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TRILHOS (63)
A história do 38 (A)


Foto: coleção Allen Morrison

O bonde com prefixo 38 tem toda uma história, documentada com fotos, que se entrelaça com o processo de declínio e restauração desse sistema de transporte. Vamos encontrá-lo primeiro em Santos, com o prefixo original 19, em duas fotos de 13/8/1914, acima visto ao lado de um bonde com tração animal e abaixo durante a instalação da rede elétrica aérea:


Foto: coleção Allen Morrison

A foto a seguir parece ser um corte da primeira mostrada acima, já que as pessoas se encontram nas mesmas posições:


Foto: acervo de Francisco Nunes Cruz, publicada em 17 de março de 2006
na seção Imagem do Passado do jornal santista A Tribuna

Na quarta foto, o bonde 19, agora com o novo prefixo 38, circula pelo centro de Santos (Rua General Câmara, entre ruas Itororó e Augusto Severo), na depois de ser adaptado na década de 1920 como bonde fechado, apelidado de camarão devido à pintura em cor vermelha:


Foto: Memorial do Imigrante, S.Paulo/SP,
identificada pelo professor e pesquisador santista Francisco Carballa

A quinta foto, abaixo, foi tirada pelo californiano Ralph Forty na Praça da Independência, em 9/3/1970. Mostra o mesmo bonde 19 reformado e fechado (nos anos 20) com o seu novo número 38:


Foto: coleção Allen Morrison

Menos de um ano depois, em 28/2/1971, o serviço de bondes em Santos seria desativado. Alguns bondes escaparam, destinados a museus. Como registra esta notícia do antigo jornal Cidade de Santos (acervo do historiador Waldir Rueda), em 11 de outubro de 1973:

Imagem publicada com a matéria

Bonde 38, camarão, vai para um museu

O bonde de prefixo 38 - camarão - seguirá hoje para São Paulo, transportado no vagão prefixo 189216 da Fepasa - Ferrovia Paulista S.A. Ele foi doado pelo Serviço Municipal de Transportes Coletivos - SMTC - à Fundação Museu de Tecnologia de São Paulo. Ontem à tarde, ele percorreu pela última vez a Avenida Ana Costa, levado em carreta da Companhia Docas, até chegar à Estação Ferroviária.

Muita gente acompanhou o trabalho dos operários, que durou duas horas e, durante o trajeto, os motoristas mais curiosos queriam saber que onde ia o velho bonde. No pátio do SMTC, na Vila Matias, os antigos motorneiros, cobradores ou mecânicos, lembraram saudosos do tempo em que eles faziam o mesmo itinerário, embora de maneira diferente, mas estavam satisfeitos com a doação. O bonde que está em perfeito funcionamento e já faz parte do acervo do Museu, agora ficará em exposição. Outros bondes estão nas oficinas do SMTC, na Vila Matias, já doados. Irão para escolas e cidades do interior, onde poderão ser transformados, inclusive, em bibliotecas.

Crianças e funcionários da Fepasa assistiram à colocação do bonde sobre o vagão, fazendo muitos comentários. Entretanto, eles estavam contentes, "pelo menos o nosso bonde não vai ser desmanchado".

A notícia, no jornal santista A Tribuna do mesmo dia 11/10/1973:

Foto publicada com a matéria.
Reprodução de Emilio Pechini, enviada a Novo Milênio em 9/8/2006

 

O último bonde foi embora

O bonde 38, doado à Fundação de Estudos Tecnológicos, da Capital, congestionou ontem a Av. Ana Costa, quando transportado até a estação da ex-Sorocabana. Foi a última doação feita pelo SMTC, que vendeu recentemente 40 desses veículos e agora só conserva um, para o museu da autarquia. Na Prefeitura, por outro lado, prosseguem os estudos para o remanejamento dos terminais dos coletivos no centro da cidade: será a última tentativa para descongestionar a área, antes da prioridade que ônibus e tróleibus vão ganhar, e antes ainda da retirada dos carros particulares que ocupam atualmente todos os pontos possíveis para estacionamento.

O trânsito da Avenida Ana Costa ficou bloqueado, ontem, durante alguns minutos, para o transporte de um antigo bonde do SMTC. O veículo, de prefixo 38, foi doado pela autarquia à Fundação Museu de Tecnologia de São Paulo e transportado graciosamente pela Fepasa, de Santos até São Paulo, via Samaritá e Cidade Universitária.

O 38 foi o último bonde do SMTC a deixar a cidade; dos que sobraram na última venda, um vai ficar para o futuro museu de transportes, que o SMTC pretende organizar, e dois foram doados à Secretaria de Turismo, que ainda não sabe onde vai colocá-los. Junto com o bonde elétrico que a autarquia conservou para si, há outro, que deve ter sido um dos primeiros a circular em Santos, a tração animal, que recebe cuidados permanentes. Há anos, esteve em exposição no "stand" da Feimar, na Ponta da Praia, constituindo-se em grande atração.

Depois que o SMTC doou o bonde 38 à Fundação Museu de Tecnologia da Capital, chegaram muitos pedidos de doação à superintendência. Não foram atendidos porque a venda das unidades restantes já estava decidida. Dos 60 bondes que a autarquia possuía, quando o serviço foi extinto, foi vendido - há três meses - um lote com 48 unidades, já entregues aos compradores.

Mesmo bondes novos em folha, recém-saídos das oficinas, foram destruídos a machadas, junto com os demais. Uns poucos foram cedidos a parques infantis da cidade e a outras cidades, como Curitiba e Mairinque/SP. E esta foto do final da década de 1970 é de como aquela cidade paulista tratou o bonde 38 santista, visto ainda com as cores usadas no transporte coletivo santista em 1971:


Foto: Memorial do Imigrante, São Paulo/SP

O Memorial do Imigrante obteve o veículo, levou-o para a capital paulista, onde fez a recuperação, transformando-o novamente em bonde aberto, só que agora com motor a gasolina:


Foto: Memorial do Imigrante, São Paulo/SP

E é dessa forma que ele vem sendo usado, quase um século depois de sua chegada ao Brasil, para passeios em São Paulo - aqui, defronte à estação Bresser do Metrô paulistano:


Fotos acima e abaixo: Memorial do Imigrante, São Paulo/SP

Nesta foto, vista do interior do bonde, após a reforma que novamente o transformou em aberto e a gasolina:


 


Alguém imagina que acabou aí? Vejam agora a segunda parte da história...

Carlos Pimentel Mendes