Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0441a.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 10/06/11 11:50:26
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - EROSÃO NAS PRAIAS
Areia se move... para onde?

Leva para a página anterior

É a pergunta que se fazem os especialistas em hidrologia e na área ambiental, observando que nas praias santistas e regionais a areia vai desaparecendo de uns pontos e se acumulando em outros. Esta matéria foi publicada no jornal santista A Tribuna, página A-6 da edição de 24 de julho de 2011:

Imagem: reprodução parcial da matéria

Onde foi parar a areia que estava bem aqui?

Em menos de meio século, trecho da Ponta da Praia encolhe cerca de 60 metros

Eduardo Brandão

Da Redação

A força da maré arrasta, lentamente, partículas ao longo do leito de curso da água. Este ciclo natural, que pode levar milênios, está cada vez mais veloz no já estreito trecho de areia da Ponta da Praia. Com base em fotos antigas, especialistas apontam que o trecho encolheu cerca de 60 metros em menos de meio século.

Ações humanas e mudanças climáticas, no entanto, são apontadas como agentes que aceleram drasticamente o desaparecimento do trecho. "O ritmo de redução da faixa de areia (na Ponta da Praia) é muito grave", alerta a oceanógrafa do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), Mariângela Barros.

Desde 2007, a especialista monitora uma área da orla próximo ao Aquário Municipal e chegou a um triste posicionamento: em poucos anos o trecho poderá sumir. "Temos visto, nos últimos anos, a intensificação da erosão. Algo tem que ser feito. E urgente", frisa.

Mariângela explica que fatores naturais, acelerados com a ação humana, carregam com mais força segmentos daquele trecho de areia. "As praias próximas a portos tendem a sumir", pontua. "Este fenômeno ocorre em toda a costa brasileira e mundial".

As causas do fenômeno são estudadas. No entanto, pesquisadores apontam provável relação com as atividades portuárias. "As grandes embarcações provocam ondas mais fortes, que, por sua vez, carregam maior número de sedimentos", explica a oceanógrafa.

As ações de dragagem do canal do Estuário também são listadas como possíveis agentes causadores da redução. Assim opina o oceanógrafo André Luiz Belém.

Para ele, os efeitos do aprofundamento do canal sobre a força e a intensidades das ondas são uma "conseqüência física", que não podem ser desconsideradas. Estas ações, por sua vez, acentuaram o volume de areia carregada com a força da maré na Ponta da Praia.

Erosão – O primeiro poste da Ponta da Praia ajuda a exemplificar o atual estágio de avanço do mar. Quando foi edificada, a base de sustentação estava enterrada três metros abaixo do nível de areia e iluminava uma área superior a 30 metros.

Hoje, conforme afirma o secretário municipal de Serviços Públicos, Carlos Alberto Tavares Russo, a edificação está enterrada a menos de 50 centímetros. A força das ondas e a fuga acentuada de areia alienaram a edificação, que deverá ser retirada em cerca de 60 dias. "O equipamento está enterrado a menos de 50 centímetros e a água já o inclinou", cita o titular da pasta.

As duas caixas de contenção de água salgada também dão sinais claros do tamanho do solapamento. "Elas ficavam com a boca no nível da areia. Agora, estão na água e com 1,5 metro para fora", diz o secretário.

Marcas na calçada e na escadaria próxima ao Aquário Municipal dão um panorama da gravidade do problema. Antes niveladas, agora estão a uma distância superior a 50 centímetros da faixa de areia. "Colocamos mais três degraus e precisamos colocar mais", resume Russo.

Próximas praias – E os estragos podem se agravar ainda mais." Tememos pelo desaparecimento da Ponta da Praia. Isso não é mais um temor, é uma realidade cada vez mais visível", cita Mariângela.

A pesquisadora afirma que, aos poucos, os trechos de orla mais próximos à Ponta da Praia tenderão a reduzir. "Em curto prazo, a erosão irá acentuar até atingir o Canal 4 com mais intensidade".

A migração do fenômeno deverá estancar, nas atuais ações naturais e humanas, na região central da orla, na faixa da Praia do Gonzaga. Naquele local está concentrado o maior número de sedimentos levados da Ponta da Praia pela maré.

"Costumo brincar que, se fosse para comprar um apartamento em frente ao mar, o Gonzaga é a melhor opção. Pois não vai sumir", diz Mariângela.

PORTO
6 metros – já foi a profundidade do Porto de Santos
17 metros – é a profundidade projetada para o canal do Estuário com as obras de dragagem
 

Prefeitura realiza a terceira ação paliativa

O ritmo de redução da faixa de areia coloca em risco a calçada e a avenida da Ponta da Praia. Para conter a onda de destruição com o solapamento, a Secretaria de Serviços Públicos (Seserp) iniciou nesta semana ações paliativas em um trecho de 100 metros próximo ao Aquário Municipal.

De acordo com o titular da pasta, Carlos Alberto Russo, esta já é a terceira ação naquele trecho em menos de um ano. "É o tipo de trabalho que precisará ser feito sempre", relata.

Para reduzir o impacto das ondas, técnicos da secretaria cavam um dique com três metros de extensão e de profundidade. Este vão será preenchido de rochas e, posteriormente, revestido com areia. "Com o tempo, esta cama de proteção se acomoda, sendo necessária uma nova camada", diz Russo.

A técnica chamada enrocamento será realizada em uma área de aproximadamente 100 metros (entre a segunda e a terceira torre de iluminação). Uma manta de metal sobre as pedras vai ser usada para impedir a fuga acentuada de areia.

Russo destaca que este obstáculo tem duas funções: evitar a perda gradativa da faixa de areia e proteger as áreas urbanizadas próximas à beira-mar. "Já está solapando por baixo da calçada, colocando em risco, inclusive, a caixa de água do Aquário", diz.

O representante da administração santista frisa ainda que estes procedimentos possuem caráter provisório.

"Só faremos um plano definitivo quando tivermos o estudo sobre a questão, que está sendo realizado pela Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo)", resume.

FENÔMENO

"As praias próximas a portos tendem a sumir. Este fenômeno ocorre em toda a costa brasileira e mundial".

Mariângela Barros, oceanógrafa do Unimonte

Ações para minimizar o problema

Reduzir a velocidade e a força de impacto das ondas são os desafios apontados por especialistas para evitar a erosão na Ponta da Praia. Além das ações paliativas no trecho de areia, também serão necessárias intervenções na água.

Algumas soluções de engenharia aplicadas em praias que passaram por processo de perda de sedimentos podem ser utilizadas no trecho final da orla santista.

Mariângela indica a construção de estruturas paralelas à linha da costa. "Estas edificações ajudariam a amortecer o impacto da onda. Assim, (a onda) bateria com menor energia", aponta.

Ela explica ainda que qualquer obstáculo entre o mar e a faixa de areia evita a fuga de sedimentos. "No Japão, embarcações antigas são deixadas à deriva para que a energia das ondas seja reduzida".

Com estas ações, a especialista acredita que os impactos na faixa de areia poderão ser minimizados. "Com a edificação do Emissário Submarino, verificou-se o acúmulo de sedimentos próximos àquela área", explica.

 

Dragagem é apontada como causa

A dragagem do canal do Estuário, técnica usada para aumentar a profundidade do leito navegável do Porto de Santos, é apontada como a hipótese para o encolhimento da faixa de areia na Ponta da Praia. "É algo físico. Tem-se um solo muito estável, cava-se em um local e em outro há o desmoronamento, afirma Russo.

Para a oceanógrafa, os efeitos da dragagem ainda precisam de estudos mais complexos para serem medidos com maior precisão. "O que não pode, também, é impedir o processo de dragagem que vai dinamizar o maior porto da América Latina".

Embora ainda sem dados técnicos que comprovem uma relação de causa e efeito, a erosão na Ponta da Praia cresceu ao mesmo passo que começaram a ser desenvolvidas ações no canal do Estuário.

"A profundidade do Porto de Santos já foi de seis metros. Hoje, os trabalhos estão sendo realizados para que atinja 17 metros, além de se alargar anda mais", destaca Russo.

Em nota, a assessoria de imprensa da Codesp afirma que é precipitado estabelecer uma correlação entre erosão na Ponta da Praia  e dragagem "unicamente baseada em conceitos e fórmulas gerais, sem que sejam obtidos dados de campo e celebrados estudos mais aprofundados".

Além disso, a empresa propôs um programa para analisar prováveis modificações na dinâmica sedimentar das praias.

Especialista – Esta ação foi baseada em estudos de uma das maiores especialistas dessa área no Brasil, a  pesquisadora do Instituto Geológico do Estado de São Paulo (IG), Célia Regina de Gouveia Souza.

A pesquisadora é responsável pelos principais estudos sobre o avanço da maré no litoral paulista. A conclusão deste trabalho, realizado no final da década de 1990, apontou a ocupação desordenada da costa, a retirada de areia e aquecimento do planeta como as causas mais prováveis do fenômeno.

A Codesp finaliza, ainda, um amplo estudo técnico sobre os reflexos da dragagem nas praias da região.

O laudo está previsto para ser finalizado em setembro. Com base neste documento, a administração santista deverá desenvolver uma ação efetiva a fim de evitar a perda de faixa de areia.

Trabalhos são realizados num trecho de 100 metros próximo ao Aquário Municipal,

 na Ponta da Praia

Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria

Secretaria de Meio-Ambiente faz alerta

O avanço do mar e a perda acentuada da faixa de areia na Ponta da Praia acende o "sinal amarelo" da Secretaria Municipal de Meio-Ambiente (Semam). "Percebemos que os sedimentos levados são realocados na própria baía", cita o titular da pasta, Fábio Alexandre de Araújo Nunes.

Este material deslocado, conforme destaca o secretário, contribui para o engordamento da faixa de areia entre a Avenida Conselheiro Nébias e o Emissário Submarino. "O que é necessário saber é quanto de areia escorregou", cita.

A variação da maré também foi citada pelo titular da pasta como uma das razões da perda de areia. "Tivemos um mini-tsunami, em 2005, que resultou em fuga grande de sedimentos".

Ele ressalta ainda que as ressacas, típicas das estações mais frias do ano, também acelerariam este processo.

No entanto, Fabião afirma que é necessário aguardar o término da dragagem para avaliar os eventuais danos. "Não tem como (a Codesp) mascarar os dados. Será analisado como era antes (da dragagem) e como ficou ao final", explica.

O representante da administração relata ainda que "continua em diálogo" com representantes da Codesp.

"Vivemos na era da co-responsabilidade. Não há uma só causa, são 'n' variáveis. Mas iremos encontrar uma solução", diz.

Base de poste: 50 centímetros abaixo da areia. Antes eram 3 metros

Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria

Leva para a página seguinte da série