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Galeria dos poetas, prosadores e jornalistas de Santos
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Ângelo
Sousa - Nascido em Santos, a 8 de dezembro de 1871, como filho de Francisco Antonio de Sousa e de d. Constança Josephina de Sousa. Seus
primeiros estudos foram feitos no colégio do professor João Anta, de onde passou para a afamada escola do professor comm. Tiburtino Mondin Pestana,
que reunia a nata da mocidade santista da época.
Foi o tipo acabado do poeta antigo, despreocupado e boêmio, alheio a todas as idéias ou
pensamentos utilitários e materialistas. Produzia versos em qualquer lugar onde estivesse, num bonde ou numa mesa de café, onde muitas vezes deixava
sobre o mármore o melhor das suas inspirações.
Quando deixou o colégio, Ângelo empregou-se no escritório comercial de Cesário
Coimbra, casa comissária, como praticante. Algum tempo depois, entretanto, já não suportava mais a disciplina comercial, para que não havia nascido.
Nessa ocasião, estando desempregado, tomou parte numa assembléia do Clube Xavier da Silveira, salientando-se como principal orador da noite, fazendo
com habilidade vingar a eleição do seu grupo, em oposição ao seu irmão, Alberto Sousa, Constantino de Mesquita, Francisco Marques e outros moços de
capacidade.
Resolveu seu velho pai, diante disso, mandá-lo estudar Direito em São Paulo,
matriculando-o na Academia e estabelecendo-lhe uma mesada, para seu sustento. Ângelo, porém, não parou. Ao fim de um ano, via o pai que era inútil
arrancá-lo à vida boêmia, porque Ângelo trocava os estudos e a Academia pelas rodas despreocupadas que se formavam diariamente no velho Terraço
Paulista, um bilhar que havia no Largo de São Bento.
Foi então que, cortada a mesada paterna, Ângelo empregou-se num jornal vespertino do
dr. Jesuíno Cardoso, como noticiarista, ganhando aí o necessário para sua parca subsistência. Algum tempo depois voltou para Santos, onde escreveu
uma opereta musicada pelo professor Eugênio Assis. Nessa mesma ocasião escreveu um volume de versos, intitulado Campânulas, colocando-se
depois como noticiarista da Tribuna do Povo, trabalhando ao lado de Francisco Pereira, e depois na A Tribuna.
Na Tribuna do Povo, Ângelo publicou muitos dos melhores versos de sua lavra,
como também no Diário de Santos, do qual foi colaborador por muito tempo. Natureza frágil, adquiriu na vida da imprensa a pertinaz moléstia
que o arrebataria tão moço.
Fundou e redigiu uma dezena de periódicos literários, que logo definhavam, por falta
de recursos. Sabia fazer jornal como ninguém. Ele só o enchia. Traçava o artigo de fundo, passava a ser o noticiarista, saía para a reportagem,
elaborava um soneto para o centro da página, e fingia, muita vez, anúncios, quando eles não apareciam no balcão.
Como poeta, era de um lirismo adorável. Filiado à escola naturalista, cantava em
versos másculos a natureza em luta. Viveu da inspiração apenas, cantando a maravilha das nossas praias e sonhando perfeições impossíveis. Como poeta
de raça, nem a típica moléstia lhe faltou e, em seu leito de morte, à moda antiga, compôs o seu último soneto, o notável Descendo ao túmulo,
cheio de uma comovedora serenidade.
A fatalidade não consentiu que o seu único livro de versos lhe perpetuasse melhor a
memória. Estava o seu Campânulas, ao qual já nos referimos, pronto para sair, na Typographia Andrade Mello, em São Paulo, com alguns
exemplares tirados, quando violento incêndio destruiu aquela oficina, destruindo também o seu belo trabalho.
Ângelo Sousa faleceu em São Paulo, a 4 de outubro de 1901, sendo
enterrado lá mesmo. Tempos depois, por iniciativa de amigos, suas cinzas foram trazidas para Santos e colocadas numa urna, no cemitério do Paquetá,
onde estão até hoje.
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