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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM 1913 - BIBLIOTECA NM
Impressões do Brazil no Seculo Vinte - [26-a]

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Clique nesta imagem para ir ao índice da obraAo longo dos séculos, as povoações se transformam, vão se adaptando às novas condições e necessidades de vida, perdem e ganham características, crescem ou ficam estagnadas conforme as mudanças econômicas, políticas, culturais, sociais. Artistas, fotógrafos e pesquisadores captam instantes da vida, que ajudam a entender como ela era então.

Um volume precioso para se avaliar as condições do Brasil às vésperas da Primeira Guerra Mundial é a publicação Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., com 1.080 páginas, mantida no Arquivo Histórico de Cubatão/SP. A obra teve como diretor principal Reginald Lloyd, participando os editores ingleses W. Feldwick (Londres) e L. T. Delaney (Rio de Janeiro); o editor brasileiro Joaquim Eulalio e o historiador londrino Arnold Wright. Ricamente ilustrado (embora não identificando os autores das imagens), o trabalho informa, nas páginas 307 a 313, a seguir reproduzidas (ortografia atualizada nesta transcrição):

Impressões do Brazil no Seculo Vinte

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Cultura de arroz em Moreira Cesar, estado de São Paulo: 1) Plantação de arroz; 2) Colheita do arroz à máquina; 3) Preparando a terra para plantio do arroz; 4) Canal de irrigação dos arrozais; 5) Máquina de descascar arroz, numa plantação em Lorena
Foto publicada com o texto, página 306. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Agricultura e pecuária (cont.)

A crise da monocultura – A cultura do café, porém, só assumiu o desenvolvimento que a devia levar à condição de produto máximo da agricultura no Brasil, quando os lavradores do estado do Rio de Janeiro começaram a verificar a superioridade, para ela, das regiões serranas sobre as do litoral. Os cultivadores paulistas, dispondo de terras privilegiadas para ela, entregaram-se largamente à cultura da rubiácea que, dentro de algum tempo, devia ter ali o seu habitat predileto entre os de todo o mundo.

São ainda de ontem, para estarem esquecidos, os efeitos desastrosos dessa monocultura exagerada, que fez do Brasil o principal fornecedor de café do mundo, enquanto os gêneros de primeira necessidade – inclusive os da alimentação originária do povo, como o feijão ou o arroz – eram importados em quantidades que ainda hoje formam parcelas muito consideráveis no total das importações do país.

Aliás, essa monocultura havia sido um resultado fatal das circunstâncias econômicas do país. Desaparelhado dos modernos maquinismos e processos que já faziam o progresso agrícola de outras nações; com meios de transporte que, além de muito escassos, eram lentos e caríssimos; com a mão-de-obra também caríssima e escassa, principalmente com a supressão do braço escravo; sobrecarregados os produtos com pesados direitos de exportação, principalmente depois que, coma República, os estados autônomos passaram a criar impostos de saída – o Brasil não podia competir com os  outros países agrícolas nos mercados estrangeiros.

O café era o único produto brasileiro que, pelas qualidades excepcionais do solo, podia arcar com todas as dificuldades com que lutava a agricultura do Brasil e ainda apresentar-se nos mercados estrangeiros, deixando ainda margem para lucros. E todos os que podiam produzir café não trataram de produzir outra coisa, parecendo-lhes e com razão – que, com café, podiam comprar vantajosamente o trigo, a carne, o peixe que pulula pela costa extensíssima do país, o milho e o feijão, que quase nascem à toa, se valesse a pena atirá-los às covas.

A abolição da escravatura veio agravar a situação, trazendo uma completa desorganização do trabalho agrícola, especialmente naqueles estados – como Rio de Janeiro e Minas Gerais, os mais prósperos do Império – que viviam sobretudo do trabalho escravo. Em compensação, aqueles, como S. Paulo e o Sul em geral, que de longa data começaram a preparar a substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre, tiraram justamente desse desmantelo da indústria agrícola nos outros Estados o alento que os devia colocar na privilegiada situação em que se acham presentemente.

A República veio, pois, encontrar a lavoura em um estado de absoluta miséria e desorganização; e os primeiros anos do novo regime, com as lutas políticas que absorveram as atenções, com os novos impostos criados pelos estados feitos autônomos, só serviram para agravar a situação.


Cultura do fumo no Instituto Agronômico de Campinas, estado de São Paulo
Foto publicada com o texto, página 307

Em meio de todo esse desmoronar-se, só o estado de S. Paulo parecia progredir, graças à cultura do café. Mas, em breve, a monocultura começou a mostrar os seus inconvenientes; e a crise econômica por que passou a agricultura paulista – com a superprodução e conseqüente desvalorização do seu produto único – foi a mais calamitosa que já presenciou o novo regime em todo o Brasil.

É desnecessário recordá-la. Basta lembrar que ela serviu, sobretudo, para abrir os olhos do país. Ainda aí, porém, S. Paulo foi o primeiro estado a agir energicamente, procurando reduzir as suas lavouras de café em proveito de outras, especialmente o arroz e, depois, o algodão, a cana de açúcar, o tabaco etc.

O governo do dr. Jorge Tibiriçá, com o dr. Carlos Botelho na pasta da Agricultura, foi um período de renascimento agrícola para o estado. Em Minas Gerais, o sábio governo do dr. João Pinheiro tratou igualmente de pôr um paradeiro ao desmantelo da indústria agrícola, fomentando sobretudo a pecuária e as pequenas lavouras.

Em muito curto tempo, a ação enérgica desses dois estados progressistas se fez sentir na economia geral do país, com o decréscimo de importação dos gêneros de primeira necessidade, produzidos no país: as cifras para importação do arroz e produtos de laticínios foram, sobretudo, significativas.

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Algumas variedades dos produtos agrícolas de São Paulo: 1) Abacaxis; 2) Laranjeira carregada; 3) Plantação de fumo no núcleo colonial Gavião Peixoto; 4) Mandiocal na colônia Campos Salles; 5) Bananeiras
Foto publicada com o texto, página 308. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

O Ministério da Agricultura – Era já tempo, porém, que o Governo Federal tomasse a peito a situação geral do país, defendendo a lavoura nacional com outros elementos, além da simples introdução de imigrantes, em que se cifrava a sua ação.

A criação dum Ministério de Agricultura, Indústria e Comércio, como órgão autônomo, separado do de Viação e Obras Públicas – de que era um departamento, apenas, em todos os governos da República – apesar de autorizada, há muitos anos, pelo Congresso Nacional, só foi levada a efeito em 1909, quando o dr. Nilo Peçanha subiu à presidência da República, para completar o quatriênio do dr. Affonso Penna.

Passado o período de simples organização burocrática, a que se tiveram de dedicar os dois primeiros ministros da Agricultura, srs. dr. Candido Rodrigues e Rodolpho Miranda, já esse ministério, sob a gerência do atual ministro, dr. Pedro de Toledo, começa a agir seriamente, dando ao país esperanças de um próximo ressurgimento agropecuário.

Uma das primeiras medidas postas em prática foi a criação de "Inspeções Agrícolas" em todos os estados, destinadas a pôr o ministério em contato permanente com as povoações rurais, disseminadas pela vasta imensidade territorial do país, de modo a conhecer as reais necessidades da lavoura e tratar de remediá-las.

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Onde os colonos são recebidos e onde se estabelecem em São Paulo: 1) A Inspetoria de Imigrantes em São Paulo; 2) Casa dum colono no núcleo colonial Nova Europa; 3) Moinho de arroz, explorado cooperativamente na colônia Campos Salles; 4) Campo de experimentação do núcleo colonial Jorge Tibiriçá; 5) A casa e lavoura dum colono no núcleo Gavião Peixoto
Foto publicada com o texto, página 309. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

Além dessa função de caráter geral, têm os inspetores agrícolas a de fazer a propaganda constante dos processos modernos e racionais, a serem aplicados a cada uma das culturas, assim como a instruir a população rural sobre os meios de defesa a serem usados contra a introdução e disseminação dos germes prejudiciais às plantações.

Fazem ainda os inspetores agrícolas uma profusa distribuição de brochuras e publicações populares sobre assuntos agrícolas, bem como de plantas e sementes gratuitas, com informações práticas sobre a planta, o terreno, a preparação do solo, o plantio, desinfecção, cuidados que a planta requer, a sua colheita, e meios de combater moléstias eventuais.

São ainda os inspetores agrícolas encarregados de colher elementos para o levantamento duma estatística agropecuária, pela inscrição ou matrícula de todos os agricultores profissionais em livros especiais do Ministério da Agricultura.

Durante o ano de 1911, foram inscritos quase quinhentos agricultores; os inspetores agrícolas visitaram 541 dos 1.086 municípios em que se divide o Brasil; foram distribuídos gratuitamente pelos lavradores dos diversos estados da União 216.887 quilos de sementes selecionadas, 189.669 bacelos de videiras e 31.947 mudas de  árvores frutíferas.

Está em ensaios um plano de combate para a exterminação sistemática das formigas, gafanhotos e outras pragas que infestam as plantas e culturas. Convencido, pelo exemplo dos Estados Unidos, de que os próprios terrenos menos favorecidos podem ser proveitosamente utilizados para a agricultura, pelo emprego inteligente dos processos científicos – como os da cultura seca, ou dry farming, que transformaram o árido faroeste norte-americano em um celeiro riquíssimo – o dr. Pedro de Toledo resolveu contratar o mais ilustre propagandista desse processo, o dr. W. F. Cooke, para aplicar esses métodos na zona brasileira do Nordeste, sujeita a secas, contra as quais os processos rudimentares de irrigação têm sido empregados sem resultados reais.

As questões de imigração e colonização têm sido ativamente levadas a efeito; e a situação financeira dos agricultores tem também preocupado o Ministério da Agricultura, que procura desenvolver, pela propaganda, o sistema das cooperativas agrícolas no Brasil.

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Colheita da borracha numa plantação de maniçoba em São Paulo
Foto publicada com o texto, página 310. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

O ensino agrícola – Mas, além destas medidas, de efeito imediato, o dr. Pedro de Toledo trata também de preparar um futuro melhor para a agricultura no Brasil, pela disseminação do ensino agronômico. "Cultivamos mal e preparamos pior", disse ele no seu relatório de 1911. É preciso, pois ensinar a cultivar e a preparar por processos racionais e científicos, que permitam aproveitar conveniente e integralmente as capacidades econômicas do país e para isso estão sendo disseminados por todo o país estabelecimentos de ensino agrícola teórico e prático.

Do pé em que se acha esta matéria, no presente, dão conta as seguintes informações contidas na mensagem presidencial de 1912: "O ensino agronômico, criado pelo decreto nº 8.319, de 20 de outubro de 1910, tem tido, de acordo com as disposições orçamentárias, a maior difusão e tomado considerável incremento, sendo já os resultados colhidos os mais prometedores e satisfatórios. Às escolas e aos aprendizados têm acorrido muitos candidatos à matrícula, tornando-se necessário, à vista do que dispõem os respectivos regulamentos, recusar muitos deles.

"Os trabalhos para a instalação da Escola Superior de Agricultura, cuja sede é nesta capital, já vão bastante adiantados, sendo possível que se faça a sua inauguração no próximo mês de setembro. A Escola Média ou Teórico-Prática da Bahia, instalada no edifício do antigo Instituto Agrícola Bahiano, já se acha funcionando regularmente, havendo 56 alunos matriculados. A Escola Média ou Teórico-Prática do Rio Grande do Sul também está funcionando com regular freqüência de alunos.

"Pelos decretos de 2 e 30 de agosto de 1911, e 10 de abril do corrente ano, foram criados mais os seguintes aprendizados agrícolas: de Tubarão, em terrenos doados pelo Governo do Estado de Santa Catarina; de Satuba, na antiga Estação Agronômica e Posto Zootécnico em Santa Luzia do Norte, cedida pelo Governo do Estado de Alagoas; de Igarapé-Açú, na antiga Estação Experimental Augusto Montenegro, cedida também pelo Governo do Estado do Pará, e o de Guimarães, no Maranhão, conforme autorização contida na lei nº 2.544 de 4 de janeiro de 1912.

"Dos aprendizados agrícolas de S. Simão, no estado de S. Paulo; de Barbacena, no estado de Minas Gerais; e de S. Luiz de Missões, no do Rio Grande do Sul, criados por decretos anteriores, já estão funcionando os dois últimos, havendo-se providenciado para a instalação do primeiro.

"Foram também criados os campos de demonstrações: de Macaíba, no estado do Rio Grande do Norte; do Espírito Santo, no estado de Paraíba; de Lavras, no estado de Minas Gerais; de Xiririca, no estado de S. Paulo; de São Cristóvão, no estado de Sergipe; de Itajaí, no de Santa Catarina e o de Itaocara, no estado do Rio de Janeiro. Destes, estão instalados e aparelhados com os imprescindíveis instrumentos agrários, os mais modernos, os dois primeiros.

"A instrução profissional agrícola, a cargo de professores ambulantes e instrutores agrícolas contratados, disseminados por diversas zonas do país de acordo com as produções, tem tido o maior impulso e dará brevemente os profícuos resultados que da mesma justificadamente se esperam".

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A indústria do açúcar no estado de São Paulo: 1) Maquinismos da Usina Esther; 2) Engenho da Fazenda Schmidt em Sertãozinho; 3) Engenho Central das Sucreries Brésiliennes em Piracicaba; 4) A Usina de Açúcar Esther em Cosmópolis
Foto publicada com o texto, página 311. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

É preciso lembrar, porém, que alguns estados, por seu lado, vão secundando ativamente a obra do governo federal, dando o maior incremento ao ensino agronômico e às demonstrações práticas de Agricultura.

São Paulo, antes mesmo da criação do ministério federal, já dispunha de serviços agrícolas perfeitamente organizados sob a secretaria de Agricultura do Estado. E, além dos estabelecimentos federais, recentemente criados, conta o estado, entre outros, dois importantes estabelecimentos de ensino agrícola: o Instituto Agronômico de Campinas e a Escola Prática de Agricultura Luiz de Queiroz, situada em Piracicaba, para os quais foram contratados alguns especialistas europeus e norte-americanos.

A Escola Luiz de Queiroz, inaugurada há poucos anos pelo dr. Carlos Botelho, secretário da Agricultura no governo do dr. Tibiriçá, é um estabelecimento perfeitamente moderno, com todos os laboratórios e gabinetes necessários, além de excelente acomodação para os alunos. Possui um curso preliminar, dum ano, preparatório do curso regular, de três anos, com um programa prático de cultivo e de laboratório, ao mesmo tempo. Os que queiram aperfeiçoar os seus conhecimentos agrários podem ainda freqüentar um quarto ano, facultativo.

Em torno do estabelecimento, que fica em meio dum belo jardim, existem um pequeno jardim botânico, pomar, viveiros, horto, estação, zootécnica, museu de História Natural etc., além duma Fazenda Modelo, com plantações de café, videiras, cana-de-açúcar, algodão, cereais, sem falar em pastos e maquinismos modernos.

Além destes estabelecimentos de ensino superior, também o estado proporciona o ensino elementar de Agricultura em "aprendizados agrícolas", situados próximo às cidades de S. Sebastião e Iguape, no litoral. Nesses estabelecimentos, o curso é de dois anos, com um caráter essencialmente prático, e os alunos se dedicam pessoalmente aos trabalhos práticos campestres durante seis horas do dia, auxiliados por trabalhadores adultos.

Também em Minas Gerais o ensino agronômico se vai desenvolvendo, e as "fazendas modelos", a exemplo da Gameleira, que o dr. João Pinheiro fundou perto de Belo Horizonte, se vão multiplicando pelo estado e disseminando entre os agricultores exemplos práticos para a melhor utilização das suas propriedades agrícolas.

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Desenvolvimento industrial de São Paulo: 1 e 2) Cachoeira em Piracicaba, da qual se obtém força hidráulica; 2) A Serraria Schmidt, em Sertãozinho; 4) Instalações elétricas perto de Amparo
Foto publicada com o texto, página 312. Clique >>aqui<< ou na imagem para ampliá-la

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