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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 03/14/01 17:10:28
Na medida certa 

Mário Persona (*)
Colaborador

Comprei uma esteira. Dessas para caminhar, correr, suar e planejar o que fazer com a roupa que vou perder junto com a gordura. No primeiro dia a família disputou no cotovelo uma chance de caminhar. Passada a novidade, a esteira ficou menos rolante. Se fosse menor eu a guardaria na gaveta. Junto com aquele descascador de legumes comprado do camelô.
Descobri que esteiras domésticas exigem demais dos músculos da vontade. Porque caminhar virou uma forma de se exibir. Repare que toda cidade tem um lugar onde um monte de gente só vai queimar gordura se outro monte de gente estiver queimando gordura ali.

Geralmente quanto mais velho o andante, mais novo o tênis. Comprar o tênis é a parte mais fácil, quando chegamos naquela idade em que nos mandam passear. Aí descobrimos que precisamos cada vez menos tempo para cansar e mais tempo para descansar. Como Mark Twain, que dizia que quando sentia vontade de fazer exercícios, deitava-se até a vontade passar.

Pessoas gostam de andar em manadas porque a esteira reclusa causa tédio. Senti isso caminhando para lugar nenhum em minha solitária lavanderia. Olhando para um horizonte de azulejos que nem sequer eram azuis. A solução foi botar um fone de ouvido e caminhar ao som de Carol King cantando "I Feel the Earth Moving Under my Feet".

Freada - Mas se quiser mesmo sentir que o mundo está se movendo sob seus pés, desça da esteira na velocidade máxima. A sensação será idêntica à da freada das empresas que não caminhavam em sincronismo com o mundo real.

Michael Bloomberg disse não acreditar que exista uma nova economia. Segundo ele, o que temos são novas ferramentas para a economia que sempre existiu. Parece que a information highway é isso mesmo, uma rede de informação. Não o shopping center cercado de play-grounds que se tentou criar.

A Internet não mudou. Apenas está voltando a ser o que sempre foi. Informação e relacionamentos. Ao contrário da mídia impressa, não é uma mídia de exposição estática. E ao contrário da TV, não é um canal de entretenimento. Na informação está sua origem e vocação.

Quem ficou deslumbrado com o néon dos sites na Web não percebeu onde acontecia a verdadeira revolução. Como a causada pelo enxuto e-mail, que passou a carta a limpo e restaurou o poder da comunicação individual escrita.

Sistemas de busca também causaram sua dose de impacto. Só eles próprios não perceberam isso. A pressa de faturar fez com que inchassem com atividades paralelas. Enquanto o Yahoo amarga as conseqüências, o Altavista dá uma de filho pródigo e volta à home page com design de 1995. Se foi tarde, é cedo para julgar.

Mil palavras - Outra atividade que a Internet revolucionou foi a leitura. Nunca se leu tanto. Na Internet caiu por terra o axioma de que uma imagem vale por mil palavras. Testes revelaram que nossos olhos buscam primeiro as mil palavras na tela. A imagem vem depois.

Como aprendemos a ler fazendo a varredura do texto, surgiu um novo estilo de escrita, mais pontual e enxuto. Textos viraram listas de tópicos semeados em parágrafos. Como este que você lê aqui. Resumido. Breve. Só.

Se quiser lucrar com a Web, não espere dela resultados rápidos. Use-a na medida certa. Regimes de uma semana só servem para perder sete dias. Use-a para criar e explorar a informação e os relacionamentos. Que irão gerar negócios, dentro ou fora do ambiente Web. Daí a importância da Internet como ferramenta de marketing.

Fazer marketing na rede inclui criar relacionamentos com formadores de opinião que potencializem o valor de seu produto. E principalmente acreditar naquilo que se tem para vender. Se não falar bem de seu produto, jamais conseguirá vendê-lo. A minha esteira, por exemplo, é fantástica.

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet, editor da Widebiz Week e moderador da lista de debates Widebiz.