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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [45]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho é a seguir reproduzido, em suas páginas 931 a 938, referentes ao Estado (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte

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O porto da capital
Foto publicada com o texto, página 931. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Pernambuco

O estado de Pernambuco é um dos grandes centros produtores do Brasil, especializando a sua atividade nas indústrias do algodão e do açúcar. Situado no extremo oriental do país, o estado de Pernambuco se limita: ao Norte, com os estados da Paraíba e do Ceará; ao Sul, com os estados das Alagoas e da Bahia; a Leste, com o Oceano Atlântico e o estado das Alagoas; a Oeste, com os estados do Piauí e da Bahia.

Separam Pernambuco do Piauí os rios Abiaí e Ipopoca, as serras dos Cariris Velhos e da Piedade, também conhecidas pela denominação de Borborema. Separa-o do estado do Ceará a serra do Araripe e do de Alagoas o Rio Persinunga. A linha divisória entre Pernambuco e a Bahia é composta pelo talweg do Rio S. Francisco, desde a barra do Moxotó até o lugar denominado Pau da História, abaixo da Cachoeira do Sobrado. Separa-o do estado do Piauí a serra de Ibiapaba, nos pontos em que ela se denomina Dois Irmãos e Vermelha até o contraforte que a liga à Serra do Araripe. São estas as linhas consideradas, por assim dizer, tradicionalmente, como limítrofes do estado de Pernambuco.

Apesar de lhes faltar ainda uma demarcação definitiva, não têm tais limites originado questões sérias entre Pernambuco e os estados vizinhos. O estado de Pernambuco fica entre os 7º e 10,4º Oeste de latitude meridional, e entre 1º e 8º25' de longitude oriental. De Norte a Sul, a sua maior extensão é de 30 léguas, do contraforte da Serra do Araripe à margem esquerda do Rio S. Francisco; de Leste a Oeste, de 155 léguas, do Cabo de Santo Agostinho à Serra dos Dois Irmãos, limite com o estado da Bahia. A sua linha de litoral, compreendida entre 7º30' e 8º65', mede cerca de 40 léguas de extensão. O território do estado de Pernambuco abrange uma área calculada em 128.395 quilômetros quadrados.

Além das serras já citadas, há ainda: a da Gameleira, entre os rios Paraíba e Gravatá; a da Balança, entre o Rio da Pitombeira, afluente do Terra Nova, e o Rio dos Porcos que corre para o Ceará; a Negra, entre o Rio do Navio, afluente do Pageú e o Rio Moxotó, por sua vez afluente do Rio S. Francisco; a da Aldeia Velha, entre o Rio Moxotó e as cabeceiras do Rio Ipojuca; e do Comonati, entre os rios Guaranhunzinho e Ipanema; a de Ararabá, a Leste do Rio Ipojuca; a da Porteira, à margem esquerda deste último rio; a de Jacarará, nas nascentes do Rio Capiberibe; as do QUilombo e da Rosada próximas à de Jacarará; a das Cabeçadas, entre o Rio Tabocas e o Rio Ipojuca; a do Gigante, entre Garanhum e Águas Belas; a das Russas, entre os Rio Ipojuca e Tapacorá; a de Mascarenhas e outras de menor importância.

No sistema potamográfico do estado de Pernambuco destacam-se os seguintes rios: o S. Francisco, que recebe, na margem pernambucana, as águas dos rios Jacaré, unido ao da Brigida, o Terra Nova, o Pajeú, o Mandantes, o Campinhos, o da Ema e o Moxotó; o Paraíba,que, nascendo em Pernambuco, o atravessa e vai desaguar no estado das Alagoas; o Mundaú e o Ipanema ou Panema; o Capiberibe ou Capibaribe, que nasce nas faldas da serra de Jacarará, no lugar denominado Olho d'Água do Gavião ou Lagoa do Brejo e num curso de 480 quilômetros atravessa as comarcas de Brejo, Limoeiro, Espírito Santo e Recife, recebendo os afluentes Arroz, das Pégas, Urubu, Fanado, Patos, Onça e muitos outros; o Ipojuca, que nasce na serra da Aldeia Velha, também denominada das Moças, correndo na direção Leste-Oeste, banhando os municípios de Pesqueira, Camaru, Bezerros, Gravatá e Escada, com desaguamento no oceano depois de receber os afluentes Bituri, Taquara, Vertentes, Mel Salgado e Mocós.

Ao passar pela comarca da Enseada, o Rio Ipojuca forma a cachoeira do Urubu, numa extensão de 114 metros, e numa queda d'água de 50 metros de altura, constituindo uma das mais pitorescas belezas naturais do estado. Curioso é o aspecto que as suas águas apresentam no inverno; a princípio, tomam uma cor escura que, sucessivamente, muda para barrenta, amarela, vermelha e esbranquiçada, já então livre das impurezas; e todo esse processo de purificação se opera num fervilhar ruidoso de espumas revoltas. Há ainda outros rios importantes, com muitos afluentes que seria demasiado longo enumerar.

Entre as lhas pertencentes ao estado de Pernambuco, destaca-se, em primeiro lugar, a Ilha de Fernando de Noronha, de origem vulcânica. É muito afastada da costa, estando situada a uma distância de 66 milhas ao Noroeste do Cabo de São Roque e de 97 Nordeste de Recife.

Por todos os lados, a ilha é rodeada de encostas altas e inacessíveis, oferecendo apenas dois pontos abordáveis: ao Noroeste, numa enseada abrigada pela Ilha Rata, com grandes depósitos de fosfatos, e o outro, a praia do Lear. A Ilha de Fernando de Noronha serve de presídio aos criminosos condenados à prisão com trabalho. Tem duas fortalezas, um parque de artilharia e dois redutos.

A Ilha de Fernando de Noronha foi descoberta em 1503, pela segunda expedição enviada em reconhecimento, por d. Manuel. Chamou-se a princípio S. João, nome que foi mudado pelo que ainda hoje conserva. Esta ilha fez parte dum arquipélago todo ele da mesma natureza. Depois da Ilha de Fernando de Noronha vem a Ilha de Itamaracá, que se recomenda por suas qualidades menos ásperas. Está separada do litoral pernambucano por um canal estreitíssimo que se pensou, muito tempo, ser um rio e ao qual se deu o nome de Santa Cruz. Este canal está situado a cerca de 18 milhas ao Norte do Recife e tem 9 milhas de Norte a Sul. A Ilha de Itamaracá forma um plateau de 30 metros de altura, composto de camadas terciárias sobrepostas a camadas cretáceas, em rochas de calcário aproveitado em pequena escala. O grande recurso da ilha é a agricultura, pela sua extraordinária fertilidade, produzindo, além da cana-de-açúcar, grande quantidade de frutas; as suas manga são célebres em todo o Brasil. É muito povoada e possui vários engenhos de cana.

Ao Norte da ilha fica o excelente porto de Catuama e ao Sul um forte. Há ainda a notar: a Ilha de Santo Aleixo, situada a 2½ milhas da cidade de Serinhaém, e que fornece pedra para a cidade do Recife; a do Lamenha e a do Nogueira, com grandes plantações de coqueiros.

No Rio Capiberibe existe a Ilha do Retiro, muito povoada e ligada por pontes ao continente.

Entre os cabos, notam-se o denominado Ponta das Pedras, e o de Santo Agostinho. O estado de Pernambuco oferece abrigo à navegação em diversos portos. O de Tamandaré, a 120 quilômetros ao Sul do Recife, formado entre as barras dos rios Una e Formoso, o qual tem entrada fácil, bom ancoradouro de grande profundidade e oferece excelente abrigo às embarcações, contra os temporais; é tão bom, senão melhor, do que o porto de Recife, capital do estado, postas em confronto as suas condições naturais.

O porto do Recife dispõe de quatro ancoradouros: de Lamarão, Laminhas, Poço e Mosqueiro. O primeiro, a 1½ milhas do farol da barra, com fundo de cerca de 14 metros; o segundo, entre o banco do Inglez e o farol, com 11 metros de fundo; o terceiro, ao Noroeste do farol, no recife chamado da Pedra Seca, a Leste da Fortaleza do Brum, com fundo de 7 a 8 metros; e o quarto, do lado direito da linha de recifes, nele vindo desaguar os rios Capiberibe e Beberibe.

O porto do Rio Formoso, à margem direita deste rio, 12 quilômetros acima de sua foz, está situado 108 quilômetros ao sul da capital.

Duas lagoas dignas de nota existem no estado: a de Passassunga e a Torta, ambas no município de Limoeiro. A costa do estado é defendida pelas fortalezas de Tamandaré, de Itamaracá, de Pau Amarelo, do Brum, levantada esta no istmo que liga a capital à cidade de Olinda; a das Cinco Pontas e a do Picão.

Há no estado de Pernambuco os seguintes faróis: o de Olinda, na latitude de 8º1'20" S e longitude de 8º21'20" Leste do Rio de Janeiro; o do Picão ou do Recife, na barra do porto deste nome, a 8º3'10" de latitude Sul e 8º20'10" de longitude Leste do Rio de Janeiro; o do Cabo de Santo Agostinho, a 8º20'40" de latitude Sul e 8º20'40" de longitude Leste do Rio de Janeiro; o farolete das Rocas, a 3º52' de latitude Sul e 9º22'45" de longitude Leste do Rio de Janeiro.

É em geral saudável o clima do estado de Pernambuco. O seu solo apresenta dois aspectos distintos, ou duas zonas: uma baixa e bem regada, tendo alguns sítios cobertos de mata, e outra alta e montanhosa, que é a zona do sertão. Separa-as um terreno de transição, cheio de ondulações, mis ou menos seco. Este terreno intermediário é conhecido pelo nome de zona agreste. Se na zona baixa reinam algumas moléstias peculiares a tais sítios, aliás, sem grande violência, a zona do sertão é salubérrima, tradicionalmente conhecida e aconselhada, pelo seu clima temperado e relativamente uniforme, como excelente recurso contra as enfermidades do aparelho respiratório. O inverno é úmido e o verão intenso. É de 9 a 8 milímetros por dia a altura média de chuva, sendo de 2,5 milímetros o grau de evaporação, no atmômetro.

A Pernambuco, tem faltado a sistematização das medidas que a higiene moderna aconselha. Graças, porém, ao que se fez na Capital Federal e à interferência da ação da Diretoria Geral de Saúde Pública, já o estado começa a dominar os efeitos da própria exuberância da natureza nas zonas vizinhas dos trópicos, entrando resolutamente na execução de um programa de saneamento.

Entre outras medidas tomadas nesse sentido, avulta a transformação da capital, a cidade do Recife, em virtude das obras do seu porto. A sua situação de estado marítimo muito concorre para suavizar os ardores do seu clima, com as virações que do mar vêm refrescar a atmosfera aquecida pelos ardores do verão.

As médias da sua temperatura máxima oscilam entre 38º e 32º; as da média, entre 29º e 26º; e as da mínima entre 17º e 24º.

Com os estados de Alagoas, Paraíba, Sergipe e Bahia, constitui Pernambuco um dos três distritos sanitários em que se divide o Brasil. Tem, além disso, um Inspetoria de Higiene marítima que se ocupa da fiscalização sanitária dos portos do estado. O serviço de higiene interna é feito pelos esforços conjugados dos governos estadual e municipal. Na baía de Tamandaré está instalado um excelente lazareto para as quarentenas de navios provindos de portos suspeitos.

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O novo cais, em via de construção, no porto do Recife
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Fauna e flora

São importantes a fauna e a flora de Pernambuco, que contêm, em grande abundância, os animais e vegetais próprios da zona do Brasil em que se acha encravado.

Aí se encontram os mamíferos e as aves das zonas quentes, ao mesmo tempo que todos os representantes de sua flora opulenta e rica, madeiras, plantas medicinais, frutos saborosos, a cana-de-açúcar, o algodoeiro, os cereais etc.

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O porto do Recife, vista para o Norte
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História

O estado de Pernambuco tem uma história agitada e em forte destaque entre os grandes acontecimentos da história do Brasil. Centro de reações memoráveis, ora contra o invasor audacioso, ora contra a repressão pesada; depois, fazendo germinar a semente dos ideais adiantados, sempre o estado de Pernambuco se ligou a fatos que mais brilho têm dado à história do país. O vigor e a energia do seu povo, a violência e a força das suas manifestações valeram-lhe a denominação de Leão do Norte, de que o seu povo se mostra deveras orgulhoso.

Antes do feito memorável de Pedro Álvares Cabral, se revelou Pernambuco ao Velho Mundo pela vinda, ao seu território, do navegador espanhol Vicente Yanez Pinzon, que descobriu, em 1499, o Cabo de Santo Agostinho, ao qual deu a denominação de Santa Maria de la Consolacion, que não prevaleceu, como também não ficou traço saliente dessa descoberta.

Depois da chegada de Pedro Álvares Cabral à Bahia, coube ao português André Gonçalves ser o primeiro a palmilhar o território pernambucano. Essa descoberta fe-la André Gonçalves ao desandar caminho para Portugal, com a missão de anunciar ao rei d. Manuel, o Venturoso, o formidável acréscimo que dera Pedro Álvares Cabral aos seus domínios coloniais. Ocupavam o território pernambucano os índios Caetés, dos mais ferozes do tronco dos da raça tupi, coabitando com os Tabajaras.

Ao fazer-se a divisão do Brasil em capitanias, Pernambuco constituiu uma delas, cujo donatário foi Duarte Coelho Pereira, em 1534. Antes disso, porém, ali esteve estabelecida uma feitoria, em 1526, doada a Christovam Jacques, fundada à margem do Rio Iguaramu.

Armadores franceses, já a esse tempo, andavam por essas paragens, atribuindo seus historiadores a Jacques e outros a Duarte Coelho Pereira a glória de ter expulsado os franceses das plagas pernambucanas, em 1530.

Data dessa época a fundação da cidade de Olinda, cujo nome conta a tradição ter tido origem numa exclamação de Coelho Pereira, ao contemplar o sítio onde hoje se ergue a cidade. Segundo essa tradição, Coelho Pereira teria exclamado: "Oh! Linda situação para uma cidade!".

Doada que lhe foi a capitania, Duarte Coelho Pereira desenvolveu logo grande atividade para a sua colonização, transferindo para ela sua família e avultado número de colonos e escolhendo para sede do seu governo a povoação de Olinda.

A capitania prosperou, alargando-se de sorte a açambarcar também uma boa parte da de Itamaracá. Enfrentando corajosamente os terríveis índios Caetés, conseguiu dominá-los e pô-los em fuga, muito para longe dos seus domínios, resultado para o qual muito concorreu o auxílio eficaz dos índios tabajaras, com os quais fez aliança.

Ao contrário de outros destinatários, mostrou-se Coelho Pereira bom administrador, cheio de iniciativa, e organizou admiravelmente o trabalho na sua capitania. Deu desenvolvimento à agricultura; e, opondo-se aos excessos dos ocupantes, seus compatriotas, contra os indígenas, obrigou-os ao casamento com as índias de que se agradassem e assim lançou as bases da sociedade que ali nascia, no princípio salutar da constituição da família. Duarte Coelho não foi, aliás, compreendido pelo seu tempo, que tinha um noção diversa da colonização.

Entendia a metrópole, e nesse sentido agiu durante muito tempo, que só deviam colonizar o novo país criminosos e mulheres de má nota, inconsciente dos males que poderiam advir de uma nacionalidade fundada com tais elementos. Influíu, aliás, para isso, o terror do desconhecido e da aventura; não era fácil encontrar gente disposta a se atirar para esses mares longínquos, sem civilização, provadas por tribos ferozes...

De tais processos se queixou Duarte Coelho ao governo da metrópole, conseguindo, a muito custo, resolver os princípios sãos e bem orientados sobre os quais lhe parecia justo que assentasse o sistema de colonização das novas e vastas terras descobertas por Pedro Álvares Cabral.

Os seus esforços deram os melhores resultados e, dentro da ordem, da disciplina, da moralidade e do trabalho, a sua capitania prosperou rapidamente. Impôs-se de tal modo o resultado da sua organização que em 1549, quando se instalou o primeiro governo geral, lhe foi poupada a sorte das outras capitanias, cujos privilégios foram suprimidos. É que os outros donatários não se haviam entregado, com o mesmo espírito de organização, ao trabalho de aproveitamento das terras doadas, sendo que muitos mal tomaram posse de seus domínios e que alguns exerceram perseguições sem tréguas aos naturais, sem a habilidade diplomática do primeiro colonizador de Pernambuco.

De tal sorte Duarte Coelho Pereira organizara a capitania que a sua morte em nada alterou a ordem das coisas. Ele imprimira um movimento regular à administração, de sorte que a fisiologia oficial da capitania era uma função harmônica que só o propósito deliberado de desorganizar poderia fazer cessar.

Por morte do grande colonizador, em 1554, passou o governo da capitania para as mãos da sua viúva, que exerceu uma espécie de regência, enquanto o herdeiro estudava na Europa. Nessa época, sofreram os caetés um rude desengano, da persuasão em que estavam de que, morto o colonizador, a colônia se enfraqueceria. Tentaram um vigoroso assalto à capitania, que resistiu, sendo os atacantes vantajosamente derrotados pelo irmão da viúva de Duarte Coelho, um moço de 21 anos, Jerônimo de Albuquerque.

Da florescência e força da capitania nasceu a necessidade da expansão, alargando-se os seus domínios pelos territórios hoje ocupados pelos estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, trabalho esse levado já a cabo por um brasileiro, Jerônimo de Albuquerque, filho do precedente com uma índia. Não ficou, aliás, aí o motivo de glórias do mais antigo herói pernambucano, pois tempos depois o seu valor conseguia a expulsão dos franceses do Maranhão.

Assim foi vivendo e prosperando a importante capitania, até que chegou a um momento crítico da sua história, que é uma das páginas mais brilhantes do relatório das suas glórias, a invasão holandesa, em 1630.

Na História do Brasil que publicamos nesta obra se trata desenvolvidamente das guerras de que foi teatro Pernambuco, por ocasião da invasão holandesa, formidável tentativa organizada para arrancar à coroa portuguesa o domínio do Brasil. Se grandes e poderosos foram os inimigos, admirável foi a resistência, na qual muito se destacou o heroísmo dos pernambucanos, sendo que os nomes de muitos deles vieram até nós, dentro da narrativa dos historiadores dessa página épica da história do Brasil colonial.

São eles Mathias de Albuquerque, Vidal de Negreiros, o índio Camarão, o negro Henrique Dias e outros, o lado dos portugueses Fernandes Vieira, Barreto de Menezes e Dias Cardoso.

Reintegrado Pernambuco no domínio português, um novo golpe sofreram os pernambucanos, sentindo com ele manifestarem-se os primeiros sentimentos da nacionalidade nascente. Foi quando o alvará de 16 de janeiro de 1716 incorporou a capitania à coroa portuguesa, pagando uma indenização ao herdeiro do donatário, conde de Vimieiro.

O povo pernambucano sentiu que a capitania já deixara de ser a propriedade exclusiva do galardoado com a sua posse, passando a ser a propriedade coletiva do povo que promovia a prosperidade e se identificava com ela intimamente, pelo sacrifício do sangue, derramado na guerra da expulsão dos holandeses.

Já acostumados aos riscos dos combates, os pernambucanos se irritaram e, ao primeiro pretexto, a sua indignação explodiu, levantando-se o sentimento dos pernambucanos contra os portugueses, a que davam o nome de Mascates; e daí, a denominação da porfiada guerra civil que encontrou os naturais em condições de apresto que não se lhes presumiam. Para muito lhes servira a invasão holandesa, pois que a capitania prosperara extraordinariamente sob a administração de Maurício de Nassau, que se tinha apressado em reconstruir e reedificar o que a invasão destruíra, organizando criteriosamente a vida econômica e administrativa de Pernambuco. A invasão holandesa resultou, pois, em novo impulso ao progresso pernambucano.

O espírito de independência e rebelião contra o poder da metrópole nasceu com a guerra dos Mascates, e ficou arraigado, de sorte que, em 1817, nova revolução estalava; esta, porém, de caráter francamente separatista. Pernambuco tentou fundar a Confederação do Equador, independente, e sob o regime republicano. Em razão, porém, de não ter logrado a expansão necessária, foi esse movimento duramente jugulado e punidos os seus cabeças com severidade excepcional.

O movimento liberal de 1820, em Portugal, repercutiu em Pernambuco, onde o povo novamente pegou em armas. A independência veio, pois, em 1822, realizar uma aspiração de que Pernambuco fora o primeiro pedaço do Brasil a dar exemplo, com a guerra dos Mascates, na qual havia implicitamente a tendência à libertação do domínio português.

No ano da independência, ainda as tropas portuguesas tentaram sufocar a adesão ao grito do Ipiranga, mas o povo se ergueu, em massa, e expulsou o capitão-general português Luiz do Rego, cujos rigores em 1817 lhe haviam atraído grandes ódios.

Ao dar-se, a 7 de abril, a abdicação de Pedro I, novamente se convulsionou o estado, rebentando então a sangrenta revolução de Cabanos. Em 1848, uma revolução ali se levantou, mas foi prontamente jugulada.

A República veio encontrar o estado em tranqüilidade, na senda da prosperidade e progresso que vai trilhando.

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Edifícios públicos, Recife: 1) Igreja de Santo Antonio; 2) A Intendência Municipal; 3) Câmara dos Deputados; 4) Prisão e Hospital Pedro II
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População, imigração, colonização

A população de Pernambuco é calculada em cerca de 1.200.000 habitantes, com pequena proporção de estrangeiros. Esta porcentagem tende, porém, a aumentar, correspondentemente ao aumento do comércio e das indústrias do Estado.

Como na maioria dos estados do Norte, é pouco acentuado o movimento imigratório em Pernambuco; o trabalho rural e industrial está todo entregue ao braço nacional. A densidade aproximada da população do estado de Pernambuco é, em relação à sua superfície, 10,202 por quilômetro quadrado.

A taxa de crescimento é de 0,0135. Segundo o último recenseamento oficial, feito em 1900, a sua população de nacionais era de 578.369 habitantes homens e 588.959 mulheres; e a de estrangeiros 7.643 homens e 3.179 mulheres, ou, fazendo a divisão por sexos, 586.012 homens e 592.138 mulheres.

Pernambuco é o quarto estado do Brasil na escala decrescente dos números de população, ocupando o décimo terceiro lugar na escala decrescente da superfície territorial. Há, como já dissemos, uma extraordinária predominância do elemento nacional e um excesso do número de mulheres sobre o dos homens.

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Subúrbios do Recife: 1 e 2) Rio Capiberibe; 3) Imbiribeira; 4) Paisagem em Areias; 5) Paisagem em Giquiá; 6) Ruínas do Carmo, Olinda; 7) Bacia do Gasômetro
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Indústria, agricultura

É muito considerável a importância industrial do estado. A indústria preferida é a agrícola, explorada em larga escala.

Desse ponto de vista, o estado se divide em três grandes zonas. A primeira é a Zona da Mata, com cerca de 40 a 60 quilômetros de extensão, para o interior, e cerca de 70 de largura. Fertilíssima, e fartamente regada, presta-se admiravelmente à cultura da cana-de-açúcar, cereais, algodão, e também à do café, que começa a ser explorado.

A segunda zona, denominada Caatinga, é a zona agreste, tem o solo mais arenoso do que o da mata, constando de grandes planaltos. Aí se faz a indústria pastoril e se planta de preferência o algodão, o tabaco, o feijão e outros gêneros.

A terceira zona é a do sertão, regada pelos tributários do Rio S. Francisco. É menos luxuriante de vegetação e mais seca, sofrendo e muito com isso a indústria pastoril e a cultura do algodão.

Fazendo fontes principais da sua riqueza o algodão e o açúcar, o estado produz, entretanto, café, cuja exploração, como já dissemos, começa a ser feita com resultado; e à sua fecundidade se podem pedir ainda muitos outros produtos.

De acordo com esse estado da sua agricultura, a sua indústria fabril orienta-se de preferência para o aproveitamento da cana-de-açúcar e do algodão. Prosperam importantes engenhos; a abundância de frutas anima extraordinariamente a indústria doceira, que já exporta em grande escala para os outros estados, figurando em lugar de destaque. Há grande número de fábricas de tecidos em todo o estado. O álcool e todos os seus derivados são fabricados em grande escala. A riqueza mineral do estado é também grande, mas a indústria extrativa não tem ainda desenvolvimento considerável.

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No Recife: 1) Casa do Capim; 2) Rua Aurora; 3) Uma alvorada; 4) De volta do Engenho; 5) Praça da Independência
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Instrução pública

Está bastante difundida a instrução pública no estado. Entre os estabelecimentos de ensino, figura em primeiro lugar a Faculdade de Direito do Recife, mantida pelo governo federal. O estado mantém uma Escola Normal, na capital, e duas escolas profissionais; e existem cerca de 300 escolas primárias, estaduais e municipais.

O ensino secundário é também proporcionado pelo estado, não se contando aqui o grande número de estabelecimentos particulares deste gênero e de ensino primário.

Vias de comunicação

A Great Western é uma das mais importantes empresas ferroviárias que concorrem para o progresso do Nordeste do Brasil, pois liga entre si os estados do Rio Grande do Norte, da Paraíba, de Pernambuco e das Alagoas, numa extensão de linhas que eram, em 1910, de 1.476 quilômetros (917 milhas).

Durante esse ano, transportou, entre outros produtos, para a exportação, 5.116 toneladas de algodão, que renderam cerca de £10.400, e 8.900 toneladas de açúcar que renderam cerca de £8.000. De retorno, os seus vagões transportam para o interior carvão de pedra, tecidos, artefatos de toda a espécie etc.

Na zona pernambucana, a Great Western mantém três troncos ferroviários. O primeiro é a Estrada de Ferro Central de Pernambuco, com mais de 212 quilômetros de extensão. É um estrada de penetração, cujos trilhos iam, em 1910, até Pesqueira, grande centro industrial.

As outras duas linhas são litorâneas e servem de linhas de ligação da cidades e centros de produção situados próximo do litoral. A do Norte é a Estrada de Ferro de Recife ao S. Francisco e vai entroncar com a parte paraibana da Great Western; a do Sul é a Estrada de Ferro Sul de Pernambuco, que vai se ligar à Estrada de Ferro Central de lagoas. A primeira tem mais de 124 quilômetros de extensão. Finalmente, a Estrada de Ferro do Sul de Pernambuco alcança mais de 193 quilômetros de extensão.

Todas estas linhas convergem para o Recife, que é o escoadouro da exportação e o sorvedouro da importação de todo o estado de Pernambuco. Os trilhos da Great Western têm avançado sempre, encerrando o estado em uma vasta rede canalizadora da sua produção e de seu comércio, estabelecendo uma ativa circulação das forças econômicas do próspero estado, considerado justamente o líder duma grande parte do litoral do Brasil.

A companhia pretende levar os seus trilhos até os limites de Pernambuco com Sergipe, em frente a Propriá, à margem do Rio S. Francisco. Uma ponte sobre o Rio S. Francisco, neste ou em outro ponto mais conveniente, completaria o trabalho para o qual tende o progresso ferroviário do Brasil, que é a interligação dos estados por essa via terrestre. É um desideratum ao qual se liga grande importância, pois as comunicações por via marítima apenas ligam as cidades onde haja portos, em geral as capitais dos estados, deixando pelo interior os que são vizinhos quase incomunicáveis, que é o que é, de fato, a situação de territórios contíguos, sem outras vias de comunicações senão as estradas de rodagem ainda não perfeitamente acessíveis ao sistema de transporte por automóveis.

O tráfego da Great Western é feito na bitola estreita, solução que, segundo ficou estabelecido claramente num recente congresso ferroviário realizado em Buenos Aires, é a que convém mais às necessidades econômicas de zonas cujo principal elemento de progresso é a agricultura, onde as grandes extensões de terra cultivada e produtora sobrelevam em importância as necessidades dos centros populosos.

Por outras palavras, em países despovoados como o Brasil, em face de sua extensão territorial, a viação férrea se faz na relação da carga e não do máximo conforto dos passageiros. Não quer isto dizer que a bitola estreita signifique a falta de conforto do passageiro, mas sim que as vantagens da bitola larga, para o passageiro, não são tão superiores às da bitola estreita, que justifiquem o encarecimento que aquela bitola acarreta, tratando-se de estradas de ferro cujo objetivo seja o transporte de cargas.

As estações espalhadas pelo percurso enorme da Great Western são bem construídas e sólidas, oferecendo as maiores condições de conforto e comodidade. A estação inicial d Estrada de Ferro Central de Pernambuco, no Recife, é um dos edifícios que mais se destacam na capital pernambucana. O capital empregado na Great Western é de £3.500.000.

Além das linhas dessa estrada, a viação urbana estabelecida na cidade do Recife está bastante desenvolvida, sendo feita por quatro companhias de tramways que se denominam: Companhia Ferro Carril da Boa Viagem, Companhia Ferro Carril de Pernambuco, Companhia de Transportes Urbanos de Recife a Olinda e Beberibe e a Braziliam Street Railway Company Limited.

A Companhia Ferro Carril da Boa Viagem é de tração animal, e pequena, pois dispõe de um capital de Rs. 25:000$00, transitando por uma extensão de 1.500 metros.

A Companhia Ferro Carril de Pernambuco, também de tração animal, tem um capital de Rs. 800:000$000 e emprega em seu serviço 281 homens.

A Companhia de Transportes Urbanos do Recife a Olinda e Beberibe é de tração a vapor, com uma extensão de 13.584 metros. Tem um capital de Rs. 1.000:000$000 e emprega 113 homens no seu serviço.

A Brazilian Street Railway Company Limited é a que dispõe de maior capital, Rs. 2.542:206$00. Emprega em seus serviços 198 homens. É de tração a vapor e tem 16 quilômetros de extensão.

As vias de comunicação marítima são feitas por companhias nacionais de cabotagem, entre as quais se destaca o Lloyd Brasileiro, e pelas companhias transatlânticas que fazem no Recife a sua primeira ancoragem em águas brasileiras. Além disso, existe já desenvolvida navegação fluvial.

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As principais pontes do Recife: 1) Ponte Sete de Setembro; 2) Ponte do Recife; 3) Ponte Sta. Isabel; 4) Ponte da Boa Vista
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Centros de população

Capital do estado, a cidade do Recife é minuciosamente descrita em seguida. Destacam-se ainda, no estado, os seguintes centros de população e de produção: Bezerros, à margem do Rio Ipojuca; Bom Jardim, à margem do Tracunhaem; Brejo da Madre de Deus, Cabo, no Rio Purapama; Caruaru, banhada pelo Rio Ipojuca; Garanhuns, nas nascentes do Rio Mundaú; Goiana, entre os rios Tracunhaém e Capiberibe-mirim; Gravatá, à margem do Ipojuca; Itambé, no extremo Norte do estado; Jaboatão, a 18 quilômetros do Recife; Limoeiro, à margem do Capiberibe; Nazareth, à margem do Rio Tracunhaém; Olinda, a 6 quilômetros do Recife, cidade que oferece grande curiosidade histórica por grandes e curiosos documentos arquitetônicos da invasão holandesa; Palmares, à margem do Rio Una; Pesqueira, também grande centro fabril, no sopé da serra do Araribá e nas nascentes do Rio Formoso; Rio Formoso, à margem do rio do mesmo nome; Taquaratinga, Timbauba, Triunfo, Vitória, e muitíssimas outras, que estão ligadas entre si ou com a capital por estradas de ferro.

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