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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 03/01/01 12:30:38
Investidor é a mãe 

Mário Persona (*)
Colaborador

A voz no telefone era de uma repórter americana. Escrevia sobre o mercado brasileiro de soluções para supply chain (N.E.: cadeia de suprimentos) e ouviu falar de nossa empresa. Ficou surpresa ao descobrir que muitos de nossos clientes são multinacionais, com fábricas no Brasil fazendo a gestão da cadeia de suprimentos via Web antes mesmo das matrizes no primeiro mundo. Filhas que surpreendem as mães.
Só para contrariar o Moraes Moreira, eu diria que "o Tio Sam não está querendo conhecer só a nossa batucada". Se "chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor", não é só para desfilar na avenida. Carmem Miranda pode ter sido sinônimo de Brasil, mas hoje cabeça de brasileiro não é vista no exterior como cesta de frutas. Nossas cabeças são respeitadas. Head hunters (N.E.: caçadores de talentos/executivos) não vêm atrás de bananas.

Os investidores que vêm do frio descobrem que existe mercado do lado de baixo do Equador. A revista The Industrial Standard elegeu Campinas, no interior de São Paulo, como uma das cinco melhores regiões do mundo para novos negócios. E a Wired Magazine, como um dos melhores pólos de tecnologia da informação, uma espécie de "Brazilian Silicon Valley". Traduzido como "Vale do Silicone" por maus tradutores ou para reforçar a idéia de pujança (N.E.: silicon é silício, em inglês).

Após o fracasso das ponto-com no hemisfério norte, os investidores ficaram como mães de luto. Seios cheios, precisam encontrar filhos para amamentar. Um provérbio chinês diz que "só existe uma criança bonita no mundo, e toda mãe a possui". E investidores com peito para investir parecem ter encontrado no Brasil essa criança. Depois de tanto tempo deitados em berço esplêndido, finalmente alguém nos ouviu cantar. "Mamãe eu quero mamar".

Apelidos - A repórter soltou uma gargalhava ao telefone. Mas não ria do Brasil. Divertia-se com os apelidos que adotamos para nosso sistema. "Empresa Mãe", para a empresa geradora de informações de compra e venda, trocadas através da Internet. "Empresa Filha", para fornecedores e clientes que se relacionam com a "Mãe". A repórter não esperava essa abordagem maternal para uma estratégia de valorização da supply chain.

Mas não é diferente o relacionamento do investidor estrangeiro com o empreendedor. Amamenta porque deseja ver a criança crescer, trabalhar e retornar o investimento. No relacionamento mãe-filha entre empresas acontece o mesmo. Quanto mais a indústria amamenta suas filhas na cadeia de suprimentos, mais leite tem. E a prole cresce contente.

Não faz mal se o título da matéria escrita pela americana pareça um enigma. "ASP in Brazil: Widesoft Creates Mother and Child". Ela usou a sigla de Application Service Provider para indicar que o software é disponibilizado como serviço via Web. E usou também um genérico "child" para identificar as "filhas". Empresas que sorvem a informação gerada no seio da gestão materna.

A idéia é que a "empresa-mãe" otimize o fluxo de seu leite para a "filha crescer". E esta também se transforme numa "mãe", amamentando suas "filhas" com informação. O mesmo relacionamento saudável encontrado entre investidores e empresas incubadas. Alguém poderá argumentar que neste caso é diferente, porque o leite é dinheiro. E informação não é?

Investidor é a mãe. Que toma a iniciativa porque sabe que irá lucrar no final. Num concurso de frases que vi na Web prometendo um CD, a pergunta era, "O que você faria para mudar o mundo?". Digitei "Começaria por mim". Enquanto escrevo, ouvindo o CD que ganhei, lanço a pergunta: "O que você faria para fazer seu parceiro de negócios crescer?" Empresas que já usam sutiã saberão responder.

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet, editor da Widebiz Week e moderador da lista de debates Widebiz.