Investidor é a mãe
Mário Persona (*)
Colaborador
A voz no
telefone era de uma repórter americana. Escrevia sobre o mercado
brasileiro de soluções para supply chain (N.E.: cadeia
de suprimentos) e ouviu falar de nossa empresa. Ficou surpresa ao descobrir
que muitos de nossos clientes são multinacionais, com fábricas
no Brasil fazendo a gestão da cadeia de suprimentos via Web antes
mesmo das matrizes no primeiro mundo. Filhas que surpreendem as mães.
Só para contrariar o Moraes Moreira,
eu diria que "o Tio Sam não está querendo conhecer só
a nossa batucada". Se "chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu
valor", não é só para desfilar na avenida. Carmem
Miranda pode ter sido sinônimo de Brasil, mas hoje cabeça
de brasileiro não é vista no exterior como cesta de frutas.
Nossas cabeças são respeitadas. Head hunters (N.E.: caçadores
de talentos/executivos) não vêm atrás de bananas.
Os investidores que vêm do
frio descobrem que existe mercado do lado de baixo do Equador. A revista
The
Industrial Standard elegeu Campinas, no interior de São Paulo,
como uma das cinco melhores regiões do mundo para novos negócios.
E a Wired Magazine, como um dos melhores pólos de tecnologia
da informação, uma espécie de "Brazilian Silicon Valley".
Traduzido como "Vale do Silicone" por maus tradutores ou para reforçar
a idéia de pujança (N.E.: silicon é silício,
em inglês).
Após o fracasso das ponto-com
no hemisfério norte, os investidores ficaram como mães de
luto. Seios cheios, precisam encontrar filhos para amamentar. Um provérbio
chinês diz que "só existe uma criança bonita no mundo,
e toda mãe a possui". E investidores com peito para investir parecem
ter encontrado no Brasil essa criança. Depois de tanto tempo deitados
em berço esplêndido, finalmente alguém nos ouviu cantar.
"Mamãe eu quero mamar".
Apelidos - A repórter
soltou uma gargalhava ao telefone. Mas não ria do Brasil. Divertia-se
com os apelidos que adotamos para nosso sistema. "Empresa Mãe",
para a empresa geradora de informações de compra e venda,
trocadas através da Internet. "Empresa Filha", para fornecedores
e clientes que se relacionam com a "Mãe". A repórter não
esperava essa abordagem maternal para uma estratégia de valorização
da supply chain.
Mas não é diferente
o relacionamento do investidor estrangeiro com o empreendedor. Amamenta
porque deseja ver a criança crescer, trabalhar e retornar o investimento.
No relacionamento mãe-filha entre empresas acontece o mesmo. Quanto
mais a indústria amamenta suas filhas na cadeia de suprimentos,
mais leite tem. E a prole cresce contente.
Não faz mal se o título
da matéria escrita pela americana pareça um enigma. "ASP
in Brazil: Widesoft Creates Mother and Child". Ela usou a sigla de Application
Service Provider para indicar que o software é disponibilizado
como serviço via Web. E usou também um genérico "child"
para identificar as "filhas". Empresas que sorvem a informação
gerada no seio da gestão materna.
A idéia é que a "empresa-mãe"
otimize o fluxo de seu leite para a "filha crescer". E esta também
se transforme numa "mãe", amamentando suas "filhas" com informação.
O mesmo relacionamento saudável encontrado entre investidores e
empresas incubadas. Alguém poderá argumentar que neste caso
é diferente, porque o leite é dinheiro. E informação
não é?
Investidor é a mãe.
Que toma a iniciativa porque sabe que irá lucrar no final. Num concurso
de frases que vi na Web prometendo um CD, a pergunta era, "O que você
faria para mudar o mundo?". Digitei "Começaria por mim". Enquanto
escrevo, ouvindo o CD que ganhei, lanço a pergunta: "O que você
faria para fazer seu parceiro de negócios crescer?" Empresas que
já usam sutiã saberão responder.
(*)
Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet, editor da Widebiz
Week e moderador da lista de debates
Widebiz. |