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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS 1888/89
A cidade e a República

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No final da Monarquia, em Santos, as campanhas abolicionista e republicana eram na prática uma só, com os mesmos personagens, nos mesmos locais, simultâneas. Se o trabalho dos abolicionistas terminou em maio de 1888, com as festas pela promulgação da Lei Áurea, o dos republicanos se completou um ano e meio depois, com a Proclamação da República.

Em sua edição especial de 26 de janeiro de 1939, comemorativa do centenário da elevação de Santos à categoria de cidade, o jornal santista A Tribuna publicou esta matéria (grafia atualizada nesta transcrição). Nesta edição especial - exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda -, as principais matérias não tiveram identificação de autoria, a não ser de forma generalizada no expediente do jornal. Basicamente o mesmo texto, porém, foi incluído na obra História de Santos, como sendo de Francisco Martins dos Santos, um dos citados no expediente daquele jornal:

A campanha republicana, sua eclosão e desenvolvimento

O aparecimento da idéia republicana em São Paulo data de 1870. Mal terminava a guerra com o Paraguai e a 3 de dezembro daquele ano aparecia em público o primeiro manifesto republicano, tornado famoso por ser assinado por muitos homens de valor, entre os quais alguns que tinham tido a responsabilidade de altos cargos na administração e na legislatura, e que se mostravam de todo desiludidos com a Monarquia.

O movimento avultou depois. A 17 de janeiro de 1872 realizava-se, em casa de Américo Brasiliense, a primeira reunião propriamente partidária e, em seguida, a 18 de abril de 1873, a famosa Convenção de Itu, onde se reuniam representantes de 17 cidades paulistas.

Pouco depois, a 1º de julho de 1873, reunia-se em São Paulo o primeiro Congresso Republicano, com representantes de 29 cidades da Província, no qual se elegeu uma comissão permanente, incumbida de redigir um projeto de Constituição Republicana, seguido por um segundo Congresso, em 5 de abril de 1874, com representantes de 24 cidades.

Santos foi parte de todas as preliminares do movimento idealista reformador, e a gênese do republicanismo em São Paulo foi essa.

Fotos publicadas com a matéria

Um jornal republicano - Um dos grandes fatores do desenvolvimento do ideal republicano em Santos foi o aparecimento do Raio, órgão de combate e propaganda, inflamado como o nome que trazia, cerca de 1878, fundado e mantido pelo padre Francisco Gonçalves Barroso, por Antonio Manoel Fernandes, Sacramento Macuco e o dr. Hyppolito da Silva, uma quadra de valor e prestígio na sociedade santista, tornada assim precursora da ação jornalística de Santos em favor das duas campanhas. O papel desempenhado por estes homens relativamente ao desenvolvimento dos dois ideais foi notável, pelo desassombro e pela fé com que previam a transformação do regime ainda tão distante.

Nesta altura e entre os anos de 1878 e 1879 é que se fundava em Santos o Núcleo Republicano, com Garcia Redondo, Henrique Porchat, Victorino Porchat, Antonio Carlos da Silva Telles, Américo Martins dos Santos, Alexandre Martins Rodrigues e outros propagandistas à frente, cabendo a Garcia Redondo, Victorino Porchat e Henrique Porchat as suas primeiras presidências.

Somente em 1883 em diante, porém, é que Santos apresentou um volume apreciável de adeptos da República na massa popular, e só aí puderam os seus representantes paladinos penetrar os cargos de eleição. Assim é que, na legislatura municipal de 1881 a 1883, apenas um republicano foi eleito, o vereador Francisco Emílio de Sá, que, por ocasião da proclamação da República, tendo adotado a corrente favorável a Bernardino de Campos, devia fazer parte do primeiro Conselho de Intendência, nomeado diretamente pelo presidente do Estado.

Na seguinte legislatura, de 1883 a 1886, já apareciam dois representantes da corrente anti-monárquica, os vereadores Joaquim Manoel Alves de Lima e Francisco de Paula Ribeiro, e, finalmente, na legislatura iniciada em 1887, que durou até 1889, o seu número dobrou, sendo eleitos Américo Martins dos Santos, Guilherme José Alves Souto, o padre Francisco Gonçalves Barroso (o fundador do Raio, que mantinha um colégio de boa fama) e Antonio Carlos da Silva Telles, aos quais coube o mais decidido papel da última fase idealista, quando não só os dois movimentos, como as febres e epidemias que grassavam, lhes deram, juntamente com o chefe conservador Júlio Conceição, presidente da Câmara, o direito à veneração da posteridade.

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Última fase do movimento - A última fase da propaganda republicana, em Santos, nos últimos três anos, foi simplesmente brilhante e agitada, aparecendo em remarcado destaque os nomes de Silva Jardim, lídimo arauto da República, o Antonio Bento desta campanha, cuja palavra arrebatava as multidões e cuja figura simples iluminava a alma popular, arrastando-a para a reforma; Rubim Cesar, o orador magnífico e exaltado; Vicente de Carvalho, o poeta inspirado e o jornalista destemeroso, ardente e devotado da propaganda; Henrique Porchat, A. Lacerda Franco, Victorino Porchat, Américo Martins dos Santos, padre Francisco Gonçalves Barroso, Antonio Manoel Fernandes, Manoel Franco de Araújo Vianna, Antonio Carlos da Silva Telles, Guilherme Souto, Martim Francisco, Júlio Ribeiro, Galeão Carvalhal, Gastão Bousquet, Joaquim Montenegro, José Alves Souto, Antonio Augusto Bastos, João Guerra e tantos outros vultos primaciais da campanha.

O ambiente em favor da abolição e da República em Santos era naturalmente inflamado, e certa vez, numa grande sessão pública, realizada no Teatro Rink, em favor da República, quando falava Campos Salles, Eugênio Wansuit, figura essencialmente popular de Santos e grande elemento local das duas campanhas, interrompeu-o, com alguma severidade, dizendo-lhe que ele devia ser coerente, que um republicano não podia ser senhor de escravos, e que, no entanto, ele, Campos Salles, o era ainda. Confundido então pelo mulato idealista e pela palavra sincera de Silva Jardim, que o secundara, ali mesmo fez Campos Salles a sua retratação, prometendo libertá-los assim que chegasse a São Paulo.

Neste duplo sentido eram comuns os comícios em Santos e os gestos locais ecoavam sempre nos meios abolicionistas-republicanos de São Paulo e do Rio de Janeiro, onde vários santistas se incumbiam de torná-los conhecidos em conversas e pela imprensa de combate.

A mocidade era a mesma da jornada abolicionista, acalmada desde 1886, com a libertação total dos escravos de Santos e São Vicente, animada pela ardência natural da idade e pelo exemplo cívico de Silva Jardim e outros patriotas principais da jornada.

O Piratiny, O Alvor, O Patriota, A Idéa Nova, A Procellária, A Evolução, o Diário de Santos e a Cidade de Santos eram os arautos da República e seus defensores, como haviam sido da Abolição, e neles pontificavam os mesmos propagandistas da causa histórica acidentalmente irmã, Guilherme Mello, Antonio Augusto Bastos, Felix Carneiro, Constantino Mesquita, Cândido de Carvalho, Alberto Sousa, Júlio Ribeiro, Sylvério Fontes, Aprígio de Macedo, Martim Francisco, João Guerra e outros jornalistas.

O primeiro órgão republicano santista, O Raio, substituto do Pyrilampo, simplesmente noticioso, já não existia desde muito, mas os seus antigos dirigentes e fundadores continuaram sendo figuras preeminentes e principais do movimento em Santos; somente Hyppolito da Silva achava-se então em São Paulo, para onde se transferira e onde tornou-se depois um dos grandes nomes do Estado.

"Estava tudo, pois, animado e continuava-se na propaganda da República e propaganda aberta, desassombrada, pois o Clube Republicano, em sua sede, aos domingos, hasteava a sua bandeira, também verde e amarela, como a do Império, mas as duas cores eram dispostas em listas intercaladas, e o estandarte, acompanhando o estilo da bandeira, tinha no centro, depois do dístico, o tradicional barrete frísio, encobrindo parte da lâmina de um sabre.

Nesse Clube, Silva Jardim e Martim Francisco, empenhados na luta pela liberdade de um povo, no louvável empreendimento de esfacelar o jugo monárquico, realizaram importantes conferências.

Fotos publicadas com a matéria

A propaganda de Silva Jardim - Silva Jardim, quase que despreocupado dos interesses do seu externato, viajava pelo interior, realizando conferências, propagando com ardor a forma republicana, e não contente com isso, acompanhava o conde d'Eu, onde quer que este fosse, custasse o que custasse, mostrando ao conde que ele, Silva Jardim, numa sala, num teatro ou debruçado num peitoril de janela para a praça pública, falava bem alto e da mesma forma, em favor da ação republicana.

Pouco importavam a Silva Jardim as conseqüências da sua persistência na propaganda; pouco se importou ele com o apedrejamento de que fora vítima quando em conferências no interior, tanto assim que, ao ameaçarem a sua pessoa, ele, grande na coragem e maior ainda no talento e no ardor cívico, abriu a sobrecasaca e, oferecendo o peito às balas, disse resoluto:

- Atirem! A morte, para mim, é um acidente da vida!

Neste movimento de propaganda republicana, tivemos um dia o prazer de ouvir dos lábios de Martim Francisco, de uma das janelas do Clube Republicano, na Rua Direita, uma das suas frases enérgicas.

Estava-se em palestra no Clube, quando ouviu-se música ao longe, e correu, não sei como, a notícia de que vinha uma manifestação e que não era de bom caráter para nós, os republicanos; que o Clube se prevenisse, porque era uma chusma de monarquistas, e que havia o diabo!

Eugênio Wansuit, acérrimo republicano, retira-se da sala e vai para um quarto onde estavam os livros, com o fim de carregar o revólver. As músicas e os vivas aproximaram-se; Eugênio, com a pressa, em lida com a arma, detonou uma cápsula, indo a bala alojar-se no peitoril da janela fronteira ao quarto. Houve um rebuliço e um sobressalto. Corremos, acudindo ao local. Nada tinha havido. Apenas disparara o revólver.

A manifestação, entretanto, parara defronte do Clube, e, muito ao contrário do que se dizia e esperava, ela cumprimentou o Clube Republicano, saudou Silva Jardim, Martim Francisco e outros vultos da campanha santista.

Foi nessa ocasião que ouvimos, entre outras frases, Martim Francisco dizer, em tom firme, demonstrando a sua fé e o seu destemor de republicano:

- Quero que a terra que me serviu de berço, me sirva também de mortalha!

Vicente de Carvalho tornara-se, com Martim Francisco Filho, o chefe do jornalismo republicano em sua terra. Publicava artigos em todos os jornais, e, no Piratiny, que mais usava das liberdades de expressão tomadas a contragosto da polícia contra a continuação do Império, publicou ele os mais violentos artigos de propaganda e combate.

O seu primeiro trabalho de crítica política fez época na sociedade santista de então, e nunca fora esquecido por toda a gente; era um artigo saído no Piratiny, intitulado "Um trânsfuga", artigo vibrante de indignação contra o dr. Randolpho Fabrino, republicano que, depois de formado, se bandeara para o Partido Conservador, sendo premiado com um gordo emprego público.

Assim terminava o referido artigo:

"Abandonem o Partido Republicano os que não têm a coragem de suas convicções; vendam-se aqueles cuja honestidade tem preço! Deixando à margem essas podridões que a maculam, a corrente republicana engrossa dia a dia. O futuro é nosso!".

Eram assim os republicanos santistas.

O levante do 17º batalhão - O republicanismo em São Paulo era um sentimento tão generalizado, e tão integradas estavam as suas mais importantes cidades na campanha contra o terceiro império, que, a 24 de novembro de 1888, por ocasião do levante do 17º Batalhão de linha, provocado pelo chefe de Polícia de São Paulo, "se os chefes radicais o quisessem, S. Paulo seria República nessa noite!"

Faltou apenas o arrojo de alguns responsáveis para que a proclamação política e militar do novo regime fosse feita neste Estado (então Província), como já fora feito nele todo o movimento preparatório. Sabe-se que, removendo com inteligência o perigo surgido, apressou-se o governo a mandar demitir o chefe de Polícia, enquanto o povo e a imprensa aclamavam delirantemente o 17º Batalhão.

Fotos publicadas com a matéria

A epidemia de febre amarela - Em princípios de 1889, um acontecimento lutuoso pesou sobre a cidade, mas, como se viu depois, a tristeza desse fato influíra bastante no movimento final que devia vencer em novembro, repercutindo como um toque de trombeta nos dois maiores centros brasileiros, Rio de Janeiro e São Paulo.

Com o revolvimento do lodo putrefato acumulado no antigo Porto do Bispo, por efeito das obras do cais que se iniciavam, lugar onde - produto da falta de esgotos e de higiene pública - todos os resíduos da cidade eram atirados pelo mar, e onde, por isso mesmo, bandos enormes de urubus faziam pasto, ou coincidindo com esse revolvimento, irrompeu uma calamitosa epidemia de febre amarela (a peste negra), a maior e mais funesta de quantas assolaram Santos.

Elevaram-se os clamores da população angustiada e sem recursos para fugir à propagação do terrível morbus. Em março já se elevavam as vítimas da peste a 360. A Câmara Municipal, então presidida pelo benemérito conservador Júlio Conceição, tomou as providências ao seu alcance e possíveis às suas pobres e desfalcadas finanças, secundada por toda a imprensa local e pelo Partido Republicano Municipal, que se desvelou em socorros custeados particularmente por seus membros mais abastados, sob o apoio da imprensa da Capital e da província, onde se destacavam o Diário Popular, a Gazeta do Povo, O Rebate (semanário panfletário) e A Província de São Paulo, a importante folha paulistana, então sob a redação de Rangel Pestana, mais influenciada por Júlio de Mesquita, já seu redator-secretário.

"Vieram do Rio algumas irmãs de caridade que se internaram numa dependência do Convento do Carmo e no Mosteiro de São Bento, transformado em hospital. O Rink era hospital; a Beneficência Portuguesa abriu suas portas às vítimas da febre amarela; as redações dos jornais transformaram-se em postos de informação e mesmo postos médicos para acudir de pronto a qualquer chamado; pelas ruas da cidade, uma corporação intitulada Cruz Vermelha socorria os domicílios e pessoas que de chofre caíam por terra atacadas de epidemia; os carrinhos que conduziam cadáveres dos hospitais faziam esses transportes, à pressa, dia e noite; o cemitério permanecia aberto durante a noite, tendo no cimo do portão uma lanterna cuja luz era vermelha, iluminando frouxamente, trêmula e sinistra, a lúgubre entrada que dava passagem para o interior da morada eterna!

"A população diminuía, porque os mais abastados emigravam, e os que ficavam iam sendo vitimados.

"Santos ficou deserta. O aspecto da cidade, às 6 horas da tarde e daí para diante, era triste; nas ruas, de espaço a espaço ardiam barricas com alcatrão, colorindo estranhamente as paredes, desprendendo colunas de fumo negro, que se iam desfazer no ar, junto às nuvens iluminadas às vezes por um merencório reflexo de lua...".

Por iniciativa de Júlio de Mesquita, A Província de S. Paulo abrira uma subscrição na Capital, em favor dos flagelados de Santos, enquanto o Governo Imperial, de situação conservadora, Gabinete presidido pelo conselheiro João Alfredo, em represália política à atitude dos santistas nesse terreno, não ouvia as reclamações e os apelos do povo angustiado e exposto a um completo desbarato, traduzindo desta forma e num momento infeliz a ojeriza aos elementos de oposição coligados naquele movimento de salvação pública, orientado pelos republicanos.

O que se fazia em Santos, por iniciativa simplesmente particular, mostrava definitivamente aos olhos do país o que era em verdade aquele resto de monarquia a se debater nos últimos estertores, entregue a gabinetes mal orientados, desfazendo as ilusões dos que ainda as tinham.

A Corte mantinha-se indiferente aos sofrimentos de Santos.

Nessa altura, o governador da Província, num ato de "excelsa generosidade e comiseração", enviou para Santos, do seu próprio bolso, ao que parece, a quantia de um conto de réis "para auxílio aos atingidos pela peste".

Os republicanos se ofenderam com a dádiva, e Júlio Conceição, conservador, solidarizado com os seus companheiros de Câmara, sem distinção de credo político, traduzindo o pensamento comum, nobremente recusou o auxílio.

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A luta contra a epidemia - Este fato teve imediata repercussão, tanto em S. Paulo como no Rio de Janeiro, fazendo redobrar de violência a campanha que então agitava os dois grandes centros.

Criaram-se as enfermarias particulares do Mosteiro de S. Bento, a da Chácara da Filosofia, a cargo dos drs. João Éboli e Alves de Moraes, a do Teatro Rink (chamada o Lazareto da Cruz Branca), ao cuidado dos drs. Miranda Azevedo e Galvão Bueno, e outras; além das que haviam superlotadas na Santa Casa e no Hospital da Beneficência Portuguesa, dirigidas pelos drs. Lobo Vianna e Cunha Moreira, auxiliados pelos estudantes de Medicina do Rio de Janeiro, vindos espontaneamente e por conta própria em auxílio da população da cidade, os futuros médicos Carvalho Leite, Hollanda de Lima, Oliveira Magioli e Nascimento Bittencourt, que prestaram relevantes serviços.

Só nesta altura, depois de tudo feito com o concurso do povo e principalmente dos republicanos, o governo do sr. João Alfredo resolveu providenciar algumas medidas de urgência, enviando para Santos comissões de médicos, farmacêuticos, enfermeiros, abundantes recursos, material para instalação de enfermarias de emergência, material para desinfecção dos focos de epidemia, coroados com a vinda pessoal de S. A. Real o conde D'Eu, como reparação aos fatos anteriores, mas, verdadeiramente, como propaganda à salvação do trono vacilante, do qual sua esposa, a princesa Isabel, era a herdeira presuntiva.

Não escapou isso aos republicanos de Santos, S. Paulo e Rio de Janeiro, e era o que se dizia aos apologistas do Terceiro Reinado, como resposta aos gabos de que se encheram diante desses gestos que já não enganavam a mais ninguém, porque foram tardios e não eram sinceros.

A calamidade já tinha produzido os estragos que devia produzir e a hecatombe que se teria evitado, se da parte do Governo Imperial ou do Provincial, reflexo daquele, houvessem sido atendidos os apelos da população, e a grita da imprensa de S. Paulo, logo no início da peste.

Aqueles tenebrosos sucessos tiveram, porém, a vantagem de pôr em grande relevo e definitiva evidência a benemerência de tantos homens, verdadeiros apóstolos servidores da causa pública, que, em todos os sentidos e de todas as formas, no fornecimento de quantias, nas providências pessoais, no enterramento dos pestosos, na assistência aos pobres e desamparados, haviam socorrido a população; e esses homens, em sua maioria, eram republicanos.

Nas notas que possuímos sobre estes acontecimentos e sobre as quais realizamos parte deste histórico, fornecidas por um participante das duas campanhas, o distinto paulista sr. Antonio de Arruda Mendes Filho, filho de Theóphilo de Arruda Mendes, o grande abolicionista a quem, por diversas vezes, nos referimos, diz este depoente que, entre os grandes abnegados da época, completamente entregues às múltiplas e arriscadíssimas ações em prol da salvação pública, que nem mesmo olhavam o sacrifício das suas vidas, contavam-se todos os componentes da última legislatura municipal, com Júlio Conceição à frente, Lucas Alves Fortunato, José Theodoro dos Santos Pereira, Cândido Carvalho, Vicente de Carvalho, os médicos e estudantes citados e outros muitos cidadãos.

Em maio de 1889, a calamitosa epidemia já era considerada extinta, mas, os rescaldos do terrível sinistro coletivo ainda perduravam e perduraram, constituindo motivo palpitante de comentários acrimoniosos e fundamento de ataques aos considerados responsáveis por toda a tragédia epidêmica, como de justas homenagens aos beneméritos cidadãos revelados na tristeza daqueles momentos.

Fruto desse transe, é nesse momento que aparece a Associação Protetora da Infância Desvalida, para manutenção do Asilo de Órfãos, fundada sob inspiração de Nogueira da Gama e do conde d'Eu, com o concurso dos abnegados de Santos, e cujos primeiros recolhidos foram os filhos das vítimas da recente catástrofe.

Os últimos dias do Império - Em princípios de junho do mesmo ano, caía o ministério João Alfredo e com ele a situação conservadora, subindo ao poder o Partido Liberal com o gabinete ministerial presidido pelo visconde de Ouro Preto.

O Gabinete Ouro Preto, como liberal que era, não tinha maioria na Câmara, e então, com a aquiescência de D. Pedro, efetuou a dissolução parlamentar, fazendo convocar o eleitorado do país para que se pronunciasse sobre a escolha dos novos representantes, em eleições gerais que se realizaram em fins de agosto, e que foram as últimas do Império.

Para essas eleições concorreram os partidos políticos em atividade: o Conservador, que havia deixado o poder, o Liberal, que acabava de subir, e o Republicano, ainda em minoria, mas em franco progresso e em marcha cada vez mais acentuada.

Santos era, então, cabeça do 6º distrito eleitoral, e, nas eleições anteriores, por algumas vezes conseguira eleger seus candidatos republicanos.

Nessa ocasião, após os sucessos da epidemia e ainda sob seu influxo, um numeroso grupo de republicanos, que já apoiara, em anteriores oportunidades, o nome de Bernardino de Campos para deputado pelo Partido, resolveu desta vez e por um dever de gratidão e reconhecimento apoiar o nome do dr. Júlio de Mesquita, posto em relevo nos lutuosos acontecimentos da epidemia, ao invés de Bernardino de Campos, o candidato efetivo da grande corrente.

Proposto o "caso", apaixonaram-se as duas facções formadas repentinamente dentro do Partido Republicano, dando lugar a uma grande reunião do eleitorado do mesmo Partido, em que, como voto final, ficou estabelecida a adoção da candidatura anterior - Bernardino de Campos.

Não se contentaram, porém, com semelhante resultado os partidários da candidatura de gratidão, e resolveram continuar a dissentir, sustentando na próxima eleição o seu candidato declarado.

Pela primeira vez na vida do Partido, e em toda a Província, verificava-se um tal caso, concorrendo republicanos à mesma eleição, sob a mesma bandeira, mas sob duas correntes e com dois candidatos, triunfando afinal, como é fácil presumir, o candidato geral - Bernardino de Campos.

O regime republicano - Veio por fim 15 de Novembro: a República é proclamada no Rio de Janeiro. Em S. Paulo, um santista exaltado, Alfredo Porchat, chefiando um grupo de republicanos, invade o palácio do Governo antes mesmo de positivar-se a primeira notícia, e hasteia diante do povo, entre vivas entusiásticos, a bandeira da República.

Houve muita festa em Santos pelos últimos acontecimentos, nas ruas e nos lares, comemorações de vários aspectos e categorias.

Em Santos, logo após a proclamação da República, foi aclamado um governo provisório, o qual, no mesmo dia, lançou ao povo o seguinte manifesto:

"O Governo Provisório da cidade de Santos, organizado por indicação popular, dirige-se ao povo santista e garante-lhe que empregará todos os esforços compatíveis com o seu dever, com a honra e com o civismo para que seja mantida a ordem pública em Santos e estabelecendo em sólidas bases a forma republicana na direção do país.

"Recebida entre festas e aclamações populares, a República manter-se-á trazendo consigo a paz e o progresso.

"Dispostos a viver em um regime mais adiantado do que o decaído há poucas horas; dispostos a todos os sacrifícios inerentes ao cargo que aceitaram da vontade do povo, os membros do Governo Provisório firmam sob juramento a promessa de que não duvidarão arriscar pelo futuro democrático da Pátria a sua vida, o seu sangue, a sua tranqüilidade e bem estar.

"Povo santista! Ordem e Liberdade! Viva a Pátria!

Antonio Lacerda Franco
Antonio Carlos da Silva Telles
Martim Francisco Ribeiro de Andrada
José Azurem Costa Júnior
Ernesto Cândido Gomes
Leão Luís Ribeiro
Walter Wright
Guilherme José Alves Souto
Henrique Porchat
Manoel Franco de Araújo Vianna".


A primeira administração republicana - Nomeado o triunvirato que assumiu o Governo de São Paulo sob a chefia de Prudente de Moraes, que se tornou depois o governador efetivo, tratou-se mais tarde das administrações municipais. O Governo do Estado adotou o critério de consultas prévias aos dirigentes republicanos de cada localidade. De Santos subiram duas listas para apreciação do Governo, refletindo a opinião de cada um dos grupos políticos formados pela cisão anterior.

O Governo do Estado optou pela lista composta dos elementos que apoiavam a corrente Bernardino de Campos, e sob esse critério, considerando que a tutela administrativa exercida durante mais de meio século sobre os municípios só havia produzido o entorpecimento e a penúria na sua vida econômica, etc., decretou ele que o poder, ou governo municipal, fosse exercido por Conselhos de Intendência Municipal nomeados pelo governador. Foi desta forma nomeado o primeiro Conselho santista, que ficou assim constituído:

Presidente - dr. José Xavier Carvalho de Mendonça.

Vice-presidente - Ernesto Cãndido Gomes.

Intendentes: Luís José dos Santos Dias, Francisco Emílio de Sá, Martinho Leal Ferreira, José Serafim Cardoso, dr. José da Silva Vergueiro (que não aceitou), José Azurem Costa Júnior, Manoel Franco de Araújo Vianna e dr. Lino Cassiano Jardim. Conselho esse que funcionou de 21 de fevereiro de 1890 a 18 de fevereiro de 1891.

A ala dos dissidentes rompeu em oposição ao nascente Governo do Estado, organizando o seu Clube à parte, o Centro Republicano, e deu início à atividade político-partidária, inteiramente desligada da outra facção.

O antigo Partido Republicano de Santos, onde durante alguns anos todos se haviam unido, sofreu a dissolução, mas, os elementos que apoiavam a maioria da sua diretoria e a Intendência Municipal nomeada pelo Governo tomaram a iniciativa da fundação do Clube Nacional, encetando também sua ação político-partidária, de apoio ao Governo Central.

A vida republicana em Santos começara, pois, com a divisão dos republicanos em dois grupos, com o mesmo ideal, a mesma bandeira, mas em campos opostos.

Sob a iniciativa de elementos do Centro Republicano, organizou-se logo depois uma sociedade anônima e fundou-se o Diário da Manhã, cabendo sua direção ao eminente propagandista dr. Vicente de Carvalho, que escolheu para seus redatores auxiliares Cândido de Carvalho, Alberto Sousa, Júlio Riedel e para administrador ou gerente do jornal, Miguel Ribeiro, que viera d'O Estado de São Paulo (antiga Província de São Paulo), tendo como repórter Juvenal Pacheco, rapaz muito apreciado nas rodas boêmias da cidade.

Por sua vez, os elementos do Clube Nacional, que até então se serviam das colunas do antigo Diário de Santos, resolveram fundar também um órgão próprio, e assim apareceu O Nacional, por aquisição de todo o material do Correio de Santos, órgão popular mantido pelo Grêmio Português, de cuja direção tomou conta Horácio de Carvalho, auxiliado pelo dr. Estácio Corea e outros elementos vindos de São Paulo.

Nessas verdadeiras tribunas populares se ostentou durante muito tempo toda a ideologia desses precursores da República, que se fundiram mais tarde, para continuação pacífica da obra republicana.

Entre os elementos dos dois clubes republicanos de Santos, podemos hoje distinguir, pela informação dos contemporâneos, os seguintes cidadãos:

Centro Republicano - Henrique Porchat, dr. Vicente de Carvalho, Américo Martins dos Santos, Ricardo Pinto de Oliveira, Guilherme Souto, dr. José Cesário da Silva Bastos, Augusto Teixeira de Carvalho, José Moreira de Sampaio, dr. Martim Francisco Filho, dr. Manoel Maria Tourinho, Joaquim Montenegro, José Domingues Martins, Narciso de Andrade, Antonio Bento de Amorim, Luís Ayres da Gama Bastos, Augusto Mesquita, Antonio Augusto do Couto, Guilherme de Mello, Pedro de Mello, Cândido de Carvalho, Benedicto Pinheiro, Alexandre Mello, Francisco Antonio de Sousa Júnior, João Vicente Marcondes, Virgílio Gomes Marcondes, Gabriel Soares, Leonardo de Castro, Elisiário de Arruda Castanho, e outros.

Clube Nacional - Antonio de Lacerda Franco, Antonio Carlos da Silva Telles, Manoel Franco de Araújo Vianna, dr. Carvalho de Mendonça, cel. Gil Alves de Araújo, Martinho Leal Ferreira, Theóphilo de Arruda Mendes, Ernesto Cândido Gomes, Antonio Augusto Bastos, João Guerra, Theodorico de Almeida, Paulino Ratto, Frederico Junqueira, dr. Segadas Vianna, Jacob Itapura de Miranda, dr. Raymundo Sóter de Araújo, Antonio Iguatemy Martins, Francisco Ribeiro Ratto, Francisco Cruz, José Bernardo de Araújo, Antonio José Malheiros Júnior, José Bonifácio de Andrada Netto, dr. Heitor Peixoto, Ascendino da Natividade Moutinho, Alberto Costa, Eduardo Weismann e outros.

Um documento existe, que nos mostra hoje o destemor, o desassombro com que agiam os republicanos de Santos, não recusando assinar em público e raso a prova da sua "traição ao regime monárquico": é um grande álbum de 33 folhas em papelão acetinado, dourado e pautado, com uma riquíssima capa em ardósia grossa e bronze cinzelado, o barrete da República ao centro sobre armas também de bronze, e a sub-capa em couro legítimo chapeada do mesmo metal, oferecido a um dos grandes companheiros de jornada.

A 15 de agosto de 1888, um ano e quatro meses antes do advento republicano, os idealistas de Santos ofereceram-no ao apóstolo da campanha contra o terceiro reinado, o ardoroso Silva Jardim, como estímulo e admiração à sua coragem cívica, com a seguinte dedicatória:

Os republicanos de Santos
Ao democrata
Dr. Antonio da Silva Jardim - 1888

Abre a homenagem a proclamação a seguir, subscrita por todos os adeptos da causa republicana:

"Cidadão

"O Partido Republicano de Santos cumpre um dever cívico, assinalando nestas páginas um testemunho do muito que vos deve a nossa causa comum. Ele fala em nome da Pátria e em nome da Idéia Republicana.

"Em constantes conferências, e ultimamente em excursão de propaganda, abandonastes interesses, bem estar; arrostando perigos, desprezando preconceitos, tudo fizestes em benefício da Pátria, em benefício da causa Republicana.

"Coração patriótico, tudo por ela esquecestes; espírito superior, fizestes vibrar na alma do Povo o amor da Liberdade.

"Os republicanos de Santos vos saúdam como apóstolo da República. Eles julgam antecipar assim o juízo da História. A vossa palavra fecundará o solo da Pátria. E um dia, o Futuro bendirá o vosso nome, como nós vos aplaudimos hoje.

"Santos, 15 de agosto de 1888.

Antonio de Lacerda Franco, Henrique Porchat, Martim Francisco Ribeiro de Andrada Sobrinho, Guilherme P. Souto, I. Luís Ribeiro, Joaquim Dias da Silva, Ricardo Pinto de Oliveira, Andrelino A. Silva, Francisco Cruz, Gil de Sousa Rodrigues, Theóphilo Aguiar, Luciano Pupo Nogueira, N. O. Silveira Martins, Sebastião José dos Santos, Júlio Backeuser, Virgílio Gomes Marcondes, Gabriel de Lima, J. F. de Barros, Guilherme de Mello, Leôncio A. Carneiro, Augusto Teixeira de Carvalho, João Vicente Gomes Marcondes, Francisco Antonio Bastos, Américo de Campos Moura, Pedro Borges de Sáes, P. H. Freitas, Eugênio Silveira da Motta, Joaquim Feliciano da Silva, Joaquim Silvério dos Reis Montenegro, João Bernardino de Lima Júnior, Norberto Lobo Vianna, José Lopes dos Santos, Vicente de Carvalho, Francisco Feliciano da Silva, Antonio Eugênio Wansuit, Jeronymo Santos Moura, João dos Santos Moura, J. M. Alves Lima, Antonio Carlos da S. Filho, Luís Suplicy, José Manoel de Vasconcellos, Joaquim Bueno da Veiga, Henry E. Bidoulac, B. S. Mursa, Constantino de Mesquita, Paulino J. Ribeiro Ratto, José Ferraz Arruda Campos, João de Freitas, Fernando Monteiro da Silva, B. S. Carneiro, Leal Ferreira Júnior, João Guerra, Rodrigo Augusto Martins, Affonso Adelino de Aguiar, Antonio Ferreira Duarte, Augusto Filgueiras, J. S. Vergueiro, Pedro Prado, Hermano Backeuser, João Antonio da Cunha Júnior, A. L. França, Mathias Roiz da Nova, Theóphilo de Arruda Mendes, Antonio M. Moura, Francisco de Toledo Carneiro, Antonio Martins Vieira, Felício dos Santos Moura, Pedro de Mello, José Caetano Munhoz, Antonio Bonifácio de Arruda, Américo Martins dos Santos, Ângelo Napoleão de Sousa, José Isidoro Bueno, Manoel Evaristo Bueno, Antonio Guedes de Freitas Vasconcellos, Manoel Pereira de Simas, J. F. Rangel, A. Mesquita, Gastão Bousquet, Joaquim Mariano C. Moura Jr., Joaquim Gonçalves Neves, dr. Brasilino Americano Freire, José Carneiro Bastos, Luís de Castro Camargo, Affonso Lopes dos Santos, José Pinto da Silva Novaes, José Rodrigues Caldeira, José Octaviano Machado, Francisco de Paula Machado Jr., Paulo Ribeiro, Antonio Augusto Bastos, Roberto Bicudo, Cecílio Manoel de Oliveira, José da Rocha Camargo Mello Júnior, José Moreira Sampaio, Bento Teixeira da Silva, Joaquim José de Toledo, Joaquim d'Oliveira Mello, Luiz Galvão Corrêa, Astolpho Ribeiro de Noronha, Joaquim Cordeiro, José Bernardes de Oliveira, Francisco Corrêa de Almeida Moraes, S. A. de Paula Martins, Antonio Francisco Pereira, Antonio Teixeira da Silva, José da Silva Guimarães, José Evangelista de Lima, Felix Vianna Júnior, dr. Raymundo Sóter de Araújo, Manoel Franco de Araújo Vianna, João Netto, José Bonifácio de Andrada e Silva Netto, Joaquim Duarte da Silva, Francisco Manoel Fernandes, Antonio José Malheiros Delta, João Pontes, Avelino Brasiliense Carvalho, Pedro Cunha, João Xavier da Silveira, José Martins dos Santos, Pedro da Silva Mendes, Pedro Xavier de Moraes, Fernando Martins Bonilha Júnior, J. de Abreu e Silva, J. A. da Silva Gordo, Horácio Guayer, A. Nicolau de Sá Júnior, L. José dos Santos Dias, Ernesto Cândido Gomes, Francisco de Lima Nogueira, Manoel Azurém Costa, Francisco Vianna d'Araújo Lins da Fonseca, Tito Alberto de Paula Martins, Oscar R. Ribeiro, Walter Wright, Geraldo Leite da Fonseca, Melchior do Amaral Mello Bonilha, José de Quadros Pacheco, Luís Ayres da Gama Bastos, Jeronymo Álvares Lobo, Pedro Vaz de Mello, Júlio de Albuquerque, Arthur Aguiar, João Cândido de Carvalho, José Ferreira de Oliveira, Carlos Victorino Ferreira, João Salermo Coelho, Augusto Carvalho, Leonardo Antonio de Castro, Gilberto Pedro Franco, A. Sá de Affonseca, George Americano Freire, Argeu Silveira, Martiniano Lopes de Sousa, Francisco Augusto S. da Silveira, João E...., Fábio Uchôa, Júlio Doneux Júnior, Leon Doneaux, Manoel Corrêa de Freitas".

Após estas assinaturas, o referido Álbum contém, a começar de maio de 1889, conceitos e orações assinados por propagandistas e republicanos do Rio de Janeiro e de Santos, sendo o primeiro conceito da série emitido por Assis Brasil:

"Tudo pela Pátria, quer dizer: Pela República! - Rio, 27 de maio de 1889 - Assis Brasil",

continuando, depois, os de Sampaio Ferraz, Magalhães Castro, A. Varella, Henrique Corrêa Lemos, Anníbal Falcão, Júlio Diniz, Generino dos Santos, Silva Jardim, padre João Manoel, Joaquim Xavier da Silveira Júnior, Bueno de Andrada, Duarte Huet de Bacellar, Pinto Guedes, Josephino Felício dos Santos, Carlos Falcão, Augusto M. de Moraes, J. S. Martins Júnior e Elisa Martins, Olga H. Busch Varella, A. M. A. Jardim, Martim Francisco, dr. Cosme Moreira de Almeida, J. A. Pedreira Franco, Carvalho Lobo, Ed. B. Varella, Milcíades Mário de Sá Freire, Camilo Vieira, Fonseca Hermes, dr. Urbano Marcondes, Homem de Mello, Oscar d'Araújo, Herculano Inglês de Sousa, R. de Sá Valle, Teixeira de Sousa, Augusto Tasso Fragoso, Servillo Gonçalves, Sampaio Ferraz, José Bevilácqua, Oscar d'Araújo, José Leôncio da Costa, Chagas Lobato, Rodolpho Abreu, Carlos Chagas, Aristides Maia, José J. F. Rabello e T. Mineiro.

Este Álbum acha-se hoje na Biblioteca da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio, em Santos, como um atestado vivo da fé dos que não temiam os efeitos de uma confissão pública, verificada em pleno Império, das suas convicções republicanas, servindo ao mesmo tempo para trazer sempre aos olhos do povo muitos daqueles cujos nomes, de outra forma, desapareceriam sob o pó do tempo, alheados do merecimento da campanha vencida e do ideal pátrio realizado, o que não seria justo.

Os republicanos santistas e a sua imprensa foram os grandes secundadores da obra de transformação política do Brasil, como parte do republicanismo de São Paulo, que deu ao republicanismo brasileiro a garantia do triunfo na campanha contra o terceiro reinado, colocando Santos em situação relevantíssima nessa fase evolutiva da pátria comum, que nos permitiu a rápida carreira ascensional na escala do progresso, cujos resultados hoje desfrutamos.

Não fecharemos, porém, este capítulo, sem transcrever as linhas de um esparso encontrado, de jornal muito velho, cujo nome, porém, e cuja data não conseguimos apurar, sobre a figura de Silva Jardim, o apóstolo da República, desaparecido tragicamente nas entranhas do Vesúvio, no ano de 1891:

"Feita a Abolição, a propaganda republicana tomou um incremento extraordinário, graças a Silva Jardim.

"A maneira pela qual a República procedeu com esse grande, com esse estupendo propagandista, é uma página infame nos seus anais.

"A Constituição Federal chama Benjamim Constant - o Fundador da República. É, de fato, provável que, sem ele, no dia 15 de novembro, a República não tivesse sido feita. Só provável. Mas é certo, absolutamente certo, para todos os que viveram no Rio de Janeiro em 1888 e 1889, que, sem Silva Jardim, ninguém pensaria sequer nessa solução.

"Quem, sem o conhecer, visse surgir no palco de qualquer teatro aquele gafanhotinho, não daria nada por essa figura insignificante. Mas, assim que começava a falar, havia um deslumbramento. Discutia e comovia. Nada de retórico palavroso: era um homem instruído, um argumentador poderoso".

Quando Silva Jardim, no dia 2 de julho d e1891, desapareceu na cratera do Vesúvio, a notícia do desastre foi um verdadeiro luto em Santos, e, seja dito de passagem, para todo o Brasil que o conhecera, como homem, como literato, como abolicionista e como republicano. O governo federal mandou, então, que se desse o seu nome a um transporte de guerra, e as duas cidades, de Santos e Rio de Janeiro, apuseram seu nome a uma placa de rua.

***

Os últimos fatos ocorridos em Santos e ainda diretamente ligados à proclamação da República foram os que tiveram origem nos boatos de revolução no Rio de Janeiro para restauração da monarquia, mostrando as convicções de todo o povo. Augusto de Carvalho, um dos membros da direção do Clube Republicano, organizou, com a mocidade santista, um batalhão patriótico para defender a obra de 15 de novembro, coisa que conseguiu em breves dias, realizando-se os exercícios no Teatro Rink, tendo como instrutor o major Constantino Xavier, ex-graduado do Exército, e que depois foi delegado de polícia em Santos.

Do Rink passaram os exercícios a serem feitos no arsenal dos Aprendizes Marinheiros, situado então na Rua Xavier da Silveira.

Pouco tempo depois, com a recusa dos poderes competentes em mobilizar a força voluntária santista, e com a verificação de sua desnecessidade, Augusto de Carvalho reuniu, na sala do Clube Republicano, todos os seus alistados e, depois de agradecer aos rapazes os esforços empregados e o acolhimento dispensado à sua idéia, queimou, na chama de um fósforo, a lista em que todos haviam assinado como soldados defensores da República, dissolvendo o batalhão.

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