Os homens da imprensa de minha terra
Por Cronista X
O jornalista, via de regra, ocupa-se de tudo e de todos,
menos de sua individualidade. Rasga elogios, critica, pondera, sugere, opina sobre empreendimentos e realizações de interesse geral, colabora no
desenvolvimento do ambiente em que vive, ajuda as obras pias, pugna pela expansão cultural, não olvida datas aniversárias, atende a amigos e
inimigos, escreve sobre todos os ângulos da vida social, política, cultural, religiosa e desportiva, louva, homenageia e consagra homens e
instituições.
Mas esquece-se de si próprio...
É assim o jornalista profissional. Quase sempre
evita e foge ao registro do seu nome, mesmo na ocorrência do aniversário natalício. É um anônimo a incentivar o progresso da região, do Estado, da
Federação. E sua voz não se perde no turbilhão das massas. É ouvida e acatada. E sempre louvada, porque o jornalista consciente, educado na grande
escola da tarimba, sabe o que escreve, não demole, constrói; não é fútil nem incongruente; é objetivista e exato; não apregoa frivolidade nem é
agente de dissociação; sua arma sempre se volta para as manifestações úteis e práticas; não agride; antes, colima o bem-estar da coletividade,
coopera, insiste e vence. Essa a índole do jornalista de hoje.
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Esta crônica de incipiente profissional, no maior
dia da imprensa de Santos, pretende emergir a "falange anônima" dos batalhadores do jornalismo santista, situando-os no plano de evidência
que, por justos títulos, lhes compete.
É um registro grato, que oportuniza ao cronista o mais agradável e afetivo trabalho de
quantos têm apresentado no seu modestíssimo convívio com a profissão jornalística, que o enfeitiçou e o tolera com a ternura do forte sobre o fraco.
Os jornalistas profissionais de Santos constituem uma classe coesa, entrelaçada pelas
mais afetivas expressões de camaradagem e de solidariedade espiritual.
Encorajado por essa comunhão fraterna, que caracteriza a atividade jornalística de
Santos, ousarei falar dos trabalhadores intelectuais do jornal santista, embora contrariando e agredindo espíritos modestos, "avessos à
publicidade".
Mas impõe-se o registro, não como homenagem pessoal,
de colega para colegas, senão com propósito documentário, como o justifica esta edição comemorativa do jubileu de A Tribuna.
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Morrendo Décio de Andrade (e ainda faz 45 dias que o
querido companheiro nos deixou), José Gomes dos Santos Neto assumiu o posto de antiguidade na imprensa santista. Gomes dos Santos é agora o decano,
sendo ainda moço. Trabalha há 30 anos no jornal. Profissional cem por cento. Foi do Jornal da Noite e do Comércio de Santos. Há mais
de vinte anos dirige a sucursal da A Gazeta, de São Paulo. Passou por todos os setores de um jornal: revisor, repórter, redator, articulista,
chefe de redação. É um profissional de larga capacidade. Bom companheiro. Amigo de todos.
Passemos agora pela sala de redação da A Tribuna. Antonio Guenaga é o mais antigo
redator em atividade. Décio de Andrade deixou-lhe a vanguarda dos veteranos. Cronista esportivo, especializado. Chefe do Departamento Esportivo da
A Tribuna. Meticuloso no trabalho, correto, experimentado jornalista esportivo. Ótimo elemento.
Mário Castro. É o primeiro homem em Santos a conhecer os acontecimentos
internacionais, pela função de seu cargo. Titulador e organizador do serviço telegráfico exterior. E também locutor. Às 23,15 horas, ele lança ao
ar, da redação da A Tribuna, o Panorama do Dia, que é um repositório dos principais fatos ocorridos no país e no estrangeiro. O homem
do "Aceite meu cordial BOA NOUTE" tornou-se popular na cidade.
Antonio F. Sarabando. Já se faz veterano na A Tribuna. Além de auxiliar a
titular o serviço telegráfico, redige sueltos e outro qualquer gênero de trabalho jornalístico, pois o homem é eclético. Há vários anos exerce o
cargo de correspondente do Correio Paulistano.
Benedito Merlin. Crítico de arte e de rádio. E também auxilia outros serviços da
redação. Habituado à apreciação sutil das coisas de arte, molesta-o a pesada crônica policial ou a complexa reportagem esportiva.
Certa vez, à falta de repórter efetivo, foi designado para uma reportagem na Serra
sobre gravíssimo acidente de automóvel. O veículo precipitara-se no abismo, incendiando-se, carbonizando seus desgraçados ocupantes. Temperalmente
emocionável, espírito coado de impressões violentas e brutais, o nosso Merlin estarreceu diante do horrendo espetáculo. E voltou sem a reportagem.
Noutra vez, mandaram-no a uma competição de puglisimo. Não foi bem sucedido, pois a
reunião deixou de se realizar devido a medonho conflito, durante o qual as balas cruzavam todos os ângulos do ringue. E ele regressou espavorido à
redação, maldizendo sua estréia ocasional na reportagem esportiva. Mas o Merlin é um bom. Alma sem malícia. Afetivo e complacente.
Olao Rodrigues é o homem das reportagens. Já entrevistou presidentes de Repúblicas,
políticos de nomeada, artistas famosos, cientistas, intelectuais, diplomatas, jornalistas, jogadores de futebol, scrocs(N.E.:
escroques), ladrões de baixo coturno, mendigos etc.
É noticiarista, redige tópicos, sueltos, é cronista esportivo e forense e conhece
reportagem policial. Já serviu em todos os setores de um jornal moderno, inclusive como datilógrafo e revisor. É correspondente da Agência Nacional
e da Associated Press. E preside o Sindicato dos Jornalistas Profissionais em Santos.
Dr. Paulo H. de Moura (N.E.: "H." de "Hourneaux").
Articulista e redator da famosa crônica de guerra da A Tribuna. Advogado. Orador. Jornalista de apreciável expressão técnica. Já secretariou
a A Tribuna.
Vitório Martoreli é o redator de Sindicalismo, que ele mesmo criou. Goza de sólido
prestígio no ambiente sindical de Santos. Doutrina sobre a matéria. Tem 5 anos de jornalismo, vividos exclusivamente na A Tribuna.
José Ferreira Coelho é o repórter e redator, ao mesmo tempo, de fatos policiais. Ele
vive a crônica policial. Tirem-lhe a camisa, mas não lhe tirem a reportagem de polícia. Especializou-se na redação de crimes, roubos, acidentes.
Zeloso e assíduo. Jovial e despreocupado por tudo que se não entenda com polícia...
Oací Rodrigues é antigo no jornalismo. Já foi redator da Praça de Santos,
Jornal da Noite, Gazeta Popular, Correio da Tarde, O Diário e da Gazeta do Povo, de Curitiba. Integra o corpo de
cronistas esportivos da A Tribuna. Profissional competente, conhece todos os segredos do jornalismo. "Faz esporte" e desenvolve com
facilidade qualquer outro serviço de jornal.
Francisco Sá Júnior também é cronista esportivo. Sereno e verdadeiro na apreciação dos
acontecimentos de esporte. Alto funcionário da Prefeitura, ocupando atualmente as funções de secretário do chefe do Executivo local. Não se arreda
do jornalismo, a que tão bem serve e cada vez mais o atrai.
Hamleto Rosato é novo na redação. Veio da revisão. É observador, atilado e anima-o
férrea vontade de desenvolvimento e aperfeiçoamento profissional. E já denota recursos para o jornalismo.
Cassiano Nunes Botica é o "benjamim" da redação. Moço, afeito às letras
literárias, deverá fixar-se no jornalismo. Embora ainda não familiarizado com a rotina do jornal, apresenta-se-lhe um saldo-base: sabe escrever.
Álvaro Augusto Lopes vem da imprensa de Paulo Gonçalves, Alberto Schmidt etc. Crítico
literário e cronista social. Magnífico exemplar de jornalista. Diretor da Biblioteca Pública Municipal. Sólida cultura, inteligência robusta, forte
poder de percepção. Álvaro Augusto Lopes é um desses tipos raros que, tendo mérito moral e intelectual, não fazem alarde de sua personalidade,
porque modestos e simples; intimidam-se quando são louvados e fogem aos rapapés. Têm valor, mas não o expõem às labaredas do exibicionismo. Álvaro
Augusto Lopes tem muito valor e é muito simples. Essa a grande qualidade do ÁLVARO da crônica social da A Tribuna.
Perilo Prado trabalhou mais de quatro lustros na A Tribuna. Fez polícia,
esporte e tudo mais. Está gozando de uma licença, que nunca termina... Sente-se ainda fatigado pela longa jornada jornalística. Sempre nos visita.
Ainda é considerado homem de jornal. E bom colega.
Rubens Ulhôa Cintra. Citemo-lo por último. É o secretário da redação. Veio há dias de
O Diário, onde ocupava o posto de sub-secretário.
Cremos que sua admissão na A Tribuna e nas funções de secretário reflete justa
promoção ao jornalista moço, conhecedor do métier, que fez da profissão verdadeiro apostolado. Jornalista integral, de idéias próprias,
zeloso pelo cargo e dotado de apreciáveis recursos técnicos. Também é cronista de esporte. Teórico e cheio de vigor e brilho. Torito, seu
pseudônimo esportivo, também é moço de bela formação moral. Vai longe no jornalismo.
Ciro Lacerda, não sendo propriamente um homem de redação, é um jornalista. E
jornalista de verdade. Escreve bem e com velocidade. Chefia a revisão da A Tribuna.
Desfilemos agora a turma de O Diário. Na chefia da redação, o Antônio Barja,
orientador seguro, enérgico e experimentado. Forjou sua capacidade profissional na A Tribuna, onde trabalhou durante longos anos. É cuidadoso
e correto em seus comentários, que aparecem de quando em quando. Identifica-se facilmente os seus escritos, pois o Barja tem estilo próprio. Muito
lhe deve o jornal em que atualmente trabalha. É dedicado e rigoroso em suas atribuições. Possui capacidade de mando, que é qualidade essencial num
secretário de redação. Impulsivo, por vezes, mas muita franqueza e lealdade.
Moacir Dias Gnecco, como o Mário Castro, conhece às primeiras horas da noite, antes
que qualquer outro, os acontecimentos internacionais. Titulador do serviço telegráfico estrangeiro. Operoso e diligente. Também repórter.
Pedro Antelo Nogueira da Gama é o veterano de O Diário. Já trabalhou em vários
jornais. Diretor do periódico O varejista, órgão de classe.
Rosinha Mastrângelo é a única mulher-jornalista de Santos. Desenvolve as seções de
cinema, teatro e rádio. E também sabe fazer reportagens. Cronista sóbria, ponderada, exata na apreciação dos fatos-tese.
Antenor Duarte Rodrigues chefia a seção esportiva. Dedicado ao cargo, forte senso de
responsabilidade, cuidadoso em suas reportagens sobre o esporte, bom companheiro, simples e leal.
Eratóstenes Azevedo é o redator policial. Moço na profissão, denota acentuado
desenvolvimento. É ativo e zeloso.
Jaime Pereira Pinto, outro cronista esportivo. Fez seu batismo profissional no próprio
jornal onde ainda hoje trabalha.
Adriano Neiva da Mota e Silva é o ataché da redação. Veio do Rio. Jornalista de
tarimba. Dedica-se mais amiúde à crônica esportiva. Considerado literato esportivo. Seus trabalhos, assinados com o pseudônimo de De Vaney,
sempre agradam. Biógrafo esportivo. Estilo apurado, forte senso de introspecção, correto, ativo, serviçal. Mas a personalidade jornalística de De
Vaney não se circunscreve ao esporte. Ele conhece jornal. Apto para qualquer serviço de redação. Muito modesto. Figurino de inteligência.
Luis Lestrade é o arquivista. Afirmam os que o conhecem mais de perto que o O
Diário arquiva um hábil profissional.
Ingressaram faz poucos dias na redação mais dois elementos, o Luiz Carlos Silveira,
sub-secretário, e o prof. Malito de Luca. Este último vem apresentando uma série de comentários sobre assuntos de interesse local. Não se trata de
um iniciante: o homem revela recursos jornalísticos.
No Correio da Tarde, o vespertino que Ramiro Calheiros fundou e o dr. Rui
Calheiros dirige, encontramos o Eduardo Mesquita, muito moço, iniciante na profissão, mas muita disposição e arrojo.
Floriano Cruz, que era o homem do Correio da Tarde, faleceu há pouco tempo.
Floriano sabia escrever, conhecia jornal, mas era um desiludido.
Há três revistas em Santos. Flama, a veterana, a que o dr. Nicanor Ortiz dá o
prestígio do seu nome, tem um profissional competente ao leme, o Gomes dos Santos Neto. Brasilidade reúne um grupo de diletantes, entre os
quais Augusto Vitor dos Santos, Agostinho Duarte de Souza e Hugo Paiva. Estrela Azul é dirigida por José Bento, o qual conta alguns
auxiliares que não são verdadeiramente profissionais.
Francisco Azevedo é o correspondente do Diário de São Paulo e Diário da
Noite. Experimentado jornalista. Adolfo Queiroz Fonseca trabalha há vários anos na sucursal do O Estado de São Paulo. É jornalista
profissional e já se faz veterano. Cândido Hernandez dirige a sucursal da Folha da Manhã e Folha da Noite.
Aí está, pois desfilada, a gente da imprensa de Santos.
Falamos apenas dos profissionais em atividade.
E fechando, como registro de saudade, o nome de quatro grandes companheiros que a
Morte levou: Osvaldo Du Pain, Ramiro Calheiros, Floriano Cruz e Décio de Andrade. |