Foco de luz poderia ser resultante até do surgimento de algum planeta há milhões de
anos-luz
Reprodução feita pelo fotógrafo Anésio Borges em 28/3/1998, publicada com a matéria
FENÔMENO
Físico coloca em dúvida a filmagem de OVNI
Para cientista, a fita com imagens feitas na região do José Menino precisa ser
submetida a exames por especialistas
Da Editoria Local
O professor titular de Física Aplicada da Universidade
Católica de Santos (Unisantos), Antônio Tadeu Frutuoso Amado, descartou ontem a possibilidade de o objeto filmado no céu da Cidade, na madrugada de
sábado, ser um objeto voador não-identificado (Ovni). O conjunto de luzes e cores de forma circular foi visto e filmado durante 40 minutos pelo
morador Valentin do Nascimento Júnior e sua esposa, no José Menino.
Segundo o professor Tadeu, a improbabilidade se prende a diversos fatores. Primeiro, o
céu da Cidade tem estado totalmente encoberto nas últimas noites, com pouca ou nenhuma visibilidade, motivo pelo qual a filmagem de qualquer objeto
"é praticamente impossível".
Além disso, o físico acredita que qualquer foco de luzes, como o farol dos carros no
morro refletido na atmosfera, ou os "canhões" de luzes normalmente usados em festividades, e de alta intensidade, pode gerar imagens no céu e ser
confundido com objetos voadores.
Leitor de obras como Contatos, do astrônomo Carl Sagan, que analisam supostas
aparições à luz da Ciência, Tadeu Amado considera o "espaço de todo o universo muito grande para só a civilização humana habitar", mas ainda não
constatou evidências científicas claras sobre a existência de ovnis. "Por enquanto, tudo o que existe são relatos não comprovados e, em muitos
casos, execrados pela comunidade científica".
Como sugestão, o físico recomenda que a fita seja minuciosamente analisada para,
inclusive, verificar se não houve fotomontagem.
Bolas de energia - Também para o físico Fernando Cachucho da Silva, do
Instituto Astronômico e Geofísico da USP, "o que existem são apenas suposições".
Apesar de não descartar a possibilidade de existirem outros habitantes no Universo,
Cachucho entende que muitos fenômenos atmosféricos ainda precisam ser melhor estudados, pois são facilmente confundidos com ovnis. Fenômenos como as
bolas de energia que surgem após abalos sísmicos, por exemplo, e que já foram identificados recentemente em Peruíbe.
Os abalos provocam a liberação de muita energia, que se concentra na atmosfera e forma
verdadeiras "bolas". "Mas qualquer afirmação categórica só é possível depois de analisar muito bem a fita".
Com a experiência de quem já estudou no Instituto de Pesquisas Espaciais e atualmente
tem a base de seus estudos em asteróides, o físico acredita que, a exemplo dos habitantes da Terra, os eventuais moradores de outras partes do
Universo tentariam estabelecer com os humanos algum tipo de comunicação via emissão de ondas de rádio, por exemplo.
"A comunicação é o primeiro sinal de uma civilização avançada. Então, há de se supor
que essa seria a forma de se comunicarem com a Terra. No entanto, não há relatos comprovados de que isso já tenha acontecido", pondera.
O físico também explicou que, sob determinadas condições atmosféricas, o nascimento
dos planetas provoca a profusão e reflexão de luzes, visíveis a olho nu. Pela proximidade com a Terra, Cachucho não descarta a possibilidade de o
morador ter confundido um ovni com o nascimento de Júpiter, por exemplo.
Radar não acusou - Na Base Aérea de Santos, a torre de controle de radar não
registrou qualquer sinal diferente no período em que o morador afirma ter filmado o ovni.
O bispo dom David Picão, que pessoalmente disse ter visto apenas a "queda brusca de
alguns meteoros no céu", explicou ontem que a Igreja está "observando os fatos e suas comprovações". A Igreja Católica, segundo explicou, nem
acredita nem desacredita, mas vem acompanhando todos os relatos.
Ornelas: "É o grande assunto do dia"
Foto: Sílvio Luiz, publicada com a matéria
Enquete mostra que o assunto divide as opiniões
Montagem de um cinegrafista amador, fenômeno físico ou fruto de uma imaginação fértil.
Não houve consenso numa enquete de A Tribuna sobre a existência ou não de um suposto Ovni. O único aspecto dessa história que ninguém discute
é o interesse e a polêmica despertados pelo assunto.
Segundo o jornaleiro Reginaldo Ornelas, de 40 anos, diversas pessoas paravam em sua
banca para observar as fotos e ler a chamada de primeira página. "Esse foi o grande assunto do dia", comenta. Entre seus clientes não houve uma
decisão unânime. O próprio Reginaldo não duvida da prova. "Isso ocorre em todo o mundo, por que não aqui?", questiona. Para o jornaleiro, a
população não crê na existência de Ovnis por ser muito "desconfiada de tudo. Ela só acredita no que vê".
"As pessoas estão assistindo muitos filmes de ficção hoje em dia", afirmou a estudante
Fernanda Cabral, de 17 anos. Ela afirma que a gravação foi, provavelmente, uma montagem. Sobre a crença das pessoas em Ovnis e vida extra-terrestre,
ela afirma que "eles acreditam naquilo que querem acreditar". Seu pai, o comerciante Luís Cabral, da mesma opinião, lembra: "Quando os portugueses
atravessaram o Atlântico para virem até a América, achavam que a terra era plana e monstros habitavam os seus limites. Depois a Ciência veio e
explicou tudo". Ele afirma que o objeto de luz gravado não passa de um fenômeno científico.
Seguindo o lema atribuído a São Tomé, "ver para crer", o porteiro Nestor de Souza
comentou só acreditar quando acontecer com ele. "Ele deve ter visto alguma luz", explica.
O engenheiro civil Antonio Cerqueira Leite concorda que exista muita mistificação
quando se aborda o assunto, mas acredita em Ovnis. Ele não quis dar opinião sobre a veracidade da imagem, vista na madrugada deste sábado,
preferindo esperar a análise de especialistas.
Fernanda: "Gravação foi uma montagem"
Foto: Sílvio Luiz, publicada com a matéria
"Dragão verde" no céu santista
Mendes Neto (*)
Da Editoria Local
Diante do imenso tamanho do Universo, é aceitável que os seres humanos, utilizando a
capacidade racional, pensem na hipótese de que existam outras formas de vida. Além da razão, para formular hipóteses e desenvolver métodos seguros
de comprovação, podemos ainda utilizar a imaginação. Para esta não há limites.
Mas, segundo os preceitos da Ciência, a imaginação deve estar sempre subordinada à
observação rigorosa.
Nenhuma teoria científica tem caráter absoluto ou definitivo. A história da Ciência
mostra que as teorias, nas diversas áreas do conhecimento, são alteradas conforme surgem melhores hipóteses explicativas e evoluem os métodos de
verificação e pesquisa.
Mas, normalmente, quando há situações estranhas e inusitadas, o homem tende a explicar
do modo mais fácil, quando não há explicação melhor. O filme Os Deuses Devem Estar Loucos aborda, com bom humor, o problema criado para uma
tribo de bosquímanos africanos pelo surgimento de uma garrafa de Coca-Cola em pleno deserto da Namíbia. Como não se conhecia nem vidro, nem garrafa
e nem Coca-Cola, os bosquímanos atribuíram a presença daquele objeto (a garrafa) à vontade dos deuses.
O astrônomo americano recentemente falecido, Carl Sagan, grande divulgador da ciência,
em seu último livro, denominado O Mundo Assombrado Pelos Demônios (Companhia das Letras), aborda com limpidez cristalina a questão dos
supostos Ovnis e outros fenômenos que, de tempos em tempos, pessoas costumam dizer que viram.
Segundo o astrônomo, que relata infindáveis casos em seu livro, o que não há é
comprovação científica sobre as aparições. Muitos casos se referem a alucinações, remetendo ao campo psicológico; outros podem ser explicados pelos
diversos ramos da Física. Outros, ainda, são pura e simplesmente fraudes.
Os que gostam do assunto costumam contrapor aos argumentos científicos a famosa tese
do complô. Isto é, quando cientistas ou autoridades militares questionam as aparições, fala-se de um complô para esconder a verdade dos fatos. Como
se as autoridades estivessem coniventes com os alienígenas e contra os interesses da população da Terra.
Carl Sagan conta de um amigo que dizia ter um dragão verde fechado na garagem. Sagan
não conseguia vê-lo, senti-lo, apalpá-lo, cheirá-lo. Isto é, para o astrônomo, não havia como provar que o dragão não estava lá, pois sempre o amigo
dizia que o dragão estava, mas era invisível, transparente, inodoro etc.
Não havia como provar que a fera não estava lá e nem que estava. A não ser na cabeça
imaginativa do suposto dono do dragão.
(*) Mendes Neto é professor de Teoria da
Comunicação na Unisantos e na Unisanta.
Nestor de Souza: "É preciso ver para crer"
Foto: Sílvio Luiz, publicada com a matéria
|