O hangar do navio-aeródromo São Paulo tem capacidade para 33 aviões, além de
helicópteros
Foto: Raimundo Rosa, publicada com a matéria, na página A-1
Turistas trocam passeio na praia por visita a porta-aviões
Centenas de turistas decidiram ontem trocar a praia por uma visita ao porta-aviões São Paulo, da Marinha do Brasil. No começo da tarde de ontem, era grande a expectativa das pessoas na
fila, que se estendia por mais de um quilômetro. Todos queriam conhecer de perto a embarcação de 267 metros de comprimento, que tem capacidade para abrigar 33 aviões e helicópteros no hangar. O horário da visita é das 13 às 18 horas.
Com 267 metros de comprimento, o navio-aeródromo São Paulo, da Marinha do Brasil,
chegou na última sexta-feira ao Porto de Santos, para sua terceira escala no complexo marítimo, e deve partir amanhã
Foto: Raimundo Rosa, publicada com a matéria, na página C-6
Rara oportunidade no Porto de Santos
População tem até hoje para visitar o porta-aviões São Paulo, o único da América Latina, atracado no cais entre os armazéns 30 e 31
Eduardo Brandão
Da Redação
A expectativa dos primeiros ocupantes da fila, que se estendia, no começo da tarde de ontem, por mais de um quilômetro, só não era maior
que os 267 metros de comprimento do porta-aviões São Paulo (NAe A-12). A curiosidade não é para menos: a verdadeira cidade sobre as águas, que pertence desde 2000 à Marinha do Brasil, é um dos 20 navios-aeródromos a navegar pelo mundo.
E somente dez nações contam com este tipo de embarcação em suas Forças Armadas. O Brasil é o único país da América Latina a possuir um porta-aviões.
A embarcação responsável pela defesa da costa nacional, que há nove anos não escalava em Santos, continua aberta à visitação pública até hoje, das 13 às 18 horas, atracada no cais dos armazéns 30 e 31, no Porto de Santos. A entrada é franca.
"É uma oportunidade rara. É única", destacou o químico aposentado José Chisté, um dos primeiros a garantir a visita gratuita pelos hangares (local onde ficam as aeronaves) e pelos cerca de 260 metros de pista de voo. O acesso ao convés da maior
embarcação deste tipo no Hemisfério Sul é feito pelos próprios elevadores que levam os aviões à pista de decolagem.
"Tenho paixão por aviões e navios desde a infância. Afinal, qual criança não gosta?", indagou o aposentado. De embarcações da Marinha, ele recorda ter visitado a todas que ancoraram no cais santista. "Vim até quando o navio-escola dos Estados
Unidos aportou em Santos. Uma pena não ter sido permitida a visita naquele dia".
O passeio pela embarcação, cujos geradores elétricos podem suprir o abastecimento de uma cidade com até 18 mil habitantes, roubou das praias centenas de turistas, na tarde nublada de ontem. Entre eles, estava a família do técnico de aviação Paulo
Jordão. Morador da Capital, ele trocou o tradicional banho de mar dos finais de semana pela visita monitorada ao convés do São Paulo. "Vi na TV e não pensei duas vezes. Todos na família quisemos vir. A praia ficou para segundo plano",
comentou.
Sanar a curiosidade originada de documentários televisivos também motivou a recepcionista Maria Gisleane de Souza ir ao cais santista. "Imaginei que fosse grande, mas de perto é maior que eu poderia supor".
Visitantes chegam ao convés utilizando o elevador das aeronaves, que os suspende a partir
do hangar
Foto: Raimundo Rosa, publicada com a matéria, na página C-6
Números – Os números do São Paulo impressionam, assim como a capacidade de seu hangar, que comporta até 33 aviões de asa fixa (caça) e helicópteros.
Segunda unidade deste tipo a compor a defesa nacional (o primeiro era o Minas Gerais, desativado em 2001), ele foi adquirido da Marinha Francesa em 2000, por US$ 12 milhões (cerca de R$ 21,4
milhões na cotação atual).
Diariamente, são servidas mais de 6.000 refeições, o suficiente para alimentar os 1.600 homens a bordo. A embarcação tem 15 conveses (andares), com mais de 1.800 compartimentos.
O porta-aviões tem um calado de 9,53 metros. A velocidade máxima atinge 32 nós (54 km/h), tendo caldeiras e turbinas como sistemas de propulsão.
Também estão em exposição aparelhos do navio e aeronaves
Foto: Raimundo Rosa, publicada com a matéria, na página C-6
Visitantes conhecerão novo São Paulo
O retorno definitivo do porta-aviões São Paulo ao mar, no ano passado, e ao Porto de Santos, na última sexta-feira, devolve o navio a seu habitat natural e, ao povo brasileiro, um dos seus
principais patrimônios.
"Costumo dizer que o São Paulo é uma sociedade anônima com 190 milhões de ações, porque cada brasileiro, independentemente de cor, sexo ou religião, tem uma ação. Aqueles que visitarem o navio
poderão conferir como a Marinha emprega o dinheiro do povo brasileiro, com carinho e dedicação disse o comandante do São Paulo, o capitão-de-mar-e-guerra José Renato de Oliveira.
As pessoas que forem conhecer o porta-aviões no complexo santista serão duas vezes privilegiadas. Além de serem as primeiras a visitar esse grande patrimônio da Marinha em seu retorno à atividade,
serão as primeiras a conferir a nova fase do navio, totalmente revitalizado.
É em Santos que o São Paulo retoma sua fase operativa (foi também no Porto que ele passou a fazer parte da Armada, em 2001). Nesse processo de modernização, o Brasil foi novamente valorizado,
pois o aeródromo passou a utilizar tecnologia nacional. Comprada da França em 2000, a embarcação contou, até 2005, com sistemas operacionais francesa bordo.
"Entre as mudanças feitas, está o sistema de dados táticos, que era uma coisa antiga francesa e foi totalmente nacionalizado. Ele é utilizado no centro de operações de combate do navio, que é
considerado o centro nervoso do porta-aviões, onde é possível ter uma noção geral do que está acontecendo no navio", explicou o comandante.
Segundo o oficial, a escolha da tecnologia brasileira facilita e agiliza a manutenção do navio. "Antes, para fazermos alguns ajustes, tínhamos que pedir o auxílio dos franceses, pois a tecnologia era
deles. Com o tempo, isso diminuiu cada vez mais, garantindo rapidez de reparos. Ficou muito mais simples do que era antes".
Com as mudanças, a previsão é que o São Paulo continue operando até 2025. Já no próximo ano, a Marinha espera poder atuar com o porta-aviões com 30 aeronaves a bordo, sua capacidade máxima.
Patrimônio nacional |
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"O São Paulo é uma sociedade anônima com 190 milhões de ações, porque cada brasileiro tem uma ação" |
Capitão-de-mar-e-guerra José Renato de Oliveira,
comandante do São Paulo |
Foto: Raimundo Rosa, publicada com a matéria, na página C-6 |