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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 02/22/01 00:24:24
Bips - o PC popular brasileiro

Um dos temas de mais acirrado debate no Brasil, no momento, está sendo o anúncio do governo federal de que pretende fomentar a produção de computadores a custo mínimo (menos de R$ 500,00 por equipamento) e em grandes quantidades (para equipar até 23 milhões de lares) - com financiamento em até 10 ou até 24 meses pelos bancos oficiais -, para dar acesso à Internet a grande parte da Logo do computador amigável que foi criado para uso no II Salão de Informática de Santos, em 1997população de baixa renda. De um lado, há os que consideram todo o projeto do PC popular como um ato demagógico, impraticável. Para outros, é altamente elogiável e exeqüível.

Apoiado por uns, torpedado por outros, o plano anunciado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, pelo ministro das Comunicações, João Pimenta da Veiga, e pelo ministro da Educação, Paulo Renato, é baseado em estudos feitos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Características - Os técnicos mineiros indicam ser possível comercializar por menos de R$ 500,00 um micro com processador similar ao Pentium de 500 MHz (possivelmente o AMD K6-II 500 MHz) e 64 MB de RAM, modem 56 kbps, alto-falantes, teclado, mouse, placa de rede Ethernet, monitor de 14 polegadas, disco Flash de 16 MB (o computador não terá disco rígido), portas para conexão de periféricos USB. 

O micro virá com software gratuito e de domínio público (sistema operacional Linux e aplicativos como navegador para Internet, editor de apresentações, processadores de texto e de planilhas). O usuário poderá incrementar o equipamento adquirindo posteriormente periféricos como o leitor de CD-ROM. O equipamento também não tem drive de disquete. O ambiente gráfico considerado é o XWindows, com gerenciador de aplicativos KDE e navegador Konqueror. O pacote de aplicativos (editor de textos, planilhas etc.) considerado é o KOffice.

O protótipo do equipamento foi apresentado ao presidente da República, pelos ministros Pimenta da Veiga, de Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg, e da Casa Civil, Pedro Parente (que também é presidente executivo do projeto Governo Eletrônico). O financiamento poderia chegar a 24 meses pela Caixa Econômica Federal. A produção será fixada na Lei de Informática e o micro terá sua aplicação indicada pelo Comitê Gestor da Internet para programas desenvolvidos com recursos do Fundo de Universalização das Telecomunicações (Fust), que financiará a compra de computadores para doação a escolas, postos de saúde e pequenos centros comunitários. 

Não está definido ainda quem fabricará os computadores, mesmo com a oferta pelo governo de não cobrar impostos das empresas dispostas a produzir esses equipamentos. Ainda assim, a expectativa do ministro das Comunicações é que as primeiras unidades já estejam disponíveis no mercado dentro de 120 dias. 

Indústria é contra - Já no ano passado, o ministro Pimenta da Veiga consultou a indústria de computadores sobre a possibilidade de criar um PC popular. a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) respondeu que no mínimo um equipamento "o mais básico e racional" ficaria acima de R$ 1 mil. Diante dessa resposta, o governo encomendou (por R$ 154 mil) um projeto ao Departamento de Ciência da Computação da UFMG. Foram montados dois protótipos, ao custo individual de R$ 1 mil, mas o coordenador do projeto, Sérgio Vale Campos, explica que ao ser feita a produção em escala industrial o custo cai para menos da metade.

Fernando Loureiro, diretor de Assuntos Corporativos da fabricante de computadores Dell, critica o projeto por não incluir disco rígido (HD), o que obriga os usuários a dependerem muito da rede para usar programas, ficando sem espaço no próprio equipamento para manter e manipular arquivos. Para ele, o mercado consumidor não quer um PC apenas para navegar na Internet, o que levou sua empresa a desistir de um projeto semelhante nos Estados Unidos. Ivair Rodrigues, do IDC, reforça a argumentação lembrando das fracassadas experiências nacionais com produtos que transformam televisor em computador. Até o chip AMD é criticado, lembrando-se que a empresa fabricante deve encerrar em breve a produção desse processador.

Paulo Alouche, diretor da Microtec, duvida que o projetado PC popular chegue a um preço final inferior a R$ 500,00, no que é acompanhado pelo diretor de Assuntos Corporativos Gilberto Galan, ao recordar que é preciso considerar também custos de distribuição, suporte técnico e manual. Nem mesmo o uso de Linux é poupado pelos críticos, que consideram esse sistema operacional ainda muito complicado para o usuário leigo.

Vantagens indiretas - Apesar das críticas, o projeto poderá deslanchar se o governo e o empresariado considerarem nos cálculos as muitas vantagens indiretas possíveis. A principal delas é o significativo aumento do número de usuários de computadores e da Internet, abrindo um importante mercado para os serviços eletrônicos (banco residencial, comércio eletrônico, telecomunicações etc.). Só isso já justificaria que muitas dessas empresas subsidiassem ou facilitassem a realização do projeto, contando com os benefícios da expansão da base de usuários.

O próprio governo se beneficia diretamente, na medida em que pode estender a uma parcela maior da população os serviços de governo eletrônico, dos quais o mais conhecido é a declaração do Imposto de Renda pela Internet. Tais serviços virtuais têm custo consideravelmente menor que os correspondentes na forma convencional.

O principal benefício do computador popular é reduzir o chamado "analfabetismo digital", que em muitos países já é considerado tão grave como o analfabetismo comum - cada vez mais, para ingressar e se manter no mercado de trabalho, a pessoa precisará ter conhecimentos de informática, e em muitas profissões esta já é uma barreira real, mesmo no Brasil.

Fontes - O uso do sistema operacional Linux no projeto do PC popular é polêmico, mas tem muitos defensores ativos. Um dos problemas atribuídos ao Linux - e destacados nos últimos dias, em meio a esses debates - é a questão das fontes de letra, pois muitas das fontes mais conhecidas, usadas pelos programas em Windows, são patenteadas e não contam com licenças para Linux. 

Porém, as principais fontes de letra já possuem versões Linux e os interessados no tema podem obter mais detalhes nos sites Fighting Font Frustration, How to get proper fonts in Netscape on Linux/FreeBSD e XFree86 Font Deuglification Mini Howto.

Segurança e operações - Entre os usuários de sistemas de computação, existem comentários sobre aspectos de segurança do Linux, que estaria diminuindo em meio às tentativas de tornar o Linux mais fácil de instalar e usar para o usuário. A própria semelhança visual crescente com o MS Windows pode gerar problemas, ao induzir o usuário a pensar que são sistemas semelhantes e plenamente compatíveis entre si. 

Mas há também o aspecto positivo da multiplicidade de escolha, tanto de ferramentas e programas como de interfaces gráficas, com código não proprietário, havendo uma legião de aficcionados em todo o mundo que estão continuamente aprimorando o sistema, sem custos.