HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
TIROS DE GUERRA
Tiros de Guerra santistas (8)
Um dos tiros de guerra de Santos era o Tiro
Naval, fundado em 21/10/1917 e extinto após a Revolução Constitucionalista de 1932. A documentação destas páginas pertence ao acervo da família do
comandante Armando Erbisti, sendo as imagens cedidas a Novo Milênio por
Sérgio Barros de Moura, residente na cidade de
Peruíbe/SP.
Quando Armando Erbisti faleceu, em 1954, o ex-combatente e deputado estadual
Athié Jorge Coury, junto com monsenhor Carvalho, apresentou à Assembléia Legislativa de São Paulo o requerimento n. 217/54, cuja cópia oficial foi
entregue à família em 5/5/1954 (ortografia atualizada nesta transcrição):
Requerimento nº 217, de 1954
REQUERIMENTO Nº 217, DE 1954
Ocorreu a 24 último, na cidade de Santos, o falecimento do cidadão Armando Erbisti,
diretor da Guarda Noturna de Santos.
O desaparecimento dessa ilustre figura consternou toda a população, pois era
personalidade estimadíssima pelas suas qualidades de caráter retilíneo e bondade, desfrutando na sociedade santista de vasto conceito pelo seu
cavalheirismo e lhaneza de trato.
Nomeado diretor da Guarda Noturna, fez dessa guarnição a sentinela avançada da
polícia santista, colaborando com a segurança pública na vigilância da tranqüilidade da população. Reorganizando esse serviço, deu-lhe um cunho todo
especial, transformando a vigilância no sistema de ronda motorizada, cuja equipe, eficientíssima, contribui, assim, na manutenção do sossego
público, cooperando com as autoridades policiais.
Armando Erbisti, muito embora natural de outro Estado, elegeu Santos sua terra
querida, lutando pelo seu progresso e nela constituiu seu lar e dedicando sua atividade profissional, na qualidade de perito contador,
sobressaindo-se nas lides forenses, onde perlustrou por mais de (N.E.: SIC)
Amante da carreira militar, quando jovem alistou-se no célebre Batalhão Naval do Rio
de Janeiro, atingindo a graduação de corneteiro mor e posteriormente atingindo o posto de 1º sargento. Dando baixa desse brilhante corpo de
fuzileiros navais fixou residência em Santos, passando a servir como instrutor do Tiro Naval da cidade de Santos, organização oficial que foi
convocada para tomar parte nas revoluções de 1924 e 1930 em defesa da legalidade, destacando-se esse corpo de tropa na revolução constitucionalista
de 1932. Nesta campanha paulista, Armando Erbisti notabilizou-se no comando do garboso batalhão naval da cidade, sendo conduzido ao posto de
Capitão, por merecimento e bravura. Não conhecendo a retaguarda, seus comandados o imitaram, constituindo-se assim uma força regular digna das
demais.
Contudo, Armando Erbisti, após o término da grande jornada de Piratininga ainda
sofreu as contingências do cárcere como represália à sua notória defesa em prol da causa que empolgou todos os paulistas.
Intransigente nos seus princípios políticos, ligou-se ao Partido Social Progressista,
desde a sua fundação, continuando a luta pela nova causa democrática, recusando sempre, por várias vezes, sua candidatura a postos legislativos. Foi
um soldado exemplar até o derradeiro momento da sua vida.
Esta em linhas gerais a personalidade de Armando Erbisti e em homenagem a esse vulto
desaparecido do nosso convívio apresento ao plenário o seguinte requerimento:
REQUERIMENTO
REQUEIRO à Mesa, ouvindo-se o plenário, seja consignado um voto de profundo pesar
pelo passamento do sr. Armando Erbisti, ilustre diretor da Guarda Noturna de Santos, ocorrido naquela cidade dia 24 de abril, como homenagem da
Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, dando-se ciência à digníssima família enlutada desta resolução.
Sala das Sessões, em de abril de 1954.
(N.E.: SIC)
(a) Athié Jorge Coury
Monsenhor Carvalho
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Este recorte de jornal, não datado - por dedução, publicado num dia 28, em 1954, pouco
depois do falecimento de Armando Erbisti em abril, possivelmente no jornal santista A Tribuna - também integra o acervo de sua família
(ortografia atualizada nesta transcrição):
Imagem: reprodução do quadro com os recortes de jornal de 1932
Armando Erbisti - O comandante de 1932
Conrado de Mattos Júnior
Nestes dias tumultuosos em que vivemos, quando menos valor se dá à pessoa humana,
quando bandidos desalmados espancam e trucidam cidadãos livres e honestos no cumprimento do dever, nestes momentos de dúvidas por que passamos,
vamos evocar, nesta simples crônica, a memória daquele que em vida tudo fez em defesa da Lei e da Ordem, legando às gerações porvindouras um exemplo
de dignidade humana. Refiro-me à figura heróica de Armando Erbisti, o legendário comandante do Tiro Naval de Santos, na jornada Constitucionalista
de 1932, desaparecido no mês de abril último.
Como sabemos, a luta pela Lei e pela Ordem, sob cujo pálio batalharam os filhos de
Piratininga na jornada homérica que foi de 9 de julho a 30 de setembro de 1932, significa para nós o mais brilhante feito da história bandeirante.
Todos sabem o papel saliente da mocidade santista naquela luta, quando daqui partiram
para as diversas linhas de combate os batalhões do 7º B.C.R. Tiro Naval, 8º B.C.R, Milícia Cívica de Santos, além de outros. Dentre eles teve papel
preponderante na Frente Norte, o nosso Tiro Naval, que tomou parte ativa nas operações de guerra daquele setor.
Quem não se lembra da resistência heróica do soldado paulista em Túnel, onde páginas
de heroísmo se escreveram repetidamente? Ali, naquela mesma frente de combate, uma das mais acossadas de toda a nossa guerra, estavam os navais de
Santos, comandados por Armando Erbisti, lutando par a par com as demais tropas constitucionalistas. Ali, sob as ordens do bravo capitão Armando
Erbisti, tombaram cobertos de glória os santistas Ivampa Lisboa, João Pinho e tantos outros que pela nossa causa se imolaram lutando por um amanhã
melhor.
Sempre tratados carinhosamente, nossos soldados tudo fizeram para que vitoriosa fosse
a nossa luta. Embora em setores diferentes, pois lutávamos na frente Sul, tínhamos sempre notícias de nossos companheiros comandados pelo capitão
Erbisti. Terminada a luta nas trincheiras, não descansou Armando Erbisti, pois a sua chegada a esta cidade foi deveras acidentada, onde teve de
lutar para defender a sua integridade física, bem como a de seus comandados, seriamente ameaçados pelos inimigos da retaguarda, que após a cessação
da luta praticaram toda a sorte de desordens aqui.
Mais uma vez deu o capitão Armando Erbisti mostra de seu heroísmo e de seu
desprendimento, chamando sobre si toda a responsabilidade de seus comandados. Foi assim, o nosso valoroso companheiro, desaparecido em 23 de abril
último.
Nestes últimos anos continuou a servir a cidade noutros setores, com o mesmo
devotamento e dedicação de um santista nato, sim, porque Armando Erbisti, sendo nascido em outro Estado, ou seja, em Minas Gerais, serviu a Santos e
a São Paulo como bom santista e como bom paulista. A morte o surpreendeu em plena luta, pois, como diretor da Guarda Noturna de Santos, prestava à
nossa cidade seus valiosos serviços, embora de há muito alquebrado e com a saúde combalida.
Mesmo doente, não descansava. E como vemos, tombou lutando. É justo, pois, que a
cidade, como preito de gratidão, lhe perpetue o nome em uma de suas ruas. Aqui fica, pois, a minha sugestão à ilustre Câmara Municipal, para que
seja dado o nome de tão prestante cidadão a uma das ruas da cidade que tanto amou.
Que seja um dia inscrita numa das ruas de Santos esta placa:
- "Capitão Armando Erbisti - Herói Constitucionalista de 1932". Esse o desejo dos ex-combatentes constitucionalistas de Santos, que com o capitão
Armando Erbisti lutaram nas trincheiras da Lei, defendendo o solo de São Paulo, para que o Brasil pudesse prosseguir nos seus gloriosos destinos num
regime onde a Lei e a Ordem fossem respeitadas.
Documentação fotografada por Carlos Pimentel Mendes em
16/12/2007
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Este pedido só seria atendido alguns anos depois,
como informou o jornalista Olao Rodrigues em sua obra Veja Santos! (2ª edição do autor, 1975, Santos/SP, pág. 93):
Armando Érbisti
Praça. Bairro Jardim Rádio Clube
Encontrada entre a Rua Prof. Nelson Espíndola Lobato e a
Av. Hugo Maia (ex-Projetada 555)
Lei nº 2.532, de 26 de junho de 1962, do prefeito municipal, sr. José Gomes, deu a atual
denominação à Praça nº 565, segundo o projeto de lei nº 251, de 1961, da Câmara Municipal, de autoria do vereador Carlos Morais Carneiro, aprovado
na sessão de 7 de junho de 1962.
Armando Érbisti, embora natural de outro Estado, "elegera Santos sua terra querida" - Foi
corneteiro-mor do Batalhão Naval do Rio de Janeiro, onde ocupava o posto de 1º sargento. Dando baixa nessa corporação dos Fuzileiros Navais, fixou
residência em Santos, passando a servir como instrutor do Tiro Naval do Estado de São Paulo, ao qual prestou os melhores serviços. Durante a
Revolução Constitucionalista de 1932, a que o Tiro Naval serviu desde os primeiros momentos, Armando Érbisti distinguiu-se por atos de bravura e
desprendimento, alcançando o posto de capitão. Foi preso após a Revolução de São Paulo; anos depois ocupou o cargo de diretor da Guarda Noturna de
Santos. Faleceu a 24 de abril de 1954. |
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