D. David Picão
Foto: Édison Baraçal, em 2/8/2008, publicada com o artigo

Tribuna Livre

Dom David Picão

Cláudio José dos Santos

Pró-reitor comunitário da UniSantos

No dia 11 de maio de 1963, chegava a Santos dom David Picão, vindo da cidade de São João da Boa Vista, nomeado para suceder dom Idílio José Soares. Sucessão que iria ocorrer quando, já muito doente, o marcante prelado renunciou, em 13 de dezembro de 1966.

D. David veio para Santos para ser de Santos, fazendo-se santista, aqui ficando até sua derradeira viagem, nove anos após ter se tornado seu Cidadão Emérito.

Quem foi dom David?, poderia estar se perguntando um turista que aqui estivesse passando o feriado de 1º de Maio, ao ler a notícia de seu falecimento.

A resposta para melhor descrevê-lo seria: dom David foi um sábio, um líder e um santo.

Foi sábio porque dominava como poucos a área de sua especialidade: o Direito Canônico. Como canonista foi conhecido dentro e fora do Brasil, participando de inúmeras comissões no âmbito da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil(CNBB) e do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) sendo, amiúde, consultado sobre as leis da Igreja.

Foi líder não apenas dos fieis sob seu múnus episcopal - padres, religiosos e leigos - mas também de entidades que ultrapassam os limites eclesiais, como a Sociedade Visconde de São Leopoldo, mantenedora da Universidade Católica de Santos e do Liceu Santista, que, sendo instituições católicas, abrigam em seus corpos sociais, ecumenicamente, pessoas de quaisquer confissões. Liderou também o Apostolado do Mar, sendo seu Promotor Nacional e presidindo a Comissão Episcopal Regional Sul 1, da CNBB. Foi membro do Setor de Comunicação Social e Educação da CNBB e da Comissão de Educação do Celam.

Afirmei, há pouco, ao nosso querido turista imaginário, que dom David foi um santo. Um santo?, poderia novamente inquirir-me nosso visitante.

O conceito de santidade é amplo e multifacetado, como multifacetada e ampla é a personalidade humana. Santo, com certeza, não é o bonzinho, mas o que tem a coragem de amar ao outro mais do que a si mesmo, demonstrando esse amor com vigor, a todo instante, sendo verdadeiro, não temendo críticas nem incompreensões.

Assim, exatamente assim, foi dom David. Um santo de personalidade forte, um santo corajoso, um santo impetuoso quando a situação exigia dele impetuosidade.

Um sábio,um líder e um santo que jamais foi subserviente aos poderosos e nem sequer titubeou frente às ameaças da ditadura. Mas que acolheu os que necessitavam, consolou os que sofriam e apoiou os que fraquejavam.

Os moradores da Baixada Santista, e em especial os santistas, têm uma imensa dívida para com o papa João XXIII, por ter sido ele, nos últimos dias de seu pontificado, o responsável pela vinda de dom David para Santos, sede de susa diocese e, consequentemente, por tudo oq ue sua vinda trouxe de bom para esta região.

Seu lema episcopal resume de maneira perfeita como era dom David: "Feito tudo para todos" (Omnibus omnia factus). Mais do que um lema era, com certeza, sua proposta de vida.

Lema e vida que não poderiam ser mais adequados a esta cidade, que "à Pátria ensina a caridade e a liberdade".