contestaram essa atitude, apoiando a anexação do território pela Indonésia, ocorrida em 17/7/1976, já com o Timor
invadido (em 7/12/1975) pelos indonésios.
Passeata em Washington em
1998 recorda o massacre no Timor
Foto: Mike Flugennock
Em plebiscito coordenado pelas Nações Unidas em 30/8/1999, com a participação de 98,6% dos
eleitores habilitados, 78,5% dos timorenses votaram pela independência do país. Começou então a vingança indonésia, com a morte de
mais de 2.000 timorenses, deslocamento forçado de dois terços da população do país, atos de violência contra milhares de mulheres e
garotas e a destruição de 70% da infra-estrutura do Timor.
Em 8/2001, 91,3% dos eleitores participaram da eleição da Assembléia Constituinte, que se tornaria
o primeiro Parlamento após a independência. E, em 4/2002, os timorenses elegeram seu primeiro presidente, vencendo Xanana Gusmão por
larga margem de votos.
Infográfico do jornal português
Expresso/versão eletrônica em 18/5/2002
Veja mais:
Atlas Interativo NM - Timor Leste
Timor Leste: a guerra continua na Internet (1996)
Os detalhes do conflito
Site Democracy Now! anuncia no dia
18/5/2002 a transmissão radiofônica pela Internet
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