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"Jamegão" - termo criado em Santos
A palavra "Jamegão", falada e escrita em todo o Brasil,
foi criada em Santos. Quem conta o episódio é Hamleto Rosato, em A Tribuna de 20 de abril de 1969. Segundo esse jornalista, em 1927 ou 1928
havia na Rua Senador Feijó, entre as ruas 7 de Setembro e Marechal Pêgo Júnior, a Garagem Auto Santista, de propriedade
de Joaquim Penido, de tradicional família paulista, jovem rico, boêmio, automobilista e liberal.
Certo dia, convidou para gerir o estabelecimento o motorista Pascoal Galo, também
boêmio, jovial, muito conhecido na Cidade, mas sempre em dificuldade financeira, devido quiçá à irregularidade de sua vida privada. Não foi uma nem
duas vezes que recorreu a Joaquim Penido para lhe emprestar dinheiro por meio de promissórias. É bom dizer que o Penido, sem ser agiota, mas
induzido por seu espírito franco e generoso, emprestava dinheiro e avalizava promissórias de amigos e amigos de seus amigos.
Isso levou anos, até que pôs ponto final a essa prática liberal, já saturado de
assinar promissórias e títulos. Chegou a recusar empréstimo ao Pascoal Galo, que era homem de sua confiança e não lhe dava cano. Nessa
oportunidade houve entre eles o seguinte diálogo:
"- Penido, assina só esta promissória, e não mais o importuno. Preciso muito do
dinheiro".
"- Não assino nada".
"- É a última vez".
"- Não!"
"- Vá, Penido, passa o jamegão nesta promissória".
"- Que jamegão é esse?"
"- Então, este é o ja megão", dizia o Galo, em seu italiano macarrônico,
antevendo o atendimento do amigo.
O nosso Pascoal Galo queria dizer duas coisas com a palavra jamegão. O "já"
seria o "jota" em italiano, à sua moda, misturado com o português. O Penido assinava um "J" bem grande, e as letras "o" e "a" bem pequenas; o "m" e
o "e" quase horizontal, e logo depois vinha o "q", mais parecido com um "g", enquanto o "u" e o "i" ele os fazia com um rabisco.
Certo é que o Penido gostou do termo jamegão, no instante inventado pelo Galo.
Achou graça. Riu a bom rir. E lançou, mais uma vez, o jamegão na promissória. Motoristas de praça ouviram o diálogo, e desde então o dono da
Garagem Auto Santista ficou conhecido como Jamegão, que ele próprio adotou, até mesmo nas inscrições de corridas de automóveis.
Foi assim, num instante de apertura financeira, que Pascoal Galo lançou o termo
jamegão, muito empregado por aí afora, como sinônimo de assinatura ou rubrica, com registro até em dicionários, como o "Pequeno Dicionário da
Língua Brasileira".
Tem razão Hamleto Rosato ao rematar a interessante reportagem, quando afirma que é o
próprio povo que faz o idioma. |