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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - TIROS DE GUERRA
Tiros de Guerra santistas (13)

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Um dos tiros de guerra de Santos era o Tiro Naval, fundado em 21/10/1917 e extinto após a Revolução Constitucionalista de 1932. A documentação destas páginas pertence ao acervo da família do comandante Armando Erbisti, sendo as imagens cedidas a Novo Milênio por Sérgio Barros de Moura, residente na cidade de Peruíbe/SP. Como este recorte do jornal O Diário, de 27 de junho de 1957 (ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagem: reprodução parcial do recorte de jornal, com anotações da família Erbisti

 

Exposição de troféus usados durante a revolução de 1932

 

Vva. cap. Armando Erbisti e sr. Alfredo Erbisti fazem valiosa colaboração - O ex-médico da Cruz Vermelha, em 1932, sr. João Carlos de Azevedo, também ofereceu armamentos usados em campanha - Até ontem estavam 48 ex-combatentes para a formação do pelotão dos veteranos - Ornamentação de vitrinas

A Comissão Executiva das Comemorações do 25º aniversário da Revolução Constitucionalista, instalada no Salão de Vereadores da Câmara Municipal, recebeu ontem à tarde a honrosa visita da sra. vva. capitão Armando Erbisti e de seu filho, sr. Alfredo Erbisti, que foram entregar à Comissão diversos objetos usados pelo Tiro Naval durante as memoráveis campanhas de 1932.

Entre as diversas lembranças da Revolução, entregues pelos familiares do ex-comandante do Tiro Naval, capital Armando Erbisti, contam-se inúmeros capacetes, documentos de campanha, quadros e fotografias tomados na época e diversas ... (N.E.: trecho truncado no recorte) pelos revolucionários paulistas, nos heróicos combates de 1932.

Todo esse acervo histórico, pertencente à família do saudoso capitão Armando Erbisti, foi entregue ao Instituto Histórico e Geográfico de Santos, que organizará em sua sede uma exposição evocativa do Movimento Constitucionalista de 1932, contante da mostra de todo e qualquer material usado em campanha. A exposição, que faz parte do programa de comemorações do 25º aniversário da Revolução, será inaugurada dia 5 de julho próximo, em sessão solene a ser realizada nessa mesma entidade, com a presença da viúva e do filho do cap. Armando Erbisti.

Outros troféus - A entrega de todo esse material histórico foi feita ontem à tarde na Secretaria da Comissão, com a presença dos srs. Osvaldo Paulino e Mariano Laet Gomes, do Instituto Histórico, dr sr. Nelson Serra, da Sociedade dos Amigos da Cidade, do sr. Amorim Filho, componente da comissão especial de vereadores integrante da comissão das comemorações, e das sras. Carolina Martins Costa e Zizi Martins, que vêm prestando valiosa colaboração à comissão executiva das comemorações do 25º aniversário da Revolução Constitucionalista.

Para a formação da exposição alusiva ao "9 de julho", a comissão está de posse também de interessantes troféus oferecidos pelo vereador sr. João Carlos de Azevedo, que prestou serviços em 1932, como médico da Cruz Vermelha. Aquele edil ofereceu à Comissão dois sabres usados em campanha, dois capacetes e uma granada.

Pelotão de ex-combatentes - A Comissão Executiva está apelando a todos os ex-combatentes de 1932, para se alistarem na Secretaria, a fim de que possa ser formado o pelotão dos veteranos, que deverá tomar parte ativa no programa de comemorações de 25º aniversário da Revolução Constitucionalista. As inscrições poderão ser feitas diretamente na Secretaria da Comissão, instalada na Câmara Municipal, ou pelos telefones 2-4410 e 2-5383.

Até o dia de ontem, já se encontravam regularmente inscritos quarenta e oito ex-combatentes santistas da Revolução de 1932.

Por outro lado, a Comissão Executiva encarece ainda, ao comércio lojista da cidade, a oportunidade da organização de vitrines com decoração alusiva ao "9 de julho", com o que poderá dar um brilho muito maior às comemorações do memorável exemplo de democracia, dado por São Paulo há 25 anos atrás.

Componentes do Tiro Naval - O sr. Alfredo Erbisti fez entrega ontem à Comissão Executiva, entre outros pertences de seu saudoso pai, de diversas cadernetas de identificação de componentes do Tiro Naval. É a seguinte a relação dos componentes do Batalhão do Tiro Naval, que tão bons serviços prestou em 1932:

Oscar César Matos, Ângelo Spinelli, Mário Aguiar de Melo, Reinaldo Alves de Sousa, Irineu Araújo dos Santos, Bolívar Morais, Antonio Andrade Mário Carvalho Lima, Gastão Aires, Roberto Aragon Gonçalves, Henrique Dias Ferreira, Antonio Pinto de Abreu, Mário Salgado César, Robespierre Rocha, José Rodrigues Rocha, Manuel Ramos, Valdomiro Furtado de Oliveira, Roberto Ohag, Argemiro de Souza Júnior, Carlos Marques Ventura, Henrique Belluomini Júnior, João Pasquarelli, Ubirajara O. Ferreira, Adail Duclos, Artur Augusto Gronau, Bento Fernandes, Moacir Duarte Pereira, Aloísio Luís França dos Santos, Aníbal Matos, Agostinho de Sousa Castro, Manuel Sampaio, Paulo Toledo, Henrique Fernandes, José Soares, Valdemar Ladeira, Manuel Pereira Barreto e José Souto Corrêa e uma caderneta que não pode ser identificada.

Todos os ex-componentes do Tiro Naval poderão receber essas cadernetas, sábado à tarde, quando da inauguração da exposição de troféus de 32, no Instituto Histórico e Geográfico de Santos, mediante a apresentação de um documento de identidade.

A família também guarda a página A-8 do jornal santista A Tribuna, edição de 9 de julho de 1992, que trata das comemorações da Revolução Constitucionalista, com destaque para a participação do Tiro Naval:

Monumento retrata o heroísmo dos combatentes paulista

Foto: Roberto Konda, publicada com a matéria

 

Cidade festeja o 60º aniversário da Revolução de 32

 

Da Editoria Local

O 60º aniversário da Revolução Constitucionalista de 32 será comemorado hoje pela Prefeitura, Câmara, Associação de Combatentes de 32 de Santos, Movimento de Arregimentação Feminina (MAF) e Polícia Militar, a partir das 8h30, junto ao Monumento do Soldado Constitucionalista, na Praça José Bonifácio.

Constam da programação festiva homenagens aos ex-combatentes, por intermédio de pronunciamento do veterano Oswaldo Franco Domingues, orador da Associação de Combatentes e do ex-delegado Renato Leite Sant'Anna, que falará pelo MAF, após o hasteamento das bandeiras Nacional, Paulista e Santista.

O desfile dos veteranos de 32 está previsto para as 9 horas, com acompanhamento da Banda Militar do 6º BPMI. A missa solene será realizada às 9h30, na Catedral, e a entrega de placa de Mérito à Associação dos Combatentes de 32 de Santos, pela Câmara Municipal, acontecerá às 10 horas. O vereador Matsutaro Uehara fará o discurso de saudação.

Após a sessão solene que será realizada na Câmara Municipal, autoridades, ex-combatentes e amigos dos veteranos de 32 seguem para o Cemitério da Areia Branca, para a deposição de coroa de flores junto ao Mausoléu do Soldado Constitucionalista. Às 18 horas, os Escoteiros de Santos executam o arriamento das bandeiras.

São Vicente - Na Praça Heróis de 32, no Gonzaguinha, às 8 horas, haverá hasteamento de bandeiras em comemoração ao movimento constitucionalista e às 9 horas será celebrada missa na Igreja Nossa Senhora do Amparo, na Avenida Capitão-mor Aguiar.

Conforme programação da Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo da Prefeitura de São Vicente, às 10 horas será feito o traslado dos restos mortais do soldado Mário Augusto dos Santos Lopes para o Mausoléu dos Heróis de 32, no Cemitério Municipal.

Na Capital - Em São Paulo, o governador Luiz Antônio Fleury participa das festividades em memória aos que tombaram no conflito de 32, pela democratização do País, que inclui desfile cívico-militar, às 10 horas, no Ibirapuera.

Deputado pede pensão para ex-combatentes

Hoje, no 60º aniversário da Revolução Constitucionalista de 32, vale lembrar que tramita na Assembléia Legislativa o Projeto de Lei nº 1.069, de novembro de 91, de autoria do deputado Erasmo Dias, que fixa a pensão especial aos veteranos de 32 em valor correspondente à de segundo tenente da Polícia Militar.

Em seu projeto, o deputado salienta que os ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial, pela Constituição Federal de 88 (Artigo 53 do Ato das Disposições Transitórias) têm como pensão o correspondente à deixada por segundo-tenente da Forças Armadas.

Em fevereiro desse ano, Erasmo Dias apresentou requerimento solicitando a tramitação do Projeto 1.069 em regime de urgência, por acreditar que a medida pleiteada ao Governo Estadual terá aprovação unânime da Assembléia.

Em junho, ele apresentou a indicação nº 1.020, lembrando o aniversário da Revolução. E novamente pediu a pensão especial para os ex-combatentes de 32, lembrando que os poucos que ainda estão vivos "já beiram os 80 anos".

Herói santista deixa depoimento

A Revolução de 32 marcou tão profundamente o ex-combatente santista Antônio de Andrade que antes de falecer, em 14 de março de 89, ele deixou seu depoimento sobre a epopéia paulista (o documento foi fornecido a A Tribuna por seus familiares).

Antônio Andrade nasceu em Santos em 1913 e participou da Revolução, apresentando-se como voluntário. No dia 30 de julho embarcou para Cachoeira, de onde seguiu para as linhas de frente fazendo toda a campanha. Regressou, no dia 2 de outubro, após o término da revolução, segundo consta do certificado de desincorporação do Batalhão do Tiro Naval de Santos.

Antônio Andrade integrou a Associação dos Combatentes de 32 e recebeu medalhas por sua participação no conflito entre São Paulo e a União. Foi casado com Celestina Fernandes de Andrade, tendo dois filhos, Wilma Therezinha e Wilson. Em 47, Antônio Andrade constituiu sua firma com o ramo de papelaria e material de escritório, administrada atualmente por seu filho Wilson.

Tiro naval era considerado tropa de 1ª linha

"Organizaram-se vários batalhões - Acadêmico - Operário - Legião Negra, e o Tiro Naval do Estado de São Paulo, o qual, nas linhas de frente, foi considerado tropa de 1ª linha. Também saíram outros batalhões, os B.C.R. (Batalhões de Caçadores da Reserva).

"Do Tiro Naval morreram em combate, entre outros, os saudosos heróis santistas. Ivampa Lisboa, Alfredo Albertini e Thiago Ferreira, que tiveram seus nomes perpetuados em algumas ruas de nossa Cidade.

"A camaradagem da tropa era magnífica, todos se ajudavam, animando-se uns aos outros. Vivíamos como irmãos. A alimentação não faltava, pois a retaguarda, muito bem organizada, se esforçava para que nada faltasse aos soldados, nas linhas de frente.

"Em campanha, a higiene é conforme as circunstâncias; eu, por exemplo, passei cerca de dois meses sem banho! Parece incrível, mas, todos têm de se adaptar às contingências de uma campanha.

"Saímos de Santos, numa tarde de julho, tendo antes passado alguns dias em Praia Grande, em defesa do litoral. Chegamos à Capital à noite, jantamos no quartel da Força Pública em Santana, se não me falha a memória, desfilamos pelas ruas da cidade e, às 24 horas, embarcamos na Estação do Norte rumo a Cachoeira Paulista, onde amanhecemos. Nesta cidade se achava instalado o Q.G. da revolução, pois a frente Norte era importantíssima.

"Montamos guarda nessa cidade, pouco menos de um mês, ficando sob nossa responsabilidade a guarda da cidade e do Estado Maior. Muitas vezes velei o sono de nossos comandantes. Mantinha profunda admiração e respeito pela figura do então coronel Euclydes Figueiredo, figura austera e de uma personalidade marcante.

"Uma noite fomos convocados para seguirmos para a frente de Queluz; formamos dois pelotões de mais ou menos 150 homens, cientificados de que iríamos "agüentar uma debandada de nossas valorosas forças em Engenheiro Bianor, um pouco adiante de Queluz. À nossa frente, seguia o trem blindado a que me referi.

"Descemos em Queluz passando a noite inteira debaixo de uma garoa fria e fina, onde aguardamos ordens.

"Durante toda a noite, presenciamos nossos soldados chegando das trincheiras que foram forçados a abandonar, pois, esses bravos não resistiram, por falta de munição, víveres e ante o maior número de forças e equipamentos do inimigo. Nessa debandada, morreu o soldado João Pinho, cujo nome foi dado a uma das ruas de nossa Cidade. Imaginem nós assistindo a tudo isso, como não estaria nosso moral? Assim mesmo, pela manhã recebemos ordens para partir para frente.

"Dividimo-nos em dois grupos de mais ou menos 75 homens cada um: um grupo foi tomar posição em determinado setor e outro, do qual eu era integrante, seguiu rumo ao desconhecido.

"Considerando não termos um oficial que conhecesse bem o terreno inimigo, já abandonado por nossos companheiros, éramos comandados pelo bravo e saudoso sargento Armando Erbisti, mais tarde promovido ao oficialato por merecimento e que desconhecia as posições que deveríamos ocupar. O que poderíamos fazer nessas circunstâncias?

"Lembro-me que chegamos a atravessar uma ponte existente adiante de Queluz, sob o Rio Paraíba (na minha opinião já em terreno inimigo), quando fomos metralhados e bombardeados; era o nosso batismo de fogo.

"Tivemos um princípio de pânico, o que era natural, devido à surpresa, e parecia termos caído numa verdadeira ratoeira. Passados os primeiros momentos em que nos jogamos uns sobre os outros dentro do trem, o maquinista, por sua própria iniciativa, e graças à Providência Divina, retornou a toda velocidade para Queluz; creio devermos a isso não termos perdido nossas vidas.

"Durante o dia, correu o boato de que a revolução tinha terminado (boatos é que não faltavam), e foi uma euforia geral: a soldadesca disparava suas armas para o ar, o que constituía mais um perigo, mas, fora tudo um boato, e aí começou a retirada das tropas desse setor.

"O Tiro Naval foi a última tropa a ser retirada, por falta de transporte, e somente à tardinha, quando nos parecia iminente a entrada dos inimigos nessa cidade.

"Posteriormente, voltamos para Cachoeira Paulista e logo em seguida fomos destacados para a frente de Silveiras, pequeno município à margem da estrada de rodagem. Aí permanecemos até o final da revolução, ou melhor, quando mais tarde houve nova retirada de nossas forças, pois, já não havia mais condições de resistência ante o maior número de homens do inimigo, e também porque o Governo que combatíamos tivera tempo de transportar tropas do Norte e Nordeste, comandadas pelo general Góis Monteiro.

"Em Silveiras, éramos bombardeados diariamente pela aviação inimiga, pelos chamados vermelhinhos, por serem seus aviões pintados de vermelho. Num desses bombardeios, uma bomba feriu alguns de nossos companheiros, felizmente levemente.

"No setor de Silveiras, tombaram em combate os bravos e saudosos companheiros Ivampa Lisboa, Alfredo Albertini e Thiago Ferreira, camaradas maravilhosos, que deram suas vidas pela causa de São Paulo. O setor de Silveiras era comandado pelo coronel Andrade, de Belo Horizonte, um dos poucos que viera de Minas para juntar-se a nós.

"Nessas ocasiões, a tristeza se apossava de nós, o moral ficava um tanto abalado, porém reagíamos, cantando a canção do marinheiro, Cisne Branco, ao rufar dos tambores de nossa banda marcial. As reações de cada combatente, nas horas amargas, são diferentes, alguns se descontrolam momentaneamente, mas a maioria, depois de breves momentos, consegue dominar-se. Depende da natureza de cada um, é o instinto de sobrevivência.

"Não sou nenhum estrategista militar, mas penso que se nossas forças tivessem avançado na madrugada de 9 de julho, talvez tivéssemos vencido a revolução, pois as guarnições do Rio de Janeiro teriam sido pegas de surpresa.

"Para se ter uma idéia do que penso, as tropas paulistas chegaram na madrugada de 9 de julho às portas de Rezende, dentro do Estado do Rio, onde pararam esperando que Minas, governada por Olegário Maciel e que estava comprometida conosco, fizesse sua parte: entretanto, foi o contrário, pois vieram contra nós. Tínhamos também o comprometimento do Estado do Rio Grande do Sul, que falhou, combatendo-nos na frente Sul.

"Talvez o critério de nosso alto comando, em não avançar além de Rezende, tenha sido para evitar derramamento de sangue, contando com o apoio desses dois estados.

"Assim, São Paulo ficou isolado do resto da Federação, lutando e cercado por todos lados, inclusive, tendo o Porto de Santos bloqueado pela Marinha de Guerra.

"Dest'arte, tivemos que nos arrumar com o que tínhamos e, ante o número superior de nossos inimigos em homens e armas, fomos vencidos.

"São Paulo foi vencido pelas armas, mas vitorioso moralmente e serviu de exemplo para o resto do Brasil, e, se hoje temos Legislativo e uma Constituição, estes nada mais foram que os frutos e sacrifícios daquele movimento histórico e que foi, aos poucos, mudando a mentalidade de nosso povo" (depoimento do ex-combatente Antônio Andrade).


Documentação fotografada por Carlos Pimentel Mendes em 16/12/2007

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