O fim do livro - II
Mário Persona (*)
Colaborador
Estive respondendo
a alguns e-mails que comentavam meu último artigo (O
Fim
do Livro).
Achei que minha resposta poderia acrescentar algo, por isso estou disponibilizando
um complemento ao artigo. Mas o assunto está longe de ser esgotado...
A mudança de gerações
é muito rápida (morrem os leitores de livros, nascem
leitores de monitores e handhelds)
e os custos de produção de livros pode aumentar (no modo
tradicional) e diminuir (para produção caseira). Impressoras
que encadernam podem se tornar comuns e conviver com dispositivos de leitura.
Mas isto não resolve o problema, apenas permite produzir livros
convencionais piratas.
A revolução deve acontecer
com mais força no Hemisfério Norte. O brasileiro ainda lê
muito pouco. O problema não é tanto da competição
do livro eletrônico com o livro convencional. O problema maior é
o do sustento dos autores, editoras e livrarias em um mundo onde fica cada
vez mais fácil surrupiar a propriedade intelectual.
Na verdade ninguém sabe ainda
como ficará este mercado. Mas é certo que grandes mudanças
ocorrerão, pois não será possível proteger
o direito autoral com a facilidade de cópia e distribuição
que a Internet trouxe.
Aumento - Na ultima pesquisa
da IDG sobre o consumo de CDs e o surgimento do MP3, a enquete mostrou
que o consumo de CDs aumentou. Será que as pessoas não teriam
deixado de comprar CDs por causa da tecnologia do MP3? Existe sempre uma
inércia no mercado. O MP3 ainda é dominado por meia dúzia
de usuários de micro e Internet, que sabem como buscar, salvar,
converter, gravar um CD etc. O tocador de MP3 ainda não é
tão popular quanto um radinho de pilha. Teremos modelos que farão
a busca direto na Internet e salvarão os arquivos.
O problema que está ocorrendo
com a música (gravadoras) é apenas o começo. O cinema
estará ameaçado com a Internet de alta velocidade e sistemas
mais eficientes de compactação de arquivos. Não é
o livro, ou a música ou o filme que está em jogo. É
toda a produção intelectual.
Modismos como o livro Harry Porter
podem confundir um pouco quando tentamos olhar para o futuro. Trata-se
de uma mania, um novo Pokemon. Crianças querem o livro porque outras
crianças têm. Não acredito que isto dê início
a uma era de novos leitores. Na minha idade, é a terceira onda de
patinetes que vejo. Bambolê, io-iô são ondas parecidas.
Amanhã alguém lança o e-book da Xuxa e as crianças
correm para lá. Modismos não definem o que será o
mercado. É mais sutil. Mas volto ao ponto em que o que corre perigo
não é o papel ou o trabalho gráfico. É a propriedade
intelectual na forma como a conhecemos.
© não
basta - Colocar um
"C" (de Copyright) na frente de algo não será suficiente
para proteger. Estabelecer penas exemplares (como a do rapaz que pegou
100 anos de cadeia por influenciar na bolsa) também não resolve.
Iríamos criar uma polícia mundial tipo "Big Brother", que
não seria imune a corrupção. Endurecer a legislação
tem efeitos colaterais, como um web-amigo na Austrália. Foi preso,
perdeu sua carreira de professor e levou 2 anos para reverter o processo
na justiça (agora tenta reaver sua licença para lecionar).
Na Austrália, onde a lei funciona
como em lugar nenhum, ele foi acusado de assédio sexual ao colocar
a mão no ombro de uma aluna, dentro da classe cheia, pedindo que
ela parasse de fazer bagunça e sentasse. A lei dizia que contato
físico não solicitado é assédio. Se isso acontece
no mundo real, imagine o que pode acontecer no virtual.
Sendo eu um rato de biblioteca e
com a experiência de dez anos na área editorial, gostaria
que as coisas continuassem como estão. Mas não posso fechar
os olhos para as tendências. Só conseguimos enxergar o futuro
quando deixamos de lado nossas preferências pessoais.
Para mostrar que o problema está
apenas começando, sugiro que leia o que vem por aí com o
MojoNation
(se o link estiver quebrado, tente entrar no www.no.com.br
e no www.mojonation.com). É
a institucionalização da compra e venda de propriedade intelectual
alheia, com sede nas ilhas Cayman e tecnologia de ponta em criptografia
e dinheiro virtual.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet, editor da Widebiz
Week e moderador da lista de debates
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