Cultura de arroz em Moreira Cesar, estado de São Paulo: 1) Plantação de arroz; 2) Colheita do
arroz à máquina; 3) Preparando a terra para plantio do arroz; 4) Canal de irrigação dos arrozais; 5) Máquina de descascar arroz, numa plantação em
Lorena
Foto publicada com o texto, página 306.
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Agricultura e pecuária (cont.)
A crise da monocultura – A cultura do café, porém, só assumiu o desenvolvimento que a devia levar à condição de produto máximo da agricultura no Brasil, quando os
lavradores do estado do Rio de Janeiro começaram a verificar a superioridade, para ela, das regiões serranas sobre as do litoral. Os cultivadores
paulistas, dispondo de terras privilegiadas para ela, entregaram-se largamente à cultura da rubiácea que, dentro de algum tempo, devia ter ali o seu
habitat predileto entre os de todo o mundo.
São ainda de ontem, para estarem esquecidos, os efeitos desastrosos dessa
monocultura exagerada, que fez do Brasil o principal fornecedor de café do mundo, enquanto os gêneros de primeira necessidade – inclusive os da
alimentação originária do povo, como o feijão ou o arroz – eram importados em quantidades que ainda hoje formam parcelas muito consideráveis no
total das importações do país.
Aliás, essa monocultura havia sido um resultado fatal das circunstâncias
econômicas do país. Desaparelhado dos modernos maquinismos e processos que já faziam o progresso agrícola de outras nações; com meios de transporte
que, além de muito escassos, eram lentos e caríssimos; com a mão-de-obra também caríssima e escassa, principalmente com a supressão do braço
escravo; sobrecarregados os produtos com pesados direitos de exportação, principalmente depois que, coma República, os estados autônomos passaram a
criar impostos de saída – o Brasil não podia competir com os outros países agrícolas nos mercados estrangeiros.
O café era o único produto brasileiro que, pelas qualidades excepcionais do
solo, podia arcar com todas as dificuldades com que lutava a agricultura do Brasil e ainda apresentar-se nos mercados estrangeiros, deixando ainda
margem para lucros. E todos os que podiam produzir café não trataram de produzir outra coisa, parecendo-lhes e com razão – que, com café, podiam
comprar vantajosamente o trigo, a carne, o peixe que pulula pela costa extensíssima do país, o milho e o feijão, que quase nascem à toa, se valesse
a pena atirá-los às covas.
A abolição da escravatura veio agravar a situação, trazendo uma completa
desorganização do trabalho agrícola, especialmente naqueles estados – como Rio de Janeiro e Minas Gerais, os mais prósperos do Império – que viviam
sobretudo do trabalho escravo. Em compensação, aqueles, como S. Paulo e o Sul em geral, que de longa data começaram a preparar a substituição do
trabalho escravo pelo trabalho livre, tiraram justamente desse desmantelo da indústria agrícola nos outros Estados o alento que os devia colocar na
privilegiada situação em que se acham presentemente.
A República veio, pois, encontrar a lavoura em um estado de absoluta miséria e
desorganização; e os primeiros anos do novo regime, com as lutas políticas que absorveram as atenções, com os novos impostos criados pelos estados
feitos autônomos, só serviram para agravar a situação.
Cultura do fumo no Instituto Agronômico de Campinas, estado de São Paulo
Foto publicada com o texto, página 307
Em meio de todo esse desmoronar-se, só o estado de S. Paulo parecia progredir,
graças à cultura do café. Mas, em breve, a monocultura começou a mostrar os seus inconvenientes; e a crise econômica por que passou a agricultura
paulista – com a superprodução e conseqüente desvalorização do seu produto único – foi a mais calamitosa que já presenciou o novo regime em todo o
Brasil.
É desnecessário recordá-la. Basta lembrar que ela serviu, sobretudo, para abrir
os olhos do país. Ainda aí, porém, S. Paulo foi o primeiro estado a agir energicamente, procurando reduzir as suas lavouras de café em proveito de
outras, especialmente o arroz e, depois, o algodão, a cana de açúcar, o tabaco etc.
O governo do dr. Jorge Tibiriçá, com o dr. Carlos Botelho na pasta da
Agricultura, foi um período de renascimento agrícola para o estado. Em Minas Gerais, o sábio governo do dr. João Pinheiro tratou igualmente de pôr
um paradeiro ao desmantelo da indústria agrícola, fomentando sobretudo a pecuária e as pequenas lavouras.
Em muito curto tempo, a ação enérgica desses dois estados progressistas se fez
sentir na economia geral do país, com o decréscimo de importação dos gêneros de primeira necessidade, produzidos no país: as cifras para importação
do arroz e produtos de laticínios foram, sobretudo, significativas.
Algumas variedades dos produtos agrícolas de São Paulo: 1) Abacaxis; 2) Laranjeira carregada; 3)
Plantação de fumo no núcleo colonial Gavião Peixoto; 4) Mandiocal na colônia Campos Salles; 5) Bananeiras
Foto publicada com o texto, página 308.
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O Ministério da Agricultura – Era já tempo, porém, que o Governo Federal tomasse a peito a situação geral do país, defendendo a lavoura nacional com outros
elementos, além da simples introdução de imigrantes, em que se cifrava a sua ação.
A criação dum Ministério de Agricultura, Indústria e Comércio, como órgão
autônomo, separado do de Viação e Obras Públicas – de que era um departamento, apenas, em todos os governos da República – apesar de autorizada, há
muitos anos, pelo Congresso Nacional, só foi levada a efeito em 1909, quando o dr. Nilo Peçanha subiu à presidência da República, para completar o
quatriênio do dr. Affonso Penna.
Passado o período de simples organização burocrática, a que se tiveram de
dedicar os dois primeiros ministros da Agricultura, srs. dr. Candido Rodrigues e Rodolpho Miranda, já esse ministério, sob a gerência do atual
ministro, dr. Pedro de Toledo, começa a agir seriamente, dando ao país esperanças de um próximo ressurgimento agropecuário.
Uma das primeiras medidas postas em prática foi a criação de "Inspeções
Agrícolas" em todos os estados, destinadas a pôr o ministério em contato permanente com as povoações rurais, disseminadas pela vasta imensidade
territorial do país, de modo a conhecer as reais necessidades da lavoura e tratar de remediá-las.
Onde os colonos são recebidos e onde se estabelecem em São Paulo: 1) A Inspetoria de Imigrantes em
São Paulo; 2) Casa dum colono no núcleo colonial Nova Europa; 3) Moinho de arroz, explorado cooperativamente na colônia Campos Salles; 4) Campo de
experimentação do núcleo colonial Jorge Tibiriçá; 5) A casa e lavoura dum colono no núcleo Gavião Peixoto
Foto publicada com o texto, página 309.
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Além dessa função de caráter geral, têm os inspetores agrícolas a de fazer a
propaganda constante dos processos modernos e racionais, a serem aplicados a cada uma das culturas, assim como a instruir a população rural sobre os
meios de defesa a serem usados contra a introdução e disseminação dos germes prejudiciais às plantações.
Fazem ainda os inspetores agrícolas uma profusa distribuição de brochuras e
publicações populares sobre assuntos agrícolas, bem como de plantas e sementes gratuitas, com informações práticas sobre a planta, o terreno, a
preparação do solo, o plantio, desinfecção, cuidados que a planta requer, a sua colheita, e meios de combater moléstias eventuais.
São ainda os inspetores agrícolas encarregados de colher elementos para o
levantamento duma estatística agropecuária, pela inscrição ou matrícula de todos os agricultores profissionais em livros especiais do Ministério da
Agricultura.
Durante o ano de 1911, foram inscritos quase quinhentos agricultores; os
inspetores agrícolas visitaram 541 dos 1.086 municípios em que se divide o Brasil; foram distribuídos gratuitamente pelos lavradores dos diversos
estados da União 216.887 quilos de sementes selecionadas, 189.669 bacelos de videiras e 31.947 mudas de árvores frutíferas.
Está em ensaios um plano de combate para a exterminação sistemática das
formigas, gafanhotos e outras pragas que infestam as plantas e culturas. Convencido, pelo exemplo dos Estados Unidos, de que os próprios terrenos
menos favorecidos podem ser proveitosamente utilizados para a agricultura, pelo emprego inteligente dos processos científicos – como os da
cultura seca, ou dry farming, que transformaram o árido faroeste norte-americano em um celeiro riquíssimo – o dr. Pedro de Toledo
resolveu contratar o mais ilustre propagandista desse processo, o dr. W. F. Cooke, para aplicar esses métodos na zona brasileira do Nordeste,
sujeita a secas, contra as quais os processos rudimentares de irrigação têm sido empregados sem resultados reais.
As questões de imigração e colonização têm sido ativamente levadas a efeito; e a
situação financeira dos agricultores tem também preocupado o Ministério da Agricultura, que procura desenvolver, pela propaganda, o sistema das
cooperativas agrícolas no Brasil.
Colheita da borracha numa plantação de maniçoba em São Paulo
Foto publicada com o texto, página 310.
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O ensino agrícola – Mas, além destas medidas, de efeito imediato, o dr. Pedro de Toledo trata também de preparar um futuro melhor para a agricultura no Brasil,
pela disseminação do ensino agronômico. "Cultivamos mal e preparamos pior", disse ele no seu relatório de 1911. É preciso, pois ensinar a cultivar e
a preparar por processos racionais e científicos, que permitam aproveitar conveniente e integralmente as capacidades econômicas do país e para isso
estão sendo disseminados por todo o país estabelecimentos de ensino agrícola teórico e prático.
Do pé em que se acha esta matéria, no presente, dão conta as seguintes
informações contidas na mensagem presidencial de 1912: "O ensino
agronômico, criado pelo decreto nº 8.319, de 20 de outubro de 1910, tem tido, de acordo com as disposições orçamentárias, a maior difusão e tomado
considerável incremento, sendo já os resultados colhidos os mais prometedores e satisfatórios. Às escolas e aos aprendizados têm acorrido muitos
candidatos à matrícula, tornando-se necessário, à vista do que dispõem os respectivos regulamentos, recusar muitos deles.
"Os trabalhos para a instalação da Escola Superior de Agricultura, cuja sede é
nesta capital, já vão bastante adiantados, sendo possível que se faça a sua inauguração no próximo mês de setembro. A Escola Média ou
Teórico-Prática da Bahia, instalada no edifício do antigo Instituto Agrícola Bahiano, já se acha funcionando regularmente, havendo 56 alunos
matriculados. A Escola Média ou Teórico-Prática do Rio Grande do Sul também está funcionando com regular freqüência de alunos.
"Pelos decretos de 2 e 30 de agosto de 1911, e 10 de abril do corrente ano,
foram criados mais os seguintes aprendizados agrícolas: de Tubarão, em terrenos doados pelo Governo do Estado de Santa Catarina; de Satuba, na
antiga Estação Agronômica e Posto Zootécnico em Santa Luzia do Norte, cedida pelo Governo do Estado de Alagoas; de Igarapé-Açú, na antiga Estação
Experimental Augusto Montenegro, cedida também pelo Governo do Estado do Pará, e o de Guimarães, no Maranhão, conforme autorização contida na lei nº
2.544 de 4 de janeiro de 1912.
"Dos aprendizados agrícolas de S. Simão, no estado de S. Paulo; de Barbacena,
no estado de Minas Gerais; e de S. Luiz de Missões, no do Rio Grande do Sul, criados por decretos anteriores, já estão funcionando os dois últimos,
havendo-se providenciado para a instalação do primeiro.
"Foram também criados os campos de demonstrações: de Macaíba, no estado do Rio
Grande do Norte; do Espírito Santo, no estado de Paraíba; de Lavras, no estado de Minas Gerais; de Xiririca, no estado de S. Paulo; de São
Cristóvão, no estado de Sergipe; de Itajaí, no de Santa Catarina e o de Itaocara, no estado do Rio de Janeiro. Destes, estão instalados e
aparelhados com os imprescindíveis instrumentos agrários, os mais modernos, os dois primeiros.
"A instrução profissional agrícola, a cargo de professores ambulantes e
instrutores agrícolas contratados, disseminados por diversas zonas do país de acordo com as produções, tem tido o maior impulso e dará brevemente os
profícuos resultados que da mesma justificadamente se esperam".
A indústria do açúcar no estado de São Paulo: 1) Maquinismos da Usina Esther; 2) Engenho da
Fazenda Schmidt em Sertãozinho; 3) Engenho Central das Sucreries Brésiliennes em Piracicaba; 4) A Usina de Açúcar Esther em Cosmópolis
Foto publicada com o texto, página 311.
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É preciso lembrar, porém, que alguns estados, por seu lado, vão secundando
ativamente a obra do governo federal, dando o maior incremento ao ensino agronômico e às demonstrações práticas de Agricultura.
São Paulo, antes mesmo da criação do ministério federal, já dispunha de serviços
agrícolas perfeitamente organizados sob a secretaria de Agricultura do Estado. E, além dos estabelecimentos federais, recentemente criados, conta o
estado, entre outros, dois importantes estabelecimentos de ensino agrícola: o Instituto Agronômico de Campinas e a Escola Prática de Agricultura
Luiz de Queiroz, situada em Piracicaba, para os quais foram contratados alguns especialistas europeus e norte-americanos.
A Escola Luiz de Queiroz, inaugurada há poucos anos pelo dr. Carlos Botelho,
secretário da Agricultura no governo do dr. Tibiriçá, é um estabelecimento perfeitamente moderno, com todos os laboratórios e gabinetes necessários,
além de excelente acomodação para os alunos. Possui um curso preliminar, dum ano, preparatório do curso regular, de três anos, com um programa
prático de cultivo e de laboratório, ao mesmo tempo. Os que queiram aperfeiçoar os seus conhecimentos agrários podem ainda freqüentar um quarto ano,
facultativo.
Em torno do estabelecimento, que fica em meio dum belo jardim, existem um
pequeno jardim botânico, pomar, viveiros, horto, estação, zootécnica, museu de História Natural etc., além duma Fazenda Modelo, com plantações de
café, videiras, cana-de-açúcar, algodão, cereais, sem falar em pastos e maquinismos modernos.
Além destes estabelecimentos de ensino superior, também o estado proporciona o
ensino elementar de Agricultura em "aprendizados agrícolas", situados próximo às cidades de S. Sebastião e Iguape, no litoral. Nesses
estabelecimentos, o curso é de dois anos, com um caráter essencialmente prático, e os alunos se dedicam pessoalmente aos trabalhos práticos
campestres durante seis horas do dia, auxiliados por trabalhadores adultos.
Também em Minas Gerais o ensino agronômico se vai desenvolvendo, e as "fazendas
modelos", a exemplo da Gameleira, que o dr. João Pinheiro fundou perto de Belo Horizonte, se vão multiplicando pelo estado e disseminando entre os
agricultores exemplos práticos para a melhor utilização das suas propriedades agrícolas.
Desenvolvimento industrial de São Paulo: 1 e 2) Cachoeira em Piracicaba, da qual se obtém força
hidráulica; 2) A Serraria Schmidt, em Sertãozinho; 4) Instalações elétricas perto de Amparo
Foto publicada com o texto, página 312.
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