Na medida certa
Mário Persona (*)
Colaborador
Comprei
uma esteira. Dessas para caminhar, correr, suar e planejar o que fazer
com a roupa que vou perder junto com a gordura. No primeiro dia a família
disputou no cotovelo uma chance de caminhar. Passada a novidade, a esteira
ficou menos rolante. Se fosse menor eu a guardaria na gaveta. Junto com
aquele descascador de legumes comprado do camelô.
Descobri que esteiras domésticas
exigem demais dos músculos da vontade. Porque caminhar virou uma
forma de se exibir. Repare que toda cidade tem um lugar onde um monte de
gente só vai queimar gordura se outro monte de gente estiver queimando
gordura ali.
Geralmente quanto mais velho o andante,
mais novo o tênis. Comprar o tênis é a parte mais fácil,
quando chegamos naquela idade em que nos mandam passear. Aí descobrimos
que precisamos cada vez menos tempo para cansar e mais tempo para descansar.
Como Mark Twain, que dizia que quando sentia vontade de fazer exercícios,
deitava-se até a vontade passar.
Pessoas gostam de andar em manadas
porque a esteira reclusa causa tédio. Senti isso caminhando para
lugar nenhum em minha solitária lavanderia. Olhando para um horizonte
de azulejos que nem sequer eram azuis. A solução foi botar
um fone de ouvido e caminhar ao som de Carol King cantando "I Feel the
Earth Moving Under my Feet".
Freada - Mas se quiser mesmo
sentir que o mundo está se movendo sob seus pés, desça
da esteira na velocidade máxima. A sensação será
idêntica à da freada das empresas que não caminhavam
em sincronismo com o mundo real.
Michael Bloomberg disse não
acreditar que exista uma nova economia. Segundo ele, o que temos são
novas ferramentas para a economia que sempre existiu. Parece que a information
highway é isso mesmo, uma rede de informação.
Não o shopping center cercado de play-grounds
que se tentou criar.
A Internet não mudou. Apenas
está voltando a ser o que sempre foi. Informação e
relacionamentos. Ao contrário da mídia impressa, não
é uma mídia de exposição estática. E
ao contrário da TV, não é um canal de entretenimento.
Na informação está sua origem e vocação.
Quem ficou deslumbrado com o néon
dos sites na Web não percebeu onde acontecia a verdadeira revolução.
Como a causada pelo enxuto e-mail, que passou a carta a limpo e
restaurou o poder da comunicação individual escrita.
Sistemas de busca também causaram
sua dose de impacto. Só eles próprios não perceberam
isso. A pressa de faturar fez com que inchassem com atividades paralelas.
Enquanto o Yahoo amarga as conseqüências, o Altavista dá
uma de filho pródigo e volta à home page com design
de 1995. Se foi tarde, é cedo para julgar.
Mil palavras - Outra atividade
que a Internet revolucionou foi a leitura. Nunca se leu tanto. Na Internet
caiu por terra o axioma de que uma imagem vale por mil palavras. Testes
revelaram que nossos olhos buscam primeiro as mil palavras na tela. A imagem
vem depois.
Como aprendemos a ler fazendo a varredura
do texto, surgiu um novo estilo de escrita, mais pontual e enxuto. Textos
viraram listas de tópicos semeados em parágrafos. Como este
que você lê aqui. Resumido. Breve. Só.
Se quiser lucrar com a Web, não
espere dela resultados rápidos. Use-a na medida certa. Regimes de
uma semana só servem para perder sete dias. Use-a para criar e explorar
a informação e os relacionamentos. Que irão gerar
negócios, dentro ou fora do ambiente Web. Daí a importância
da Internet como ferramenta de marketing.
Fazer marketing na rede inclui criar
relacionamentos com formadores de opinião que potencializem o valor
de seu produto. E principalmente acreditar naquilo que se tem para vender.
Se não falar bem de seu produto, jamais conseguirá vendê-lo.
A minha esteira, por exemplo, é fantástica.
(*)
Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet, editor da Widebiz
Week e moderador da lista de debates
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