HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
- Crônica policial - 12
Passando nos cobres
Dois golpes no comércio, com 21 anos de intervalo
Os espertalhões e oportunistas sempre
existiram, e o comércio é uma de suas vítimas preferidas, através das décadas. Assim é que, entre estes dois episódios, há 21 anos de diferença.
Registros feitos pelo jornal santista A
Tribuna, em 30 de janeiro de 1920 (página 2 - exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda -
ortografia atualizada nesta transcrição):
Imagem: reprodução parcial da matéria original
Uma casa comercial vítima de um espertalhão
O indivíduo José Augusto
fora, há tempos, empregado da sra. Mary Schmidt. Sabedor de que essa senhora tinha por hábito fazer compras na Casa Viriato Corrêa, e como
necessitasse de dinheiro, engendrou um plano para adquiri-lo, não sendo, porém, feliz nessa sua audaciosa tentativa.
José Augusto, que é um indivíduo de péssimos costumes, muito conhecido da polícia, telefonou para
a Casa Viriato, solicitando, em nome de d. Mary Schmidt, a remessa de latas de óleo e alvaiade, para a Praia José Menino n. 170, residência de d.
Mary. O espertalhão, sabendo que a sua ex-patroa não mais residia no prédio acima citado, visto este achar-se presentemente desabitado, apressou-se
em ficar no portão, para aí aguardar as mercadorias pedidas.
O portador da Casa Viriato Corrêa não se fez demorar, levando consigo as encomendas solicitadas.
José Augusto, de posse das mercadorias, procurou imediatamente passá-las a cobre, e sem muito
esforço conseguiu desvencilhar-se das mesmas, vendendo-as ao sr. Faustino Ribeiro Leite, estabelecido com casa de móveis à Rua Itororó, esquina da
Rua do Rosário, pela importância de 20$000.
Tentando, ontem, o audacioso larápio reproduzir a façanha, o sr. Viriato Corrêa, que desconfiou
estar sendo vítima de um conto do vigário, telefonou para a residência de d. Mary à Praia José Menino 170, e como nesta cada não existisse mais
aparelho, mandou um seu empregado à residência da antiga freguesa, ficando então constatado que d. Mary não mais residia no prédio em questão.
Convencido o sr. Viriato de que tinha sido vítima de uma esperteza, compareceu à polícia e
apresentou a respeito a sua necessária queixa.
A polícia pôs-se logo em campo, conseguindo, por intermédio do inspetor Pontes, prender José
Augusto, que, cinicamente, confessou o roubo praticado.
A importância das mercadorias roubadas monta a 88$000. |
Já esta notícia foi publicada pelo jornal santista
O Diário, em uma terça-feira, 22 de julho de 1941 (página 5 - exemplar no acervo do
historiador Waldir Rueda - ortografia atualizada nesta transcrição):
Imagem: reprodução parcial da matéria original
Até a máquina do patrão o Jorge Arnaldo empenhou
Gastou todo o dinheiro em farras e foi dar com os costados no xadrez
O sr. Arari Peniche,
estabelecido à Praça da República nº 38 com indústria de reparo de sacaria, a 23 de abril do corrente ano procurou o dr. Marcondes de Camargo, 2º
delegado de polícia, a quem apresentou queixa de haver sido furtado em uma máquina técnica de serzir, marca Singer, 1 embreagem, 2 lançadeiras e 2
alicates.
Aquela autoridade determinou que imediatas investigações fossem levadas a efeito, mas o caso
permanecia até agora sem esclarecimento, quando os inspetores Benedito Lopes e João de Lima conseguiram esclarecê-lo devidamente.
Era empregado de confiança - O sr. Arari tinha como empregado o mecânico Jorge Arnaldo
Medeiros FIlho, brasileiro, casado, de 34 anos de idade, morador à Rua João Caetano nº 57, o qual conseguira conquistar a máxima confiança de seus
chefes.
Todo o serviço de reparo de máquinas que não podia ser feito por ele naquele estabelecimento,
era-lhe confiado para que o fizesse realizar na oficina de Camilo Bertuzzo, instalada à Rua Marquês do Herval n. 6, onde sempre existiam algumas
máquinas em reparo e que só eram entregues a Jorge Arnaldo quando já em condições de voltar à atividade.
Penhorou o que não lhe pertencia - No dia 21 de abril, estando sem dinheiro, Jorge Arnaldo
foi à oficina que fazia o reparo das máquinas de propriedade de seu patrão e, alegando precisar experimentar uma nova costureira, conseguiu retirar
uma das máquinas.
Não a levou, entretanto, para o estabelecimento de Arari Peniche, mas sim
para a oficina A Mecânica, de propriedade de Francisco Mota e instalada à Rua Amador Bueno n. 40, onde penhorou por 200$000. Passou a noite na farra
e no dia imediato foi trabalhar sem haver dormido.
Jorge Arnaldo Medeiros Filho, o larápio
Foto e legenda publicadas com a matéria
Nova penhora de objetos subtraídos -
Aconteceu que, naquele dia, nova máquina ficou paralisada na casa para a qual trabalhava Jorge Arnaldo, sendo este chamado a intervir. A mesma
precisava de duas lançadeiras, além de uma embreagem.
Arnaldo saiu com dois alicates, de que se utilizara para seu serviço, e foi à Casa Singer, onde
comprou as duas lançadeiras por 75$ cada uma.
Não mais voltou, entretanto, ao emprego, dirigindo-se novamente à A Mecânica, onde as penhorou por
100$000. Seguiu para o Rio e ali permaneceu por algum tempo.
Regressando agora a pé, segundo alega, ficou na Pensão Napolitana, à Avenida Presidente Wilson n.
45, onde furtou de Alzemiro dos Santos, ali empregado, um terno de casimira azul marinho, 35$000 em dinheiro e vários documentos, tendo sido,
finalmente, preso pelos inspetores Benedito Lopes da Silva e João de Lima.
O inquérito instaurado a respeito prossegue no cartório da 2ª Delegacia, sob a presidência
do dr. Marcondes de Camargo. |
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