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A iniciativa da fundação de um organismo que cuidasse da defesa dos lídimos interesses do comércio da Praça e desse unidade, método e
segurança aos negócios do café precedeu o ano 1870.
Já em 1846 se cogitou do cometimento, mas os esforços desenvolvidos não foram bem sucedidos. Quatro anos depois, ou mais precisamente, em 1850, nova tentativa foi feita, incentivada pela Revista
Comercial, que foi o primeiro jornal publicado em Santos, cujo diretor, o alemão Guilherme Délius, médico naturalizado brasileiro, direto e professor da Escola Alemã e tradutor juramentado da Alfândega, muito se empenhou pelo empreendimento,
ele com um grupo de comerciantes da Praça. Como da outra vez, a louvável diligência não logrou êxito, por considerar-se que Santos, incipiente, ainda não dispunha de recursos para a execução do empreendimento, que dependia até do Governo do Império
para seu funcionamento legal e efetivo.
Mas a idéia ficou, pois a todos dominava o conceito de que Santos necessitava de um órgão representativo do seu florescente comércio, que desejava ampliar-se no campo dos negócios e valer-se do porto
que, embora precário em suas instalações, já se fazia conhecido e acatado em todo o País e até no exterior.
Surgiu, afinal, o plano orientado por cidadãos de evidente prestígio na Praça e acolhido sem quaisquer restrições por comerciantes nacionais e estrangeiros, que sentiam a necessidade de um organismo
reconhecido pelo Governo Imperial, que lhes amparasse e legitimasse os negócios, disciplinando-os e incentivando-os.
Santos merecia a sua Praça do Comércio.
Se houve percalços e dificuldades, esses óbices só serviram para avigorar o espírito de luta e denodo daqueles homens de corpulência moral que se adiantaram na concretização do projeto de dar ao
Município um instituto comercial consentâneo com seus anelos de crescimento urbano-social, que o decorrer do tempo marcaria e definiria como fulcro de progresso em todos os campos de atividade humana.
Uma assembléia histórica - No dia 22 de dezembro de 1870, os comerciantes da Praça reuniram-se, ouviram os propósitos dos companheiros que se puseram à frente do movimento, acolheram-nos e,
entre palmas, fundaram a Associação Comercial de Santos.
Foi eleita a diretoria provisória, integrada pelos srs. comendador Nicolau Vergueiro, dr. Inácio Wallace da Gama Cócrane, Gustavo Backheuser, William T. Wright, Carlos Wagner e José de Azurem Costa.
A assembléia também escolheu comissão especial incumbida de elaborar o estatuto, que depois de discutido foi levado ao Governo do Império, que o aprovou pelo decreto n. 4.738, de 7 de junho de 1871.
A diretoria provisória, no entanto, não cruzou os braços e muito menos se manteve estacionária para aguardar a eleição do órgão dirigente definitivo; foi para a frente, trabalhou com dedicação e até
enfrentou dificuldades e embaraços. Tratou de organizar o Fundo Social, por meio de subscrições entre os associados, apurando a soma de 80:000$000 (Cr$ 80,00), que passou a figurar como capital da nascente instituição, bem como indicou os membros
da comissão especial para escolha e aquisição de terreno para erguimento da sede própria.
Foi assim que surgiram planas e orçamento em 20 de fevereiro de 1872, elaborados pela firma Balarini & Bosísio e que ficaram expostos no salão social.
Após exames efetuados por profissionais, foi aceito o terreno localizado na Rua da Praia (hoje Tuiuti), onde funcionava o Mercado de Peixe, nas proximidades da antiga Mesa de Rendas, de propriedade
de d. Ana Zeferina Vieira Carvalhais, que o doou à Praça do Comércio, para o fim exclusivo do levantamento de sua sede.
A comissão especial apresentou parecer em 19 de abril de 1872, manifestando-se pela aceitação do imóvel; todavia, convencionou-se adiar a construção do prédio próprio enquanto não se efetivassem as
reclamadas obras de melhoramento do porto.
Aprovado pelo governo o estatuto, foi ele registrado e devidamente averbado na Alfândega; em sessão de 12 de setembro de 1874, quando lhe pareceram afastadas todas as dificuldades, resolveu a
diretoria provisória convocar para o dia 17 daquele mês e ano a assembléia geral, para eleição da diretoria definitiva.
Instalada a Associação Comercial - Em memorável assembléia realizada na Rua da Praia n. 38 (hoje Tuiuti), com o comparecimento de 94 sócios, foi eleita a diretoria definitiva, a primeira da
nossa Associação. Presidiu os trabalhos o ten.-cel. Teodoro de Meneses Forjaz, e os secretários foram os srs. Luís José dos Santos Dias e Bento Tomás Viana.
Por consenso dos associados, foram eleitos os srs. com. Nicolau Vergueiro, Henrique Leuba, Carlos Wagner, José Ricardo Wright, barão de Embaré, José de Azurem Costa, Inácio Wallace da Costa Cócrane (dr.),
Rodolfo Wursten e João Antônio Teixeira.
Deu-se em seguida o ato de posse da diretoria, depois assim organizada: presidente - com. Nicolau Vergueiro; vice-presidente, barão de Embaré; secretário - dr. Inácio Wallace da Gama Cócrane;
tesoureiro - José de Azurem Costa; diretores - João Antônio Teixeira, José Ricardo Wright, Rodolfo Wursten, Carlos Wagner e Henri Leuba.
Ficou, pois, instalada a nossa Associação Comercial; a data de 17 de setembro de 1874 não representa apenas acontecimento associativo na longa vivência do nosso instituto comercial, mas também
episódio marcante no calendário de civismo de Santos.
Na época da instalação, estavam inscritos 106 associados, que foram considerados fundadores, de conformidade com o art. 61 do regulamento interno, de 18 de novembro de 1874.
A primeira reunião ordinária da diretoria efetivou-se em 14 de outubro de 1874, quando se procedeu à distribuição dos cargos da Mesa, que por sinal não se apresentava completa, por haverem se
recusado a integrá-la os diretores Carlos Wagner e Henrique Leuba, que se julgavam estrangeiros que eram atingidos pelo art. 18 do estatuto.
Em sessão de 23 de fevereiro de 1875, analisado o caso dos srs. Carlos Wagner e Henrique Leuba, a diretoria propôs à assembléia, reunida no dia posterior, e unanimemente aceita, que nas futuras
eleições, dos seis diretores estrangeiros, cinco seriam acolhidos indistintamente entre importadores e exportadores, ficando limitado a dois o número dos dirigentes da mesma nacionalidade.
Nessa assembléia foram eleitos diretores os senhores Carlos Wagner e D. A. Beaver, assim se completando o corpo diretivo, em face da resignação dos eleitos na assembléia anterior, ambos plenamente
satisfeitos com a decisão adotada quanto à interpretação do artigo 18 do estatuto. Como referimos, o número de sócios inscritos na oportunidade da instalação da ACS era de 106; posteriormente, foram admitidos mais 12, entre os quais 1 assinante,
havendo 32 a serem reduzidos do quadro geral, por ausência, falecimento e retirada, de maneira que o número exato de composição do quadro associativo era de 84 sócios, 1 assinante e 8 empregados de casas comerciais, segundo o relatório apresentado
à assembléia, elaborado em 14 de janeiro de 1876.
Em seus primeiros anos de existência, a ACS teve 2 empregados, ou seja, um guarda-livros, que era o sr. João Martin Linier, e um claviculário, a princípio o sr. Joaquim Manuel da Silva, e depois o
sr. Ernesto de Mendonça Carneiro, que se exoneraram, sendo admitido no lugar o sr. Lucas José de Oliveira.
A primeira reunião da diretoria - A primeira reunião da diretoria verificou-se no dia 14 de outubro de 1974 (N.E.: SIC - correto seria
1874) em uma das salas do sobrado da Rua da Praia n. 38, de propriedade do sr. com. Nicolau Vergueiro, que, aliás, no fim dos trabalhos ofereceu o prédio à Associação para seu funcionamento
regular até a construção da sede própria.
O barão de Embaré, que não havia comparecido à assembléia geral da instalação do instituto, proferiu discurso em que agradeceu a confiança dos comerciantes de Santos e afirmou seu propósito de
trabalhar com dedicação pela prosperidade da entidade.
Foram incumbidos os srs. com. Nicolau Vergueiro, J. R. Wright e João Antônio Teixeira de redigir o regulamento interno, aprovado na reunião geral de 29 de janeiro de 1876, enquanto o tesoureiro
ficava autorizado a abrir conta em um banco da Cidade, sob a responsabilidade da diretoria, para ocorrer às despesas de compra de mobiliário, utensílios, vencimentos de empregados e ouras consideradas indispensáveis.
"Ponto de reunião" - Desde os primeiros momentos, a diretoria preocupou-se com um local em que provisoriamente pudesse funcionar a associação, que serviria como "ponto de reunião" de todos
quantos tivessem interesse ou não junto à associação.
Não podendo valer-se da doação do terreno de propriedade de d. Ana Zeferina Vieira de Carvalhais, por considerar que as obras do porto viessem a alterar completamente as condições topográficas do
imóvel escolhido, nos primeiros meses após a instalação a ACS funcionou no edifício da Rua da Praia de propriedade do com. Nicolau Vergueiro, que obsequiosamente o pusera à disposição.
Em 26 de abril de 1875 passou a ocupar o prédio da Rua do Consulado, após a execução de obras indispensáveis. Na impossibilidade de obter outro em condições tão favoráveis, já pela localização, já
pelas dependências de que dispunha, a diretoria arrendou-o por contrato que começou a vigorar em 1º de fevereiro de 1870, pelo espaço de 5 anos.
Nessa sede, foi instalado um salão de leitura, bem freqüentado, onde eram colocados à disposição dos associados os seguintes jornais - nacionais: Jornal do Comércio, Globo, Diário do Rio de
Janeiro, Diário Oficial, Reforma, Diário de S. Paulo, Correio Paulistano, Imprensa, Diário de Santos, Mosquito, Fígaro e Semana Ilustrada. Estrangeiros: Hamburgische, Horsen-Halle, Koinische Zeitung, Journal du Havre,
L'Independente, The Illustred London, L'Economiste, Comércio do Porto, Revolução de Setembro e Comércio de Lisboa, além de quadros em que eram afixados os avisos da diretoria, movimento do mercado, entradas e saídas de navios e
telegramas comerciais e políticos.
A primeira diretoria cuidava de organizar,, embora em proporções modestas, uma biblioteca social, para o que já recebera dos sócios ofertas de vários livros.
No período de 1874-1875, a Associação registrou 88 visitantes, sendo 69 nacionais e 19 estrangeiros. É de destacar a visita de d. Pedro II, em 30 de agosto de 1875, quando a Praça lhe tributou as
mais carinhosas homenagens de apreço.
O imperador inaugurou o livro de visitantes especiais, que até hoje é conservado como custosa relíquia.
O primeiro relatório - Em 1876, justamente no dia 14 de janeiro, foi apresentado o primeiro Relatório da ACS, que se referiu ao biênio de 1874-75. É bem a síntese da história de uma entidade
que não se circunscreveu à defesa dos interesses das categorias profissionais que representa, mas também se ocupou com a solução de problemas sociais, culturais e econômicos da cidade que lhe deu "corpo e alma".
Embora instituída em 1870, a ACS só começou efetivamente sua atividade em 1874, podendo dizer-se que de 17 de setembro desse ano a 31 de dezembro de 1875, ela empreendeu a sua primeira fase de
serviços. Esse Relatório, portanto, em suas páginas amarelecidas, assinala a história da nossa Associação, que o perpassar do tempo enriqueceu e definiu como um dos mais caros monumentos da tradição de civismo da nossa Cidade.
A situação financeira apresentada pela primeira diretoria e referente ao ano de 1875 registrava saldo de 1.719$547 (Cr$ 1,72), que, por certo, comportaria nível mais elevado, pois ainda faltava a
cobrança de 26 contribuições do 1º semestre e 38 do 2º.
As contas foram aprovadas pela respectiva comissão,integrada pelos srs. Camilo de Andrade, Francisco de Paula Coelho e Manuel Pinto Soares, que, reunida em 12 de fevereiro de 1876, também propusera
voto de louvor à diretoria presidida pelo com. Nicolau Vergueiro.
Está esse relatório primitivo assinado pelos srs. com. Nicolau Vergueiro, barão de Embaré, dr. Inácio Wallace da Gama Cócrane, Azurem da Costa Filho, como presidente, vice-presidente, secretário e
tesoureiro, respectivamente, bem como pelos srs. José Ricardo Wright, Rodolfo Wursten e Pedro Antônio Teixeira.
Os presidentes - Durante a primeira centúria de existência, a Associação Comercial de Santos foi presidida por 31 cidadãos, inclusive o sr. Antônio Carlos de Assunção, que desempenhou o cargo
durante apenas 6 meses, ou seja, de junho a dezembro de 1912, completando a gestão do sr. José Maria Whitaker.
Os srs. com. Nicolau Vergueiro, barão e depois Visconde de Embaré, Antônio Carlos da Silva Teles, Ernesto Cândido Gomes, Joaquim Miguel Martins de Siqueira, Antônio Teixeira de Assunção Neto, A. S.
Azevedo Júnior, Alberto Cintra, João Melão, Alceu Martins Parreira, Geraldo G. de Melo Peixoto e Renato Freitas Levy exerceram a presidência por mais de uma vez.
Todos os presidentes da ACS têm suas fotos neste Almanaque, em páginas indiscriminadas. |