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TRILHOS (52)
Ponto inicial em São Vicente

Circularam os bondes pela Rua XV de Novembro da cidade de São Vicente? A dúvida foi levantada pelos parentes do famoso pintor Benedito Calixto, que ali moraram por volta de 1930, depois que O Bonde publicou os itinerários citados no Guia Santista de 1956.

Detalhe de mapa da coleção Allen Morrison

Com a ajuda do pesquisador estadunidense Allen Morrison e do bisneto do pintor, Gilberto Calixto Rios, foram comparados mapas da época, que ajudaram a esclarecer a dúvida: o abrigo dos bondes, embora situado em um canto da Praça Barão do Rio Branco, dava fundos para a Rua XV de Novembro (não confundir com as vias homônimas existentes em Santos). Um mapa não datado, possivelmente de 1937, mostra os itinerários dos bondes e a localização do abrigo, neste detalhe selecionado:

Detalhe de mapa da coleção Allen Morrison

Gilberto Rios traçou este mapa, indicando o local da estação de bondes, na quadra (quarteirão) entre a Praça Barão do Rio Branco e a Rua XV de Novembro:

Esquema traçado por Benedito Calixto Rios

Este era o itinerário dos bondes em Santos e São Vicente, segundo o Guia Levy 1951, página 187:

Imagem: coleção Allen Morrison - EUA


Imagem: coleção Allen Morrison - EUA

 

E este é o testemunho de Paulo A.P.Modé, enviado em 26/10/2009 a Novo Milênio:

Prezado Carlos,
 
Tenho 71 anos bem vividos, e uma grande paixão por trens e bondes, para estes principalmente pelos que rodaram em Santos, até 1971. Até meus 17 anos de idade (de 1947 até 1955) nossa família, que morava na ocasião em Araraquara, tinha por habito o passar todos os meses de Janeiro em Santos/S.Vicente, onde alugávamos casa para a temporada, e meu programa após ir á praia pela manhã era passear de bonde todas as tardes.
 
Fiz isto praticamente por todas as linhas que rodavam na época nestas duas cidades. Se estivéssemos em S.Vicente, o itinerário preferido era pegar o bonde 1, ir pelo Matadouro até a Praça dos Andradas e de lá pegar os bondes 19, 29, ou ir até a Praça Mauá e tomar os bondes 9- Paquetá, 5 - Macuco e outros, ou voltar pelos bondes 2, 22. Se estivéssemos morando no José Menino, a pedida era os bondes 3, ou 32, etc.
 
Por este aspecto não resisti e verifiquei neste final de semana, por uma dica do Allen Morrison, seu site O Bonde, espetacular diga-se de passagem, e que me trouxe ótimas lembranças do passado . Porem, ao correr pelo link "Trilhos", vi que no item 52 ( Ponto Inicial em S. Vicente) algumas duvidas sobre se os bondes passavam ou não pela Rua XV de Novembro, e fatos não completos sobre a Estação dos Bondes ao lado da Pça. Barão do Rio Branco. Assim, tomo a liberdade de esclarecê-lo sobre o que realmente ocorreu nesta área.
 
Até pelo menos 1954 aproximadamente, esta Estação de Bondes existiu, e era realmente uma sub-estação retificadora que convertia a Corrente Alternada de 600V em Corrente Continua, que alimentava a Rede Aérea dos bondes. Da plataforma desta estação, que ficava do lado da Rua Frei Gaspar (há uma foto neste link tirada desta rua, e que mostra a plataforma), via-se os retificadores de Mercúrio, através de janelas fechadas de vidro. Antes da Plataforma, do lado da Rua Jacó Emmerich e por onde os bondes entravam, havia um galpão coberto onde os reboques dos bondes da Linha 1, que eram reboques grandes de 02 truques (series 241 a 259), ficavam no intervalo dos horários de rush. Nestes horários os bondes 1 circulavam sem estes reboques.
 
Enquanto a Estação existiu e foi usada como ponto final das linhas 1, 13 e 22 ( a linha 2 tinha o ponto final no Tumiaru), os itinerários em S. Vicente eram;
 
- Linha 1: Vinha da Pça. Coronel Lopes pela rua Martim Afonso, Pça. Barão do Rio Branco, entrava à direita na Jacó Emmerich, entrava na Estação. Desta, saia pela Frei Gaspar, virava à esquerda na Martim Afonso, Pça. Cel. Lopes e seguia pela Antonio Emmerich para o Matadouro.
 
- Linhas 22 e 13: Vinham da Praia pela Frei Gaspar, entravam à esquerda na Martim Afonso, Pça. Barão do Rio Branco, entravam à direita na Jacó Emmerich, entravam na Estação, saiam pela Frei Gaspar direto até a praia do Gonzaguinha, e de lá seguiam pela praia até o Itararé, etc.
 
- Linha 2: Vinha da praia pela Frei Gaspar, entrava à esquerda na Martim Afonso, Pça. Barão do Rio Branco, seguia pela Martim Afonso até a Praça da Biquinha (tangenciava esta praça), passava pelo Mercado Municipal e ia até o Tumiaru. Na volta, pelo mesmo caminho, saiam da Martim Afonso à esquerda na Jacó Emmerich, entravam na Estação, saiam à direita na Frei Gaspar direto até o Gonzaguinha.
 
Apos o fechamento da Estação de bondes (acredito que foi por volta de 1960), os itinerários nesta região mudaram e muito, a saber;
 
- Foi construído um prolongamento dos trilhos pela Frei Gaspar entrando à esquerda na Rua XV de Novembro, seguindo por esta (uma quadra somente) até a Jacó Emmerich, entrando à esquerda nesta e juntando-se a linha antiga onde esta entrava na Estação. Um Ponto Final foi estabelecido no meio da quadra na XV de Novembro.
 
Os itinerários dos bondes passaram a ser invertidos, como segue;
 
-Linha 1: Vinha da Pça. Cel Lopes pela Martim Afonso, entrava à direita pela Frei Gaspar, à esquerda na XV de Novembro, à esquerda na Jacó Emmerich, esquerda na Martim Afonso e seguindo até a Pça. Cel. Lopes passando pela Pça. Barão do Rio Branco, e seguindo para o Matadouro.
 
Linhas 13 e 22: Vinham pela Frei Gaspar, à esquerda na XV de Novembro, esquerda na Jacó Emmerich, esquerda na Martim Afonso, à direita na Frei Gaspar até o Gonzaguinha.
 
Linha 2: Vinha pela Frei Gaspar, à esquerda na XV de Novembro, esquerda na Jacó Emmerich, direita na Martim Afonso até a Pça. da Biquinha, e até o Tumiaru. Na volta, vinha pela Martim Afonso, passava também pela Pça. Barão do Rio Branco e à direita na Frei Gaspar, até o Gonzaguinha.
 
Vê-se que o movimento dos bondes, que era no sentido horário quando existia a Estação dos Bondes, passou a ser anti-horário quando esta foi fechada.
 
Esta informação é absolutamente real e fidedigna, pois vivenciei toda esta fase de mudanças em S. Vicente.
 
Um abraço,
 
Paulo A.P. Modé
Rua Prof. Atilio Innocenti 747- Vila Olimpia-
       CEP-04538-001- São Paulo
 
e-mail  mode@eldoradonet.com.br

P.S.: no pequeno mapa esquemático que está desenhado (Trajeto dos bondes no Centro de SV), a linha azul que mostra o roteiro dos bondes está interrompida na Rua Martim Afonso exatamente na Praça Barão do Rio Branco; ela deve ser continua, pois os trilhos vinham desde a Praça Coronel Lopes até a Praça da Biquinha, onde os bondes da linha 2 viravam à direita rumando para o Tumiaru. Veja que nos itinerários impressos (acredito que tenham vindo do Guia Levi, ou similar) (N.E.: sim, são do Guia Levy 1951, como citado acima das imagens), que para os bondes 1 e 13 a seqüência mostra: Rua Martim Afonso-Jacob Emmerich-Estação. Por toda a epoca em que vivenciei, os bondes sempre entraram na Estação vindos da Rua Jacob Emmerich e saindo pela Frei Gaspar. A linha de bonde na estação era singela, não permitindo cruzamentos. O Mapa "Centro de S.Vicente", da coleção Allen Morrison está correto. Veja que a linha dos bondes passa pela Barão do Rio Branco.

Esta foto mostra o polêmico abrigo de bondes que existiu na Praça Barão do Rio Branco, em São Vicente.
 
 
 
 
 
 

Veja, agora, o retorno à circulação do bonde fechado 40, o "camarão"...

Carlos Pimentel Mendes