Executivos executáveis
Mário Persona (*)
Colaborador
Caio E.
Imbreve está intrigado. O executivo de uma grande empresa, sente
uma certa pressão. E não são gases. De tempos para
cá seus gerentes insistem que a empresa precisa usar a Internet.
Dizem que internetizar processos é rápido. Que não
leva nem os três anos que gastaram implementando aquele software
de gestão. "Mais três anos e...", suspira Caio. O tempo que
falta para mudar de vez para sua chácara.
Parece que Caio E. Imbreve não
está sozinho na falta de familiaridade com a Internet. Uma pesquisa,
publicada pela Industry Standard, revelou que os líderes de empresas
globais estão suando a gravata para se manter em dia com a Internet.
Dos 251 CEOs (N.E.: diretores executivos) entrevistados, a maioria reconhece
a importância da rede na estratégia de seus negócios.
Só que patinam na hora de revelar suas prioridades. Estariam acometidos
da síndrome da aposentadoria? Isto a pesquisa não revelou.
Tudo o que os gerentes de Caio E.
Imbreve querem é marcar gol. A área está livre, o
goleiro distraído, o jogo é em casa, favorecendo o time...
mas a equipe joga de tamancos! Estão mal equipados. Mas Caio E.
Imbreve já avisou que prefere não mexer em time que está
ganhando. Ou, a bem da verdade, que está quase empatando. Ou - vamos
admitir - que está perdendo. Mas não de goleada. Principalmente
quando falta tão pouco para trocar a camisa. E botar um chapéu
de palha.
Sem visão - O que a
pesquisa revela é que muitos executivos não têm uma
visão clara do uso da Internet em suas empresas. É certo
que já passaram a fase da home-page. Porém ainda a consideram
como uma extensão de seu Call Center (N.E.: centro de chamadas telefônicas).
Mais de 40% dá prioridade ao uso da Internet no relacionamento com
clientes. Estão enxergando a rede apenas como uma caixinha de reclamações.
Segundo Doug Adrich, diretor da A.
T. Kearney e responsável pela pesquisa, os CEOs "dizem estar familiarizados
com a tecnologia... mas é melhor não rir muito quando você
perceber a dificuldade que têm para encontrar o botão de ligar
o micro". Com Caio não é diferente. Gosta de modernidade,
mas só quando o assunto é forno de microondas, celular ou
TV. Com controle remoto. Não para trocar de canal, mas para fugir
do comercial.
O que ele queria mesmo era ter um
botão para fugir do comercial - o departamento - da empresa. "As
vendas podem aumentar integrando os distribuidores na Web", insiste o gerente
de vendas. "Os custos podem diminuir, se a gente integrar os fornecedores",
aposta o gerente de compras. "Isso vai ajudar a reduzir estoques", implora
o gerente de suprimentos. Caio se lembra de algo. O estoque de cervejas!
O caseiro avisou para levar mais no fim de semana.
Lavagem cerebral - Para Caio
E. Imbreve, seus gerentes andam assistindo palestras demais. São
presas fáceis do discurso de semeadores de ilusões. Gente
que vive doutrinando e motivando o pessoal a mudar sempre. A criar novos
modelos de negócios. Dizem que tudo vai melhorar integrando a cadeia
de suprimentos na Internet, fabricando conforme a demanda, personalizando
o produto, vendendo na Web. Para se precaver, do que ele considera uma
lavagem cerebral, Caio E. Imbreve só freqüenta seminários
internacionais. Sem fone de ouvidos para tradução simultânea.
E sem olhar nos pés do palestrante. Vai que inventaram sapatos com
legendas...
Ele não está nem aí
com as ameaças de que os concorrentes irão roubar seu mercado.
Conhece seus concorrentes. Tem amigos que também são diretores
de grandes empresas. Costumam se encontrar no golfe e na sauna. É
claro, há divergências entre eles. Uns concordam com os planos
de Caio. Outros planejam ir morar na praia.
Mas Caio E. Imbreve tem medo de não
conseguir cumprir o tempo regulamentar. Se bobear, sua cabeça pode
rolar. É que agora a pressão está vindo de cima. Das
velhinhas acionistas, perguntando quando é que vão usar B2B,
B2C e coisas do tipo. Acostumadas a vitaminas, acreditam que pode ajudar.
Aí ele começa a ser dominado por um sentimento de ignorância.
Uma sensação ruim para seu amor-próprio. Não
quer que os outros pensem dele o que pensou de seu caseiro, na primeira
vez que o viu. Habituado a formalismos, Caio perguntou: "Qual é
a sua graça?". "Gosto muito do Chico Anísio", respondeu o
outro.
(*)
Mário Persona é diretor
de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet, editor da Widebiz
Week e moderador da lista de debates
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