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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Religiosos santistas - [3]
O bispo caipira que veio de Pernambuco

D. Idílio José Soares fundou a Sociedade Visconde de São Leopoldo

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Artigo publicado na página 15 da edição de julho de 1988 do jornal tabloide santista Destaque (exemplar no acervo do jornalista santista Paulo Matos, falecido em julho/2010 -  ortografia atualizada nesta transcrição):

D. Idílio José Soares
Foto publicada na Internet (consulta em 9/9/2012)

Veio de longe

Clotilde Paul

De Petrolina (PE). Era o bispo caipira (nasceu em Limeira/SP) que substituía o aristocrata d. Paulo de Tarso, a quem toda a cidade respeitava. Figura angulosa, frágil, toda em arestas e sensibilidade. Sua personalidade forte e originalíssima, misto de humildade e determinação, conquistou-nos aos poucos. Culto e ascético, tinha no cumprimento de sua missão pastoral o traço marcante de seu caráter.

Um dia sonhou... sonhou alto! Criar uma universidade católica! Tarefa de gigante! Seu entusiasmo contagiou um pequeno grupo de homens de boa vontade. De chapéu na mão procurara, no comércio e na praça cafeeira, os recursos necessários à fundação da Sociedade Visconde de São Leopoldo - 28 de agosto de 1951.

Em 1952, instala-se a Faculdade Católica de Direito, e a de Filosofia, Ciências e Letras em 1954. A futura universidade seguia o Gênese - primeiro Adão, depois Eva.

Em dia cinzento, ele se foi... Toda Santos ficou triste, mas o bastão do seu ideal passou às mãos de outro idealista - d. David Picão. Tempos difíceis agora! Contudo, a chama que aqueceu o generoso coração de d. Idílio não se apagou. A Universidade Católica de Santos é uma realidade. Sem patrocínios de qualquer sorte, aí está de peito aberto, enfrentando mil dificuldades para sobreviver com dignidade e cumprir seu objetivo maior - SERVIR. Com seguros timoneiros, caminha vencendo todas as procelas.

A ousadia do frágil bispo realizou o sonho de milhares de jovens, que não poderiam ser o que hoje são, se ele não ousasse sonhar. Homens e mulheres de todos os segmentos sociais, pelo Brasil afora, desempenhando as mais diversas funções e ocupando os mais diferentes cargos, são testemunhas vivas do que somos e do quanto valemos. Um ideal só é realmente grande quando, ao mesmo tempo, é belo, útil e real. Neste caso, é a resultante da inteligência estimulada pelo fogo de um ardente coração. Tal foi o ideal de d. Idílio José Soares. Neste primeiro centenário de seu nascimento, deve-lhe Santos uma estátua, assim como todos nós, que estudamos ou trabalhamos na UniSantos, lhe devemos gratidão e saudade.

Esta biografia do bispo d. Idílio faz parte do Projeto História, da Arquidiocese de Campinas, coordenado pelo jornalista Wilson Antonio Cassanti, e publicado em 2010 no site Internet daquela arquidiocese paulista (consulta em 9/9/2012):

D. Idílio José Soares
Foto publicada com a matéria

Dom Idílio José Soares, filho de Américo José Soares e Maria Emília, nasceu em Limeira, no dia 26 de outubro de 1887. Realizou seus estudos secundários no Seminário e Ginásio de Pouso Alegre, MG, por recomendação de Dom Francisco de Campos Barreto e sob a proteção de Dom João Batista Correa Nery, Bispo de Pouso Alegre nessa época.

Posteriormente, por ocasião da transferência de Dom Nery para a Diocese de Campinas, o jovem Francisco cursou Humanidades e Filosofia no Seminário de São Paulo, e mais tarde, em Roma, completou seus estudos no Pontifício Colégio Pio Latino-Americano, e Teologia na Universidade Gregoriana em Roma, onde obteve o grau acadêmico de doutor, em 1915.

Foi ordenado Presbítero no dia 28 de outubro de 1914, exercendo seu ministério na Diocese de Campinas como Vigário da Matriz Velha, entre 1922 e 1923, quando deixou esta Cidade para dirigir-se a Pirassununga, permanecendo apenas por mais um ano, entre 1924 e 1925. No entanto, seu destino seria novamente Campinas, para onde voltou, desta vez como Vigário da Matriz Velha, ficando até 1932, quando foi enviado como Capelão das Forças Revolucionárias, para Cruzeiro, SP, durante a Revolução Constitucionalista de São Paulo.

Durante sua permanência em Campinas, Dom Idílio desempenhou atividades docentes no Ginásio Santa Maria e no Seminário Diocesano de Campinas, onde lecionou Filosofia e Teologia, entre 1915 e 1917, e foi seu Reitor entre 1917 e 1920.

No dia 15 de setembro de 1932 foi nomeado Bispo Coadjutor de Petrolina, PE, com direito à sucessão, sendo sagrado em Campinas, no dia 30 de novembro e assumindo a Diocese em 15 de janeiro de 1933. Foi em Petrolina, no sertão, que enfrentou grandes dificuldades, numa zona marcada pela pobreza e sem recursos materiais. Mesmo assim, levou adiante a construção do Seminário e do Ginásio, do Hospital Dom Malano, em homenagem ao primeiro Bispo de Petrolina, seu antecessor e as obras da Catedral cuidando desta forma, de definir e estabilizar um patrimônio para a Diocese. Todavia, sua maior preocupação foi o povo sertanejo e suas carências materiais dentro da crua realidade do sertão. Foi a esse povo que dedicou todos seus esforços durante os dez anos de seu Bispado.

Em 1943 foi transferido para a Diocese de Santos, onde tomou posse no dia 19 de setembro e ficou até 1966. Ali se destacou pelo trabalho desafiante de uma cidade portuária, turística e pólo de desenvolvimento econômico, que convivia com a pobreza, comunicações precárias, carência de clero e com um parco patrimônio na Diocese.

Deu continuidade à Assistência ao Litoral de Anchieta (ALA), movimento iniciado por Dom Paulo de Tarso Campos. Fundou a Sociedade Visconde de São Leopoldo, Mantenedora de Escolas, criando a primeira Faculdade na Baixada, a Faculdade Católica de Direito, que foi o núcleo inicial da Unisantos – Universidade Católica de Santos, e mais tarde, das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, Faculdade de Ciências Econômicas e Comerciais e Faculdade de Comunicação. Fundou ainda o Seminário Diocesano “São José” para a formação do Clero.

Em sua ação pastoral, além das visitas periódicas às Paróquias do extenso litoral, que abrangia praticamente todo o litoral do Estado e algumas Paróquias na Serra, como, Apiaí, Ribeira e Iporanga, Dom Idílio se posicionou contra a extrema esquerda, contra o divórcio e contra o espiritismo, publicando uma Carta Pastoral sobre o divórcio e um livro que intitulou Mensagem do Além. Fundou ainda o Jornal Diocesano Santos-Jornal. Promoveu a “Campanha para a Grandeza de Santos” destinada a construir o prédio da Cúria junto à Catedral, a Capela da Santa Casa, a Creche do Menino Jesus, junto à Igreja de São Judas (Santos) e a Casa de Nossa Senhora (Jabaquara).

No dia 13 de dezembro de 1966, ao completar 75 anos de idade, renunciou à Diocese. Retirou-se para Campinas, onde residiu no Colégio Sagrado Coração de Jesus, trabalhando como Capelão até seu falecimento, no Hospital Vera Cruz, no dia 10 de dezembro de 1969, com 82 anos. Seus restos mortais estão sepultados na cripta da Catedral, no local que ele pessoalmente indicou em visita que aí fez 15 dias antes de sua morte.

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