Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0376.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/22/07 20:17:41
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Quando o câmbio era feito nos botequins...

Esta curiosa notícia foi publicada no jornal santista A Tribuna, em 11 de abril de 1952:


Trecho da matéria original

Só nos botequins e na beira de cais se faz câmbio de moedas estrangeiras
Um obstáculo intransponível ao fomento do turismo no país - Dificuldades que provocam o aviltamento da nossa moeda no estrangeiro - Medidas tardias demais

Fala-se muito em turismo no Brasil, ultimamente. Fala-se, porém, inutilmente, pois todos sabem que não dispomos de nenhum dos elementos fundamentais para fomentar essa fonte de renda, que é a base da economia de muitos países, pelo carreamento de robusto caudal de divisas estrangeiras, e pelo movimento extraordinário que imprime a diversos setores de atividade interna. Os obstáculos que se opõem ao turismo no Brasil são de várias espécies, e no momento, o maior deles depende de medidas tomadas pelo próprio governo, a começar pelo câmbio.

Atualmente, o turista encontra as maiores dificuldades em adquirir moeda brasileira a preço razoável, que lhe torne acessível a visita ao nosso país e a sua permanência entre nós por espaço de tempo suficiente para visitar tudo o que de belo e atraente temos para lhe mostrar.

Só milionários podem dar-se a esse luxo e milionários é casta que escasseia sobre a Terra. A classe média de outros países não pode visitar o Brasil. O preço oficial de nossa moeda está em pleno desacordo com o custo da vida. Não nos cabe discutir a razão ou as vantagens resultantes de nossa política cambial, mas a verdade é que todos sabem que quem tem dólares, não vai vendê-los a Cr$ 18,75, sabendo que pode negociá-los no "câmbio negro" a 30 ou 32. O mesmo se dá com as demais moedas. Por esse motivo, escasseiam as moedas estrangeiras nas casas de câmbio, porque as mesmas não se atrevem a pagá-las acima da taxa oficial, receosas da aplicação das pesadas sanções previstas em lei para tais casos.

Somente nos botequins ou na beira de cais - Há dias, desejamos comprar alguns escudos, para entregar a quatro menores clandestinos que estiveram durante alguns dias detidos na Polícia Marítima, e que tiveram de ser recambiados para sua terra, S. Vicente de Cabo Verde. Não o conseguimos e, pelas explicações que obtivemos, a respeito da situação, viemos a deduzir que só se podem comprar moedas estrangeiras, atualmente, no Brasil, nos botequins e entre pessoas suspeitas da beira de cais.

Só no "mercado negro", excessivamente negro, aliás, é que se podem fazer tais operações. Podem-se alegar as razões que quiserem, mas ninguém nos poderá convencer de que isto não é uma situação deplorável, vexatória e prejudicial aos interesses da nação.

Em tais condições, o turista, que não conhece, nem certamente pretende entrar nos antros onde tais negócios são feitos, nem mesmo deseja assinalar seu contato com a nossa terra por meio de atos ilegais, limita-se a passar em cidades brasileiras o menor tempo possível.

Ainda recentemente, essa situação ficou devidamente posta a relevo, por ocasião do Carnaval, quando os turistas que em grande número visitaram o Rio de Janeiro se viram nas maiores dificuldades, por falta de meios para adquirir moeda nacional.

Isto para quem visita o Brasil. Aqueles, entretanto, que desejam deixar o país, a negócios ou a passeio, encontram-se ainda em maiores dificuldades e sofrem ainda maior prejuízo. Nas praças estrangeiras, sabendo a nossa situação em relação ao comércio de moedas, e tendo conhecimento de que nem o próprio Banco do Brasil fornece câmbio, a não ser em casos muito excepcionais, os que se entregam a esse ramo de negócio procuram tirar o máximo partido possível da situação, pagando preços aviltantes pelo cruzeiro.

Evidentemente, assim procedendo, não estamos defendendo nem a estabilidade da nossa moeda, nem os créditos do país e muito menos nos cabe o direito de falar em estimular turismo no Brasil.



Eis aqui duas cédulas, das quatro únicas moedas conversíveis. A sua aquisição, no Brasil, só pode ser feita nos botequins ou com especuladores de beira de cais, pelo dobro da taxa oficial
Fotos e legenda publicadas com a matéria original (cor acrescentada por Novo Milênio)

Qualquer providência tarda muito - Ultimamente, têm-se praticado uma série de erros, que agora se procura corrigir. Estamos informados de que está sendo elaborado um plano referente ao assunto, para ser apresentado ao Congresso, e transformado em lei que atenda às necessidades e exigências, dando a maior amplitude possível ao setor câmbio, sem prejudicar os interesses da nação.

Esperamos confiantes, pois sabemos que técnicos autorizados no assunto estão empenhados em colaborar na elaboração desse plano. Tudo, entretanto, é feito muito lentamente. Há que considerar ainda a demora, as marchas e contra-marchas que o projeto sofrerá depois nas duas Câmaras legislativas.

Sem pôr de lado esse plano, que se afirma prever todas as hipóteses e salvaguardar os interesses gerais, não haveria um processo mais rápido de atenuar as dificuldades presentes?

Por que a verdade é que estamos atravessando um período simplesmente vexatório e deprimente, sem considerar os prejuízos que ocasiona para o país, enriquecendo um grupo de audaciosos traficantes de "mercado negro" da moeda, a salvo de qualquer repressão, sem pagarem taxas cambiais, imposto de renda, ou qualquer outro tributo. Verdadeiros privilegiados, favorecidos pela situação criada pela falta de visão, de energia e de esclarecimento das autoridades competentes.

QR Code - Clique na imagem para ampliá-la.

QR Code. Use.

Saiba mais