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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 11/16/00 00:08:08
Pato Com BR... 

Maurício Macedo (*)
Colaborador

A idéia era ótima, fornecer informações e serviços aos internautas. Para pagar pelo serviço? Bem, internauta não gosta de pagar nada, já paga o provedor, mas tudo se resolve. Anunciantes. Criar massa, e vender publicidade para a audiência. Mas havia um problema: os anunciantes ainda não estavam acostumados a comprar propaganda on-line. Banners eram muito pequenos. Não havia no mercado um sistema independente e reconhecido de contagem da audiência. Isso e mais aquilo inviabilizava a propaganda online, as contas não fechavam. Decisão: mudar o business plan.

A idéia era ótima, viver na terra. Comida à vontade, comendo as folhas de plantinhas e sementinhas pelo chão. Comida à vontade. Mas havia um problema: os carnívoros. Eles não gostavam de comer plantinhas, preferiam coisas com mais proteínas: você! O business plan deles era baseado na sua destruição! Isso gerava algumas preocupações, como fugir rapidamente de tais predadores, como ter uma zona segura para repouso? Decisão: mudar o business plan.

Bem, os internautas compram coisas. O comércio mundial é da ordem de trilhões anuais, obviamente seu público é um público comprador. Como você pode ignorar isso? Então, o negócio mesmo, era monetizar o público. Vender coisas que ele queira comprar. Era assim que o mundo funcionava! Publicidade ajudava, mas o negócio mesmo era fazer este pessoal encher a cestinha de compras. Mas havia um problema: os internautas não estavam comprando. Era preciso anunciar para um milhão de pessoas, para trazer dez mil para o seu site, para vender para quinhentas pessoas. E mais, entregar produtos um a um para estas pessoas não era fácil, exigia muito trabalho e era muito oneroso, sendo algumas vezes até mais caro que o próprio produto. A conta não fechava novamente. Decisão: mudar o business plan.

Os carnívoros eram mais rápidos e manhosos, especialistas na perseguição. O negócio era tentar fugir rápido deles. Mas a perseguição continuaria. Árvores? Alguns tinham habilidade de escalá-las, e era difícil mesmo para você subir. Que tal saltar para alcançá-las? Mas você perdia estabilidade. O jeito era ir mudando os membros superiores para dar mais estabilidade. 

De repente, a descoberta: os saltos poderiam ser cada vez maiores, na verdade, já não eram mais saltos, pois não dependiam do impulso das pernas. Com um pouco de velocidade e movimento dos membros superiores, você era capaz de voar! Maravilhoso, com o vôo, a fuga dos predadores. Além disso, era possível repousar em lugares inacessíveis. Mas havia um problema: a comida, as plantinhas, estava na terra. E os filhotinhos não conseguiam voar, eram alvos fáceis dos predadores. E enquanto se estava comendo, de cabeça baixa, não dava para rapidamente levantar vôo. Decisão: mudar o business plan.

Ok, então vender em pequenas quantidades, era complicado. Mas isso era óbvio, pois as pessoas compravam de locais próximos a elas. Como alguém esperava competir com tais lugares, oferecendo produtos que a pessoa não conseguia tocar, e que após efetuada a compra ela só receberia semanas depois? Era uma idéia viável, mas não suficiente para lhe sustentar. Mas havia uma outra opção: vender para aqueles que vendem para as pessoas! Deixar que eles se preocupassem com a venda um a um e entrega, vender contêineres ao invés de pacotes. Melhorar os processos de relacionamentos entre os grandes compradores e vendedores. 

Este era o mercado! Mas havia um problema: muitos dos processos eram bem difícieis de mudar, muitos dos grandes vendedores e compradores possuíam sistemas internos, mas que não se comunicavam. E outros nem sequer um computador possuíam. Isso sem mencionar a insegurança quanto ao meio eletrônico. Agora você dominava toda a cadeia, informação e serviços para atrair público, a venda de produtos ao público atraído, e venda aos que vendiam aos vendedores, e ao mesmo tempo não dominava nenhum deles, com problemas em todas as áreas e incapacidade de resolvê-los, por estar preso a exigências e problemas totalmente diferentes. Você era tudo e não era nada. No que você se tornou?

Você precisava de plantinhas. Mas comer na terra era difícil por causa dos predadores. Mas havia outra possibilidade: a água! Sim, ali existiam também plantinhas! E os predadores não gostavam da água, ou se moviam bem devagar. E os filhotinhos aprendiam facilmente a nadar, era perfeito! Mas havia um problema: a água possuía outros predadores, que atacavam por baixo, sem você poder ver. A adaptação necessária para nadar lhe tornou lento na terra. Voar a partir da água, e até voar em si, era bem mais difícil. Agora você dominava a água, a terra e o ar, e ao mesmo tempo não dominava nenhum deles, com problemas em todas as áreas e incapacidade de resolvê-los, por estar preso a exigências e problemas totalmente diferentes. Você era tudo e não era nada. No que você se tornou?

Sua vida seria sempre fugir. E viver mal. Não havia esperança de um dia dominar, ter o seu espaço definido. Tantas adaptações lhe tornaram um ser fraco. Tantas mudanças no seu business plan lhe transformaram num monte de retalhos. Seu destino será a panela, pois ninguém vai pagar o pato.

É isto que sua empresa está fazendo? Sempre fugindo dos problemas de cada decisão, e ambicionando novos horizontes? Toda área de atuação possui vantagens e problemas. A "empresa", no sentido de "aventura", de "desafio", é contornar os problemas e vencer no ambiente que você escolheu. 

O tubarão precisa dos peixes, precisa de água limpa, sofre com a ação dos pescadores. A águia precisa de correntes ascendentes, de ar sem poluição, de lugares protegidos para fazer seu ninho. O leão precisa de grandes presas, precisa de uma comunidade para caçar as presas em conjunto, de saúde para perseguir diariamente suas vítimas, de savanas. 

Em todo ambiente há vantagens e desvantagens, e o empreendedor deve decidir. Quem ele admira? O tubarão, a águia e o leão, que se tornaram mestres de seus domínios, lidando com os problemas diariamente e superando-os, ou o pato?

(*) Maurício Macedo é desenvolvedor de sites Web em Santos/SP e, desde julho de 1997, diretor da SmartMedia, tendo divulgado este artigo através da lista de debates sobre negócios Widebiz no dia 31/10/2000.