Pato Com BR...
Maurício Macedo (*)
Colaborador
A idéia
era ótima, fornecer informações e serviços
aos internautas. Para pagar pelo serviço? Bem, internauta não
gosta de pagar nada, já paga o provedor, mas tudo se resolve. Anunciantes.
Criar massa, e vender publicidade para a audiência. Mas havia um
problema: os anunciantes ainda não estavam acostumados a comprar
propaganda on-line. Banners eram muito pequenos. Não havia no mercado
um sistema independente e reconhecido de contagem da audiência. Isso
e mais aquilo inviabilizava a propaganda online, as contas não fechavam.
Decisão:
mudar o business plan.
A idéia era ótima,
viver na terra. Comida à vontade, comendo as folhas de plantinhas
e sementinhas pelo chão. Comida à vontade. Mas havia um problema:
os carnívoros. Eles não gostavam de comer plantinhas, preferiam
coisas com mais proteínas: você! O business plan deles era
baseado na sua destruição! Isso gerava algumas preocupações,
como fugir rapidamente de tais predadores, como ter uma zona segura para
repouso? Decisão: mudar o business plan.
Bem, os internautas compram coisas.
O comércio mundial é da ordem de trilhões anuais,
obviamente seu público é um público comprador. Como
você pode ignorar isso? Então, o negócio mesmo, era
monetizar o público. Vender coisas que ele queira comprar. Era assim
que o mundo funcionava! Publicidade ajudava, mas o negócio mesmo
era fazer este pessoal encher a cestinha de compras. Mas havia um problema:
os internautas não estavam comprando. Era preciso anunciar para
um milhão de pessoas, para trazer dez mil para o seu site, para
vender para quinhentas pessoas. E mais, entregar produtos um a um para
estas pessoas não era fácil, exigia muito trabalho e era
muito oneroso, sendo algumas vezes até mais caro que o próprio
produto. A conta não fechava novamente. Decisão: mudar
o business plan.
Os carnívoros eram mais rápidos
e manhosos, especialistas na perseguição. O negócio
era tentar fugir rápido deles. Mas a perseguição continuaria.
Árvores? Alguns tinham habilidade de escalá-las, e era difícil
mesmo para você subir. Que tal saltar para alcançá-las?
Mas você perdia estabilidade. O jeito era ir mudando os membros superiores
para dar mais estabilidade.
De repente, a descoberta: os saltos
poderiam ser cada vez maiores, na verdade, já não eram mais
saltos, pois não dependiam do impulso das pernas. Com um pouco de
velocidade e movimento dos membros superiores, você era capaz de
voar! Maravilhoso, com o vôo, a fuga dos predadores. Além
disso, era possível repousar em lugares inacessíveis. Mas
havia um problema: a comida, as plantinhas, estava na terra. E os filhotinhos
não conseguiam voar, eram alvos fáceis dos predadores. E
enquanto se estava comendo, de cabeça baixa, não dava para
rapidamente levantar vôo.
Decisão: mudar o business plan.
Ok, então vender em pequenas
quantidades, era complicado. Mas isso era óbvio, pois as pessoas
compravam de locais próximos a elas. Como alguém esperava
competir com tais lugares, oferecendo produtos que a pessoa não
conseguia tocar, e que após efetuada a compra ela só receberia
semanas depois? Era uma idéia viável, mas não suficiente
para lhe sustentar. Mas havia uma outra opção: vender para
aqueles que vendem para as pessoas! Deixar que eles se preocupassem com
a venda um a um e entrega, vender contêineres ao invés de
pacotes. Melhorar os processos de relacionamentos entre os grandes compradores
e vendedores.
Este era o mercado! Mas havia
um problema: muitos dos processos eram bem difícieis de mudar, muitos
dos grandes vendedores e compradores possuíam sistemas internos,
mas que não se comunicavam. E outros nem sequer um computador possuíam.
Isso sem mencionar a insegurança quanto ao meio eletrônico.
Agora você dominava toda a cadeia, informação e serviços
para atrair público, a venda de produtos ao público atraído,
e venda aos que vendiam aos vendedores, e ao mesmo tempo não dominava
nenhum deles, com problemas em todas as áreas e incapacidade de
resolvê-los, por estar preso a exigências e problemas totalmente
diferentes. Você era tudo e não era nada. No que você
se tornou?
Você precisava de plantinhas.
Mas comer na terra era difícil por causa dos predadores. Mas havia
outra possibilidade: a água! Sim, ali existiam também plantinhas!
E os predadores não gostavam da água, ou se moviam bem devagar.
E os filhotinhos aprendiam facilmente a nadar, era perfeito! Mas havia
um problema: a água possuía outros predadores, que atacavam
por baixo, sem você poder ver. A adaptação necessária
para nadar lhe tornou lento na terra. Voar a partir da água, e até
voar em si, era bem mais difícil. Agora você dominava a água,
a terra e o ar, e ao mesmo tempo não dominava nenhum deles, com
problemas em todas as áreas e incapacidade de resolvê-los,
por estar preso a exigências e problemas totalmente diferentes. Você
era tudo e não era nada. No que você se tornou?
Sua vida seria sempre fugir. E viver
mal. Não havia esperança de um dia dominar, ter o seu espaço
definido. Tantas adaptações lhe tornaram um ser fraco. Tantas
mudanças no seu business plan lhe transformaram num monte de retalhos.
Seu destino será a panela, pois ninguém vai pagar o pato.
É isto que sua empresa
está fazendo? Sempre fugindo dos problemas de cada decisão,
e ambicionando novos horizontes? Toda área de atuação
possui vantagens e problemas. A "empresa", no sentido de "aventura", de
"desafio", é contornar os problemas e vencer no ambiente que você
escolheu.
O tubarão precisa dos peixes,
precisa de água limpa, sofre com a ação dos pescadores.
A águia precisa de correntes ascendentes, de ar sem poluição,
de lugares protegidos para fazer seu ninho. O leão precisa de grandes
presas, precisa de uma comunidade para caçar as presas em conjunto,
de saúde para perseguir diariamente suas vítimas, de savanas.
Em todo ambiente há vantagens
e desvantagens, e o empreendedor deve decidir. Quem ele admira? O tubarão,
a águia e o leão, que se tornaram mestres de seus domínios,
lidando com os problemas diariamente e superando-os, ou o pato?
(*)
Maurício Macedo é desenvolvedor de sites Web em Santos/SP
e, desde julho de 1997, diretor da SmartMedia,
tendo divulgado este artigo através da lista de debates sobre negócios
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no dia 31/10/2000. |