O Tiro Naval de Santos, que é comandado agora pelo capitão Armando Erbisti, tem
brilhado nos setores do Norte, onde está desde os primeiros dias do movimento constitucionalista, tendo pago já, exuberantemente, o seu tributo de
sangue, porém sem esmorecimentos. E tal tem sido a sua ação, que seu comandante, que saíra de Santos como simples sargento, foi promovido a tenente
e agora a capitão, por ato de bravura.
Ontem, casualmente, encontramos Armando Erbisti.
Pedimos-lhe notícias.
E ele falou assim:
- Fui promovido a capitão. Devo tal promoção ao meu povo. QUero que façam referências
sobre Vasco Bicudo e Joaquim Lemos, ambos 2ºs tenentes, mas devido aos serviços de guerra prestados, irão logo a 1ºs tenentes. Muniz é outro
elemento de real valor, no Naval. É o homem mais sereno da tropa. O tipo do soldado alemão. Chico TicoTico, indicado para 1º sargento, é deveras
formidável!
Oriovaldo, vulgo "sargento Cobrinha", outro elemento de valor. Nascimento, Iago,
Frederico Ribas, Manoel Furtado de Almeida, Manoel Furtado de Oliveira, Pereira, Barreto, Nunes, enfim grande número de Navais estão fazendo o diabo
nas tropas inimigas! O Naval, na zona Norte, em Silveiras, era denominado pelos inimigos - segundo nos disse um prisioneiro - de "Leão do Barulho".
Quanto à minha promoção, fiquei surpreso, mas acho que foi em virtude da barragem e cobertura de retraimento que o Naval fez, com 28 homens, pois o
inimigo, aproximando-se sorrateiramente, não deu tempo de nada. Mas o bravo cap. Barreto Lins, que também tomou parte na barragem, pediu-me auxílio
e eu, com meus homens, fui em socorro dos companheiros e conseguimos debandar 3 patrulhas inimigas, fazendo cerca de 40 baixas. Na barragem,
perdemos um homem do 12º R. I e o Naval ficou com o sargento Guerino Boregio ferido.
A barragem foi mantida e o inimigo, durante cinco horas, manteve-se à distância. Só
nos retraímos quando recebemos ordem.
Sigo agora para Guará, pois o Naval e o 5º B. C. P. M. formarão um batalhão que terá
o orgulho e a felicidade de ser comandado pelo destemido capitão Freitas Borges, que tem dado provas sobejas de seu valor. É grande amigo dos Navais
e os Navais têm nele um grande chefe e amigo também.
Eu continuo no referido batalhão, comandando o Naval, pois os meus homens ainda
querem que assim seja.
Detalhe de um dos recortes de jornal
HOJE
Um homem
Armando Erbisti visitou-nos ontem. Chegava do front. Já nove combates lhe
viram a bravura e o ânimo forte de paulista. Os seus navais, os nossos navais, lá estão nas trincheiras, alegres e prontos a batalhar. Não os
perturbou o primeiro embate e agora perturba-os a ausência de lutas. Foram para bater-se. Não compreendem e nem querem repouso. O duelo há de ser
breve no seu entender e para ser breve é preciso avançar correndo.
Foi Armando Erbisti que soube com a sua fé galvanizar o corpo morto do velho tiro
santista. Mas para dar consistência e duração ao milagre, quis ser primeiro nos perigos e nos trabalhos. Onde estão os homens que comanda - honra
que a raros se concede - está o sargento sem vaidades que teima em recusar os galões que de direito lhe pertencem. Sua assistência é permanente e
constantes os seus cuidados. Até agora o Naval não perdeu um homem. E não é porque se acautele, pois o contrário está escrito na sequidão das ordens
do dia.
Erbisti fala-nos com serenidade. Sabe que vai vencer. Vem buscar gente nova. Também
precisam descansar os nossos rapazes, diz ele.
O cel. Figueiredo e o cel. Palimércio
gostaram de nós. E deram-nos a guarda de Cachoeira, quando vimos dos fossos onde se jogam balas e vidas. Precisamos uma reserva de cem homens e é
esta que eu pretendo conduzir.
***
Notícias para Santos, pedimos. Estas: - nenhuma terra paulista
sairá da guerra com mais honra e maiores feitos, responde-nos Armando Erbisti.
E continua, entusiasmando-se - dois mil
santistas estão em armas. Não há um desânimo. Não se fala em uma deserção. Para o monumento que um dia comemore a guerra da libertação do Brasil,
terá de buscar-se o assunto no episódio heróico em que dois santistas foram protagonistas - os irmãos Pinho.
***
Fala-nos mais Armando Erbisti e a gente
sente-lhe e fadiga. Damos-lhe um abraço, seguros de que apertávamos ao nosso peito alvoroçado um homem, um paulista.
L.A.