O porto da capital
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Pernambuco
O estado de
Pernambuco é um dos grandes centros produtores do Brasil, especializando a sua atividade nas indústrias do algodão e do açúcar. Situado no extremo
oriental do país, o estado de Pernambuco se limita: ao Norte, com os estados da Paraíba e do Ceará; ao Sul, com os estados das Alagoas e da Bahia; a
Leste, com o Oceano Atlântico e o estado das Alagoas; a Oeste, com os estados do Piauí e da Bahia.
Separam Pernambuco do Piauí os rios Abiaí e Ipopoca, as serras dos Cariris Velhos e da Piedade,
também conhecidas pela denominação de Borborema. Separa-o do estado do Ceará a serra do Araripe e do de Alagoas o Rio Persinunga. A linha divisória
entre Pernambuco e a Bahia é composta pelo talweg do Rio S. Francisco, desde a barra do Moxotó até o lugar denominado Pau da História, abaixo
da Cachoeira do Sobrado. Separa-o do estado do Piauí a serra de Ibiapaba, nos pontos em que ela se denomina Dois Irmãos e Vermelha até o contraforte
que a liga à Serra do Araripe. São estas as linhas consideradas, por assim dizer, tradicionalmente, como limítrofes do estado de Pernambuco.
Apesar de lhes faltar ainda uma demarcação definitiva, não têm tais limites originado questões
sérias entre Pernambuco e os estados vizinhos. O estado de Pernambuco fica entre os 7º e 10,4º Oeste de latitude meridional, e entre 1º e 8º25' de
longitude oriental. De Norte a Sul, a sua maior extensão é de 30 léguas, do contraforte da Serra do Araripe à margem esquerda do Rio S. Francisco;
de Leste a Oeste, de 155 léguas, do Cabo de Santo Agostinho à Serra dos Dois Irmãos, limite com o estado da Bahia. A sua linha de litoral,
compreendida entre 7º30' e 8º65', mede cerca de 40 léguas de extensão. O território do estado de Pernambuco abrange uma área calculada em 128.395
quilômetros quadrados.
Além das serras já citadas, há ainda: a da Gameleira, entre os rios Paraíba e Gravatá; a da
Balança, entre o Rio da Pitombeira, afluente do Terra Nova, e o Rio dos Porcos que corre para o Ceará; a Negra, entre o Rio do Navio, afluente do
Pageú e o Rio Moxotó, por sua vez afluente do Rio S. Francisco; a da Aldeia Velha, entre o Rio Moxotó e as cabeceiras do Rio Ipojuca; e do Comonati,
entre os rios Guaranhunzinho e Ipanema; a de Ararabá, a Leste do Rio Ipojuca; a da Porteira, à margem esquerda deste último rio; a de Jacarará, nas
nascentes do Rio Capiberibe; as do QUilombo e da Rosada próximas à de Jacarará; a das Cabeçadas, entre o Rio Tabocas e o Rio Ipojuca; a do Gigante,
entre Garanhum e Águas Belas; a das Russas, entre os Rio Ipojuca e Tapacorá; a de Mascarenhas e outras de menor importância.
No sistema potamográfico do estado de Pernambuco destacam-se os seguintes rios: o S. Francisco,
que recebe, na margem pernambucana, as águas dos rios Jacaré, unido ao da Brigida, o Terra Nova, o Pajeú, o Mandantes, o Campinhos, o da Ema e o
Moxotó; o Paraíba,que, nascendo em Pernambuco, o atravessa e vai desaguar no estado das Alagoas; o Mundaú e o Ipanema ou Panema; o Capiberibe ou
Capibaribe, que nasce nas faldas da serra de Jacarará, no lugar denominado Olho d'Água do Gavião ou Lagoa do Brejo e num curso de 480 quilômetros
atravessa as comarcas de Brejo, Limoeiro, Espírito Santo e Recife, recebendo os afluentes Arroz, das Pégas, Urubu, Fanado, Patos, Onça e muitos
outros; o Ipojuca, que nasce na serra da Aldeia Velha, também denominada das Moças, correndo na direção Leste-Oeste, banhando os municípios de
Pesqueira, Camaru, Bezerros, Gravatá e Escada, com desaguamento no oceano depois de receber os afluentes Bituri, Taquara, Vertentes, Mel Salgado e
Mocós.
Ao passar pela comarca da Enseada, o Rio Ipojuca forma a cachoeira do Urubu, numa extensão de 114
metros, e numa queda d'água de 50 metros de altura, constituindo uma das mais pitorescas belezas naturais do estado. Curioso é o aspecto que as suas
águas apresentam no inverno; a princípio, tomam uma cor escura que, sucessivamente, muda para barrenta, amarela, vermelha e esbranquiçada, já então
livre das impurezas; e todo esse processo de purificação se opera num fervilhar ruidoso de espumas revoltas. Há ainda outros rios importantes, com
muitos afluentes que seria demasiado longo enumerar.
Entre as lhas pertencentes ao estado de Pernambuco, destaca-se, em primeiro lugar, a Ilha de
Fernando de Noronha, de origem vulcânica. É muito afastada da costa, estando situada a uma distância de 66 milhas ao Noroeste do Cabo de São Roque e
de 97 Nordeste de Recife.
Por todos os lados, a ilha é rodeada de encostas altas e inacessíveis, oferecendo apenas dois
pontos abordáveis: ao Noroeste, numa enseada abrigada pela Ilha Rata, com grandes depósitos de fosfatos, e o outro, a praia do Lear. A Ilha de
Fernando de Noronha serve de presídio aos criminosos condenados à prisão com trabalho. Tem duas fortalezas, um parque de artilharia e dois redutos.
A Ilha de Fernando de Noronha foi descoberta em 1503, pela segunda expedição enviada em
reconhecimento, por d. Manuel. Chamou-se a princípio S. João, nome que foi mudado pelo que ainda hoje conserva. Esta ilha fez parte dum arquipélago
todo ele da mesma natureza. Depois da Ilha de Fernando de Noronha vem a Ilha de Itamaracá, que se recomenda por suas qualidades menos ásperas. Está
separada do litoral pernambucano por um canal estreitíssimo que se pensou, muito tempo, ser um rio e ao qual se deu o nome de Santa Cruz. Este canal
está situado a cerca de 18 milhas ao Norte do Recife e tem 9 milhas de Norte a Sul. A Ilha de Itamaracá forma um plateau de 30 metros de
altura, composto de camadas terciárias sobrepostas a camadas cretáceas, em rochas de calcário aproveitado em pequena escala. O grande recurso da
ilha é a agricultura, pela sua extraordinária fertilidade, produzindo, além da cana-de-açúcar, grande quantidade de frutas; as suas manga são
célebres em todo o Brasil. É muito povoada e possui vários engenhos de cana.
Ao Norte da ilha fica o excelente porto de Catuama e ao Sul um forte. Há ainda a notar: a Ilha de
Santo Aleixo, situada a 2½ milhas da cidade de Serinhaém, e que fornece pedra para a cidade do Recife; a do Lamenha e a do Nogueira, com grandes
plantações de coqueiros.
No Rio Capiberibe existe a Ilha do Retiro, muito povoada e ligada por pontes ao continente.
Entre os cabos, notam-se o denominado Ponta das Pedras, e o de Santo Agostinho. O estado de
Pernambuco oferece abrigo à navegação em diversos portos. O de Tamandaré, a 120 quilômetros ao Sul do Recife, formado entre as barras dos rios Una e
Formoso, o qual tem entrada fácil, bom ancoradouro de grande profundidade e oferece excelente abrigo às embarcações, contra os temporais; é tão bom,
senão melhor, do que o porto de Recife, capital do estado, postas em confronto as suas condições naturais.
O porto do Recife dispõe de quatro ancoradouros: de Lamarão, Laminhas, Poço e Mosqueiro. O
primeiro, a 1½ milhas do farol da barra, com fundo de cerca de 14 metros; o segundo, entre o banco do Inglez e o farol, com 11 metros de fundo; o
terceiro, ao Noroeste do farol, no recife chamado da Pedra Seca, a Leste da Fortaleza do Brum, com fundo de 7 a 8 metros; e o quarto, do lado
direito da linha de recifes, nele vindo desaguar os rios Capiberibe e Beberibe.
O porto do Rio Formoso, à margem direita deste rio, 12 quilômetros acima de sua foz, está situado
108 quilômetros ao sul da capital.
Duas lagoas dignas de nota existem no estado: a de Passassunga e a Torta, ambas no município de
Limoeiro. A costa do estado é defendida pelas fortalezas de Tamandaré, de Itamaracá, de Pau Amarelo, do Brum, levantada esta no istmo que liga a
capital à cidade de Olinda; a das Cinco Pontas e a do Picão.
Há no estado de Pernambuco os seguintes faróis: o de Olinda, na latitude de 8º1'20" S e longitude
de 8º21'20" Leste do Rio de Janeiro; o do Picão ou do Recife, na barra do porto deste nome, a 8º3'10" de latitude Sul e 8º20'10" de longitude Leste
do Rio de Janeiro; o do Cabo de Santo Agostinho, a 8º20'40" de latitude Sul e 8º20'40" de longitude Leste do Rio de Janeiro; o farolete das Rocas, a
3º52' de latitude Sul e 9º22'45" de longitude Leste do Rio de Janeiro.
É em geral saudável o clima do estado de Pernambuco. O seu solo apresenta dois aspectos distintos,
ou duas zonas: uma baixa e bem regada, tendo alguns sítios cobertos de mata, e outra alta e montanhosa, que é a zona do sertão. Separa-as um terreno
de transição, cheio de ondulações, mis ou menos seco. Este terreno intermediário é conhecido pelo nome de zona agreste. Se na zona baixa reinam
algumas moléstias peculiares a tais sítios, aliás, sem grande violência, a zona do sertão é salubérrima, tradicionalmente conhecida e aconselhada,
pelo seu clima temperado e relativamente uniforme, como excelente recurso contra as enfermidades do aparelho respiratório. O inverno é úmido e o
verão intenso. É de 9 a 8 milímetros por dia a altura média de chuva, sendo de 2,5 milímetros o grau de evaporação, no atmômetro.
A Pernambuco, tem faltado a sistematização das medidas que a higiene moderna aconselha. Graças,
porém, ao que se fez na Capital Federal e à interferência da ação da Diretoria Geral de Saúde Pública, já o estado começa a dominar os efeitos da
própria exuberância da natureza nas zonas vizinhas dos trópicos, entrando resolutamente na execução de um programa de saneamento.
Entre outras medidas tomadas nesse sentido, avulta a transformação da capital, a cidade do Recife,
em virtude das obras do seu porto. A sua situação de estado marítimo muito concorre para suavizar os ardores do seu clima, com as virações que do
mar vêm refrescar a atmosfera aquecida pelos ardores do verão.
As médias da sua temperatura máxima oscilam entre 38º e 32º; as da média, entre 29º e 26º; e as da
mínima entre 17º e 24º.
Com os estados de Alagoas, Paraíba, Sergipe e Bahia, constitui Pernambuco um dos três distritos
sanitários em que se divide o Brasil. Tem, além disso, um Inspetoria de Higiene marítima que se ocupa da fiscalização sanitária dos portos do
estado. O serviço de higiene interna é feito pelos esforços conjugados dos governos estadual e municipal. Na baía de Tamandaré está instalado um
excelente lazareto para as quarentenas de navios provindos de portos suspeitos.
O novo cais, em via de construção, no porto do Recife
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Fauna e flora
São importantes a fauna e a flora de Pernambuco, que contêm, em grande abundância, os animais e
vegetais próprios da zona do Brasil em que se acha encravado.
Aí se encontram os mamíferos e as aves das zonas quentes, ao mesmo tempo que todos os
representantes de sua flora opulenta e rica, madeiras, plantas medicinais, frutos saborosos, a cana-de-açúcar, o algodoeiro, os cereais etc.
O porto do Recife, vista para o Norte
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História
O estado de Pernambuco tem uma história agitada e em forte destaque entre os grandes
acontecimentos da história do Brasil. Centro de reações memoráveis, ora contra o invasor audacioso, ora contra a repressão pesada; depois, fazendo
germinar a semente dos ideais adiantados, sempre o estado de Pernambuco se ligou a fatos que mais brilho têm dado à história do país. O vigor e a
energia do seu povo, a violência e a força das suas manifestações valeram-lhe a denominação de Leão do Norte, de que o seu povo se mostra deveras
orgulhoso.
Antes do feito memorável de Pedro Álvares Cabral, se revelou Pernambuco ao Velho Mundo pela vinda,
ao seu território, do navegador espanhol Vicente Yanez Pinzon, que descobriu, em 1499, o Cabo de Santo Agostinho, ao qual deu a denominação de Santa
Maria de la Consolacion, que não prevaleceu, como também não ficou traço saliente dessa descoberta.
Depois da chegada de Pedro Álvares Cabral à Bahia, coube ao português André Gonçalves ser o
primeiro a palmilhar o território pernambucano. Essa descoberta fe-la André Gonçalves ao desandar caminho para Portugal, com a missão de anunciar ao
rei d. Manuel, o Venturoso, o formidável acréscimo que dera Pedro Álvares Cabral aos seus domínios coloniais. Ocupavam o território pernambucano os
índios Caetés, dos mais ferozes do tronco dos da raça tupi, coabitando com os Tabajaras.
Ao fazer-se a divisão do Brasil em capitanias, Pernambuco constituiu uma delas, cujo donatário foi
Duarte Coelho Pereira, em 1534. Antes disso, porém, ali esteve estabelecida uma feitoria, em 1526, doada a Christovam Jacques, fundada à margem do
Rio Iguaramu.
Armadores franceses, já a esse tempo, andavam por essas paragens, atribuindo seus historiadores a
Jacques e outros a Duarte Coelho Pereira a glória de ter expulsado os franceses das plagas pernambucanas, em 1530.
Data dessa época a fundação da cidade de Olinda, cujo nome conta a tradição ter tido origem numa
exclamação de Coelho Pereira, ao contemplar o sítio onde hoje se ergue a cidade. Segundo essa tradição, Coelho Pereira teria exclamado: "Oh!
Linda situação para uma cidade!".
Doada que lhe foi a capitania, Duarte Coelho Pereira desenvolveu logo grande atividade para a sua
colonização, transferindo para ela sua família e avultado número de colonos e escolhendo para sede do seu governo a povoação de Olinda.
A capitania prosperou, alargando-se de sorte a açambarcar também uma boa parte da de Itamaracá.
Enfrentando corajosamente os terríveis índios Caetés, conseguiu dominá-los e pô-los em fuga, muito para longe dos seus domínios, resultado para o
qual muito concorreu o auxílio eficaz dos índios tabajaras, com os quais fez aliança.
Ao contrário de outros destinatários, mostrou-se Coelho Pereira bom administrador, cheio de
iniciativa, e organizou admiravelmente o trabalho na sua capitania. Deu desenvolvimento à agricultura; e, opondo-se aos excessos dos ocupantes, seus
compatriotas, contra os indígenas, obrigou-os ao casamento com as índias de que se agradassem e assim lançou as bases da sociedade que ali nascia,
no princípio salutar da constituição da família. Duarte Coelho não foi, aliás, compreendido pelo seu tempo, que tinha um noção diversa da
colonização.
Entendia a metrópole, e nesse sentido agiu durante muito tempo, que só deviam colonizar o novo
país criminosos e mulheres de má nota, inconsciente dos males que poderiam advir de uma nacionalidade fundada com tais elementos. Influíu, aliás,
para isso, o terror do desconhecido e da aventura; não era fácil encontrar gente disposta a se atirar para esses mares longínquos, sem civilização,
provadas por tribos ferozes...
De tais processos se queixou Duarte Coelho ao governo da metrópole, conseguindo, a muito custo,
resolver os princípios sãos e bem orientados sobre os quais lhe parecia justo que assentasse o sistema de colonização das novas e vastas terras
descobertas por Pedro Álvares Cabral.
Os seus esforços deram os melhores resultados e, dentro da ordem, da disciplina, da moralidade e
do trabalho, a sua capitania prosperou rapidamente. Impôs-se de tal modo o resultado da sua organização que em 1549, quando se instalou o primeiro
governo geral, lhe foi poupada a sorte das outras capitanias, cujos privilégios foram suprimidos. É que os outros donatários não se haviam
entregado, com o mesmo espírito de organização, ao trabalho de aproveitamento das terras doadas, sendo que muitos mal tomaram posse de seus domínios
e que alguns exerceram perseguições sem tréguas aos naturais, sem a habilidade diplomática do primeiro colonizador de Pernambuco.
De tal sorte Duarte Coelho Pereira organizara a capitania que a sua morte em nada alterou a ordem
das coisas. Ele imprimira um movimento regular à administração, de sorte que a fisiologia oficial da capitania era uma função harmônica que só o
propósito deliberado de desorganizar poderia fazer cessar.
Por morte do grande colonizador, em 1554, passou o governo da capitania para as mãos da sua viúva,
que exerceu uma espécie de regência, enquanto o herdeiro estudava na Europa. Nessa época, sofreram os caetés um rude desengano, da persuasão em que
estavam de que, morto o colonizador, a colônia se enfraqueceria. Tentaram um vigoroso assalto à capitania, que resistiu, sendo os atacantes
vantajosamente derrotados pelo irmão da viúva de Duarte Coelho, um moço de 21 anos, Jerônimo de Albuquerque.
Da florescência e força da capitania nasceu a necessidade da expansão, alargando-se os seus
domínios pelos territórios hoje ocupados pelos estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, trabalho esse levado já a cabo por um brasileiro,
Jerônimo de Albuquerque, filho do precedente com uma índia. Não ficou, aliás, aí o motivo de glórias do mais antigo herói pernambucano, pois tempos
depois o seu valor conseguia a expulsão dos franceses do Maranhão.
Assim foi vivendo e prosperando a importante capitania, até que chegou a um momento crítico da sua
história, que é uma das páginas mais brilhantes do relatório das suas glórias, a invasão holandesa, em 1630.
Na História do Brasil que publicamos nesta obra se trata desenvolvidamente das guerras de que foi
teatro Pernambuco, por ocasião da invasão holandesa, formidável tentativa organizada para arrancar à coroa portuguesa o domínio do Brasil. Se
grandes e poderosos foram os inimigos, admirável foi a resistência, na qual muito se destacou o heroísmo dos pernambucanos, sendo que os nomes de
muitos deles vieram até nós, dentro da narrativa dos historiadores dessa página épica da história do Brasil colonial.
São eles Mathias de Albuquerque, Vidal de Negreiros, o índio Camarão, o negro Henrique Dias e
outros, o lado dos portugueses Fernandes Vieira, Barreto de Menezes e Dias Cardoso.
Reintegrado Pernambuco no domínio português, um novo golpe sofreram os pernambucanos, sentindo com
ele manifestarem-se os primeiros sentimentos da nacionalidade nascente. Foi quando o alvará de 16 de janeiro de 1716 incorporou a capitania à coroa
portuguesa, pagando uma indenização ao herdeiro do donatário, conde de Vimieiro.
O povo pernambucano sentiu que a capitania já deixara de ser a propriedade exclusiva do galardoado
com a sua posse, passando a ser a propriedade coletiva do povo que promovia a prosperidade e se identificava com ela intimamente, pelo sacrifício do
sangue, derramado na guerra da expulsão dos holandeses.
Já acostumados aos riscos dos combates, os pernambucanos se irritaram e, ao primeiro pretexto, a
sua indignação explodiu, levantando-se o sentimento dos pernambucanos contra os portugueses, a que davam o nome de Mascates; e daí, a
denominação da porfiada guerra civil que encontrou os naturais em condições de apresto que não se lhes presumiam. Para muito lhes servira a invasão
holandesa, pois que a capitania prosperara extraordinariamente sob a administração de Maurício de Nassau, que se tinha apressado em reconstruir e
reedificar o que a invasão destruíra, organizando criteriosamente a vida econômica e administrativa de Pernambuco. A invasão holandesa resultou,
pois, em novo impulso ao progresso pernambucano.
O espírito de independência e rebelião contra o poder da metrópole nasceu com a guerra dos
Mascates, e ficou arraigado, de sorte que, em 1817, nova revolução estalava; esta, porém, de caráter francamente separatista. Pernambuco tentou
fundar a Confederação do Equador, independente, e sob o regime republicano. Em razão, porém, de não ter logrado a expansão necessária, foi esse
movimento duramente jugulado e punidos os seus cabeças com severidade excepcional.
O movimento liberal de 1820, em Portugal, repercutiu em Pernambuco, onde o povo novamente pegou em
armas. A independência veio, pois, em 1822, realizar uma aspiração de que Pernambuco fora o primeiro pedaço do Brasil a dar exemplo, com a guerra
dos Mascates, na qual havia implicitamente a tendência à libertação do domínio português.
No ano da independência, ainda as tropas portuguesas tentaram sufocar a adesão ao grito do
Ipiranga, mas o povo se ergueu, em massa, e expulsou o capitão-general português Luiz do Rego, cujos rigores em 1817 lhe haviam atraído grandes
ódios.
Ao dar-se, a 7 de abril, a abdicação de Pedro I, novamente se convulsionou o estado, rebentando
então a sangrenta revolução de Cabanos. Em 1848, uma revolução ali se levantou, mas foi prontamente jugulada.
A República veio encontrar o estado em tranqüilidade, na senda da prosperidade e progresso que vai
trilhando.
Edifícios públicos, Recife: 1) Igreja de Santo Antonio; 2) A Intendência Municipal; 3)
Câmara dos Deputados; 4) Prisão e Hospital Pedro II
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População, imigração, colonização
A população de Pernambuco é calculada em cerca de 1.200.000 habitantes, com pequena proporção de
estrangeiros. Esta porcentagem tende, porém, a aumentar, correspondentemente ao aumento do comércio e das indústrias do Estado.
Como na maioria dos estados do Norte, é pouco acentuado o movimento imigratório em Pernambuco; o
trabalho rural e industrial está todo entregue ao braço nacional. A densidade aproximada da população do estado de Pernambuco é, em relação à sua
superfície, 10,202 por quilômetro quadrado.
A taxa de crescimento é de 0,0135. Segundo o último recenseamento oficial, feito em 1900, a sua
população de nacionais era de 578.369 habitantes homens e 588.959 mulheres; e a de estrangeiros 7.643 homens e 3.179 mulheres, ou, fazendo a divisão
por sexos, 586.012 homens e 592.138 mulheres.
Pernambuco é o quarto estado do Brasil na escala decrescente dos números de população, ocupando o
décimo terceiro lugar na escala decrescente da superfície territorial. Há, como já dissemos, uma extraordinária predominância do elemento nacional e
um excesso do número de mulheres sobre o dos homens.
Subúrbios do Recife: 1 e 2) Rio Capiberibe; 3) Imbiribeira; 4) Paisagem em Areias; 5)
Paisagem em Giquiá; 6) Ruínas do Carmo, Olinda; 7) Bacia do Gasômetro
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Indústria, agricultura
É muito considerável a importância industrial do estado. A indústria preferida é a agrícola,
explorada em larga escala.
Desse ponto de vista, o estado se divide em três grandes zonas. A primeira é a Zona da Mata, com
cerca de 40 a 60 quilômetros de extensão, para o interior, e cerca de 70 de largura. Fertilíssima, e fartamente regada, presta-se admiravelmente à
cultura da cana-de-açúcar, cereais, algodão, e também à do café, que começa a ser explorado.
A segunda zona, denominada Caatinga, é a zona agreste, tem o solo mais arenoso do que o da mata,
constando de grandes planaltos. Aí se faz a indústria pastoril e se planta de preferência o algodão, o tabaco, o feijão e outros gêneros.
A terceira zona é a do sertão, regada pelos tributários do Rio S. Francisco. É menos luxuriante de
vegetação e mais seca, sofrendo e muito com isso a indústria pastoril e a cultura do algodão.
Fazendo fontes principais da sua riqueza o algodão e o açúcar, o estado produz, entretanto, café,
cuja exploração, como já dissemos, começa a ser feita com resultado; e à sua fecundidade se podem pedir ainda muitos outros produtos.
De acordo com esse estado da sua agricultura, a sua indústria fabril orienta-se de preferência
para o aproveitamento da cana-de-açúcar e do algodão. Prosperam importantes engenhos; a abundância de frutas anima extraordinariamente a indústria
doceira, que já exporta em grande escala para os outros estados, figurando em lugar de destaque. Há grande número de fábricas de tecidos em todo o
estado. O álcool e todos os seus derivados são fabricados em grande escala. A riqueza mineral do estado é também grande, mas a indústria extrativa
não tem ainda desenvolvimento considerável.
No Recife: 1) Casa do Capim; 2) Rua Aurora; 3) Uma alvorada; 4) De volta do Engenho; 5)
Praça da Independência
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Instrução pública
Está bastante difundida a instrução pública no estado. Entre os estabelecimentos de ensino, figura
em primeiro lugar a Faculdade de Direito do Recife, mantida pelo governo federal. O estado mantém uma Escola Normal, na capital, e duas escolas
profissionais; e existem cerca de 300 escolas primárias, estaduais e municipais.
O ensino secundário é também proporcionado pelo estado, não se contando aqui o grande número de
estabelecimentos particulares deste gênero e de ensino primário.
Vias de comunicação
A Great Western é uma das mais importantes empresas ferroviárias que concorrem para o progresso do
Nordeste do Brasil, pois liga entre si os estados do Rio Grande do Norte, da Paraíba, de Pernambuco e das Alagoas, numa extensão de linhas que eram,
em 1910, de 1.476 quilômetros (917 milhas).
Durante esse ano, transportou, entre outros produtos, para a exportação, 5.116 toneladas de
algodão, que renderam cerca de £10.400, e 8.900 toneladas de açúcar que renderam cerca de £8.000. De retorno, os seus vagões transportam para o
interior carvão de pedra, tecidos, artefatos de toda a espécie etc.
Na zona pernambucana, a Great Western mantém três troncos ferroviários. O primeiro é a Estrada de
Ferro Central de Pernambuco, com mais de 212 quilômetros de extensão. É um estrada de penetração, cujos trilhos iam, em 1910, até Pesqueira, grande
centro industrial.
As outras duas linhas são litorâneas e servem de linhas de ligação da cidades e centros de
produção situados próximo do litoral. A do Norte é a Estrada de Ferro de Recife ao S. Francisco e vai entroncar com a parte paraibana da Great
Western; a do Sul é a Estrada de Ferro Sul de Pernambuco, que vai se ligar à Estrada de Ferro Central de lagoas. A primeira tem mais de 124
quilômetros de extensão. Finalmente, a Estrada de Ferro do Sul de Pernambuco alcança mais de 193 quilômetros de extensão.
Todas estas linhas convergem para o Recife, que é o escoadouro da exportação e o sorvedouro da
importação de todo o estado de Pernambuco. Os trilhos da Great Western têm avançado sempre, encerrando o estado em uma vasta rede canalizadora da
sua produção e de seu comércio, estabelecendo uma ativa circulação das forças econômicas do próspero estado, considerado justamente o líder duma
grande parte do litoral do Brasil.
A companhia pretende levar os seus trilhos até os limites de Pernambuco com Sergipe, em frente a
Propriá, à margem do Rio S. Francisco. Uma ponte sobre o Rio S. Francisco, neste ou em outro ponto mais conveniente, completaria o trabalho para o
qual tende o progresso ferroviário do Brasil, que é a interligação dos estados por essa via terrestre. É um desideratum ao qual se liga
grande importância, pois as comunicações por via marítima apenas ligam as cidades onde haja portos, em geral as capitais dos estados, deixando pelo
interior os que são vizinhos quase incomunicáveis, que é o que é, de fato, a situação de territórios contíguos, sem outras vias de comunicações
senão as estradas de rodagem ainda não perfeitamente acessíveis ao sistema de transporte por automóveis.
O tráfego da Great Western é feito na bitola estreita, solução que, segundo ficou estabelecido
claramente num recente congresso ferroviário realizado em Buenos Aires, é a que convém mais às necessidades econômicas de zonas cujo principal
elemento de progresso é a agricultura, onde as grandes extensões de terra cultivada e produtora sobrelevam em importância as necessidades dos
centros populosos.
Por outras palavras, em países despovoados como o Brasil, em face de sua extensão territorial, a
viação férrea se faz na relação da carga e não do máximo conforto dos passageiros. Não quer isto dizer que a bitola estreita signifique a falta de
conforto do passageiro, mas sim que as vantagens da bitola larga, para o passageiro, não são tão superiores às da bitola estreita, que justifiquem o
encarecimento que aquela bitola acarreta, tratando-se de estradas de ferro cujo objetivo seja o transporte de cargas.
As estações espalhadas pelo percurso enorme da Great Western são bem construídas e sólidas,
oferecendo as maiores condições de conforto e comodidade. A estação inicial d Estrada de Ferro Central de Pernambuco, no Recife, é um dos edifícios
que mais se destacam na capital pernambucana. O capital empregado na Great Western é de £3.500.000.
Além das linhas dessa estrada, a viação urbana estabelecida na cidade do Recife está bastante
desenvolvida, sendo feita por quatro companhias de tramways que se denominam: Companhia Ferro Carril da Boa Viagem, Companhia Ferro Carril de
Pernambuco, Companhia de Transportes Urbanos de Recife a Olinda e Beberibe e a Braziliam Street Railway Company Limited.
A Companhia Ferro Carril da Boa Viagem é de tração animal, e pequena, pois dispõe de um capital de
Rs. 25:000$00, transitando por uma extensão de 1.500 metros.
A Companhia Ferro Carril de Pernambuco, também de tração animal, tem um capital de Rs. 800:000$000
e emprega em seu serviço 281 homens.
A Companhia de Transportes Urbanos do Recife a Olinda e Beberibe é de tração a vapor, com uma
extensão de 13.584 metros. Tem um capital de Rs. 1.000:000$000 e emprega 113 homens no seu serviço.
A Brazilian Street Railway Company Limited é a que dispõe de maior capital, Rs. 2.542:206$00.
Emprega em seus serviços 198 homens. É de tração a vapor e tem 16 quilômetros de extensão.
As vias de comunicação marítima são feitas por companhias nacionais de cabotagem, entre as quais
se destaca o Lloyd Brasileiro, e pelas companhias transatlânticas que fazem no Recife a sua primeira ancoragem em águas brasileiras. Além disso,
existe já desenvolvida navegação fluvial.
As principais pontes do Recife: 1) Ponte Sete de Setembro; 2) Ponte do Recife; 3) Ponte
Sta. Isabel; 4) Ponte da Boa Vista
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Centros de população
Capital do estado, a cidade do Recife é minuciosamente descrita em seguida. Destacam-se ainda, no
estado, os seguintes centros de população e de produção: Bezerros, à margem do Rio Ipojuca; Bom Jardim, à margem do Tracunhaem; Brejo da Madre de
Deus, Cabo, no Rio Purapama; Caruaru, banhada pelo Rio Ipojuca; Garanhuns, nas nascentes do Rio Mundaú; Goiana, entre os rios Tracunhaém e
Capiberibe-mirim; Gravatá, à margem do Ipojuca; Itambé, no extremo Norte do estado; Jaboatão, a 18 quilômetros do Recife; Limoeiro, à margem do
Capiberibe; Nazareth, à margem do Rio Tracunhaém; Olinda, a 6 quilômetros do Recife, cidade que oferece grande curiosidade histórica por grandes e
curiosos documentos arquitetônicos da invasão holandesa; Palmares, à margem do Rio Una; Pesqueira, também grande centro fabril, no sopé da serra do
Araribá e nas nascentes do Rio Formoso; Rio Formoso, à margem do rio do mesmo nome; Taquaratinga, Timbauba, Triunfo, Vitória, e muitíssimas outras,
que estão ligadas entre si ou com a capital por estradas de ferro. |