"APAGÃO"
Onde estão os concursos e
as pesquisas?
Respondendo
a um amigável desafio lançado por Flávio P. de Andrade
na lista de debates sobre negócios Widebiz,
em 23/5/2001, o editor de Novo Milênio postou a seguinte mensagem,
logo respondida por Flávio Andrade:
Caro Flávio:
Respondendo ao seu saudável
desafio, se eu fosse ministro das Minas e Energia, ou presidente da República,
talvez tivesse em minha mesa outras sugestões melhores, um leque
de alternativas mais aberto.
Como cidadão comum, sem acesso
a todas as informações que desejaria, tentarei
responder:
1) há em várias empresas
e universidades estudos para baratear consideravelmente a fabricação
de painéis coletores de energia solar. Então, meu primeiro
passo como ministro ou presidente (não estou me candidatando ao
cargo, apenas dando idéias a esse governo apagado!) seria promover
um congresso imediato sobre o assunto, já pensando em um plano de
incentivo semelhante ao que está sendo preparado para o chamado
computador popular. Mesmo sem analisar o assunto, sei que avanços
consideráveis já foram obtidos nessa tecnologia, a faixa
de preços já caiu muito mesmo e pode cair muito mais pela
grande escala de produção, pelo uso de materiais e processos
de conversão de energia mais eficientes.
2) solicitaria pesquisas no exterior
sobre o estado das pesquisas com energia alternativa, que soluções
poderiam ser viáveis para implementação em curtíssimo
prazo. Tenham a certeza, elas existem. Se as montadoras já pensam
em carro movido a hidrogênio, não será viável
algo no gênero em escala de usina elétrica? Como estão
também as pesquisas sobre energia das marés e dos ventos
(na Califórnia existem fazendas de energia eólica, por exemplo)?
São aplicáveis por aqui? O que tem sido feito no campo da
energia de biomassa (sim, dos depósitos de lixo)?
3) solicitaria uma auditoria, com
prazo curto (por que não patrocinada por entidades não governamentais,
como forma de obter maior isenção e evitar a burocracia licitatória?),
sobre o verdadeiro estado do sistema elétrico no Brasil, incluindo
questões objetivas sobre a quantidade de energia realmente disponível
e a defasagem real entre produção e consumo; o desperdício
na geração e na transmissão da energia, o custo para
reduzir esse desperdício; que outras ações de curtíssimo
prazo podem ser adotadas para elevar a disponibilidade de energia elétrica,
sem sacrificar a cota das represas destinada ao consumo dos próximos
anos.
4) convocaria as empresas produtoras
de bens elétricos (eletrodomésticos, equipamentos industriais,
lâmpadas) a apresentarem novas soluções que impliquem
na redução do consumo de energia desses bens, mesmo que seja
oferecendo bônus tarifários às empresas que apresentarem
os melhores projetos. Ora, por quê um televisor tem de esquentar,
se não funciona como torradeira de pão? Todo esse calor é
energia desperdiçada...
5) lançaria um concurso nacional
de idéias sobre como economizar energia através de mudanças
economicamente viáveis e com aplicação rápida
nos processos que a utilizam. Já me explicaram que pequenas mudanças
no forno elétrico de uma padaria feitas agora não só
se pagariam ainda neste ano, como o dono do estabelecimento poderia passar
a viajar duas vezes por ano à lusa terrinha, só com a economia
feita.
Este é o trecho-chave de matéria
que publiquei em 23/3/1999: (...) Vejam
bem, matéria que publiquei há dois anos. E tem gente que
se surpreende com a crise...
6) Considerando que a maior parcela
do consumo de energia não é residencial, mas industrial,
lançaria uma campanha nacional explicando ao consumidor industrial
como economizar energia com ações simples como vedar adequadamente
as aberturas de um balcão frigorífico, ajustar alguns procedimentos
nos escritórios (ainda tem equipe de limpeza que deixa todas as
luzes acesas no prédio e vai apagando à medida em que a limpeza
de cada sala é concluída, usando as lâmpadas acesas
como referência do que falta fazer). Cartazes de rua, por exemplo,
talvez pudessem usar truques como tintas refletivas para dispensar iluminação
maior. Pequenas coisas, algo que me ocorreu agora, não parei para
pensar se é de fato absurdo ou tem lógica: em vez de um cartaz
ter letras escuras sobre um fundo claro retro-iluminado, haveria uma forma
de apenas as letras serem iluminadas sobre fundo escuro, dando o mesmo
recado com menos gasto de luz?
7) Nas cidades, a iluminação
pública é controlada por células fotoelétricas
acionadas ao se atingir determinado nível de penumbra ao anoitecer
ou quando ele deixa de existir ao amanhecer. Seria tecnicamente viável
alterar um pouquinho esse limite, de forma que a iluminação
pública ficasse acesa menos uma hora por dia (acender 30 minutos
mais tarde ao anoitecer, apagar 30 minutos mais cedo ao amanhecer), por
exemplo?
8) Existem comentários sobre
energia
reativa desperdiçada, como não sou eletricista, no cargo
de ministro ou presidente solicitaria pelo menos mais informações,
pode ser que por aí haja alguma economia possível que não
tem sido considerada.
9) Nossas
represas têm um reservatório para vários anos,
considerando a diferença entre a água que chega e a escoada.
Lógico, não podemos em 2001 avançar nos limites de
2002 e 2003, a não ser que tenhamos a garantia de que conseguiremos
repor o estoque antes que ele seja necessário. Como ministro, gostaria
de ter em mãos um bom estudo sobre os limites desse processo, para
balizar um plano de contingência que inclua a entrada em funcionamento
de novas fontes de energia. Quanto tempo demora para instalar uma termelétrica,
iniciando já? Qual é a economia obtida com outras ações,
mês a mês, nos próximos anos? Considerando esse cronograma,
que parcela do estoque da represa para 2002/2003 posso usar já?
É a esse tipo de conta que me refiro, não para protelar o
problema, mas para reduzir seu grave impacto sobre a economia nacional.
Bem, não sou ministro, não
tenho em mãos os dados que gostaria, nem um bando de assessores
- é o que deu para pensar em alguns minutos. Se nesses minutos um
leigo completo no assunto consegue pensar em nove caminhos, excluidas as
medidas anunciadas, um ministro competente (eu disse: competente) deve
poder encontrar muitos mais, em horas ou dias.
[ ]s
Carlos Pimentel Mendes
Consumidor consumido,
desligado e sem energia...
Esta, a resposta
de Flávio Andrade, colocada na mesma lista em 23/5/2001 (propositalmente
não acentuada):
Assunto: RES: [widebiz] Crise de
confianca + energia
Data: Wed, 23
May 2001 07:12:16 -0300
De: "Flavio P. de Andrade" <flavio.andrade@***.com>
Para: <widebiz@******>
Caros Carlos Pimentel, Manoel, Jose
Luiz, Jose Alberto e lista,
Entendo que uma das principais questoes
que se coloca e' a duvida sobre a real situacao dos reservatorios / capacidade
de geracao de energia versus interesses escusos para tornar "palatavel"
algum aumento, tarifaco, etc.
Na faculdade de Engenharia da UFRJ
e na COPPE ainda em 1999, tive a sorte de ser aluno de ilustres e polemicos
doutores como Luiz Pinguelli, Olavo Ramos, Roberto Schaeffer e Maurício
Tolmasquim especialistas na area de energia e muitas vezes criticos de
FHC e seu governo. Alguns desses doutores criaram uma org www.ilumina.org.br
e la mostram que eles ja avisam que a situacao esta ruim faz tempo. Chequem
em http://www.ilumina.org.br/avisos.html
Acho que como o Carlos disse, a sociedade
pode e deve participar e ser esclarecida sobre as reais possibilidades
de solucao para a situacao na qual nos encontramos. A energia solar que
ja e viavel no aquecimento de agua para uso domestico (com todo o
avanco acho que ainda e muito cara para gerar eletricidade), a eolica (viavel
em algumas regiues do pais), as mares, etc.. sao objeto de estudos do PPE
- COPPE - UFRJ, e devem ser trazidos a publico.
Acho porem que as solucoes mais rapidas
e eficientes para por fim a necessidade de racionamento (na qual realmente
acredito), devem passar pela otimizacao do uso da energia das hidreletricas
(a mais barata que existe) atraves da complementacao adequada gerada por
termeletricas a gas natural, e da eficiente distribuicao com a construcao
de novas linhas que permitam integrar o norte e o sul ao sudeste e centro-oeste.
Tambem acho que essa discussao deva vir a publico, ja que a Internet torna
isso bastante facil.
Concordo que nosso papel deve ser
o de exigir das autoridades um completo disclosure da real situacao. JA
QUE TENTARAM ESCONDER O PROBLEMA E DEU ZEBRA, AGORA QUEREMOS SABER DE TUDINHO
NOS DETALHES. Ate mesmo para poder colaborar.
A questao levantada pelo Engenheiro
da UNICAMP e' justa e realmente o plano beneficia os antigos esbanjadores
pois terao facilidade em economizar ao passo que os que ja economizavam
vao ter que passar algum desconforto para conseguir cumprir as metas. Isso
e uma das muitas "injusticas" do plano, mas que entendo serem necessarias
para que se faca algo. Na tentativa de fazer uma regra perfeita, corremos
o risco da divisao salomonica, onde na tentativa de nao beneficiar a ninguem
acaba-se prejudicando a todos muito mais. |