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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - PESCA
Pesca santista... profissional (3)

Embora sendo uma das mais antigas atividades humanas, a pesca pouco se profissionalizou em meio milênio na Baixada Santista
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Registrada na região há mais de cinco mil anos - através dos sambaquis ainda preservados -, e praticada largamente pelos indígenas, a atividade pesqueira continuou artesanal mesmo com a chegada dos europeus. A caça às baleias existiu em Bertioga e foi tema de um estudo de José Bonifácio de Andrada e Silva, apresentado na Europa no século XIX, mas depois rareou até desaparecer, por volta de 1830. Restou a pesca propriamente dita, sempre em pequenos barcos, raros em caráter profissional.

Uma das empresas mais importantes nessa atividade, a Cooperataiva Mista de Pesca Nipo-Brasileira, foi destacada em anúncio de página inteira no caderno especial de 75º aniversário do jornal santista A Tribuna, em 26 de março de 1969 (acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP):


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Nipo-Brasileira - quem mais entende de pesca

Quando A Tribuna completa 75 anos de existência, dois terços da frota pesqueira paulista comparecem, reunidos na Cooperativa Mista de Pesca Nipo-Brasileira, para a merecida saudação. São proprietários e pescadores de 189 embarcações, responsáveis por mais de NCr$ 25 milhões de comercializações de pescado nos últimos três anos, dos quais sete para o Exterior. São um punhado de homens que em 16 anos de trabalho incansável se transformaram na maior organização pesqueira do País, com mais de NCr$ 10 milhões de patrimônio, gabarito internacional, padrão de qualidade indiscutível e um grande futuro pela frente. É a Cooperativa Mista de Pesca.


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Estes nomes fundaram há 16 anos a Cooperativa Mista de Pesca Nipo-Brasileira:

José Augusto Alves
Agostinho Rodrigues Filho
Takao Harada Macoka
Paulo Obya
Shikazo Nakai
Shiguejiro Nakai
Jutaro Nakai
Harayuki Akama
José Shiraki
Toshiji Nakai
Shigueo Nakai
Nelson Shiraki
Sanriyo Suzuki
Manoel Tomé de Souza
Hiroaki Harada

Estes nomes dirigem hoje a Cooperativa Mista de Pesca Nipo-Brasileira:
 
 


José Augusto Alves, presidente
Toshiji Nakai, gerente
Yutaka Okumura, secretário
Milton Bruck Lacerda, diretor
Jeremias Fernandes Areias, diretor
Eduardo Macheri, diretor
Flávio Falvey Mendes, diretor
Paulo Ohya, diretor comercial, e
Jorge Nakai, diretor-financeiro


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"Só a bondade constrói". Esse o grande segredo que José Augusto Alves, presidente da Cooperativa Mista de Pesca Nipo-Brasileira, conta quando alguém lhe pergunta o porquê de tanto sucesso, obtido em 16 anos de trabalho. E ninguém melhor que ele, um dos fundadores da Nipo, para dizer o que tem representado e o que significa para os Homens do Mar a Cooperativa "que com seu advento veio dar mais expressão ao trabalho dos armadores de pesca e dos pescadores, valorizando-os devidamente.

"Corria o ano de 1953. Estávamos em meio a março. Éramos pouco mais de uma dezena. Dedicávamos as nossas atividades à pesca e ao seu comércio. Eu e Maeoka recebíamos no Mercado Central de São Paulo a produção de nossas embarcações com baseamento em Santos. Representávamos, como responsáveis pelas vendas, a Shikazo Nakai. Por sua vez, Shikazo, apesar de ter que dispensar cuidados às suas pescarias, orientava outros companheiros, no sentido de canalizar a produção dos mesmos para os seus representantes em São Paulo".

"Respondia pela descarga das embarcações de Shikazo Nakai e seu grupo, o jovem Paulo Ohya, que ainda dirigia as vendas em Santos, auxiliado por Toshiji Nakai. Trabalhávamos todos de forma relativamente independente, havendo, porém, perfeita sincronização nas atribuições de cada um de nós".

"Entendendo ser necessário adotar um sistema de trabalho que nos inspirasse maior segurança, decidimos então já a 19 de maio desse mesmo ano constituir uma cooperativa de pesca. Estávamos todos convictos de que o trabalho em comum nos permitiria organizar e racionalizar as atividades no setor da pesca e no comércio de peixe".

"Sendo a pesca um trabalho essencialmente de equipe, resolvemos promover um movimento de arregimentação de valores. Foi aí, então, que nasceu a Cooperativa Mista de Pesca Nipo-Brasileira.

"Dezesseis anos após, para orgulho desse grupo de pioneiros, é esta organização uma autêntica casa de pescadores e armadores de pesca. No decorrer desses anos, vários foram os companheiros que conseguiram, mercê da Cooperativa, emergir de precaríssimas condições financeiras. Tivessem eles continuado no regime de semi-escravidão que lhes era imposto pelos intermediários, teriam fracassado irremediavelmente.

"Não foram poucas as investidas do comércio intermediário, visando à dissolução do grupo. Os meios que eram utilizados, por vezes, quase nos confundiram. Todos nós lutávamos com tremenda deficiência financeira. Várias foram as investidas dos intermediários tentando aliciar companheiros, oferecendo-lhes financiamentos e, ao mesmo tempo, mantendo campanhas, procurando dificultar o normal desenvolvimento da Cooperativa.

"Porém, o espírito de união e de solidariedade de todos, foram postos à prova. Dando sempre um pouco mais de cada um de nós, em prol do ideal que acalentávamos, conseguimos ver plenamente vitorioso o sistema que adotamos.

"Distribuímo-nos unções: coube a Jorge Nakai o controle do escritório e o acerto de contas com os cooperados. Seus conhecimentos e sua capacidade de trabalho, aliados ao seu elevado espírito de honestidade, foram fatores de garantia e de tranqüilidade para todos nós.

"Respondia, pela direção do escritório de São Paulo, Shidekazu Azuma, dando excelente colaboração a Jorge Nakai, no serviço de controle de vendas.

"Superamos várias fases de transição e passados poucos danos da nossa constituição em cooperativa, já representávamos uma força expressiva. Havíamos conseguido aumentar o número de embarcações e não fomos somente nós os únicos entusiastas do cooperativismo. Surgiram novos companheiros para alardearem, com a mesma disposição, as grandes vantagens que a nossa organização poderia oferecer, notadamente aos pequenos produtores.

"Em que pesem os esforços e a dedicação de todos os diretores, forçoso é reconhecer que, desde a fundação da Cooperativa até hoje, o surto de maior progresso foi verificado há aproximadamente três anos e meio. É de justiça, então, que realcemos as figuras dos companheiros dr. Yutaka Okumura e Toshiji Nakai, conduzidos aos cargos de diretor-secretário e diretor-gerente, respectivamente.

"Numa demonstração de que o Cooperativismo é a fórmula ideal para democratizar o capital e valorizar o trabalho, registramos, com justificada satisfação, serem nossos cooperados os srs. Huston Aluísio da Costa, presidente da Associação dos Armadores de Pesca, e Anacleto Furtado de Oliveira, presidente do Sindicato de Pescadores de Santos, São Vicente e Guarujá. Os trabalhos desenvolvidos por esses dois companheiros têm sido de extraordinária utilidade para o movimento cooperativo pesqueiro".

É este, segundo José Augusto Alves, um perfil em linhas gerais e resumidamente, do que tem sido a Cooperativa Mista de Pesca Nipo-Brasileira. Muita coisa foi feita nesses anos. Surgiu uma organização que é reconhecida como a maior do gênero em todo o Brasil; no entanto, muito resta ainda para ser feito em matéria de progresso.


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Nos últimos três anos a Cooperativa Mista de Pesca Nipo-Brasileira registra movimento de vendas de cerca de NCr$ 25 milhões, sendo a exportação de camarões para os Estados Unidos, Japão, Espanha e Argentina, responsável por NCr$ 7 milhões. Mas nem por isso a entidade, que congrega 189 embarcações, cerca de dois terços da frota pesqueira paulista, deixa de ampliar suas atividades, projetando já aumentar o setor industrial, a fim de atender a uma demanda regulada de seus produtos. Sua meta inicial é atingir a capacidade de armazenar, no mínimo, 2 mil t de congelados, o que é de fundamental importância para a exportação para o Exterior e para o abastecimento do mercado interno na entressafra.

O enlatamento está previsto nessa tarefa e uma fábrica-piloto já funciona em suas instalações, tendo sido adquiridas no Recife, recentemente, duas linhas de produção. A seqüência prevista é a instalação de cinco linhas de produção, com equipamentos os mais modernos, de procedência japonesa, inteiramente automáticos, com recravação a vácuo. A capacidade variará entre 120 e 160 latas por minuto, acondicionando desde cavalinha, camarão e atum, até a sardinha - esta mais visada pela Cooperativa Nipo-Brasileira, porque tem capacidade ociosa de produção e, com o enlatamento, cerca de 100 t serão consumidas.

A Cooperativa de Pesca Nipo-Brasileira realiza a pesca em toda a linha, desde a captura até a industrialização e a comercialização. Para isso, além de frota de caminhões isotérmicos e frigoríficos, conta com frigoríficos com capacidade de congelamento superior a 40 t/dia, e armazenamento de mais de 400 t. Na Rua Campos Salles, 13, a Cooperativa tem condições de congelar 15 t de pescado por dia, estocar 150 t e ainda fabrica 25 t diárias de gelo para consumo próprio. Seus barcos, 85 camaroeiros (para camarão rosa), 56 baleeiras (para camarão de sete barbas), 32 de arrasto (para peixe), 10 sardinheiros, 5 para captura de cação e um atuneiro, se abastecem de gelo na fábrica que a entidade recentemente adquiriu, na margem esquerda do estuário de Santos, próximo ao ferry-boat da Ponta da Praia. Junto dessas instalações, onde os barcos são abastecidos de gelo e combustível, a Cooperativa já adquiriu área de terreno para ampliar suas atividades.

Por outro lado, os barcos já descarregam em Santos o camarão descabeçado, graças a um esforço conjugado do pescador com os demais componentes da organização, que permite ainda que o produto tenha renome internacional. Isso lhe valeu a conquista do mercado no Japão, país tradicional e muito desenvolvido na pesca, nos Estados Unidos, Espanha e Argentina, mercados também exigentes. Graças a esse trabalho conjunto (o pescador também é associado da Cooperativa), a Nipo-Brasileira está ampliando sua exportação, já tendo conseguido superar o montante de NCr$ 7 milhões.

O mercado interno, todavia, não é esquecido. Muito pelo contrário, a ele se volta a maior parcela da organização, que tem em São Paulo, no Brás (Rua Domingos Paiva), frigorífico com capacidade de congelamento superior a 25 t/dia e de armazenamento de mais de 250 t. Dali partem caminhões frigoríficos que levam o produto, congelado, para o Nordeste do País, e caminhões isotérmicos, que distribuem o peixe e o camarão no Interior de São Paulo.

Para a distribuição na Capital, a Cooperativa serve o Grande São Paulo com centro de comercialização no Ceasa; no frigorífico do Brás, disposto estrategicamente ao lado das estações das E. F. Santos a Jundiaí e Central do Brasil, existe ainda fábrica de gelo que produz 12 t/dia para atender, principalmente, aos retalhistas e outros pequenos atacadistas. E outros centros de comercialização deverão ser instalados no Interior, a fim de facilitar o trabalho do pequeno atacadista e fornecer o produto mais em conta às populações interioranas e, principalmente, às cooperativas de consumo.


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Para seus associados, a Cooperativa Mista de Pesca Nipo-Brasileira já importou motores, eco-sondas, ecobatímetros, rádios, radares etc. Essas importações já atingiram NCr$ 2 milhões, e só em motores a Cooperativa já fez compras em comum de 60 unidades, de marcas Cummins e Caterpiller. Sem esquecer o fornecimento de víveres, através da Cooperativa de Consumo que formou, a Nipo-Brasileira procura estender seus atendimentos a todas as utilidades de uso profissional e à aparelhagem técnica, tendo revendido no ano passado mais de NCr$ 1 milhão. Para os próximos 4 anos, pelo menos 200 motores serão adquiridos pela Cooperativa Nipo-Brasileira no Exterior, de acordo com as solicitações de tipo e potência feitas pelos associados, quando não houver similar nacional, substituindo ainda os ora em função e que se forem tornando obsoletos. Eco-sondas, radiogoniômetros, cabos de aço, bússolas, anzóis, fios especiais para atum, redes, peças para reposição nos motores, constam ainda na pauta da entidade.

Todavia, a família dos associados está incluída na organização e conta com assistência médica e odontológica gratuitas, devendo ter em breve os filhos de associados e pescadores escola de alfabetização e com cursos de aprimoramento técnico. Por outro lado, para os pescadores e associados que residem no Litoral Norte do Estado, a Cooperativa tem em São Sebastião agência que instalou em 1962 e que realiza desde a descarga e remessa da produção para São Paulo, até a assistência aos associados.


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