A computação e o futuro
das profissões
Carlos Pimentel Mendes
Editor
Na sala
de aula de uma escola pública do Ensino Médio (antigo ginásio),
as carteiras já não têm tinteiros como no início
dos anos 60, quando as canetas Bic ainda não tinham chegado ao Brasil.
Têm computador, impressora, televisor, videocassete.
Mas, as carteiras continuam dispostas
em fila, de frente para a lousa e a mesa do professor, como que para lembrar
que o sistema de ensino ainda não superou conceitualmente a era
da Revolução Industrial. Atrás da mesa do professor,
uma super lata de lixo (com o endereço web do fabricante...) e um
cartaz sobre um curso, orientando os alunos a obterem mais informações
também pela Internet.
Essas impressões foram registradas
durante recente conversa com alunos da escola santista Primo Ferreira,
dentro do Projeto Rumos de orientação vocacional promovido
pelo Rotary Club de Santos-Porto, quando recebi a incumbência de
abordar o tema Informática. Eis um resumo da visão que procurei
passar aos estudantes. Corrijam-me, se estiver errado...
Identidade – Comecei lembrando
que meu nome, constante num histórico documento (emitido no mesmo
ano em que o primeiro satélite deu a volta à Terra transmitindo
seus bips) foi mudado há pouco mais de quatro anos para pimentel@pimentel.jor.br.
É assim que sou eletronicamente identificado, atualmente. Reflexo
de uma revolução que, no Brasil, começou efetivamente
em 1995 e, na verdade, mal começou: todas as mudanças já
havidas no comportamento social e na economia nada representam, perto do
que ainda está por vir.
No final dos anos 70, um moderno
profeta, o escritor norte-americano Alvin Toffler escreveu, entre outros,
o livro "A Terceira Onda", hoje desatualizado por não prever, por
exemplo, o fenômeno Internet, mas válido como análise
das mudanças econômicas havidas na história humana
e suas implicações.
Em resumo, a Primeira Onda foi quando
os homens, nômades como nossos índios menos aculturados, deixaram
de viver apenas do extrativismo e da caça, para se dedicarem à
Agricultura. Ao se fixarem na terra cultivada, começaram a dar valor
maior à propriedade e à família (braços para
a lavoura) - origem menor dos atuais países e suas fronteiras. Alguns
milhares de anos depois, começou no século passado o que
Toffler chamou de Segunda Onda, a Revolução Industrial.
Agora, era preciso que as escolas
formassem levas de operários para as fábricas, onde trabalhariam
horas a fio em funções bem específicas e repetitivas,
como apertar um parafuso numa peça, defronte a uma esteira rolante.
A família perdeu importância, mesmo porque, desde crianças,
as pessoas passavam até dois terços do dia nas fábricas
e o tempo em casa mal dava para descansar e se preparar para o dia seguinte.
Nos últimos anos, começou
a se espraiar pelo mundo a Terceira Onda, em que sistemas computadorizados/robóticos
substituem com vantagem a mão-de-obra humana nas fábricas.
Livres do trabalho mecânico, as pessoas se dedicariam mais ao trabalho
intelectual e ao lazer.
As fábricas automatizadas
não precisariam mais de funcionários, mas um novo entendimento
capital/trabalho teria de surgir, pois desempregado não consome,
e sem consumidor não há para quem vender o produto da fábrica,
que portanto iria à falência. França e Alemanha, por
exemplo têm experiências em que o trabalhador tem um horário
bastante reduzido, mas não perde renda por isso, podendo assim manter
seu padrão de consumo. Turismo e serviços entrariam em fase
de grande crescimento, atendendo à nova demanda.
Transição –
O escritor foi feliz em conceituar as mudanças como ondas, lembrando
que não há uniformidade no processo: um país pode
ter parte da população em cada uma dessas ondas, abrigando
desde o índio caçador e o agricultor até o industrial
e o especialista em serviços de turismo. O choque entre essas três
ondas cria uma série de conflitos. Por exemplo, fica difícil
para um empresário reduzir a jornada de trabalho dos funcionários
e manter o salário, se todos os concorrentes não fizerem
o mesmo, já que quando menor o custo do produto (e o salário
é um dos componentes desse custo), maior o seu potencial de venda.
O mesmo vale para os países: quem tiver preço menor obtém
maior fatia no comércio internacional.
Falta portanto um pacto social em
nível planetário que resolva o dilema capital/trabalho. Como
a crise está chegando ao limite de ruptura, é razoável
supor que logo haverá esse desejado pacto (como aconteceu quando
o tempo de trabalho foi reduzido para oito horas diárias, em vez
das 16 ou mais que prevaleciam no início da Revolução
Industrial).
Para complicar essa transição,
a computação cresce em importância, mais rápido
do que podemos assimilar. O supercomputador que ajudou o homem a chegar
à Lua em 1969 tem capacidade de processamento inferior ao da calculadora
que o camelô oferece hoje nas esquinas da vida. Já existem
geladeiras e fornos microondas com acesso à Internet, já
conheci há quase uma década, quando esteve em Santos, um
navio mercante dinamarquês com apenas seis tripulantes, que o controlavam
(dois marinheiros por turno, três turnos por dia) apenas com câmeras
de televisão e um joystick no lugar do timão.
Convivemos com o violento choque
entre os estilos de vida e tecnologias das três ondas evolutivas
citadas por Toffler, daí a perplexidade, a dificuldade de encontrar
rumos. Os jovens, especialmente, sentem isso na pele. Os pais, criados
na Primeira ou na Segunda Onda, defendem valores como propriedade material,
profissões sólidas. As escolas, salvo exceção,
posam de modernas com sofisticados computadores, mas mantêm um sistema
de ensino baseado em quociente de inteligência, capacidade maior
ou menor de decorar certas informações e obter um diploma
(ainda que seja colando na prova!).
Milhares de estudantes saem com um
canudo inútil na mão (quantas empresas ainda pedem realmente
que alguém apresente um diploma?) e a perspectiva de trabalhar como
lixeiros ou vigias, pois não têm experiência prática
para ingressar no mercado de trabalho...
Veja mais:
Solução
é fazer o que você gosta |