Imagem: reprodução de trecho da matéria original
Demais fotos desta página: publicadas com a matéria
Galeria dos poetas, prosadores e jornalistas de Santos
[...]
João
Phoca (José Baptista Coelho) - Nascido nesta cidade, a 1º de janeiro de
1877, do consórcio de Francisco de Paula Coelho com d. Bárbara Bueno.
João Phoca, como era mais conhecido, foi um dos literatos e homens de espírito mais
populares do país, chegando a merecer da imprensa portuguesa o cognome de Cavaleiro do Riso.
Fez seus primeiros estudos no melhor colégio de Santos naquela época, a escola do
comendador Tiburtino Mondin Pestana. Passando a São Paulo, continuou os seus estudos no Colégio Culto à Ciência, e mais tarde rumou para o Rio de
Janeiro, onde entrou para a Escola Politécnica.
No Rio de Janeiro já começara ele uns ensaios jornalísticos, quando teve que voltar
para sua terra e ingressar no comércio, para o qual não tinha o menor pendor. Foi então que começou a colaborar no Diário de Santos, sob o
pseudônimo de João Phoca, abandonando mais tarde a vida comercial, para ingressar na redação daquele importante jornal santista.
Santos atravessava, então, uma quadra áurea, de atividades artísticas e literárias.
Dezenas de moços cultos e inteligentes formavam grêmios dramáticos e recreativos, bandas e orquestras, quando não eram jornais e revistas. Chico
Vicente, Carlito Affonseca, Quincas Mendes, Aprígio Macedo, Gastão Bousquet, Isidoro Campos, Juca Campos e tantos outros, como parte principal do
Grêmio Dramático Arthur Azevedo, traziam a sociedade local em constante divertimento e hilaridade, com suas chistosas farsas, burletas e comédias.
João Phoca entrou a produzir, então, peças interessantíssimas, para serem
representadas pelos amadores do Grêmio, e ele mesmo era sempre um dos comparsas. É dessa época O compadre, música de Juca Campos, conhecido
pela alcunha de Poscampini, argumento de sua autoria, que foi levada à cena no Teatro Guarany, durante meses inteiros, com extraordinária
aceitação.
O humorismo, a comicidade, a graça, a simpatia de João Phoca tornaram-se
famosos. Era ele aparecer em qualquer lugar, e as tristezas desapareciam. Uma excelente cultura ajudava-o, uma grande inteligência fazia o resto. De
toda a parte reclamavam a sua presença; e aí começaram suas viagens por todo o Estado e por todo o Brasil, em conferências divertidas, eivadas de um
sadio e puríssimo bom humor, como de elevado espírito social.
Da. Júlia Lopes de Almeida, a notável escritora, ficou encantada um dia com João
Phoca, e sobre ele escreveu a melhor crônica que se poderia escrever sobre um literato, prefaciando postumamente o livro Caiçaras, que
foi o único deixado por ele, no esquecimento a que votara a sua própria obra.
Voltando anos mais tarde ao Rio de Janeiro, o Jornal do Brasil reclamou seus
serviços, e nele ficou como redator por muitos anos, até que, em 1912, aquele jornal mandou-o à Europa, em visita a vários países, pelo espaço de
dois anos, de onde o jornalista enviou uma extensa e brilhantíssima série de impressões, narrativas e reportagens sensacionais, as primeiras que no
gênero se publicaram na capital do país, e que, reunidas em livro, dariam dois volumes de boa e divertida prosa.
Além de sua grande bagagem jornalística, João Phoca deixou somente quatro
obras: Os Caiçaras (obra póstuma), excelente coletânea de contos do litoral de São Paulo; O compadre, Fado e maxixe e Não
venhas, peças de teatro, que fizeram época no antigo Teatro Apolo e em outros de São Paulo e Rio de Janeiro.
Faleceu no Rio de Janeiro, na Casa de Saúde São Sebastião, a 3 de
julho de 1916.
|