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NOTÍCIAS 2002 - TECNOLOGIA
Um conselho sábio e mal educado

Carlos Pimentel Mendes (*)

Algumas vezes, você enfrenta um problema inesperado em seu computador, ou precisa executar algum trabalho no micro e não sabe como. Como sempre, a solução tem que vir já. Ontem. Então você pergunta aos colegas, aos amigos - ninguém sabe. Como último recurso - já que provavelmente você é que teve a paciência de suportar o atendimento do serviço de suporte ao usuário -, você lembra da lista de debates de que participa, ou do seu ciber-guru, que costuma socorrer nessas horas. A resposta vem na forma de quatro misteriosas letras.

Se isso já aconteceu consigo, posso garantir: você é mais um membro da tribo dos não-leitores de manuais. Eletrônicos ou em papel. Usa a tecnologia como quem toma um remédio, imagina que a bula está escrita em grego ou sânscrito e a deixa lá no fundo da embalagem. Bem, tenho uma notícia para você, caro leitor: manual de programa é diferente de bula de remédio: enquanto esta usa termos que às vezes nem o médico consegue decifrar, o manual costuma ser escrito em linguagem fácil de entender, pensando justamente em você.

Bem, quase: a culpa é de quem o escreveu, o usuário do computador não tem obrigação de adivinhar que é para tirar o primeiro disquete antes de inserir o segundo. Tirando esses escorregões, há muita informação ali que deve ajudá-lo a lidar melhor com a tecnologia. E, se você teve a paciência de ler este blablablá até aqui, também pode tirar uns minutinhos para clicar no ponto de interrogação ou na palavra Ajuda (Help, na linguagem dos Beatles), existentes na maioria dos programas que se prezem, e começar a descobrir um mundo de possibilidades. Não só a solução para o seu problema imediato.

Nem um terço - Pesquisas feitas na terra das pesquisas, os Estados Unidos, demonstraram que o usuário médio de computadores utiliza menos de 30% dos recursos disponíveis, tanto em termos de equipamento como em relação aos programas nele instalados. Tudo bem, parte dos recursos é redundante, você tanto pode ler um texto básico no Notepad como no Wordpad e no Word. Parte dos recursos não lhe interessa mesmo, a não ser que você precise um dia escrever em caracteres cirílicos (padrões KOI8-R, ISO 8859-5, Windows 1251 ou CP866, escolha...), por exemplo.

Mas, o que interessa aqui é a informação sobre os recursos que você já usa, e principalmente os que você nem sonha que existem no seu programa. Que, se você soubesse e praticasse num momento de folga, ajudariam na hora em que algo dá errado ou você precisa fazer algo diferente. Às vezes, a solução para o problema está mais perto de você do que possa imaginar. Ali, no manual.

Agora, vou contar um segredinho: se você tiver curiosidade, percorra o diretório onde o programa está instalado. Procure todos aqueles arquivos .txt e .doc, e ainda aqueles tipo leiame, readme. Eles podem conter alguns tesouros de informação, principalmente sobre compatibilidade com outros programas, configuração para melhorar o desempenho, ajustes e avisos de incompatibilidade com outros programas e certos equipamentos.

Existem ainda mais alguns tesouros, porém bastante escondidos e que demandarão paciência de Jó para encontrar. Tente abrir cada um daqueles às vezes milhares de arquivos instalados por um programa, usando o Wordpad ou equivalente. Nunca altere ou salve, apenas percorra as linhas de programação. No meio de 95% de caracteres sem qualquer significado, encontrará uma informação curiosa, como a de que o tal programa da Microsoft embute dezenas de licenças de terceiros para trechos de programação (é, a Microsoft também funciona como uma montadora de automóveis, compra trechos de programas e monta o pacote final).

Talvez encontre no Internet Explorer um comentário nada elogioso ao Netscape - que espertinhos aproveitaram para usar como vulnerabilidade e atingir a Microsoft, em 2001. Ou, como no Windows 3.1, onde uma vez encontrei três receitas de sorvete assinadas por Bill Gates.

Ler os manuais não resolverá decerto todos os seus problemas. Mas, poderá lhe dar idéias de como melhorar a produtividade em seu trabalho com o computador. E evitar que, numa lista de debates com centenas de participantes - à qual você pediu ajuda com uma dúvida atroz -, alguém lhe responda com um sábio porém mal educado conselho, resumido em quatro letras de uma sigla em inglês: RTFM. Que, por respeito a você, vou traduzir de forma livre e mais educada: "Leia O Maldito Manual"!

(*) Carlos Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico Novo Milênio. Este artigo é publicado em conjunto com The CyberEconomist.