Bips
Sou free demais? - Está
quente o debate sobre o acesso gratuito à Internet, que chegou ao
Brasil há poucas semanas, a bordo de empresas como IG, Super11
e outras, além dos bancos Bradesco e Unibanco. O tema foi abordado
pelo nosso colaborador Mario Persona, que pergunta se a Internet grátis,
tal como está sendo apresentada, não vai criar um sistema
de castas, em que uns preferem acesso pago mas privilegiado e outros adotam
a idéia free, mas com (muita) publicidade e congestionamentos
nas ligações. Existe também a dúvida sobre
até que ponto um provedor de acesso gratuito vai suportar os custos,
já que na comparação entre o AOL (que fatura US$ 20
per capita) e o NetZero (gratuito, que fatura apenas US$ 0.70 por usuário).
Fee ou free? - Nessa polêmica,
Victor Sebastian Reis da Silva, diretor da carioca Brazilweb Internet Solutions
Ltda., observa que os provedores de internet gratuita podem ter sucesso
no empreendimento se fizerem parceria com empresas de telefonia, que pagariam
por tempo de acesso dos usuários.
Ele não acredita que haja
ganhos importantes através da mineração do cadastro
de usuários, "pois o que mais se faz na Internet é cadastro
falso, ainda mais se não vão analisar seu crédito
nem têm que entregar nada em sua casa, nem mesmo a fatura/cobrança
usada pelos provedores normais".
Além disso, muitos usam o
sistema de user/password padrão, o que não implica nem mesmo
em cadastro. Ele mesmo já testou o IG sem ter feito efetivamente
um cadastro naquele provedor. Em sua opinião, nem mesmo a receita
com publicidade vai manter de pé os provedores gratuitos...
Gustavo Erlichman, da Netações,
pensa diferente, calculando que os custos de telecomunicações
no Brasil ainda poderão cair bastante e que outros setores (livrarias,
leilões etc.) também abrigam negócios deficitários
mas já vistos como casos de sucesso na Internet: "Imagine o poder
que ela (a Internet grátis) tem de aumentar o comércio eletrônico,
dobrar a capacidade de publicidade, quantos negocios novos poderão
surgir, etc? Projetos para levar a Internet ao público carente já
existem e a renda per capita também deixará de ser uma barreira
para que todos tenham acesso à Internet. Posso estar exagerando,
mas tenho confiança que a Internet hoje é como o telefone
de 80 anos atrás. Preciso explicar?"
Marketing? - O internauta
Tagil Oliveira Ramos tem boas histórias a respeito: "Pouca gente
sabe, mas a StarMedia estava preparando estratégia para lançar
o acesso gratuito à Internet em dezembro no Brasil. Fernando Espuelas,
o chefão do portal latino-americano, tinha acabado de cortar a fita
vermelha da inauguração da
sede da empresa em Montevidéu
e alguns altos funcionários da empresa já se debruçavam
sobre as planilhas de custo. Para bater o martelo, Espuelas tinha de obter
respostas inequívocas para algumas perguntinhas capciosas.
"Primeira pergunta: Quantos page
views extras vou ganhar com os novos usuários? Segunda: Quanto a
mais as lojas instaladas debaixo do portal vão vender? Terceira:
Se aplicasse a grana do acesso gratuito em publicidade, teria um retorno
melhor ou pior? Pelo jeito, na ponta do lápis as contas da StarMedia
não recomendavam o
negócio.
"O Itaú foi outro que cogitou
o acesso gratuito. Ao lançar a campanha Banco Digital, os
executivos também pensaram na possibilidade. O retorno, ao que parece,
também não seria tão alto, na avaliação
deles. Acho que os responsáveis pela Internet no banco se
arrependeram amargamente quando viram as ações seus principais
concorrentes, Unibanco e Bradesco, aumentarem depois desse anúncio.
"O assunto do acesso gratuito provocou
marolas no mercado. Mas não é, como querem os marketeiros
do iG, uma revolução. Nos Estados Unidos existem dezenas
de serviços gratuitos e nem por isso a AOL deixou de ganhar com
acesso. Dizer que
pretende ter 1 milhão de
assinantes em um ano é mais bravata do que realidade. Quem, em sã
consciência, cancelaria a assinatura do seu provedor de acesso para
ficar usando o serviço gratuito? Há dois dias, naveguei pelo
iG e constatei alguns
problemas bem chatinhos: as páginas
não carregavam direito e a ligação caiu uma vez em
uma hora. Tudo bem, é de graça. Ninguém garante a
qualidade do serviço.
Só para finalizar, conto o
caso de algumas empresas de lavagem automática de carro que dão
de brinde uma sacolinha para você acoplar ao câmbio. São
de muita serventia para receber papéis de bala, o maço de
cigarro amassado e até aquela latinha de refrigerante bebida enquanto
não abre o sinal verde. Cada vez que o motorista se desfaz de alguma
sujeira tem de olhar, de alguma maneira, o logotipo da empresa.
"Se o cara que imaginou essa forma
de marketing estivesse numa companhia de Internet, certamente seria um
grande defensor da idéia do acesso gratuito. Apesar da idéia
da sacolinha ser interessante, ninguém ousaria dizer que o mercado
de lavagem automática será sacudido pela proliferação
das benditas sacolinhas", completa Tagil.
Grátis é caro
- Avelar Lívio dos Santos publicou no jornal A Notícia,
de Joinville (SC) a matéria Transferência Gratificante, onde
analisa: "Com a conexão grátis, mais pessoas aderem à
rede, passam mais tempo conectadas gerando mais impulso, que tanto na Europa
como na América dos Sul se baseia no perverso sistema de multimedição
chamado Karlsson. Ao contrário dos EUA, onde se paga taxa fixa de
US$ 15,00 mensais pelo uso ilimitado em chamadas locais, na Europa e na
América Latina o telefone é um luxo.
"Bem - continua Avelar -, o daqui
está mais para lixo nuclear, já que a qualidade é
inferior mas a cobrança é altamente sofisticada. Paga-se
R$ 0,08 centavos (no horário comercial) assim que é estabelecida
a ligação e mais outro impulso a cada quatro minutos em média.
A conta vem num valor bruto e nem mesmo a operadora consegue provar quanto
exatamente você utilizou o serviço. Quanto se fala em Internet
lenta, a contagem do tempo é feita em horas e então a conta
vem ainda mais salgada."
Revanche - A mesma notícia
catarinense lembra que o presidente da Matrix, Eber Lacerda, decidiu enfrentar
a questão propondo à Anatel a antecipação da
abertura de fato do setor de telefonia, permitindo que os provedores de
Internet também possam contribuir para a livre concorrência
neste mercado.
"Se a companhias telefônicas
podem atuar disfarçadamente na provedoria de Internet, se associando
a bancos e serviços de acesso gratuito, nada mais justo que os provedores
tenham a contrapartida para atuarem também no mercado de telefonia",
argumenta Lacerda, em A Notícia. O jornal cita que a Matrix
conta hoje com know-how da associada norte-americana Primus Telecommunications,
empresa focada na transmissão de dados corporativos e operações
de telefonia em países como a Austrália e Canadá.
Lacerda quer que a Anatel inicie imediatamente um processo de mudança
da legislação em vigor, visando antecipar a abertura definitiva
do mercado de telecomunicações, prevista somente para 2002. |